sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Efigénia do Carvalhal

Leonel Salvado

Ifigénia do Carvalhal de Sousa Teles Pimentel, como consta nos registos paroquiais, pergaminhos familiares e outros documentos, nasceu no dia 16 de Março de 1839 no lugar e freguesia de Veiga de Lila, concelho de Valpaços, numa das mais ilustres famílias da aristocracia de Trás-os-Montes aqui estabelecida desde o século XVII e cujas origens em Portugal remontam ao século XV.
Foi a primeira dos seis filhos do prestigioso Júlio do Carvalhal de Sousa Silveira Teles e Meneses, natural do lugar de Alanhosa, freguesia de S. Miguel de Nogueira, Chaves, e de sua primeira esposa, Maria da Piedade Ferreira Sarmento Pimentel de Lacerda e Lemos, natural de Carrazedo de Montenegro, ambos registados nos livros paroquiais como residentes e paroquianos de Veiga de Lila.
De todos os seis irmãos, apenas ela, Ifigénia do Carvalhal, Maria Adelaide e César (o mais novo e único varão) chegaram à idade adulta.
A prosperidade decorrente do considerável património da família, com casas e haveres nas localidades de Vilar de Nantes, Argeriz e Veiga de Lila, proporcionou a Ifigénia do Carvalhal esmerada educação e desprendida dedicação às Letras.
Foi Senhora de refinada cultura e escritora. Foi prima e companheira de infância do jovem talentoso escritor do género romântico em Portugal, Álvaro do Carvalhal de Sousa Silveira e Teles a quem, lamentavelmente, o destino reservou uma curta e dolorosa passagem pela vida. Entre os estudiosos dos “Contos” de Álvaro do Carvalhal, há quem saliente a possibilidade de o destino literário deste jovem escritor ter sido inspirado, desde a infância, em sua prima Ifigénia, cinco anos mais velha do que ele e ela própria apaixonada pela literatura romântica.
Ifigénia do Carvalhal de Sousa Teles é autora do romance “Clotilde” editado no Porto em 1869 pela Tipografia Pereira da Silva. Mais tarde, foi uma das colaboradoras do “Almanaque das Senhoras”, um periódico feminino do período romântico criado em 1870 e vocacionado para a leitura, a instrução e o recreio, com secções também dedicadas à poesia e à ficção.
Foi, por vontade de seu pai, falecido em 9.06.1872 na sua casa de Vilar de Nantes, e na qualidade de filha primogénita, ainda que solteira, a herdeira da Casa e Vínculo de Nossa Senhora dos Remédios de Veiga de Lila.
Casou no dia 12 de Setembro daquele mesmo ano, apenas cinco meses após a morte do pai, em Rio Torto, lugar e freguesia do mesmo concelho Valpaços, com Francisco António Teixeira de Morais Pimentel,  titular do antigo morgadio local que foi instituído em 1659, filho de Frederico Scipião Morais Teixeira Pimentel, natural da mesma freguesia, e de Ana Ludovina de Almeida e Sousa, natural de Santa Comba da Vilariça, Vila Flor. Efigénia do Carvalhal e Francisco de Morais Pimentel tiveram dois filhos que morreram de tenra idade.
Foi também Senhora dada a actos de beneficência vindo a integrar um ciclo muito restrito de valpacenses que receberam o honroso título de “benemérito”. Fez parte da Confraria de Nossa Senhora da Saúde em Valpaços na qual, em proposta apresentada em sessão da respectiva assembleia realizada em 19.05.1901, lhe foi atribuído o título de Irmã benemérita.
Nos últimos anos da sua vida, viúva e sem filhos, procurou assegurar a continuidade na família do Vínculo de Nossa Senhora dos Remédios de Veiga de Lila e de todos os seus bens, fazendo lavrar a necessária escritura de doação, sob reserva de usufruto, em favor de sua sobrinha Umbelina do Carvalhal. Não obstante, actualmente todo o património edificado e prdéios rústicos dos Carvalhais em Veiga de Lila encontra-se repartido por vários proprietários, alguns dos quais sem qualquer relação de parentesco com os actuais representantes da família Carvalhal.
Ifigénia do Carvalhal de Sousa Teles faleceu na sua terra natal no dia 22 de Janeiro de 1932, aos 93 anos de idade.
Lamentavelmente, ainda não foi ainda possível obter-se uma representação iconográfica mais adequada à sua personalidade (o seu retrato fidedigno) para poder figurar neste espaço, a Galeria de Notáveis do Clube de História de Valpaços com a dignidade que lhe é devida.


Fontes:
ARQUIVO DISTRITAL DE VILA REAL, Livro de Registos de Baptismos e Casamentos, freguesia de Veiga de Lila, concelho de Valpaços | http://etombo.com
CARNEIRO, Maria do Nascimento Oliveira,  O fantástico nos contos de Álvaro do Carvalhal, Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1992|http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes
SILVA, José António Soares da, O Partido Progressista de Valpaços, 1886-1910, edição da Câmara Municipal de Valpaços, 2006;
TELES, Fernando Eugénio do Carvalhal Sousa Teles, Árvore da geração da família dos Carvalhais e Bettencourts das Ilhas e sua Descendência |http://arvoredafamiliacarvalhal.blogspot.com
TELLES, D. Ephigenia do Carvalhal Sousa, Clotilde, Typographia Pereira da Silva, Porto, 1869 | htto://aleph20.letras.up.pt

terça-feira, 14 de agosto de 2012

José Alberto Rodrigues

Leonel Salvado

José Alberto Rodrigues | foto: ANTT | http://digitarq.dgarq.gov.pt
(adaptado) | moldura:  http://www.ruadireita.com

Advogado e activista político na oposição democrática ao regime do Estado Novo, nasceu em 5.11.1905 no lugar de Vale de Campo, freguesia de Curros do concelho de Valpaços e distrito de Vila Real, no seio de uma importante família de proprietários desta região. Filho de Manuel Joaquim Rodrigues e Maria Teixeira, foi encorajado pelos pais e pela família a dedicar-se aos estudos.
Obteve a licenciatura em Direito na Universidade de Lisboa e estabeleceu-se em Vila Pouca de Aguiar, vila e concelho do mesmo distrito de Vila Real na antiga Província de Trás-os-Montes, onde exerceu advocacia. Interveio em defesa dos arguidos políticos do regime salazarista antes e após a criação dos tribunais plenários e da PIDE.
Em 22.11.1933 foi preso pela PVDE, encarcerado na Penitenciária de Angra do Heroísmo, Açores, sendo restituído à liberdade mais de um ano depois.
A sua luta em defesa dos ideais democráticos intensificou-se a partir de então. Fez parte da Comissão Central do MUD (Movimento de Unidade Democrática), criado em 1945, e participou em todas as campanhas eleitorais da oposição à União Nacional que aquele movimento promoveu, designadamente na campanha de candidatura do General Norton de Matos às presidenciais que teve início em 3.01.1949. Após o fracasso desta campanha e em resposta à imediata extinção do MUD, ainda antes da desistência de Norton de Matos e da vitória de Óscar Carmona, José Alberto Rodrigues integrou a 1.ª Comissão Central do MND (Movimento Nacional Democrático), inaugurado no dia 10 de Fevereiro do mesmo ano. Em 21 de Dezembro foi de novo detido, desta vez pela PIDE, conduzido à cadeia do Aljube, em Lisboa, e posto à disposição dos tribunais criminais da mesma cidade. Saiu em liberdade cerca de um mês depois mas o procedimento criminal em que incorreu só foi julgado extinto por acórdão do 2.º juízo do Tribunal Criminal de Lisboa em Julho de 1951.
Foi por duas vezes membro do Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados e, também por duas vezes, delegado dos advogados do Círculo Judicial da Figueira da Foz.
Em 1965 foi candidato a deputado da oposição pelo círculo eleitoral de Braga.
Em 1967 obteve o registo de passaporte com destino ao Brasil, mas não consta que tenha saído do país.
Em 1969 volta a candidatar-se a deputado da oposição sendo incluído na lista da CDE (Comissão Democrática Eleitoral) pelo círculo de Vila Real. Ainda nesse ano participou no II Congresso Republicano de Aveiro, onde apresentou a tese intitulada «A Terra e o seu Emigrante» e em 1973 no III Congresso de Oposição Democrática com a tese «Breve Análise da Situação de Portugal no Mundo em 1973 Comparada com a Posição que Tinha em 1925, Ainda no Governo da República».
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974 regressou a Trás-os-Montes.
Este "filho pródigo de Trás-os-Montes" que veio ao mundo no concelho de Valpaços, faleceu em 8.11.1979 em Bornes de Aguiar, freguesia do concelho de Vila Pouca de Aguiar. O seu nome foi consagrado pela Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar na toponímia da vila.


Fontes:
AMORIM, Pe João Vaz de, “Por Montes e Vales… terras de Monforte e Terras de Montenegro”, in Revista Aquae Flaviae, nº 14, Chaves, Dezembro 1995;
A.N.T.T., PIDE 1919-1975, Direcção de Serviços de Investigação e Contencioso, Livro 1933-11-22/1934-10-12, 92 José Alberto Rodrigues | http://digitarq.dgarq.gov.pt
ARQUIVO DISTRITAL DE VILA REAL, Livro de Registos de Baptismos, freguesia de Curros, concelho de Valpaços | http://etombo.com;
Id., AC/GCVR, Governo Civil de Vila Real 1834/1989, Livro de Registos de Passaporte (1967-12-20);
LEMOS, Mário Matos e,  Candidatos da Oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo (1945-1973), Divisão de Edições da Assembleia da República e Texto Editores, Lda., 2009; 
MENDONÇA, Artur e José M. Martins, “Movimento Nacional Democrático”, 23 Outubro 2009 in Almanaque Republicano | http://arepublicano.blogspot.pt.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Francisco António Pereira da Guerra Lage

Por Leonel Salvado

Francisco António P. Guerra Lage | foto: Sanfins – Valpaços,
https://sites.google.com/site/sanfinsvlp/
(adaptado) | moldura:  http://www.ruadireita.com


Nasceu no último terço do século XIX no lugar de Fonte Mercê, freguesia de Água Revés e Crasto, no seio de uma antiga e conceituada família desta freguesia proprietária da “Casa de Fonte Mercê” ao tempo representada por seu pai, Cândido Júlio Lage.
Após uma breve passagem pela Academia Politécnica do Porto em que no dia 21 de Outubro de 1893 se matriculou na “classe de voluntários” do curso de Engenharia Civil, a duas cadeiras preparatórias, decidiu abandonar os estudos, encerrando a matrícula em Junho do ano seguinte, e regressou a Trás-os-Montes, fixando-se em Sanfins onde no mesmo ano de 1893 havia casado com Maria de Jesus, natural desta freguesia do concelho de Valpaços. Dedicou-se energicamente à agricultura e tornou-se grande produtor de azeite e cereais e abastado proprietário, detentor da maior casa de lavoura da região e de vasto património fundiário que se estendia aos termos dos lugares de Crasto e Lilela. Além da sua importante Casa solarenga de Sanfins, popularmente conhecida como a “Casa Grande”, ainda na década de 1940 constituía motivo de honra tanto para si e a família como para os moradores da aldeia o facto de, graças às suas excepcionais qualidades de gestor agrícola, possuir no sítio chamado do “Sagrado”, “o maior olival do concelho de Valpaços”.
Francisco Lage gozou de admirável reputação, tanto da parte dos humildes aldeãos que o conheceram melhor do que ninguém e o cognominavam de “pai dos pobres”, como de alguns homens de letras que também assim o definiram associando-lhe os atributos de «homem generoso e bom, leal fecundo e hospitaleiro» (João da Ribeira) e de «compadre e padrinho da aldeia inteira» (A. Veloso Martins). Além de agricultor pródigo e folgazão é ainda recordado como uma pessoa acomodada aos costumes urbanos e, sobretudo um apaixonado pela música, descolando-se várias vezes ao Porto para aí poder assistir a concertos de música clássica. 
Foi também personalidade destacada na vida política do concelho de Valpaços e no exercício de cargos de responsabilidade na liderança corporativa em direcção a cuja vila era visto amiúde deslocar-se na sua garbosa e estimada “égua russa”.
Foi militante e prestigiado membro do executivo do Partido do Partido Progressista de Valpaços, acompanhando todas as actividades promovidas por este desde a sua reorganização em 1897. Foi um dos irmãos da Confraria de Nossa Senhora da Saúde cuja criação se deveu ao dinamismo então imprimido no seio do partido pelas mais gradas figuras da sua comissão executiva. Passou a intervir mais activamente na acção do mesmo partido após a crise de 1901 que foi despoletada pela demissão do Dr. Francisco José de Medeiros da liderança, vindo a revelar-se como um dos mais enérgicos promotores da sua reorganização. Foi, nesse sentido, um dos signatários da carta que a 12 de Dezembro desse mesmo ano foi enviada ao líder distrital dos Progressistas para o pôr ao corrente da discórdia instalada no partido e da premente necessidade da sua renovação, bem como da carta que no dia 22 de Junho de 1906 foi expedida aos correligionários com a convocatória da reunião que para esse fim e com a anuência do mesmo líder distrital - conde de Vila Real - se realizou em Valpaços. Foi um dos vogais da nova comissão executiva aprovada por aclamação na Assembleia Geral de 1 de Julho de 1906 onde se apresentou como principal interveniente das propostas aí avançadas. Continuou integrado no Partido Progressista de Valpaços até à sua dissolução definitiva anunciada pela comissão em 22 de Outubro de 1910.
Já havia sido Presidente da Câmara de Valpaços em 1901 e no tempo da República voltou a sê-lo em 1937, após ter presidido a Comissão Municipal Administrativa no ano anterior e, por inerência de cujo cargo, lhe ter cabido a responsabilidade de receber em Valpaços o Presidente da República, Marechal Óscar Carmona, na cerimónia de celebração do Centenário da elevação de Valpaços a concelho.  Foi depois Presidente do Grémio da Lavoura do concelho de Valpaços, no exercício de cujo cargo ainda se mantinha em 1943. Faleceu na sua casa de Sanfins poucos anos depois com larga e ilustrada descendência directa.


Fontes:
ADUP APP - Academia Politécnica do Porto, 1837-1911, Livro de Matrículas e Actos Finais dos alunos da Faculdade de Ciências : Preparatórios | http://repositorio-tematico.up.pt;
ALVES, Paulo, Sanfins – Valpaços | https://sites.google.com/site/sanfinsvlp;
AMORIM, Pe João Vaz de, Por Montes e Vales… terras de Monforte e Terras de Montenegro”, in Revista Aquae Flaviae, nº 14, Chaves, Dezembro 1995;
MARTINS, A. Veloso, Valpaços, Monografia, Lello & Irmão, Porto, 2.ª ed., Dez. 1990;
SILVA, José António Soares da, O Partido Progressista de Valpaços, 1886-1910, ed. C. M. Valpaços, 2006.

Santa Rita de Cássia, venerada em Sanfins de Valpaços


Vencedora das causas impossíveis e advogada dos terramotos”, Rita de Cássia é uma santa de rara veneração no Norte de Portugal, mas com dedicados fiéis em algumas aldeias raianas do concelho de Bragança e em Vila Real. Em Valpaços há também sinais da sua devoção, dada a existência de uma capela da invocação da mesma santa na Avenida Eng.º Francisco Baptista Tavares.  Mas ela é especial e solenemente celebrada pela comunidade de Sanfins, freguesia do concelho de Valpaços cujas festas a ela dedicadas decorreram este anos nos dias 10, 11 e 12 deste mês de Agosto.
Para rever a homenagem que lhe dedicámos, bem como aos seus devotos de Sanfins em 2011 clique na imagem.

sábado, 11 de agosto de 2012

105.º Aniversário do Nascimento de Miguel Torga


Estamos a 1 dia da celebração dos 105 anos do nascimento de Miguel Torga.
Nascido a 12 de Agosto de 1907, em São Martinho da Anta, distrito de Vila Real, o nosso Miguel Torga é uma figura de relevância regional no contexto da categoria “datas comemorativas [local / regional] ” a homenagear no Clube de História de Valpaços.

Para rever neste o que publicámos a respeito de Miguel Torga por ocasião do 103.º Aniversário do seu nascimento, clique na imagem.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

80.º Aniversário do “regresso” do último rei de Portugal


D. Manuel II, falecido em 2 de Julho de 1932 em Twickenham, Inglaterra foi sepultado em Portugal, como foi sempre seu desejo, no dia 2 de Agosto de 1932. Vinte e um anos após o fim da monarquia, a cerimónia não deixou de assumir contornos de Funeral de Estado com a presença de milhares de populares, monárquicos, republicanos e os mais altos representantes do governo da República – uma data comemorativa!

Para ver ou rever o que publicámos por ocasião do 78.º Aniversário deste efeméride, clique


83.º Aniversário do nascimento de Zeca Afonso


José Afonso
Quando a música portuguesa perdeu a inocência

Zeca Afonso foi um notável compositor de música de intervenção, durante um dos mais conturbados períodos da história recente portuguesa. Como compositor, soube conciliar de forma notável a música popular e os temas tradicionais com a palavra de protesto.

Para rever o que publicámos em homenagem a Zeca Afonso por ocasião dos 81 anos do seu nascimento clique