quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

150.º Aniversário do nascimento de Paiva Couceiro

Henrique de Paiva Couceiro, c. 1896, Álbum familiar
Henrique Mitchell de Paiva Couceiro (Lisboa, 30 de Dezembro de 1861 — Lisboa, 11 de Fevereiro de 1944) foi um militar, administrador colonial e político português que se notabilizou nas campanhas de ocupação colonial em Angola e Moçambique e como inspirador das chamadas incursões monárquicas contra a Primeira República Portuguesa em 1911, 1912 e 1919. Presidiu ao governo da chamada Monarquia do Norte, de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919, na qual colaboraram activamente os mais notáveis integralistas lusitanos. A sua dedicação à causa monárquica e a sua proximidade aos princípios do Integralismo Lusitano, conduziu-o por diversas vezes ao exílio, antes e depois da instituição do regime do Estado Novo em Portugal.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Para saber mais sobre esta figura da História de Portugal recomendamos que aceda ao artigo completo publicado na Wikipédia, AQUI.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Colmeal das Donas, uma aldeia fantasma no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo

Actualizado em 8 e Fevereiro de 2012

O Colmeal, uma "aldeia fantasma", foto de João Paulo Sousa in http://www.panorâmio.com

As aldeias abandonadas são uma realidade que vem suscitando, nos últimos anos, diversas reacções de pesar dos portugueses, sobretudo à escala regional, umas vezes movidos pelo natural apego ao seu património material e cultural, outras por incontidos sentimentos de nostalgia, outras vezes até por um inconsolável sentimento de injustiça. Na maioria dos casos, como sucedeu com a aldeia do Cachão, no concelho de Valpaços, essa realidade parece ter sido fruto da interioridade e dos surtos de emigração que se intensificaram no país a partir dos anos setenta. Noutros casos, porém, como os que sucederam nos tempos em que a ruralidade era encarada como umas das virtudes da Nação, encorajada pelo regime e acatada com maior ou menor resignação pelos povos, as causas revestiram contornos de efectiva injustiça e de consequências dramáticas que deixaram marcas nas populações durante várias gerações. Um desses casos, talvez o mais paradigmático, foi o caso da “tragédia do Colmeal”, uma aldeia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, cujos moradores foram obrigados a abandoná-la por forças da GNR, no ano de 1957, em consequência de uma acção judicial que ainda hoje, passados 53 anos, gera desabafos de clara indignação em algumas vítimas e descendentes e confundem os juristas que procuram, à luz do sistema jurídico da época, indagar da legitimidade dessa acção. Esta questão, que desde há duas décadas tem preocupado o poder municipal, tem sido levada aos meios de comunicação e hoje mesmo foi tema de destaque no programa televisivo “Tardes da Júlia”, apresentado por Júlia Pinheiro no canal TVI. Enfim, face à documentação disponível, este lamentável acontecimento afigura-se-nos como uma tragédia que pode ser (re)apresentada em três actos.

A TRAGÉDIA DO COLMEAL EM TRÊS ACTOS
Colmeal, outrora designada de Colmeal das Donas é uma aldeia abandonada da freguesia que ainda lhe deve o nome, situada no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. De origens remotas (surge pela primeira vez mencionada em documentos papais e leoneses do século XII) tem uma história curiosa que atingiu o dramatismo a partir da década de 40 do século passado, começando por fazer correr rios de tinta na imprensa regional e nacional nos anos que se seguiram à revolução dos cravos e tendo vindo, nestes últimos anos, a ser cada vez mais mediatizada e a constituir motivo de fascínio por parte das novas gerações que a têm feito passar nos meios de comunicação social nas mais variadas formas, que vão desde as interessantes versões romanceadas de Felícia Cabrita até às reportagens de Sandra Invêncio e de Gabriela Marujo, as souberam explorar, literária e jornalisticamente, as memórias e lamentações dos seus antigos habitantes e expõem toda a verdade nua e crua da história desta «aldeia fantasma».

Acto Primeiro – Lendas e Narrativas

António Bordalo, 72 anos esgalhados na terra, tenta esquivar-se a uma velha maleita que se lhe encostou à alma. As pernas escanzeladas descobrem a força e a agilidade do antigo pastor e cortam o silvedo como lanças.
A espreitar do vale, o campanário da igreja paroquial do Colmeal dá sainete à serra. António estaca, no olhar o desconcerto, na boca mil maldições. Deus noutro tempo não sabia o que fazia. A porta do templo saiu dos gonzos, o telhado ruiu e o sino, que tinha escapado às invasões francesas, voou com alguma dança macabra. O velho procurava em volta vestígios do cemitério que as silvas escondem, entra na igreja, tropeça. As pedras de granito das sepulturas foram levantadas, crânios estilhaçados e ossos cortam-lhe os passos. Abre a porta da sacristia que dá para o cemitério, arbustos encorpados como gente, onde os bichos daninhos se acoitam, impedem a passagem, e ele quebra cego na dor: «Bandidos, ladrões, que aqui tenho meus avós, minha mãe, meu sangue».
António atravessa a aldeia fantasma à procura de velhas lembranças. O telhado da sua antiga casa tombou e à porta uma mata densa impede-lhe a entrada. No solar de Pedro Álvares Cabral, os frescos nas paredes despedaçadas, e a pedra de armas ainda resistem ao logro do tempo. As vacas são agora as senhoras da casa fidalga, nos antigos salões rompem com os velhos moldes feudais aliviando aliviando a tripa e protegem-se do sol implacável de Julho.
Sentado na escadaria, o velho solta a memória, alegrias e tristezas, lendas e medos de gente da serra, habitantes de uma aldeia com passado que teve o nome assente nos cronicões. Ali tinham nascido e morrido seus antepassados, avós lusos e iberos. O pai era lavrador e tinha de seu uma junta de bois e muitas colmeias. Viviam apenas da lavoura e quando não havia agricultura iam à jeira para terras de famílias abastadas. A água não faltava nas hortas e pomares, e as frutas e as hortaliças do Colmeal eram muito cobiçadas. Mas quando se aproximava Maio, antes das colheitas, não sobrava trigo para trocar por sardinha ou rabos de bacalhau, e os mais pobres não tinham outro passadio que não fosse pão com azedas que cresciam nas paredes.
Ia o século a dar os primeiros acordes e António, mal completara 7 anos, começou a galgar a serra com o rebanho do feitor. José Feliciano era bom homem, e ainda ia longe o tempo dos desacertos. Calçou-o, foram os primeiros sapatos que conheceu, com tamancos de pau ferrados. Dava-lhe a merenda e ao fim do ano oferecia-lhe um animal. António não pedia mais à sorte, que isso era quase pecado, e aos poucos conseguia uma cabrada. O rapaz andava com o rebanho à folha pela serra, sem quebranto. Um pau de choupo servia de arma contra os lobos e para vergar o fole a quem não viesse por bem. Pelava-se para abater o lobo ou a raposa e mostrava-se depois de povo em povo, a fazer gala da presa e a arrecadar ovos e farinha pelo serviço prestado aos galinheiros. Mas quando se aproximava Junho arrepelava-se se tinha que passar pela Cova da Moura, uma sepultura do tempo da moirama, encerrada numa fraga. Mantinham velhos pastores, que passavam dias e noites a cismar naqueles serros que arranhavam o céu, que a moura saía do seu encanto pela festa de S. João, e à noitinha estendia a sua roupa à orvalhada para não ganhar traça. As mulheres, a quem a natureza tinha concedido a fraqueza, quando vinham da ceifa não olhavam para trás para não caírem no feitiço. António com coisas dessa natureza nunca mofou, e era certo que depois da meia-noite baixava as trancas para se defender do andaço dos lobisomens que batiam às aldrabas a ver se pegava, e deitavam coices às portas.
Ao domingo abandonavam os sachos e as gadanhas, era dia de folgança. De manhã Padre Seixas, mais conhecido por Cieiro, mercê da comparação que o povo fazia entre ele e o vento nordeste, violento e frio, celebrava; ainda a missa era cantada. A igreja estava apinhada de povo, muito afeiçoado às coisas de Deus. O santo predilecto era o Pai eterno, que tinha uma bola na mão, representação do mundo. E eles andavam sempre muito alinhados com as leis divinas para não desfeitarem o santo, porque sabiam que se o globo caísse se afundava o mundo.
Mal a noite se punha, os rapazes faziam a ronda pelo povo, tocando concertina. As moças casadoiras juntavam-se à volta da fogueira e o baile corria até de madrugada. Não havia bicho-careta dos arredores que faltasse à festa, vinham de machimbo ou a butes no engodo das raparigas que tinham fama de muito galantes. Felisbela já andava embeiçada por um rapaz, um ás da harmónica, e nunca faltava à dança. Só tinha três fardas para pôr no corpo, mas chegava para agradar. O pai tinha-a debaixo de olho com medo que o vento a emprenhasse e punha-se debaixo do lampião para não perder qualquer atrevimento do noivo. Era leve como as penas e alegrava a roda com a sua graça. O lenço caía e mostrava o cabelo entrançado, grosso e brilhante, a querer desprender-se do carrapito. Os moços de fora levavam rebuçados que ela não comia temendo alguma miscelânea que a metesse doida. Era amiga da pândega mas sem dar muito paleio para não cair nas bocas do mundo e casar com honra e crédito. As romãzeiras engalanavam a aldeia, e os mais velhos abancavam em pedras e compunham a festa com relatos de coisas antigas e os enigmas das origens. Colmeal pertencera ao reino de Leão mas com as rapsódias da história passou para a coroa portuguesa. As demandas com os espanhóis despovoaram os lugares da serra e D. Afonso V deu-lhe carta de Couto em 1540, era senhor desse povo João Gouveia. Com a morte do fidalgo andou aquela terra de senhor para senhor até acabar nas mãos de Pedro Álvares Cabral. Felisbela que não conhecia letra nem livro, sabia que a sua aldeia existia desde o início do mundo e, como toda a gente, em tudo punha milagres. Por isso pelava-se para ouvir Amadeu, o poeta da terra, que em tempos ia a Belmonte, por soutos e moitas, altos e baixos, entregar aos cabrais um braço de cebolas e umas tantas galinhas pelo foro do povo.

Amadeu mexia em verso no passado e trapaceava as crónicas.
Junto à fogueira com a garrafa de vinho à perna, o poeta contava à sua maneira o que já ouvira dizer a seus antepassados sobre a origem da aldeia. Era uma vez um pastor deste lugar que entrou em desassossego com um sonho que o perseguia. Alguém lhe dizia que fosse a Belém procurar o seu bem, e de tanto malucar com este mistério, um dia foi. Ao chegar à beira de uma fonte, encontrou um pastor negro que lhe deu a chave da mensagem. E ele partiu às pressas, para junto do seu gado que andava no pasto, e debaixo de umas lajes encontrou uma cabra e um chibo de ouro. Por ser homem de honra não se alapardou com o tesouro e foi ao palácio entregá-lo ao rei. O monarca, satisfeito com a oferenda, disse ao pastor que lhe satisfazia um desejo. E o homem pediu-lhe umas terras para amanhar, e pastos para as suas cabras, e assim nasceu o Colmeal.
Felisbela quando mirava o solar dos Cabrais não duvidava da lenda na pedra de armas gravada, uma cabra e um chibo.
Por Felícia Cabrita, Colmeal, Ecos da Marofa, edição de 10-05-2007
Imagens: http://www.cm-fcr.pt

Acto Segundo – A verdade nua e crua

Eram mais ou menos dez horas da manhã, quando os habitantes do Colmeal, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, foram surpreendidos por uma força da GNR que os expulsou de suas casas e lhes confiscou os seus pertences. Estava-se a 8 Julho de 1957. Quarenta anos volvidos no meio de todo o abandono a que ficou votado, e do elevado estado de degradação dos edifícios, o Colmeal serve de campo de pastagem dos animais daquele que se diz dono da aldeia. Mas há quem não esqueça esta injustiça.
«Andaram naquilo até à noite», lembra Albino Carvalho. Na altura, tinha pouco mais de trinta anos e a «vida arranjada». A tarefa era executada por «dois homens que traziam as coisas de casa para a rua», e, «como a gente era muita», foi necessário um dia inteiro. De certa forma, os habitantes do Colmeal sabiam que «algo de mal» lhes iria acontecer. Mas nunca pensaram numa sentença tão dura.
A história deste povo é de origem antiquíssima. O documento mais antigo que se conhece data do ano de 1183, quando D. Fernando II (Rei de Leão) se encontrava em Ciudad Rodrigo e doou o Colmeal, conjuntamente com outras povoações, à Ordem de São Julião do Pereiro. Uma doação confirmada pelo Papa Lúcio II em Abril do mesmo ano. Esta ordem teve a sua sede no lugar do Pereiro, onde ainda hoje se podem ver os vestígios perto de Cinco Vilas que faz fronteira com o Colmeal. Após o Tratado de Alcanices, os bens desta Ordem passam para a Ordem de Alcântara, em 1297, e as terras de Riba Côa são integradas na Coroa Portuguesa. As disputas com os espanhóis despovoaram os lugares da serra, e D. Afonso V deu-lhe carta de Couto - terra que não pagava impostos por pertencer a um nobre, com o nome de Colmeal das Donas em 1540. Era senhorio deste povo João Gouveia.
Com a morte deste fidalgo o Colmeal das Donas passa a pertencer a Vasco Fernandes de Gouveia (1476), e, com a morte deste, a Fernão Álvares Cabral e D. Isabel de Gouveia. Pais de Pedro Álvares Cabral.
Mudanças sucessivas levaram a que a burguesia endinheirada, saída da República, se fosse apoderando dos domínios da nobreza. Os Condes de Belmonte não escaparam e venderam o foro do Colmeal das Donas. Os novos proprietários mantinham direitos que remontavam ao tempo das sesmarias, ao mesmo tempo que lavravam à pressa escrituras e delimitavam terrenos. As gentes do Colmeal por sua vez, habituadas à servidão, continuavam a pagar foro. Desta feita, aos feitores dos novos senhorios. «Aquilo não se fazia»
O triste fado da aldeia foi ditado no início da década de 40 com a chegada de um novo rendeiro, que subia as rendas a seu bel-prazer. Valores que atingiram níveis quase impossíveis de suportar. Durante anos os habitantes "mataram-se" a trabalhar para pagar as rendas. Albino Carvalho recorda esses tempos sem saudade, mas lá vai dizendo que, embora as terras «fossem más», «uns lavravam, outros tinham cabras, outros tinham vacas», e a agricultura lá ia dando para viver e pagar aos rendeiros.
Revoltados com a situação, os habitantes do Colmeal recusaram-se a pagar e, como resultado, tiveram de travar uma longa batalha jurídica que de nada lhes valeu. O processo começou com a acção de despejo para o caseiro da casa dos Cabrais, acusado de deixar de pagar renda ao senhorio, mas anos depois os aldeões passaram à categoria de subarrendatários do mesmo e tratados de igual modo. Por altura das colheitas dois oficiais da justiça chegaram com a sentença final. Uma acção de despejo. Estava-se no dia 8 de Julho de 1957.
A GNR apresentou-se fortemente armada para o acto de despejo. Enquanto os aldeões tentavam a sua sorte nos montes sobranceiros à aldeia, as mulheres e as crianças refugiavam-se na igreja. Nada impediu as autoridades de rebentarem com as portas das casas e levarem os poucos haveres desta gente simples.
«Andavam em demanda há muito tempo», na opinião de Albino Carvalho. Designadamente, de Rosa Quirino Cunha e Silva que queria ser dona de todo o Colmeal. Tanto que o seu advogado, Manuel Vilhena, conseguiu "ajeitar" as leis e transformou a aldeia - anterior à nacionalidade portuguesa -, numa quinta.
A única coisa que Albino e a sua família conseguiram salvar foi «algumas roupas». Como não podia regressar ao Colmeal, a terra que o viu nascer, Albino teve de recomeçar do zero noutro lado. A escolha recaiu sobre Bizarril, a terra natal da sua esposa, e uma das anexas que serviu de refúgio às gentes da aldeia despojada. «Arrendámos esta casita», conta Albino, onde ainda hoje vivem os dois, o sustento era garantido pela agricultura. A profissão que sempre conheceram. «Tempos difíceis». As dificuldades arranjaram-lhe uma doença a que ele chama «velhice», e que não o deixa deslocar-se com a mesma energia de antes. Tem apenas 72 anos, mas anda encostado a um pau como se a vida o tivesse deixado. Com lágrimas nos olhos, lembra o filho que deixou lá enterrado. «Disseram-me que o cemitério está num estado lastimável, que arrancaram as pedras», conta. Assim como lamenta que o actual proprietário «tenha vendido todos os santos da igreja, segundo me disseram, a um senhor de Trancoso».
Maria Matilde não nasceu naquela aldeia, mas foi lá crismada, e lembra-se bem da festa de S.Miguel. «Era uma grande festa. Toda a gente das aldeias vizinhas se deslocava ao Colmeal». Maria Matilde não fugiu à regra «e quase todos os anos ia à festa». Esta mulher natural de Bizarril não está de acordo com o que aconteceu aos habitantes da aldeia vizinha. «Aquilo não se fazia», afirma em tom revoltado. «Ainda me lembro que se via um guarda com uma metralhadora, além no cimo do monte». E reforça, «aquilo não se fazia»... «O Colmeal não é a quinta dada aos Quirinos».
Jerónimo Leitão proclama-se legítimo dono do Colmeal. «O Dr.Vilhena e o Dr.Crespo vieram ter comigo, e perguntaram-me se queria comprar aquela aldeia abandonada», recorda. Respondeu afirmativamente mas com uma condição: a compra ser feita pelos três. Assim foi. Os donos do Colmeal passavam a ser Manuel Vilhena, Miguel Crespo e Jerónimo Leitão. Entretanto, Vilhena vendeu a sua parte a este último, que passou a ser dono de cerca de mil hectares. Depois do 25 de Abril vendeu «400 hectares à Portucel», e arrendou, «por 25 anos, as partes mais altas da serra [Marofa] à Soporcel».
«Fizemos tudo para a recuperar», garante Jerónimo Leitão, «mas já naquela altura estava degradada». O espaço foi então aproveitado para uma exploração agrícola, a ser aumentada futuramente. «Vou proceder à recuperação de lameiros para as vacas», adianta. Quanto à venda do recheio da igreja, argumenta que «comprei, por isso é meu. Tenho toda a legitimidade de fazer o que achar melhor».
Quem não se conforma é Aires Cruz, descendente e criado na aldeia do Colmeal, e um dos expulsos, que afirma que «está provado que o Colmeal é uma aldeia e não uma quinta». «A aldeia tem uma Igreja Matriz [em 1320/21, no arrolamento que D. Dinis mandou elaborar estava mencionada a Igreja do Colmeal], uma casa da Junta da Paróquia, um Paçal com adro, um cemitério e ruas públicas», isto, garante, «provado e documentado». «Uma quinta não pode ter Paçal, Junta da Paróquia, nem cemitério público, onde os enterramentos datam de meados do século XVII». Resumindo, «existe uma aldeia, que é a aldeia do Colmeal, e cujas confrontações estão bem definidas, porque são de todos conhecidas». No entanto, prossegue, «existe uma quinta, não se sabe onde, mas que não pode ser a quinta que a justiça deu de facto aos Quirinos». Essa é a grande questão para Aires Cruz: «O Colmeal não é a quinta que foi dada aos Quirinos».
Este interesse desmesurado, em sua opinião, tinha a ver com a abundância de água. Um autêntico «manancial que dava aos camponeses uma situação de estabilidade». Tanto que levou os interessados a fazer os registos pela calada. Opção acertada já que os habitantes «não tinham argumentos nem quem os defendesse». Estavam por conta própria na medida em que nem o então presidente da câmara, Porfírio Augusto Junqueiro, os defendeu quando foram chamados a tribunal. Nunca saberemos o que esteve por detrás da atitude do presidente, mas, nas palavras da viúva, Mercedes Junqueiro, poderá ter a ver com questões legais. «Seria possível ao presidente da câmara opôr-se a uma lei emitida pelo Tribunal?», pergunta. O facto é que existiam registos de propriedades, e garantias orais de pertença de terrenos. E a decisão tombou a favor daqueles que tinham os registos. Mas Mercedes Junqueiro garante que a decisão não foi tomada «friamente». Foi uma decisão «demorada e dolorosa». E finaliza, «eu e o meu marido tivemos muita mágoa pelo povo do Colmeal».

À espera de respostas concretas

Após o 25 de Abril o processo foi reaberto, as pessoas foram ouvidas no Tribunal de Figueira, por um desembargador vindo de Coimbra, e ficou decidido que poderiam regressar às suas casas e terras, ficando a parte do Pradinho para a actual quinta. Uma decisão publicada em edital nas várias aldeias do concelho. Aires Cruz ainda se lembra desse edital estar afixado em Freixeda do Torrão e no Bizarril, e de ter recebido posteriormente «um exemplar em Angola», que deixou na casa que teve de abandonar devido à Guerra Civil.
O Governador Civil da Guarda na altura era Manuel Cardoso Vilhena. A 4 de Janeiro de 1989, Fernando Carrilho Martins, então autarca de Figueira, publicava um edital onde tornava público que, «nos termos do Decreto-Lei nº 205/88, de 16 de Junho último, e por força do disposto no artigo 2º da mesma disposição legal, a partir deste data, adaptação ou alteração dos bens imóveis classificados ou em vias de classificação e das respectivas zonas espaciais de protecção têm de ser assinadas por arquitectos». Da lista de bens imóveis que se encontravam classificados, constava a Povoação do Colmeal como imóvel com valor concelhio.
Em 1993, Aires Cruz apresentou o caso ao Procurador-Geral da República e demais autoridades, onde não pôde deixar de se mostrar indignado com todo este processo e acusa as autoridades judiciais de «não saberem, ou não quererem ver que estavam a praticar uma injustiça, em vez de aplicar a justiça». Até à data, e apesar de ter feito várias diligências, ainda não recebeu respostas concretas, e aguarda que seja feita «justiça a uma aldeia antiquíssima».
Fonte: Gabriela Marujo, Os despojos do dia, Terras da Beira, edição de 9-10-1997
Imagem: http://www.novaaguia.blogspot.com

Acto Terceiro – As perspectivas de regresso

Da casa onde Jacinta Carvalho nasceu e viveu até aos 21 anos já só resta parte das paredes exteriores. A aldeia fantasma do Colmeal é toda ela ruína, da igreja que já perdeu o telhado àquele que terá sido um imponente solar, no extremo oposto. «Esta não é a minha terra», reage emocionada a idosa, que, no último sábado, visitou pela primeira vez a aldeia desde os acontecimentos daquela manhã de Julho de 1957 - em que os habitantes foram despejados por uma ordem judicial, num caso único nos anais da justiça portuguesa.
Jacinta Carvalho vive a uns 13 quilómetros do Colmeal, em Castelo Rodrigo, e conseguiu estar 52 anos sem voltar à sua terra natal. Por opção. A sua família, tal como as restantes 12 que aqui moravam em regime de foro, perdeu tudo. Confessa que lhe custa recordar o quanto o pai chorou naquele dia, em que a família se mudou para Castelo Rodrigo, para a casa onde morava já uma irmã, que entretanto ali tinha casado. Foi aqui que recomeçou a sua vida, que também casou e teve três filhos. Começa por responder com um «não sei porquê» quando questionada acerca dos motivos que a levaram a aceitar o convite de O INTERIOR para voltar à aldeia. E emociona-se novamente. Diz que não foi pela recente decisão da Assembleia Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo de criar um grupo de trabalho para averiguar do potencial turístico do Colmeal – baseado na sua história, nas potencialidades ambientais e ainda no facto de por aqui ter morado a mãe de Pedro Álvares Cabral – e nem tão pouco pela possibilidade de vir a recuperar a casa da família. «Para que a quero agora?», questiona.
Jacinta Carvalho não tem planos para a casa. «Não vim cá antes porque tinha medo de me sentir mal», confessa. Veio agora porque, a cada vez que respondia com um “não” aos sucessivos convites de familiares e outros ex-moradores, crescia a curiosidade em saber como estaria a sua pequena aldeia: «Olhe, já não aguentava mais», desabafa.
Jacinta Carvalho recorda-se bem do dia do despejo. Conta que foi a mãe que na véspera, numa ida a Figueira Castelo Rodrigo, soube que na manhã seguinte iriam ser despejados. Tudo porque o feitor subarrendatário não pagava a renda há quatro anos àquela que era, de acordo com uma escritura de 1912, a nova e legítima proprietária dos terrenos dos herdeiros dos condes de Belmonte. A mãe da então jovem Jacinta Carvalho apressou-se a regressar à terra para avisar os aldeões. Na altura, Jacinta Carvalho era já a única de seis irmãos a residir ali com os pais. «Tínhamos uma boa seara nesse ano e então passámos a noite toda a tentar levar para Castelo Rodrigo o máximo que conseguíamos», recorda. Com o amanhecer veio o inevitável: 25 praças e três oficiais da GNR irromperam pela aldeia, entraram nas casas, retiraram os pertences dos moradores e colocaram-nos nas proximidades da Quinta Serra, a mais de um quilómetro. «Os nossos bens estavam misturados com os dos outros», conta. A família pegou nos seus pertences e rumou para Castelo Rodrigo. Outras permaneceram por ali até encontrarem um tecto.
«Um erro judicial, matricial e histórico»
Foi o caso de Aires Cruz, outro ex-habitante, que há 17 anos tenta perceber o que diz ter sido «um erro judicial, matricial e histórico». Tinha na altura 9 anos. «Foi muito complicado», lembra. A mãe era uma viúva com cinco filhos para sustentar. A família acabou por fixar-se em Freixeda do Torrão. Agora, Aires Cruz mostra-se algo céptico em relação às recém-anunciadas intenções da autarquia, mas diz que são «boas notícias» e que «já é tempo de ser feita justiça». O antigo residente do Colmeal tem mesmo uma monografia para publicar no próximo ano, onde diz provar que se tratou «de uma apropriação de terras indevida». O Colmeal é sede de freguesia e está provado documentalmente que é paróquia, desde 1940, refere Aires Cruz. «O documento nunca foi apresentado em tribunal, que considerou erradamente o Colmeal como quinta», sustenta. O resultado das suas investigações já o levou mesmo a escrever ao Presidente da República, Procurador-Geral da República e presidente do Supremo Tribunal de Justiça, entre outros. Aires Cruz diz esperar agora que a autarquia não se fique pelas intenções.
Fonte: Sandra Invêncio, De regresso ao Colmeal, 52 anos depois, Interior, edição de 21-05-2009
Imagem: Id.


Update... quase tudo na mesma!

“Da igreja restam as colunas, o arco e pedaços de parede. Os proprietários cederam-na à paróquia no ano passado, entregando algumas imagens que se julgavam desaparecidas.
Quando chegou à presidência da câmara, há seis anos, António Edmundo contactou os proprietários das terras. Falou «com o pai e com o filho, e nada». Já vai na «terceira geração» e espera agora que o neto resolva a situação. 
«Ainda há quatro ou cinco famílias vivas» de antigos habitantes e cada uma devia ter a oportunidade de recuperar a sua casa ou de a transformar para acolher os turistas que ali se deslocassem, e a casa dos Cabral seria o local colectivo, para reuniões, bar, restaurante – foi este o desafio que o autarca lançou ao actual proprietário, mas a ideia «praticamente não avançou», lamenta. 
«Há muita confusão à volta do processo», que chegou a ser estudado por uma comissão na assembleia municipal – mas «que não fez nada praticamente». A autarquia gostava de ver o passado posto de lado «antes que se perca aquilo tudo».
«Turismo de aldeia» era o que António Edmundo gostava de ver nascer no local e até já apresentou um plano de viabilidade ao actual dono – que devia, na sua opinião, recorrer a fundos comunitários. A autarquia assumiria a recuperação da capela, a chegada de água e energia à aldeia, os arruamentos. 
António Edmundo até já aproveitou os fundos comunitários para caminhos rurais e fez uma estrada em paralelo até Colmeal, num projecto que custou 89 mil euros (comparticipado em 66 mil pela União Europeia). A estrada termina onde as ruínas começam.
In http://www.cafeportugal.net, sábado, 9 de Julho de 2011

A Festa da Sagrada Família no Vaticano

Papa lamenta atentados contra os cristãos

Por Vera Luza, 27-12-2010

«Foi com grande tristeza que tomei conhecimento do atentado a uma igreja católica das Filipinas, quando se celebrava o rito do Natal, como também do ataque a igrejas cristãs da Nigéria. E também noutras partes do mundo, como no Paquistão, a terra voltou a ser manchada de sangue», lamentou o Papa.
Bento XVI falava, ontem perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de S. Pedro, no Vaticano, para a tradicional celebração da Sagrada Família.
«Neste dia em que celebramos a Sagrada Família, que viveu a dramática experiência de ter que fugir para o Egipto por causa da fúria homicida de Herodes, recordemos também todos os que - em particular as famílias que são constrangidas a abandonar as próprias casas por causa da guerra, da violência e da intolerância», disse.
O Papa referia-se aos atentados ocorridos no dia de Natal, nas Filipinas e na Nigéria; e juntamente com os seus pêsames, renovou um apelo a que se abandone o caminho do ódio.
«Desejo exprimir as minhas sentidas condolências pelas vítimas destas violências absurdas e renovo uma vez mais o apelo a abandonar o caminho do ódio para encontrar soluções pacíficas dos conflitos e para dar segurança e serenidade às queridas populações», lê-se na reportagem da Rádio Vaticano.
Na sua alocução antes da oração do Angelus, Bento XVI falou da Sagrada Família, convidando a contemplar o Menino Jesus no presépio, objecto do afecto e das atenções dos seus pais, Maria e José, que O acolheram também no seu coração. «Confiemos a Nossa Senhora e a São José todas as famílias, para que não desanimem perante as provações e dificuldades, mas cultivem o amor conjugal e se dediquem confiadamente ao serviço da vida e da educação», pediu.
«Jesus nasceu num estábulo, tendo como berço uma manjedoura, mas o amor de Maria e de José fizeram-lhe sentir a ternura e beleza de sermos amados», recordou.

In Jornal da Madeira On line - http://www.jornaldamadeira.pt/

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Mais esclarecimentos sobre a nova espécie de hominídeo descoberta na gruta de Denisova

Cientista da equipa que descobriu novo humano diz que este se reproduziu connosco
Por Teresa Firmino, 23-12.2010
Pelo menos até há 30 a 50 mil anos, um grupo de humanos desconhecidos até agora, os denisovanos, coexistiram com os Neandertais e a nossa espécie (os humanos modernos). Mais: houve mistura genética entre os denisovanos e nós, uma conclusão de novas análises genéticas aos achados da gruta Denisova, na Sibéria. Um dos cientistas da equipa, Bence Viola, do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, Alemanha, diz que há 100 mil anos a diversidade humana era muito maior do que pensávamos.

ENTREVISTA DE BENCE VIOLA

Os denisovanos são uma nova espécie de humanos?
Não falamos da questão de os denisovanos serem ou não uma nova espécie, porque é difícil responder a isso com os dados genéticos. Utilizando a definição biológica aceite, segundo a qual os membros de diferentes espécies são reprodutivamente isolados, pelo que não têm descendência, é difícil declarar os denisovanos - e também os Neandertais - como uma espécie separada, uma vez que se reproduziram claramente com os humanos modernos. Em geral, estes resultados levam-nos a repensar, pelo menos a mim, o conceito de espécie na evolução humana.

Qual a importância da descoberta desta forma de humanos antigos?
Esta descoberta mostra que vários grupos humanos - alguns diriam espécies - habitaram a Terra ao mesmo tempo há cerca de 100 a 80 mil anos. Há 100 mil anos pode ter havido cinco grupos de humanos: teríamos os humanos modernos (os nossos antepassados directos) em África; os Neandertais na Europa e em parte do Próximo Oriente; os denisovanos na Sibéria e possivelmente em parte do Sudeste asiático; talvez o Homo erectus tardio em Java, na Indonésia; e a forma anã do Homo floresiensis na ilhas das Flores, Indonésia. Isto é bastante diferente do que pensávamos há dez anos, pois nessa altura supunha-se só existirem os humanos modernos e os Neandertais.

Quando se extinguiram os denisovanos? E porquê?
Não sabemos. Embora pensemos que provavelmente se espalharam pela Ásia, não temos qualquer prova clara disso noutro sítio [além dos achados na gruta Denisova, na Sibéria]. A sua extinção deve ter acontecido depois de há 50 mil anos, que é a idade mais provável dos achados de Denisova. Provavelmente, isto aconteceu ao mesmo tempo que a extinção dos Neandertais [há 30 mil anos]. Não temos modelos para as razões por que se extinguiram, mas talvez a competição com os humanos modernos seja uma boa razão.

Temos um osso e um dente destes humanos na Sibéria. Mas, bastante longe, a sua equipa também descobriu que as actuais populações da Melanésia apresentam traços genéticos desses humanos. As migrações deles são um quebra-cabeças?
São. Sabemos que os seus antepassados saíram de África a certa altura, mas não sabemos quando. Eles acabaram na Ásia, mas só temos provas claras deles na Sibéria. Pensamos que estiveram noutras partes da Ásia, como no Sul da China, uma vez que sabemos [através de análises genéticas] que encontraram os melanésios, habitantes da Papuásia-Nova Guiné e Ilhas Salomão. É pouco provável que estes tipos tenham ido primeiro para norte, para a Sibéria, para depois virem para sul em direcção ao Pacífico. Estamos só a começar a compreender o que se passou na Ásia.

Por que é que essa rota logo para norte é pouco provável?
A maioria das pessoas supõe que os antepassados dos melanésios [já humanos modernos], após saírem de África, seguiram uma rota através da costa Sul e Sudeste da Ásia. Por isso, a ideia de que os denisovanos foram primeiro para a Sibéria e depois é que viraram para sul parece menos provável.

Qual é a maior surpresa que este achado trouxe?
Sem dúvida, a ligação à Melanésia é uma grande surpresa. Quando os meus colegas geneticistas me falaram dela, primeiro pensei que era uma brincadeira. Teria ficado muito menos surpreendido se os chineses ou as populações da Ásia Central tivessem traços genéticos dos denisovanos. Os chineses e os mongóis estão muito mais perto da Sibéria, por isso seria mais fácil a hipótese de uma troca genética. Além disso, há muito tempo que os antropólogos chineses reivindicam a existência de uma continuidade genética na China entre os hominídeos mais antigos - principalmente o Homo erectus encontrado em Zhoukoudian [em 1921] - e os actuais chineses. Terem-se reproduzido com pessoas que vivem hoje no outro lado do mundo, a dez mil quilómetros de distância, é bastante surpreendente. Estamos a recolher amostras de populações por toda a Ásia, para tentar encontrar outras ligações. Mas até agora ainda não tivemos sucesso.

Qual é o próximo passo na investigação destes humanos?
Encontrar mais, tanto na gruta Denisova como nas grutas dos Montes Altai, e sobretudo no resto da Ásia (China, Mongólia e Indonésia). Também estamos a fazer comparações genéticas mais detalhadas, através do aumento da amostra de homens modernos. Vai ser interessante ver onde estão conservadas no genoma as partes oriundas dos denisovanos.
O Público, http://www.publico.pt

Algumas das mais bizarras e intrigantes descobertas arqueológicas


As 9 mais bizarras e controversas descobertas arqueológicas da história
Por Zitos

Muitas descobertas estranhas arqueológicas já foram feitas na história moderna. Centenas de artefatos foram descobertos que confundiram cientistas e desafiou a visão moderna da história. Muitos desses objetos foram achados fora de lugar ou anacronismos. Estas descobertas são sempre controversas e a comunidade científica é extremamente seletiva no que eles aceitam como fato consumado. Cada objeto desta lista tem sido acusado de ser um embuste elaborado. Em muitos casos, uma conspiração é a única explicação, sem uma reformulação ampla do mundo e dos livros de história. Esses artefatos contam histórias de civilizações antigas, pré-colombianas, contratos trans-oceânicos, e misteriosos avanços tecnológicos. Muitas dessas descobertas arqueológicas desafiam a teoria científica da evolução, assim como muitas crenças religiosas.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma inesquecível história de Natal – “Noite Feliz na terra de ninguém”

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Quem já viu o filme “Joyeux Noel” conhece esta história. Os factos reais que aqui vamos recordar, citando Bruno Leuzinger, inspiraram a realização do filme assim intitulado, uma produção francesa, germânica, britânica, belga e romena dirigida e roteirizada em 2005 por Christian Carion, que foi nomeado para Melhor Filme Estrangeiro no 78.º Academy Awards. Dele apresentamos um trailer no final deste post.

Noite feliz na terra de ninguém: Natal de 1914
por Bruno Leuzinger

No Natal de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial, soldados ingleses e alemães deixaram as trincheiras e fizeram uma trégua. Durante seis dias, eles enterraram seus mortos, trocaram presentes e jogaram futebol.
Finalmente parou de chover. A noite está clara, com céu limpo, estrelado, como os soldados não viam há muito tempo. Ao contrário da chuva, porém, o frio segue sem dar trégua. Normal nesta época do ano. O que não seria normal em outros anos é o fedor no ar. Cheiro de morte, que invade as narinas e mexe com a cabeça dos vivos – alemães e britânicos, inimigos separados por 80, 100 metros no máximo. Entre eles está a “terra de ninguém”, assim chamada porque não se sobreviveria ali muito tempo. Cadáveres de combatentes de ambos os lados compõem a paisagem com cercas de arame farpado, troncos de árvores calcinadas e crateras abertas pelas explosões de granadas. O barulho delas é ensurdecedor, mas no momento não se ouve nada. Nenhuma explosão, nenhum tiro. Nenhum recruta agonizante gritando por socorro ou chamando pela mãe. Nada.
E de repente o silêncio é quebrado. Das trincheiras alemãs, ouve-se alguém cantando. Os companheiros fazem coro e logo há dezenas, talvez centenas de vozes no escuro. Cantam “Stille Nacht, Heilige Nacht”. Atônitos, os britânicos escutam a melodia sem compreender o que diz a letra. Mas nem precisam: mesmo quem jamais a tivesse escutado descobriria que a música fala de paz. Em inglês, ela é conhecida como “Silent Night”; em português, foi batizada de “Noite Feliz”. Quando a música acaba, o silêncio retorna. Por pouco tempo.
“Good, old Fritz!”, gritam os britânicos. Os “Fritz” respondem com “Merry Christmas, Englishmen!”, seguido de palavras num inglês arrastado: “We not shoot, you not shoot!”(“Nós não atiramos, vocês também não”).
Estamos em algum lugar de Flandres, na Bélgica, em 24 de dezembro de 1914. E esta história faz parte de um dos mais surpreendentes e esquecidos capítulos da Primeira Guerra Mundial: as confraternizações entre soldados inimigos no Natal daquele ano. Ao longo de toda a frente ocidental – que se estendia do mar do Norte aos Alpes suíços, cruzando a França –, soldados cessaram fogo e deixaram por alguns dias as diferenças para trás. A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos generais; ela surgiu ali mesmo nas trincheiras, de forma espontânea. Jamais acontecera algo igual antes. É o que diz o jornalista alemão Michael Jürgs em seu livro Der Kleine Frieden im Grossen Krieg – Westfront 1914: Als Deutsche, Franzosen und Briten Gemeinsam Weihnachten Feierten (“A Pequena Paz na Grande Guerra – Frente Ocidental 1914: Quando Alemães, Franceses e Britânicos Celebraram Juntos o Natal”, inédito no Brasil).
Conhecido então como Grande Guerra (pouca gente imaginava que uma segunda como aquela seria possível), o conflito estourou após a morte do arquiduque Francisco Ferdinando. Herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, ele e sua esposa Sofia foram assassinados em Sarajevo, na Sérvia, no dia 28 de junho. O atentado, cometido por um estudante, fora tramado por um membro do governo sérvio. Um mês mais tarde, em 28 de julho, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia. As nações européias se dividiram. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram aos sérvios; a Alemanha, aos austro-húngaros. Nas semanas seguintes, os alemães invadiram a Bélgica, que até então se mantivera neutra, e, ainda em agosto, atravessaram a fronteira com a França. Chegaram perto de tomar Paris, mas os franceses os detiveram, em setembro.
Nos primeiros meses, a propaganda militar conseguiu inflar o orgulho dos soldados – de lado a lado. O fervor patriótico crescia paralelamente ao ódio pelos inimigos. Entretanto, em dezembro o moral das tropas já despencara. A guerra se arrastava havia quase um semestre. Os britânicos haviam perdido 160 mil homens até então; Alemanha e França, 300 mil cada. Para piorar, as condições nas trincheiras eram péssimas. O odor beirava o insuportável, devido às latrinas descobertas e aos corpos em decomposição. Estirados pela terra de ninguém, cadáveres atraíam ratazanas aos milhares. Era um verdadeiro banquete. Com tanta carne, elas engordavam tanto que algumas eram confundidas com gatos. Pior que as ratazanas, só os piolhos. Milhões deles, nos cabelos, barbas, uniformes. Em toda parte.
Quando chovia forte, a água batia na altura dos joelhos. Dormia-se em buracos escavados na parede e era comum acordar assustado no meio da noite, por causa das explosões ou de uma ratazana mordiscando seu rosto. Durante o dia, quem levantasse a cabeça sobre o parapeito era um homem morto. Os franco-atiradores estavam sempre à espreita (no final da tarde, praticavam tiro ao alvo no inimigo e, quando acertavam, diziam que era um “beijo de boa-noite”). O soldado entrincheirado passava longos períodos sem ter o que fazer. Horas e horas de tédio sentado no inferno. Só restava esperar e olhar para céu – onde não havia ratazanas nem cadáveres.
O cotidiano de horrores foi minando a vontade de lutar. Uma semana antes do Natal já havia sinais disso. Foi assim em Armentières, na França, perto da fronteira com a Bélgica. Soldados alemães arremessaram um pacote para a trincheira britânica. Cuidadosamente embalado, trazia um bolo de chocolate e dentro, escondido, um bilhete. Os alemães pediam um cessar-fogo naquela noite, entre 19h30 e 20h30. Era aniversário do capitão deles e queriam surpreendê-lo com uma serenata. O bolo era uma demonstração de boa vontade. Os britânicos concordaram e, na hora da festa inimiga, sentaram no parapeito para apreciar a música. Aplaudidos pelos rivais, os alemães anunciaram o encerramento da serenata – e da trégua – com tiros para cima. Em meio à barbárie, esses pequenos gestos de cordialidade significavam muito.
Ainda assim, era difícil imaginar o que estava por vir. Na noite do dia 24, em Fleurbaix, na França, uma visão deixou os britânicos intrigados: iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitavam as trincheiras inimigas. A surpresa aumentou quando um tenente alemão gritou em inglês perfeito: “Senhores, minha vida está em suas mãos. Estou caminhando na direção de vocês. Algum oficial poderia me encontrar no meio do caminho?” Silêncio. Seria uma armadilha? Ele prosseguiu: “Estou sozinho e desarmado. Trinta de seus homens estão mortos perto das nossas trincheiras. Gostaria de providenciar o enterro”. Dezenas de armas estavam apontadas para ele. Mas, antes que disparassem, um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. Após minutos de conversa, combinaram de se reunir no dia seguinte, às 9 horas da manhã.
No dia seguinte, 25 de dezembro, ao longo de toda a frente ocidental, soldados armados apenas com pás escalaram suas trincheiras e encontraram os inimigos no meio da terra de ninguém. Era hora de enterrar os companheiros, mostrar respeito por eles – ainda que a morte ali fosse um acontecimento banal. O capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas. Os corpos foram divididos por nacionalidade, mas a separação acabou aí: na hora de cavar, todos se ajudaram. O capelão abriu a cerimônia recitando o salmo 23. “O senhor é meu pastor, nada me faltará”, disse. Depois, um soldado alemão, ex-seminarista, repetiu tudo em seu idioma. No fim, acompanhado pelos soldados dos dois países, Adams rezou o pai-nosso. Outros enterros semelhantes foram realizados naquele dia, mas o de Fleurbaix foi o maior de todos.
Aquela situação por si só já era inusitada: alemães e britânicos cavando e rezando juntos. Mas o que se viu depois foi um desfile de cenas surreais. Em Wez Macquart, França, um britânico cortava os cabelos de qualquer um – aliado ou inimigo – em troca de alguns cigarros. Em Neuve Chapelle, também na França, os soldados indicavam discretamente para seus novos amigos a localização das minas subterrâneas. Em Pervize, na Bélgica, homens que na véspera tentavam se matar agora trocavam presentes: tabaco, vinho, carne enlatada, sabonete. Uns disputavam corridas de bicicleta, outros caçavam coelhos. Uma luta de boxe entre um escocês e um alemão foi interrompida antes que os dois se matassem. Alguém sugeriu um duelo de pistolas entre um alemão e um inglês, mas a idéia foi rechaçada – afinal, aquilo era um cessar-fogo.
Porém, o melhor estava por vir. Nos dias 25 e 26, foram organizadas animadas partidas de futebol. Centenas jogaram bola nos campos de batalha. “Bola” em muitos casos era força de expressão; podia ser apenas um monte de palha amarrado com arame, ou uma lata de conserva vazia. E, no lugar de traves, capacetes, tocos de madeira ou o que estivesse à mão. Foi assim em Wulvergem, na Bélgica, onde o jogo foi só pelo prazer da brincadeira, ninguém prestou atenção no resultado. Mas houve também partidas “sérias”, com direito a juiz e a troca de campo depois do intervalo. Numa delas, que se tornou lendária, os alemães derrotaram os britânicos por 3 a 2. A vitória suada foi cercada de polêmica: o terceiro gol alemão teria sido marcado em posição irregular (o atacante estava impedido) e a partida, encerrada depois que a bola – esta de verdade, feita de couro – furou ao cair no arame farpado.
A maioria das confraternizações se deu nos 50 quilômetros entre Diksmuide (Bélgica) e Neuve Chapelle. Os soldados britânicos e alemães descobriam ter mais em comum entre si que com seus superiores – instalados confortavelmente bem longe da frente de batalha. O medo da morte e a saudade de casa eram compartilhados por todos. Já franceses e belgas eram menos afeitos a tomar parte no clima festivo. Seus países haviam sido invadidos (no caso da Bélgica, 90 por cento de seu território estava ocupado), para eles era mais difícil apertar a mão do inimigo. Em Wijtschate, na Bélgica, uma pessoa em particular também ficou muito irritada com a situação. Lutando ao lado dos alemães, o jovem cabo austríaco Adolf Hitler queixava-se do fato de seus companheiros cantarem com os britânicos, em vez de atirarem neles.
Naquele tempo, Hitler ainda não apitava nada. Entretanto, os homens que davam as cartas também não estavam nem um pouco felizes. Dos quartéis-generais, os senhores da guerra mandaram ordens contra qualquer tipo de confraternização. Quem desrespeitasse se arriscava a ir à corte marcial. A ameaça fez os soldados voltarem para as trincheiras. Durante os dias seguintes, muitos ainda se recusavam a matar os adversários. Para manter as aparências, continuavam atirando, mas sempre longe do alvo. Na noite do dia 31, em La Boutillerie, na França, o fuzileiro britânico W.A. Quinton e mais dois homens transportavam sua metralhadora para um novo local, quando de repente ouviram disparos da trincheira alemã. Os três se jogaram no chão, até perceberem que os tiros eram para o alto: os alemães comemoravam a virada do ano.
A trégua velada resistiu ainda por um tempo. Até março de 1915, alemães e britânicos entrincheirados em Festubert, na França, faziam de conta que a guerra não existia – ficava cada um na sua. Mas a lembrança das confraternizações foi aos poucos cedendo espaço para o ódio. A carnificina recrudesceu, prosseguindo até a rendição da Alemanha, em novembro de 1918, arrasando a Europa e deixando cerca de 10 milhões de mortos. Talvez a matança até valesse a pena, se a profecia do escritor de ficção científica H.G. Wells tivesse dado certo. O autor de A Máquina do Tempo escrevera em um ensaio que aquela seria “a guerra que acabaria com todas as guerras”. Wells, é claro, estava enganado. Os momentos de paz, como os do Natal de 1914, seriam escassos também ao longo de todo o século 20. A Grande Guerra tinha sido só o começo.

In Aventuras da História - http://historia.abril.com.br
Reedição de 22-12-2009 in http://www.historiadigital.org

Joyeux Noel

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Faleceu Jacqueline de Romilly, especialista na civilização e língua gregas

A académica francesa Jacqueline de Romilly, 97 anos, especialista na civilização e língua gregas, que foi a primeira mulher docente do Collège de France, morreu, ontem, sábado, disse hoje o seu editor, Bernard de Fallois.
A agência noticiosa France Presse afirma que Jacqueline de Romilly encarnava os estudos gregos e clássicos em França assim como uma conceção exigente e humanista da cultura, tendo em 60 anos escrito numerosas obras.
Em 1988 tornou-se a segunda mulher eleita para a Academia Francesa, depois da escritora Marguerite Yourcenar.
Membro correspondente estrangeiro da Academia de Atenas, Jacqueline de Romilly obteve a nacionalidade grega em 1995 e foi nomeada embaixadora do helenismo em 2000.
"É uma perda para o nosso país", disse à imprensa a secretária perpétua da Academia, Hélène Carrère d'Encausse.
"Era uma mulher que dedicou toda a sua vida à língua e cultura gregas porque considerava que era uma educação para a compreensão da liberdade e do indivíduo, e de empenho na democracia", sublinhou.

Fonte e foto: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1738713

Os últimos avanços da ciência sobre Tutankhamon

Tutankhamon, o 10.º faraó da XVIII dinastia do império egípcio, filho de Akhenaton e de uma esposa secundária deste, o que se presume, nasceu cerca 1341 a. C. e faleceu em 1324 da mesma era. Governou apenas 9 anos, desde 1333 até à sua morte, na adolescência. A descoberta da sua câmara funerária, em Novembro de 1922, por Howard Carter em 1922, praticamente intacta, o que é considerado ainda hoje um caso raro entre as sepulturas reais encontradas, logo se afigurou como uma das mais extraordinárias descobertas arqueológicas do século XX, quiçá de todos os tempos, transformando a sua figura numa das mais fascinantes na imaginação moderna. Para este fascínio, ainda vigoroso, concorre evidentemente o facto de ele ter morrido tão precocemente. Durante cerca de 85 anos, preocupação de arqueólogos e cientistas foi desvendar o mistério da sua morte. Aventaram-se, através de autópsias e raio-X, as mais variadas explicações, desde a hipótese de ter sido vitimado por uma tuberculose, de um homicídio ou de um acidente. Contudo, a mais corrente explicação era a que se referia a uma queda fatal de uma carruagem enquanto caçava no deserto. Apesar de todas as experiências nela efectuadas ao longo desses anos a múmia de Tutankhamon foi mantida à distância dos olhares do público, até que em 2007 ela foi, finalmente exposta em tudo o que restava da sua constituição orgânica no Vale dos Reis, no Egipto. Entretanto a Ciência já vinha podendo finalmente avançar com novas investigações e procurar responder a duas das questões que se podem colocar a respeito deste enigmático faraó que faleceu aos dezassete anos de idade: Qual foi a causa da sua morte? Qual teria sido o seu aspecto, o seu rosto em vida? São as propostas avançadas pela investigação científica mais recente a essas questões que vamos submeter ao juízo dos leitores com base nas “Notícias com História” que se seguem.
Imagem: http://www.ideiasolta.net/blog/?p=290

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

História do Natal digital

Trata-se da “História da Natividade contada no século XXI”, isto é que alguém resolveu contar de uma forma inédita e divertida, utilizando os recursos da Internet, redes sociais e smartphones. Já foi publicada por Sérgio Morais, no passado dia 10 de Dezembro, nos blogues Notícias de Valpaços e Histórico-filosóficas. VALE A PENA Ver!

Carregado por ExcentricPT, a 6-12-2010

Para quem aprecie mais as curiosidades sobre o Natal contadas pela forma tradicional, sugerimos que clique sobre a imagem seguinte.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Há 64 anos – As escaramuças entre as forças do regime em Portugal e os anti-franquistas na raia transmontana


lápide em homenagem aos heróis de Cambedo da Raia
http://caminhosdamemoria.wordpress.com
Fez esta madrugada de 20 de Dezembro, 64 anos, que iniciaram os violentos confrontos entre as forças da PIDE e da GNR e os opositores espanhóis à ditadura franquista de que resultaram várias mortes e prisões de transmontanos de várias idades, incluindo crianças de 8 e 9 anos em várias localidades da raia transmontana.

O trágico evento tem sido designado por “escaramuças de Candedo”, por alguns autores e por “combate de cambedo”, por outros. Candedo e Cambedo são duas localidades distintas, aquela uma das mais ocidentais freguesias do concelho de Vinhais e esta uma pequena aldeia da freguesia de Vilarelho da Raia, do concelho e proximidade de Chaves e mesmo no limite da fronteira com a Galiza. Correndo o risco de sermos apontados como sectários, parece-nos justo reconhecer, fazendo fé nos relatos oficiais e na memória colectiva dos transmontanos, que o epicentro desta tragédia, foi a pequena aldeia de Cambedo da Raia, sem prejuízo para o devido reconhecimento do sofrimento dos habitantes das várias aldeias do concelho de Vinhais nos dias que antecederam tal tragédia – as denúncias relativas a assaltos cometidos pelos acossados refugiados, registados nos relatórios da GNR, referem-se de facto ao concelho de Vinhais. Mas, de acordo com as mesmas fontes, o plano de intervenção da GNR, gizado em conluio com inspectores oficiais da PIDE, apontava como alvos de intervenção prioritária, não Candedo mas Cambedo da Raia, a par de outras povoações do concelho de Chaves. O ataque a Cambedo, por Vilarelho da Raia, foi de facto o mais aceso e foi nesta aldeia, e não na de Candedo, que os ocupantes das casas da Engrácia, da Escolástica, do Mestre, do Adolfo e do Silvino, acordaram estremunhados com todos os cães da aldeia a ladrar a rebate e se iniciaram os primeiros tiros que levaram à famigerada escaramuça e  às suas dramáticas consequências. De resto, escusado seria lembrar, a coragem revelada, por largos anos, por estes “pobres” habitantes do Cambedo em valer aos desgraçados “guerrilheiros” que poucos esforços tiveram de dispender para que nisso se vissem contemplados, fazem parte da memória colectiva destes povos, espanhóis ou portugueses, como é atestado pelo monumento que foi erguido em sua homenagem e que encabeça este post. 

Para conhecer um relato detalhado e exaustivo deste memorável acontecimento, publicado hoje mesmo por José João da Costa Couto, com base em informações colhidas de outras fontes, consulte o seu blogue, O ABACIENTE.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Tragédia do World Trade Center revela achado arqueológico


World Trade Center «escondia» navio do século XVIII

Maior descoberta arqueológica em Nova Iorque desde 1982
Ciência hoje, 2010-07-16

No local onde, até 11 de Setembro de 2001, estava edificado o World Trade Center (WTC), foram encontrados vestígios de um navio de quase dez metros de comprimento que os especialistas pensam ser do século XVIII e que deverá ter afundado nesse local de Nova Iorque, antes de a cidade ter sido ampliada em direcção ao rio Hudson.
Os vestígios da embarcação foram descobertos na terça-feira pelos trabalhadores que retiravam os escombros do Ground Zero e estavam enterrados a uma profundidade entre seis e nove metros abaixo do nível do chão.

sábado, 18 de dezembro de 2010

A crise monetária do fim da Guerra de 1914-1918 e as cédulas fiduciárias da Câmara Municipal de Valpaços

Por Leonel Salvado


O significado de cédulas
Como é, provavelmente do conhecimento geral, e com toda a certeza do conhecimento mais apurado de numismatas, coleccionadores ou simples adeptos da “notafilia”, os nomes “cédula fiduciária” ou, simplesmente “cédula”, servem para designar as formas de “dinheiro de emergência” ou “de recurso”, expressões de existem nas línguas francesa, inglesa e alemã, utilizadas em ocasiões de falta de metal e de moeda oficial, impressas em papel, postas em circulação, tanto pelo Estado como por outras entidades públicas e privadas. Trata-se,portanto, de “dinheiro divisionário” que pelo seu baixo valor e validade temporária se justificava a cunhagem sob a forma de papel, de fraca resistência e mais rápida deterioração.

Numa interpretação mais erudita, como a que nos é apresentada por Mário S. de Almeida, no Prefacio ao Catálogo Geral das Cédulas de Portugal, de sua autoria, editado pela Sociedade Portuguesa de Numismática (Porto, 1980), a palavra «cédula» deriva do latim «schedula» que significa «pequena folha de papel». Ainda segundo Mário S. de Almeida, na definição técnica de Pedro Batalha Reis (“Cartilha da Numismática Portuguesa” – Vol I, pp. 473-479, Lx, 1946) entende-se por cédula “a moeda divisionária de papel, cuja conversão é mencionada no cobre, em oposição a «nota», «moeda principal de papel, convertível numa circulação fiduciária em ouro ou em prata»”. Diz-se «fiduciária» por representar um valor que na realidade não possui e que é aceite apenas pela confiança («fiducia») “na garantia dada por quem a emite de que, quando se desejar, se poderá trocar por metal desse valor”. (M. S. de Almeida, Id.).

Resenha história das cédulas em Portugal
Segundo o mencionado autor do “Catálogo Geral”, houve três períodos distintos em Portugal que suscitaram a emissão de cédulas:

1. A crise resultante das guerras liberais e das dificuldades dos constitucionais em aprimorar o controlo da administração em todo o país. Os partidários de D. Pedro que vinham sendo perseguidos no Continente, encontraram refúgio na ilha Terceira, nos Açores aonde nem sequer aquele, afundado em dificuldades de vária ordem no Brasil, lhes podia valer. Este grupo de refugiados liberais chegava aí cada vez em maior número, apesar do bloqueio imposto pela Inglaterra aos desembarques nas ilhas. Assim a 14 de Maio de 1830, obtiveram os liberais refugiados da ilha Terceira, a formalização do Decreto pela Regência, com essa data, com a autorização para a emissão de três cédulas impressas, no valor de 500 réis, 250 réis e 100 réis. Foram as primeiras referências que se encontram acerca de cédulas no nosso país. Mas esta primeira experiência não parece ter passado do projecto, visto que nunca foram vistas, nem se sabe de ninguém que tenha visto as referidas cédulas.

2. A crise económica de 1891, durante a qual se verificou um desaparecimento do metal em circulação, sendo emitidas pela Casa da Moeda cédulas designadas como representativas das moedas de bronze, embora, o facto de só existirem exemplares com os valores entre 50 a 400 réis, representativas das cunhagens correntes em prata conduza à sugestão de que era este metal, tal como o ouro, o que se encontrava em falta nessa conjuntura de crise que assolou o país e obrigou o Banco de Portugal e alguns particulares a recolhê-los  à pressa, sob pressão constante dos credores estrangeiros ou sob receio de uma bancarrota. É nestas circunstâncias que, no início do mês de Maio de 1891 se verificou a falência de dois importantes bancos portugueses, o Banco do Povo e o Banco Lusitano o que originou uma desenfreada corrida aos depositários do Banco de Portugal com o propósito de salvar as suas contas ou, na pior das hipóteses, trocar as suas notas por ouro, no que foram impedidos pelo decreto de 7 de Maio, que determinava a suspensão dessa convertibilidade. Em todo o caso, foram levantados 1200 contos de depósitos e trocados mais de 500 contos de notas por prata, todos estes valores depois açambarcados. Perante a suspensão de pagamentos pelo Banco de Portugal e a ruína de toda a estrutura económica portuguesa, ainda tentou o Governo evitar o pior, decretando, a 10 de Maio, uma moratória de 60 dias nas transacções bancárias. Debalde porém, já que o açambarcamento do ouro e da prata acentuou-se de forma mais célere, ao ponto de terem desaparecido completamente de circulação. É então que por todo o país se generaliza o acto de emissão de senhas ou vales por parte das entidades ou organizações comerciais, bem como os talões designados de “bonds” pela Câmara Municipal do Porto, com autorização oficial, que eram autênticas cédulas com aceitação geral por todo o país. Seguiu-se e emissão pelo Banco de Portugal, decretada a 9 de Julho, de notas de 500 e 1.000 réis, e pela Casa da Moeda, decretada a 6 de Agosto, de cédulas de 100 réis e 50 réis equivalentes, correspondentes, respectivamente, às moedas de bronze de 10.000 réis e 5.000 réis. Contando com a normalização da estrutura financeira, decretou-se a 13 de Agosto a proibição de emissões de cédulas e a recolha, no prazo de 8 dias das que se encontravam em circulação, com excepção da Câmara Municipal do Porto, que foi contemplada com o prazo de dois meses, prorrogado depois para o termo do ano civil. Também no Ultramar, segundo fontes oficiais, houve o Governo que proceder à emissão de cédulas oficiais, como aconteceu em Angola com as de 100, 200 e 500 réis que circularam em substituição das notas que eram correntes com mais alto valor, emitidas pela respectiva Junta da Fazenda. Não se conhece, todavia, nenhuma dessas cédulas.

3. A crise do Fim da Guerra de 1914-1918. Devem saber os mais assíduos visitantes do “Clube de História de Valpaços” que os assuntos relativos aos nefastos efeitos imediatos desta guerra e a impotência revelada pelas instituições democráticas da 1ª República e da chamada “República Nova” que foi um prelúdio do regime ditatorial do “Estado Novo”, já foram aqui objectivamente ventilados na categoria “Memorial [local/regional]. Este terceiro período da emissão de cédulas em Portugal assumiu proporções que nos autorizam a encará-lo como um período bem diferente dos dois anteriores. Como observa Mário S. de Almeida (Id., p. XVII), “voltaram a aparecer cédulas no nosso país, mas então, como de resto por toda a Europa, foi pela medida grande.” Estando a prata efectivamente já afastada de circulação (e do ouro nem se fala!), o problema que agora se punha era o da falta de a circulação das moedas de baixo valor, devido à escassez de cobre, bronze e cupro-níquel, açambarcadas com vista à sua utilização para fins industriais, para proverem às necessidades impostas pela máquina de guerra dos aliados e das mais prematuras campanhas de África. Segundo o autor do Catálogo Geral das Cédulas em Portugal, as cédulas que aparecem então são de valores muito mais baixos, na sua maioria de 1 a 5 centavos e com menos representatividade de 1/2 centavos a 10 centavos, sendo que as de 20 centavos e, excepcionalmente, as de de valores superiores, só apareceram após a grande inflacção de 1922. Mas até então, as cédulas passaram a ser emitidas por um grande número de Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Associações Comerciais e outras instituições, com a particularidade de essas emissões terem sido deliberadas à revelia do Governo, já que não se conhece qualquer referência a legislação que a autorizasse, sendo, muito pelo contrário e à luz da legislação precedente, consideradas proibidas as emissões que não fossem as da Casa da Moeda.


As cédulas da Câmara Municipal de Valpaços
É no contexto do terceiro dos períodos mencionados que podemos enquadrar as cédulas fiduciárias emitidas pela Câmara Municipal de Valpaços, por deliberação datada de 1 de Abril de 1921 sob a presidência de José Joaquim Pereira Miranda Branco, um dos históricos do Partido Progressista em Valpaços que chegou a ser o Vice-presidente da respectiva Comissão executiva criada em 1897, o que se extrai do excelente trabalho da autoria de José António Soares da Silva, “O Partido Progressista de Valpaços”, editado em 2006 pela Câmara Municipal. As cédulas foram produzidas pela Litografia Nacional, no Porto.
É pena que as cédulas da Câmara Municipal de Valpaços de 1921 não pareçam ter merecido ainda a atenção devida e continuem a ser pouco conhecidas do público mais jovem do município, apesar de se saber da existência de algumas colecções particulares, como esta que iremos divulgar. Faço votos para que a Câmara Municipal considere a possibilidade de adquirir uma destas colecções e integrá-la no seu promissor projecto museológico para a cidade, sendo sabido que nas divulgadas "Opções do Plano do Município para 2010" já se anunciava que a cidade iria contar com um Museu Arqueológico e Etnográfico e um Museu do Vinho, e sendo de presumir que as obras para a construção da Biblioteca e Arquivo se encontram em fase de conclusão.
A colecção que aqui expomos é composta por cinco cédulas, consideradas “Comuns” ou “Vulgares” (três das quais foram depois sobrevalorizadas e são mais escassas). São cópias digitalizadas dos originais autênticos, dispostas pela ordem do seu valor primitivo. A face reversa é a mesma e é a que se encontra a encabeçar este post. Para as visualizar mais pormenorizadamente basta clicar sobre cada uma delas. As suas características são as que se seguem:

Grau de Raridade – cotações: C – Comuns ou vulgares (que quase todos os coleccionadores possuem e muitos as têm repetidas); E – Escassas (que muitos coleccionadores possuem, mas já faltam a bastantes).
Fonte: ALMEIDA, Mário S. de, Catálogo Geral das Cédulas de Portugal, S.P. de Numismática, Porto 1980, p.222.







Originais: Colecção particular de Manuel Medeiros

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A recuperação da cabeça perdida de Henrique IV – um embuste ou vingança efectiva dos Bourbom?

A Ciência reconhece caveira de Henrique IV
in http://pt.euronews.net/tag/arqueologia , 16/12/2010

Espécie de hominídeo nunca antes identificado terá vivido na Sibéria há 40 mil anos

Investigadores dizem que serão necessários mais estudos para confirmar a descoberta deste ser
Ciência Hoje 2010-03-25

Na Gruta Denisova, na Sibéria, uma equipa de investigadores russos encontrou, durante uma escavação, o osso de um dedo. Foi no Verão de 2005 e na altura os cientistas puseram de parte o achado para o estudarem mais tarde por pensarem tratar-se de o osso de um Neandertal, comum naquela zona e, nomeadamente, naquela caverna.
Svante Pääbo, do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology »

Finalmente, o osso foi analisado e está a surpreender a comunidade científica. Na revista «Nature» está agora publicado o estudo que revela que, provavelmente, se está perante uma espécie de hominídeo com 30 mil anos até agora desconhecido.

Uma equipa de investigadores do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology extraíram e sequenciaram o DNA do fóssil. De facto, este não coincidia com o do Homo neanderthalensis nem com o homem moderno, que naquela época habitavam aquele espaço.
Os investigadores acreditam que se trata de uma espécie anterior não identificada que saiu de África muito antes dos seus “parentes” conhecidos. Pensa-se que será 500 mil anos mais velha do que os Neandertais.

Svante Pääbo, um dos autores deste estudo de âmbito internacional, confessa-se surpreendido por este “resultado inesperado”.

No entanto, este é apenas um estudo preliminar. O cientista Eske Willerslev, do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhaga, não envolvido no estudo, aplaude a descoberta mas sublinha que é necessário guardar algumas reservas, pois só com mais estudos se pode confirmar este estudo inicial.
Ainda há muitas perguntas para responder. Na gruta onde se encontrou este ser, designado para já de «Mulher X», foram também encontrados artefactos e ferramentas de pedra e de osso bastante sofisticados. Nas primeiras análises estes objectos não parecem pertencer à cultura mustierense, associada aos Neandertais. Gruta Denisova, Sibéria»

 A Caverna Denisova, nos Montes Altai, Sibéria, Rússia, próximo da vila Tchyorny Anui, era já conhecida como uma fonte rica em artefactos mustierenses, de técnica Levallois. Há mais de uma década que investigadores russos do Instituto de Arqueologia e Etnologia de Novosibirsk procuram os autores destes artefactos. Esta descoberta vem enriquecer ainda mais este local.
Agora, os investigadores estão agora a tentar sequenciar o genoma por completo. Se forem bem sucedidos, serão mais antigo genoma humano a ser sequenciado.

Artigo: The complete mitochondrial DNA genome of an unknown hominin from southern Siberia
In http://www.cienciahoje.pt

Novo australopiteco identificado é candidato a antepassado directo do «Homo»

Dois esqueletos descobertos na África do Sul revelam nova espécie baptizada como «Australopithecus sediba»
Ciência hoje, 2010-04-08
Restos dos dois exemplares encontrados

A descoberta de uma nova espécie de Australopithecus foi hoje anunciada na revista «Science». Baptizada como Australopithecus sediba, foi revelada através da análise de esqueletos de uma mulher e de uma criança com dois milhões de anos encontrados na África do Sul.