segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Datas comemorativas de hoje

Comemoram-se hoje os aniversários dos nascimentos de dois dos nossos monarcas e os 671 anos da admirável Batalha do Salado, à qual a História de Portugal está indissociavelmente ligado. Para rever o que publicámos em 2010 acerca destas datas comemorativas click em cada uma das imagens.
  

sábado, 29 de outubro de 2011

Cândido Sotto Mayor faleceu há 76 anos


É dia de recordar Cândido Sotto Mayor, um ilustre transmontano oriundo da freguesia de Lebução cujo 159.º aniversário do seu nascimento seria de comemorar há três dias e hoje se assinala o 76.º aniversário da sua morte.

Rever a biografia deste membro da nossa
 Galeria de Notáveis
  AQUI.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – SONIM

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Permita-se-me que faça aqui referência a uma curiosa ilação histórica que retiro desta memória paroquial de 1758 a respeito da freguesia de Sonim: A singular capela do Senhor do Bonfim bem como a devoção a este santo, que actualmente é uma referência comum e vem sendo festejado anualmente no último Domingo do mês de Julho, não serão tão antigas como talvez se possa pensar. Posto que não haja a mínima alusão a elas da parte do Abade de Sonim, o Padre António de Morais Machado, e sendo que no manuscrito lavrado na data mencionada, o mesmo Abade atesta, com clareza, a existência de duas capelas apenas, a do Santo Cristo e de São Frutuoso cuja Irmandade aqui instituída nessa época seria o principal motivo de atracção e festa religiosa, a capela do Senhor do Bonfim é de construção mais recente e a tradição popular da festa que lhe está associada será também, seguramente.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 35, SONIM, Monforte de Rio Lima (leia-se SONIM, Monforte de Rio Livre)
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 35, n.º 207, p. 1497 a 1500]

Lembrança do lugar de Sonim feita pelo Padre António de Morais Machado, Abade da mesma freguesia, conforme os interrogatórios que desta se mandou pedir.

É Sonim um lugar de cento e três fogos, de pessoas moradores nele duzentas e setenta e quatro, de confissão e comunhão, e de confissão somente vinte e quatro.
Fica, este, na Província de Trás-os-Montes, no Termo da Vila de Monforte de Rio Livre, Bispado de Miranda e dista da catedral dezasseis léguas. Está em um vale, entre outeiros, que só tem nome entre os seus oradores.
É este lugar da Abadia de São Miguel de Fiães que é a cabeça da mesma Abadia, porém neste lugar residem sempre os Reverendos Abades por terem nele a sua residência, e de que é orago do dito lugar Nossa Senhora da Assunção.
É Abadia do Padroado Real. Tem de renda livre para o Abade, depois de tirada a Patriarcal a pensão antiga que são noventa mil réis, fica livre trezentos e cinquenta mil réis. Apresenta esta Abadia, in solidum, três curas, um em Fiães, outro em Barreiros e outro em Sonim que é coadjutor do mesmo Abade e entra na freguesia de Aguieiras na apresentação do cura alternativo com o Reverendo Abade de Bouçoais.
É a igreja, do dito lugar, comprida, com duas naves com seu frontispício e arrematadas as naves na capela-mor que é quadrada. Tem três altares, o da capela-mor e dois no corpo da igreja, um de Nossa Senhora do Rosário e outro de Santo António. Está esta igreja no meio do lugar e não tem mais coisa que se haja de fazer memória dela.
Estão dentro do mesmo lugar duas capelas, uma do Santo Cristo e outra de São Frutuoso, separada uma da outra em distância de dez passos. Tem esta capela de São Frutuoso uma Irmandade do mesmo Santo de muitos Irmãos que têm estes, na Confraria, muitas indulgências pelas quais concorrem à dita capela muitos Irmãos pelo decurso do ano e, com mais frequência, no dia do mesmo Santo.
Avista-se do mesmo lugar parte da terra de Mirandela e da Torre de Dona Chama, porém não se descobre povoação que se haja de fazer memória dela e declaro que é da Comarca da Torre de Moncorvo o dito lugar.
O fruto que os moradores deste lugar recolhem com mais abundância é centeio, de que a terra é natural; colhe pouco milho e feijões só o que necessitam para suas casas. Recolhem pouco azeite, castanha ordinária, como também vinho ordinário.
Tem este lugar juiz Espadano [Pedâneo] e está subordinado ao juiz ordinário da Vila de Monforte que é a cabeça desta terra.
Serve-se esta terra do correio da vila de Chaves que dista quatro léguas e dista da cidade de Bragança nove léguas, cidade do mesmo Bispado, e da de Lisboa oitenta.

Tem este lugar de Sonim, no fim do seu termo, para a parte do Poente, um rio chamado Rabaçal. Começa este em Galiza e perde o nome por baixo de Frechas, metendo-se no rio Tua, e corre do Norte para o Sul. É rio caudaloso nas tempestades, por acudirem e correrem para ele as águas de muitos montes e algumas ribeiras de pouco nome. Corre todo o ano. Não tem pesqueiras particulares. Criam-se nele bogas, barbos, escalos e trutas, por ser terra fria, e todos têm especial gosto. É rio fragoso, conquanto conserva o nome de Rabaçal, e não se cultivam as suas margens por serem muito fragosas. 
Tem este rio apenas uma ponte de cantaria entre Fornos e Vale de Telhas e tem muitas barcas pelo rio acima, e no mesmo têm os moradores moinhos. Conserva este rio o seu nome Rabaçal dez léguas.

Isto é o que tenho que dizer deste lugar de Sonim por não haver coisa memorável que houvesse de responder aos interrogatórios, nem fora dele. E por me ser mandada fazer esta clareza, a fiz, dia 13 de Abril de 1758.

O Abade, António de Morais Machado

132.º Aniversário no nascimento de Dª Maria do Carmo Carmona

Dona Maria do Carmo Carmona, nasceu no dia 20 de Outubro de 1879 na freguesia de Serapicos, já então integrada no concelho de Valpaços. Tornando-se na primeira-dama por via do seu casamento, em Chaves, com o alferes de Cavalaria, Óscar Fragoso Carmona que viria a ser o mais alto magistrado da Nação, foi uma senhora que guardou sempre no seu coração um sentimento de carinho para com a sua região natural e realizou inúmeras acções de benemerência tanto na capital, que a viu falecer, como na sua província natal. Por esse motivo também o Município de Valpaços, em memória desta grande senhora, baptizou uma das suas avenidas ou rua com o seu nome, da mesma sorte que em Vidago e em Chaves perduram referências toponímicas em sua homenagem.
Para rever uma resenha biográfica que transcrevemos para a nossa "Galeria de Notáveis", AQUI:

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – SERAPICOS

Por Leonel Salvado


 Nota prévia: Mais uma vez me vejo na obrigação de advertir os leitores interessados nesta série documental das Memórias paroquiais de 1758 das freguesias que hoje integram o concelho de Valpaços de que a publicação da autoria de José Viriato Capela intitulada “As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758, Memórias, História e Património” tem por base um documento sobre Serapicos que não se trata, na verdade, da actual freguesia de Serapicos de Valpaços, que então se designava por Sarapicos, mas sim da freguesia homónima do distrito de Bragança que era uma abadia do padroado real, como tive o cuidado de verificar e se encontra devidamente identificada na relação deste conjunto de documentos de todo o país que a Torre do Tombo disponibiliza em formato digital. O manuscrito que nos interessa nesta série de Memórias paroquiais de 1758, relativo a Serapicos do concelho de Valpaços, é este que passo a transcrever. Alguns topónimos foram transcritos na forma como se lêem na cópia do manuscrito original.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo34, SERAPICOS , Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 34, n.º 79, p. 657 a 660]

Sarapicos


Satisfazendo a ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral desta Comarca de Chaves.
O Padre João dos Santos, Pároco nesta freguesia de Santa Ana de Sarapicos, faço certo em que esta freguesia fica sita na Província de Trás-os-Montes, Comarca e Termo de Vila de Chaves, Arcebispado de Braga, Primaz.
Esta terra é do Ducado da Sereníssima Casa de Bragança.
Tem esta freguesia, ao presente, noventa e dois fogos, pessoas de Sacramento duzentas e oitenta e seis, menores vinte e duas e ausentes vinte e oito.
Está situada junto ao cume da montanha, virada para o Nascente, no cimo de um vale. Dela se descobre a Vila de Mirandela, distante quatro léguas e o lugar de São Pedro de Veiga do Lila, distante três léguas, e nenhum outro mais se avista.
Toda esta freguesia está em termo seu sem que seja sujeita a outro Senhorio. Consta de cinco lugares que são Sarapicos, Corveira, São Ciprião, Aveleda e Friande. Sarapicos tem de fogos quarenta e seis, Corveira doze, São Ciprião dezanove, Aveleda nove e Friande seis.
A igreja paroquial está no meio do lugar de Sarapicos. O orago dela é Santa Ana e tem três Altares, o maior de Santa Ana, os colaterais, da parte do Evangelho, de Nossa Senhora do Rosário, e o da parte da Epístola, de São Sebastião. Tem uma só nave e não tem Irmandade alguma.
O pároco desta é vigário ad Nutum, apresentado pelo Reverendo cabido da Sé de Braga e renderá, cada um ano, setenta mil réis.
Não tem beneficiado algum.
Não tem convento algum.
Não tem hospital.
Não há Casa de Misericórdia.
Tem esta freguesia quatro capelas que são, em Corveira de Santa Margarida, em Sarapicos,de São Sebastião, em Aveleda, da Senhora dos Remédios, e em São Ciprião, o mesmo São Ciprião; são as invocações. Todas estas capelas estão dentro dos mesmos lugares referidos e a fabricação delas pertence aos moradores dos mesmos lugares. Não acode a elas, em tempo algum do ano, romagem.
A maior quantidade de frutos que esta terra costuma dar é centeio.
É governada esta terra pelo juiz de fora e Comarca da Vila de Chaves.
Não há memória que desta freguesia  saísse homem insigne em virtudes, Letras ou Armas.
Não tem feira. Somente, em dia de Santa Ana, se juntam alguns tendeiros, padeiros e frutas de que se não pagam coisa alguma.
Serve-se esta freguesia do correio da Vila de Chaves, que parte na Segunda feira e chega na Quarta, que dista desta freguesia duas léguas grandes e, de Chaves a Vila Real, aonde ele chega, nove léguas.
Dista esta da cidade de Braga, capital deste Arcebispado, dezoito léguas e da cidade de Lisboa, capital do Reino, setenta léguas, conforme dizem.
Não tem privilégio algum esta terra.
Não há nesta freguesia, nem perto, fonte de água alguma com especialidade, nem vizinha.
Não há porto de mar nesta freguesia, nem perto dela há castelo ou fortificação alguma.

Capítulo primeiro, digo segundo.
Nesta freguesia não há serra alguma. Tudo é terra cultivada e não tenho mais que dizer destes interrogatórios.

Capítulo terceiro.
Nesta freguesia não há rio nem ponte, nenhum moinho nem pisão, somente duas fontes que tem este lugar de Sarapicos sitas por baixo da igreja em que principia um pequeno regato que corre do Poente ao Nascente e de cujas águas se servem livremente os moradores dela para limar e regar, e, saindo fora dos limites da freguesia, se junta com outro semelhante e passam pelo lugar de Midões e junto ao lugar do Crasto e de Rio Torto e, logo abaixo deste, fenece no rio Tua, que distará desta freguesia três léguas. E ao longo deste regato há alguns amieiros e carvalhos e não há peixe de casta alguma.


E não tenho mais que responda em todos estes interrogatórios, nem há coisa alguma mais digna de memória, e, por tudo ser na verdade, roguei ao Padre Filipe Borges, de Vilarinho do Monte, que esta me escrevesse por me achar com impedimento, e tudo o referido o juro in verbo Sacerdotis.
Sarapicos, dezassete de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.

O Pároco João dos Reis

O Vigário de Nuzedo, Padre João Nunes
O Reitor de Nossa Senhora da Assunção de Santa Leocádia, Manuel Álvares.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Alguns topónimos foram transcritos na forma como se lêem na cópia do manuscrito original. 

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo32, RIBEIRA DE ALHARIS , Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 32, n.º 94, p. 557 a 568]

Freguesia de São Tiago da Ribeira de Alharis, Província de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga, comarca e termo de Chaves, Ouvidoria correccional de Bragança.

Em cumprimento de uma ordem que me foi entregue do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral desta Comarca de Chaves, Bento de Carvalho e Faria, nos vinte e dois dias do mês de Fevereiro deste presente ano de mil e setecentos e cinquenta e oito, com os interrogatórios que com esta vão inclusos, para que o Reverendo Pároco desse notícia deles e, por estar com moléstia, fiz a mesma diligência eu, Alexandre da Silva, cura desta mesma freguesia de São Tiago da Ribeira de Alharis desta Comarca de Chaves e assim vendo eu, com a consideração de pude, os ditos interrogatórios, a notícia que posso dar deles é a que se segue e nos que eu não falar é porque não há aqui nesta freguesia o que eles em si contém.

Deus me ajude.
A igreja desta freguesia, que é seu Padroeiro o Milagroso Apóstolo São Tiago e lhe chamam São Tiago da Ribeira de Alharis, tem três naves divididas em duas carreiras de arcos. Tem quatro altares, o altar-mor que é o do Padroeiro e, da parte do Norte, tem um colateral de Nossa Senhora do Rosário; da parte do Sul tem outro altar do Milagroso Santo António e no costão da mesma parte tem outro do Milagroso Santo Cristo e, neste, há uma Irmandade do mesmo.
Esta igreja é de título de vigairaria e é de apresentação do Reverendo cabido da Sé Primaz de Braga e é de devoção pelos mais antigos residentes no povo dela e rende para o Pároco trezentos mil réis.
Compõe-se esta freguesia de catorze lugares, entre grandes e pequenos, dos quais quatro estão em Montanha e os mais estão em Ribeira.
O primeiro é este de São Tiago, que é o primeiro da Ribeira, o qual tem, com o Pároco, quatro vizinhos e pessoas catorze. A igreja está quase no meio dela. E tem também este povo uma capela de São Sebastião, a qual está também dentro do povo e pertence à freguesia.
O segundo Lugar é o de Paradela, o qual tem vinte e um vizinhos. Tem este uma capela no meio que fabricam estes mesmos moradores, que é o seu orago Santa Maria Madalena.
O terceiro é Sobredo, o qual não consta senão de um vizinho.
O quarto é Parada, o qual tem nove vizinhos e no meio dela tem uma capela que fabricam estes mesmos moradores e é seu orago Nossa Senhora da Expectação. Ajudam à sua fábrica o lugar de Cancelo e São Jozenda.
O quinto é São Jozenda, o qual se compõe de quinze vizinhos.
O sexto é Cancelo, o qual se constitui de catorze vizinhos e tem uma capela no meio, a qual fabrica o Padre André Teixeira da freguesia de São Pedro Fins, distante deste povo meia légua, e a qual é seu orago São Paulo. E defronte deste lugar, para a parte do Nascente e perto dele, está outra capela em um monte sem vizinhos que tem por orago Santa Isabel da Serra e esta é de Dona Isabel Teixeira Chaves, da Vila de Chaves.
O sétimo Lugar é Adagoi que consta só de seis vizinhos e fora do povo está uma casa que entra no mesmo número e chamam-lhe Adagoi de Cima e ao pé dela está uma capela da Senhora da Conceição, a qual é de Luísa Coelha que mora na dita casa.
O oitavo é Alvites que tem treze vizinhos e fora deste povo, mas perto, para a parte do Norte, tem uma capela do Milagroso São Gonçalo que fabricam os moradores deste mesmo povo.
O nono é Chamoinha, o qual tem dezasseis vizinhos e, pegado ao mesmo povo para a parte do Norte, tem uma capela do Apóstolo São Bartolomeu, a qual fabricam os moradores deste mesmo povo.
O décimo, e último lugar da Ribeira, é Esturãos, o qual tem dezassete vizinhos e, no meio, uma capela de São Martinho, a qual também fabricam os moradores deste mesmo povo.
O undécimo, e primeiro da Montanha, é Vila Nova do Monte que tem vinte e sete vizinhos, o qual tem, no meio, uma capela do Milagroso São Jorge que fabricam os moradores deste povo.
O duodécimo é Amuinha Nova que consta de vinte e quatro vizinhos e, fora do povo mas perto, para a parte do Norte, tem uma capela do Milagroso Santo Antão que fabricam os moradores deste povo.
O décimo terceiro é Vilela do Monte que tem dezoito vizinhos e, no meio, tem uma capela de São Vicente que fabricam os moradores deste mesmo povo.
O décimo quarto, e último da Montanha, é o Lugar de Campo de Égua, o qual se compõe de cinquenta e quatro vizinho e fora deste povo, com mais alguma distância do que os mais supra, está uma capela de Nossa Senhora da Anunciação que também fabricam os moradores deste povo.
Não há romarias em algumas destas capelas, nem feira nesta freguesia. Só dia de Santiago, Padroeiro desta freguesia, se faz no sobredito lugar de São Tiago uma feira que dura até duas horas da tarde e me não consta que dela se paguem direitos alguns. Vem a ela o Meirinho do Doutor Vigário Geral desta Comarca e leva cinquenta réis a toda a pessoa que faz assento no dito lugar para vender alguma coisa.
A igreja desta freguesia está situada no meio dela em o sobretido lugar de São Tiago, ao pé de um monte que está para a parte do Poente, por cuja causa se não descobre para aquela parte terra alguma. Está no princípio de uma ribeira e deste lugar se descobre, do Norte ao Sul para a parte do Nascente, seis para sete lugares, mais terra de monte que fabricada. E da parte do Sul, vindo para o Nascente em toda esta que se descobre, se não vêem nem igrejas, nem povos, por estarem situados em baixos por causa dos montes que se encontram com a vista. E só se vêem branquejar com o reflexo do sol da tarde, à distância daqui quase quatro léguas, as casas do Marquês de Mirandela que hoje está com outro título, o dito Marquês. E indo mais para Nascente, se descobrem mais outras poucas de casas mais distantes daqui, ao pé de umas serras que, me dizem, é uma chamada a serra de Bornes, cujas casas e lugares me não sabem dizer seus nomes por serem muito distantes. E indo subindo para o Norte, se descobre daqui, à distância de meia légua, um povo com uma igreja que está no meio dele à qual chamam São João Baptista, da freguesia de Ervões, que é da Sagrada Religião de Malta. E mais para o Norte se descobrem mais dois lugares, um que lhe chamam Quintela e outro Friões, aonde está a igreja matriz que é São Pedro de Friões. E olhando daqui por entre as sobreditas freguesias de Friões e Ervões, em direitura para o Nascente, se descobrem muitas serras e, por remate delas, se descobre uma a qual me dizem se chama a serra de Seabra, a qual fica no Reino de Galiza, digo de Castela, e conserva quase todo o ano em si neve, por se ver daqui branquejar.
Os frutos que os moradores colhem em maior abundância são os seguintes: Os que vivem nos lugares da Ribeira colhem bastante pão, vinho, castanha e linhos; porém, os que vivem nos lugares da Montanha de ordinário não colhem senão centeio.
Nesta freguesia não há juiz nem câmara que a governe, mas sim é governada pelo juiz de fora e câmara da Vila de Chaves de cuja Comarca é esta mesma freguesia.
Nesta freguesia não há correio e se servem do correio da Vila de Chaves que parte ao Domingo e chega na Quarta-feira de cada semana. Fica a dita Vila distante desta freguesia duas léguas e meia, pouco mais ou menos, da cidade capital que é Braga dezoito léguas, pouco mais ou menos, e da cidade de Lisboa, que é a capital do Reino, setenta e cinco até oitenta, segundo me informam.
Não padeceu esta freguesia ruína alguma no terramoto do ano de mil setecentos e cinquenta e cinco.

E desta sorte hei por respondido a todos os interrogatórios dos que pude dar resposta e assim o foi tudo, na verdade, que pude alcançar e assim o afirmo in verbo Sacerdotis e vai conferida pelo Reverendo vigário de São Mamede de Argeris e pelo Reverendo vigário de Santa Maria de Vaçal.

São Tiago da Ribeira de Alharis, Março, dez, de mil e setecentos e cinquenta e oito, 1758.

O cura Alexandre da Silva

Do pároco de São Mamede de Argeris, vigário António Martins
O Vigário de Santa Maria de Vassal, Dâmaso Osório de Queiroga  

terça-feira, 25 de outubro de 2011

101.º Aniversário do nascimento do Doutor Olímpio dos Santos Seca

Celebram-se hoje os 101 anos do nascimento desta singular figura histórica de Valpaços que tem sido recordada pelos seus conterrâneos com a maior admiração, carinho e gratidão e recebido as devidas homenagens à altura do seu bom nome. Em 2010, pela mesma data, a Junta de Freguesia de Viralandelo realizou, na praça desta Vila onde se encontra um busto em sua homenagem, a merecida cerimónia de comemoração do 1.º Centenário do seu nascimento, cerimónia essa que contou com a presença da esposa do homenageado, Dra. Maria Fernanda da Mota e Castro, e foi contemplada com  num sentido discurso proferido pelo Secretário da Junta, António José Garcia Ferreira, salientando a grandeza deste saudoso conterrâneo. Do evento ficou-nos um breve documentário em vídeo realizado pelo Dr. José Doutel Coroado e publicado no seu blog “Vilarandelo – um dia uma imagem” cuja divulgação tivemos o prazer de compartilhar aqui e entendemos voltar a recordar em mais este aniversário.




Alguns dias antes tivemos a oportunidade de publicar uma resenha biográfica e genealógica do Doutor Olímpio Seca, que pode ser revista AQUI.

domingo, 23 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – SANFINS

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Só muito recentemente consegui encontrar o documento das "Memórias Paroquiais de 1758" relativo a Sanfins (de Valpaços) sob a referência de “Pedro Fins (São), Chaves” e de que divulgo aqui a respectiva transcrição. Convém que se diga que na árdua e incessante procura deste documento, deparei com muitos outros referentes a topónimos idênticos tais como Sanfins da Castanheira, Sanfins do Douro, bem como outros vários “São Pedro Fins”, que analisei um por um e que, pelo seu teor não me restaram dúvidas que seriam de descartar. A mesma sorte não tiveram, como pude constatar, os investigadores desta temática coordenados por José Viriato Capela, e ele próprio, que tomaram “Sanfins da Castanheira” como a Sanfins actualmente de Valpaços, o que, inevitavelmente, acabou por se traduzir numa involuntária distorção dos dados e factos a relativamente à freguesia “São Pedro Fins”, curato da Reitoria de Carrazedo de Montenegro no mesmo termo de Chaves que é o que hoje constitui a freguesia de Sanfins do concelho de Valpaços. Cumpre, portanto, advertir que a consulta do livro e publicações posteriores daquele autor intitulados ambos “As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758, Memórias, História e Património” deve ser feita, para este e para outros casos em que entretanto também encontrei alguns equívocos, com necessária cautela e ponderação.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo28, PEDRO FINS (São), Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 28, n.º 101a, p. 649 a 650]

São Pedro fins

Respondendo ao despacho do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral da Comarca de Chaves:
Eu, o Padre Manuel Alves, faço certo e como esta freguesia de São Pedro Fins é da Província de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga, Termo e Comarca de Chaves. É anexa de São Nicolau de Carrazedo de Montenegro e apresentado pelo mesmo Reitor de Montenegro, pertencente ao ordinário de Braga.
Tem sessenta e seis moradores, pessoas de Sacramento cento e oitenta e sete, e menores quarenta e nove que, todos juntos fazem a conta de duzentas e trinta e cinco pessoas [sic].
Está situada em mais fragas que terra movediça, entre vinhas e olivais e algumas terras de fruto e das povoações não se descobre senão Argeriz, que dista meia légua desta, Água Revés, que dista uma légua e Vassal, que dista menos de meia légua, e nada mais.
O termo é seu e não tem mais lugares.
A Paróquia está no mesmo lugar metida. O orago é São Pedro ad vincula. Tem três altares, um do orago, e nele está a imagem do dito São Pedro, e dois colaterais, um da imagem de Nossa Senhora do Rosário e o outro da imagem de Cristo. É só de uma nave.
O pároco é vigário ad Nutum e o apresenta o Reverendo Reitor de São Nicolau de Carrazedo, como dito fica. A Renda que tem serão, pouco mais ou menos, sessenta mil réis.
Os moradores, os frutos que recolhem são os seguintes: centeio vinho, trigo, azeite, castanhas e legumes de feijão grande e miúdo; e, com mais abundância, centeio e vinho.
Não tem juiz ordinário, está sujeita ao juiz e fora da Comarca e Vila de Chaves, Província de Trás-os-Montes.
O correio é o de Chaves e dista desta freguesia três léguas e desta a Vila de Chaves até onde chega que é Vila Real são dez léguas, pouco mais ou menos. Dista deste lugar a cidade capital de Braga dezoito léguas e a cidade de Lisboa oitenta léguas, pouco mais ou menos.

Em Serra não há nesta freguesia que dizer.

O rio chama-se rio de São Fins, principia o seu nascimento aonde chamam a Venda da Serra e finda no rio de Miradezes, corre de Norte para o Sul e tem três léguas de comprido donde nasce até donde finda. Está entre o Nascente e o Poente e passa por perto de três lugares, um chamado Alfonge, outro Parada e por perto desta freguesia de São Pedro Fins e por Rio Torto. Tem três Rodas de Moinhos e tem um sumidouro aonde passa o rio por baixo de um fragão. Quando o rio vai grande não tem ponte alguma, nem árvores algumas senão fragas. Os peixes que tem o dito rio são bogas e escalos.

E não se continha mais nesta freguesia nos ditos artigos, assim em uns como nos outros, e por ser verdade o passei na mesma que assino com os Reverendos vigários de Argeriz e Vassal, hoje, onze de Março de mil setecentos e cinquenta e oito anos.

São Pedro Fins, era et supra o que juro in verbo Sacerdotis.

O Vigário de São Pedro Fins, Comarca de Chaves, Padre Manuel Alves

O pároco de São Mamede de Argeriz, vigário António Martins
O Vigário de Santa Maria de Vassal, Dâmaso Osório de Queiroga   

sábado, 22 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – NOZEDO

Por Leonel Salvado


Nota prévia: A aldeia de Nozedo, actualmente uma anexa da freguesia de São João da Corveira, foi outrora freguesia independente. A sua autonomia relativamente à Corveira, que o presente documento dos meados do século XVIII, que aqui transcrevo, atesta, poderá remontar ao século XVII quando, já então, o respectivo pároco seria da confirmação e apresentação do Reitor da vizinha paróquia e Reitoria de Santa Leocádia do Monte. Também pertencia, por esse tempo, a esta freguesia de São Salvador de Nuzedo o lugar de Argemil, hoje anexa à de Carrazedo de Montenegro. Pela segunda metade do XIX, seria finalmente a anexada à freguesia de São João da Corveira, no termo da Vila de Carrazedo de Montenegro e, em 1853, com a extinção deste concelho, transitou, na mesma condição, para o concelho e comarca, entretanto criados, de Valpaços. Na presente transcrição entendi manter alguns topónimos na forma como se lêem na cópia do documento original.  

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo25, NUZEDO, Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 25, n.º (N) 38, p. 277 a 280]

Nuzedo
O Padre João Nunes, vigário nesta Igreja de São Salvador de Nuzedo, Comarca de Chaves, Arcebispado de Braga, Primaz, certifico em como, satisfazendo a ordem que me foi apresentada do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário geral desta Comarca de Chaves, para haver de responder a uns interrogatórios que pelo mesmo Senhor me foram enviados, e constam de papel lacrado de letra redonda, e o que deles posso certificar e pude averiguar, pelo que respeita a esta freguesia, é o seguinte.

Primeiramente, é situada na Província de Trás-os-Montes e se compõe de dois lugares, o de Nuzedo, aonde se acha junto dela, para a parte do Nascente, a Igreja Matriz, porém fora do mesmo lugar, a qual é pertencente ao Arcebispado de Braga, Primaz, e da Comarca de Chaves, pelo que respeita à jurisdição Eclesiástica. E pelo que respeita ao secular é do termo da Vila de Chaves, de que é donatária a Sereníssima Casa de Bragança, e da Comarca e Ouvidoria da mesma cidade e também o é pela Provedoria da Comarca de Guimarães.
Tem, este lugar, quarenta vizinhos e o número de pessoas de sacramento representa, entre machos e fêmeas, cento e vinte e cinco.
Acha-se situado não em vale nem totalmente em monte, mas sim em terra que pelos seus arredores produzem algum trigo, centeio, milhos, linhos e algumas hortas e tem algumas árvores de fruto como são castanheiros e algumas macieiras e pereiras e também algumas videiras de pouca quantidade. E junto dela, para a parte do Nascente, tem um regueiro que não dá pescaria alguma, o qual tem um pontilhão de pedra por onde se passa somente a pé, e além deste regueiro, correndo de Nascente para o Sul, se acha um monte de lenhas muito miúdas, o qual tem suas baixas em que se acham plantados castanheiros. Tem também seus lameiros do distrito deste povo e um rego de água de que se acham de poder os moradores o ir buscá-la ao distrito de Vilarinho do Monte e usarem dela somente para regar desde o primeiro de Abril até dia de São Miguel. Te mais duas fontes de água perene dentro do mesmo povo, correndo de Norte para Nascente.
O fruto que os moradores mais recolhem é centeio.
Dista dele a cidade de Braga, cabeça de Arcebispado, dezoito léguas, e a de Lisboa fica distante setenta e duas léguas.
No terramoto do ano de mil e setecentos e trinta e cinco [sic], não padeceu ruína alguma.
É orago desta freguesia o Salvador do mundo. Tem a igreja três Altares. No principal de acha o Salvador do mundo, em vulto, e nos colaterais se acha, da mesma sorte em vulto, a Senhora do Rosário, em uma, e noutro Santa Luzia e São Sebastião.
É esta igreja anexa da de Santa Leocádia, do Padroado Real. O pároco que se acha nela é vigário Confirmado e renderá, de um ano para outro, cinquenta e cinco mil réis.
Acha-se dentro do lugar uma capela da invocação de São Sebastião que é do povo, aonde se acha um Altar aonde se diz missa e nele se acha também a imagem de Santo António.

No que respeita ao lugar de Argemil, que é desta mesma freguesia e dista deste quase um quarto de légua, se compõe de quarenta e seis moradores e, ao presente, tem de pessoas de sacramento, que assistem missa, cinquenta e uma, entre homens e mulheres.
No que diz respeito aos frutos, são da mesma qualidade dos de Nuzedo, acima nomeado, e somente lhe acresce algum vinho que no dito termo se acha, ainda que pouco.
Tem este lugar três fontes perenes de que usa o povo, uma no fundo dele, outra no meio e outra no cimo. Tem mais um rego de água levada de outras fontes que se acham no mesmo distrito para a parte do Norte, o qual leva daí para o Nascente. Somente no tempo de Verão é que lhe encaminham as águas para uma poça que se acha dentro do povo no sítio a que chamam o Villar e daí, pelo juiz vintenário, é repartida entre os moradores para a rega dos frutos dos seus campos, até aonde possa chegar.
Tem este povo três capelas, uma no fundo dele, para a parte do Nascente, da invocação de Nossa Senhora das Necessidades, com três Altares e em todas se diz missa; em o Altar principal se acha colocada a imagem da mesma Senhora, em vulto, de Santo António e de São Bernardino. Nesta capela, de tempo antiquíssimo, se sepultam as pessoas que no dito lugar falecem e na mesma se lhes fazem os sufrágios pelas suas almas com a assistência do vigário da mesma freguesia. Há também nela uma Confraria do Santíssimo Coração de Jesus erigida por Bula Pontifícia e aprovada pelo ordinário em cuja Irmandade se acham muitos Irmãos, assim sacerdotes como leigos de um e outro sexo. É esta capela do mesmo povo cujos moradores dele a fabricam.
Como também há outra capela, da invocação de São Teotónio, que se acha em uma borda do povo, para a parte do Norte, e também há um Altar em que se diz missa. O santo que está no Altar é de vulto e também é fabricada pelos moradores do mesmo povo e só tem uma terra que rende para a mesma capela, cada ano, duzentos e cinquenta réis.
A terceira capela dos acima nomeados, é da invocação de Nossa Senhora da Conceição, aonde a imagem desta se acha em vulto, tem seu retábulo dourado e nele postos, também em vulto, Santo António e São Patrício junto deste Altar aonde se celebra o Sacrifício da missa. Acha-se esta capela situada no cimo do mesmo lugar, junto das casas. A fábrica se acha instituída por um vínculo de que é administrador o padre Patrício Fernandes dos Santos, abade de São Cosme de Pedome na Província do Minho.
Neste lugar também não padeceu ruína alguma no terramoto de mil e setecentos e cinquenta [rasurado] e cinco.

O correio de que se servem estes dois lugares é o da Vila de Chaves e se declara que o lugar de Argemil fica para parte do Nascente da declarada cabeça desta freguesia.
Declaro que o regueiro que passa pela parte do Nascente deste povo é muito pequeno e nasce no termo do mesmo e logo se mete em um ribeiro que passa pelas Vargeas, da Sagrada Religião de Malta, que fica para a parte do Sul. Tem o regueiro deste povo um moinho centieiro que se dá com muita água nos três ou quatro meses do Inverno e no mais tempo está quieto.


Tem este lugar e o de Argemil, para a parte do Norte, uma pedreira Barreira que não é fina nem muito graciosa, de que se fazem as casas e os templos desta redondeza.
Há também na igreja matriz deste mesmo lugar uma imagem de Nossa Senhora do Carmo, em vulto, que está no Altar maior, na parte do Evangelho, que a pôs um devoto e está nele por mandado do Senhor Vigário Geral desta Comarca de Chaves.

E não pude averiguar mais do que dizem os interrogatórios juntos. O referido é verdade e o juro in verbo Sacerdotis, assinado aos sete de Março de mil e setecentos e cinquenta anos.

O Padre João Nunes

O Reitor João de Almeida Sousa e Sá
O Reitor de São Nicolau de Carrazedo, António Gomes

322.º Aniversário do Nascimento de D. João V, rei de Portugal

João Francisco António José Bento Bernardo foi o 25.º rei de Portugal, o 4.º da dinastia de Bragança, cognominado de O Magnânimo ou O Rei-Sol Português. Foi o terceiro filho (segundo varão) dos oito legítimos que nasceram de D. Pero II e D. Maria Sofia de Neuburgo. A sua corte foi rodeada de grande ostentação por influência das restantes cortes europeias, sobretudo a francesa, e graças à prosperidade que o ouro do Brasil então proporcionou ao reino. Este monarca do despotismo esclarecido português ficou também conhecido como o freirático , devido às suas relações amorosa com conhecidas senhoras religiosas da época, de que resultou o nascimento de alguns filhos ilegítimos, dentre os quais os célebres “meninos de Palhavã”.
Para rever o que publicámos por ocasião do 321º Aniversário do seu nascimento, click AQUI

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – SÃO JOÃO DA CORVEIRA

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Na presente transcrição alguns topónimos, por mera curiosidade etimológica que podem suscitar, são apresentados na forma como se lêem na cópia do manuscrito original.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo12, CORVEIRA, Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 12, n.º 339, p. 2725 a 2738]

Corveira
O Padre João de Almeida Sousa e Sá, pároco in perpetuum da Igreja de São João da Corveira desta grande Religião da Igreja de Malta, certifico em como, em cumprimento de uma ordem mandada e determinada pelo Excelentíssimo e Ilustríssimo Dom Frei Aleixo de Miranda Henriques, eleito Bispo de Miranda, Vigário Capitular e Governador deste Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas, enviada a mim, pároco supra nomeado e infra assinado, pelo muito Reverendo Senhor Bento de Carvalho e Faria, Vigário Geral desta Comarca de Chaves, e sendo-me entregue com os interrogatórios juntos, me informei do conteúdo deles e alcancei e sei o seguinte.

Esta terra de São João da Corveira fica na Província de Trás-os-Montes, pertence ao Arcebispado de Braga, Primaz, distrito da Comarca e Termo de Chaves e pertence à freguesia de São João da Corveira que é da Sagrada Religião de Malta.
É do Comendador desta Comenda, Frei Paulo Guedes Pereira Pinto, cavaleiro professo da Ordem da Sagrada Religião, que é Donatário da mesma.
Tem a Freguesia cento e trinta fogos e trezentas e quarenta e oito pessoas.
Está situada em uma campina breve cercada de montes não muito elevados. Descobrem-se várias terras e montes e as abas dos subúrbios de Carrazedo de Monte Negro e a torre da mesma igreja dista um quarto de légua e o Lugar de São Pedro dos Vales dista duas léguas.
Tem termo separado das mais terras, o seu principal Lugar de São João da Corveira de trinta e um vizinhos, o lugar das Vargeas que tem nove vizinhos, Quintelinha três, Vilarinho do Monte vinte e dois, Junqueira dezasseis, Sobrado dezasseis, Riobom trinta e dois, Bustos dois, que fazem oito Lugares.
Acha-se situada a freguesia em um alto, fora do dito Lugar de São João, para a parte do Nascente, distante deste cento e dezassete passos. Não tem aldeias, mas sim lugares que vão distintos pelos seus nomes no interrogatório supra.
É o seu orago São João Baptista. Tem três altares, o mor, aonde está o Santíssimo Sacramento, e dois colaterais; no da parte do Evangelho está colocada a imagem de Nossa Senhora do Rosário, no da Epístola a imagem do Santo Cristo Crucificado e São Brás. Tem quatro colunas de cada parte, de pedra, que sustentam o tecto, e uma Irmandade do Santíssimo Sacramento.
Intitulam-se os párocos Reitores, da apresentação do Comendador que for desta Comenda que é, hoje, o acima nomeado. Rende cento e vinte mil réis.
Não tem beneficiados, nem cura pago pelo Comendador, que muito necessário é, nem paga outra alguma pensão.
Não há convento algum.
Não há Hospital.
Não tem Misericórdia.
Tem na borda de um passal, ao pé das casas de residência contíguas à igreja, a capela de Santo António. Pertence a fábrica desta ao Comendador. No mesmo lugar de São João tem a capela de São Sebastião. Tem a capela de São Gonçalo no meio do lugar das Vargeas. Tem a capela de Nossa Senhora das Neves fora do dito lugar de Vilarinho do Monte, ao pé da estrada. Tem a capela de Nossa Senhora da Expectação em uma aba do lugar da Junqueira. Tem a capela de Santo Ildefonso no meio do lugar de Sobrado. Tem a capela de Nossa Senhora dos Cheiros do lugar de Riobom, no princípio deste, ao pé da entrada, indo do Nascente para o Poente.
Todas estas capelas pertencem a esta igreja e freguesia, porém a fábrica delas pertence aos moradores dos lugares em que estão situadas, menos a de Santo António e a de Nossa Senhora dos Cheiros, porque destas pertence a fábrica ao Comendador, e da do sitio de Riobom tem somente do arco da capela mor para dentro.
Em todas as capelas se diz missa rezada nos dias dos seus oragos. Na capela de Nossa Senhora dos Cheiros se faz uma Feira aos vinte e cinco de Março, aonde também acode alguma gente de romagem, e neste dia se lhe faz missa cantada com as esmolas que, para isso, a piedade dos fiéis de Deus ali deixam, como também a do Senhor São Brás, em o seu dia, que está colocado no altar colateral desta igreja, aos três de Fevereiro, em o qual dia se faz uma Feira aonde acodem pessoas de romagem.
Os frutos da terra são castanha, trigo, centeio e milho, o que recolhem os lavradores em maior abundância e muito pouco dos três são os que sustentam a maior parte do ano destes produtos.
Tem juiz de vintena sujeito às justiças seculares de Chaves, a saber, Câmara e juiz de fora da Vila de Chaves e o ouvidor de Bragança. E pelo que respeita ao eclesiástico se sujeita ao Sereníssimo Infante Dom Pedro, Grão Prior do Crato, e ao Doutor Vigário Geral da Sagrada Religião de Malta, residente na cidade do Porto, assim no espiritual como no temporal e no espiritual somente ao ordinário de Braga, Primaz.
É Distrito de Malta e goza dos seus privilégios, assim no eclesiástico como no secular, por bulas pontifícias e indultos confirmados pelos Senhores Reis, de gloriosa memória, e pelo Senhor Rei Dom José, o primeiro, que Deus guarde.
Não me consta que desta Freguesia se distinguisse ou florescesse alguém por virtudes, Letras ou Armas e só se compõe de gente lavradora, de boa vida e costumes.
Fazem-se duas Feiras, uma aos três de Fevereiro, cada um ano, outra aos vinte e cinco de Março. A primeira em dia de São Brás, ao largo desta igreja, e pagam para o dito Santo, cada um que traz géneros para vender, cinquenta réis de cada assento, a outra no largo da capela de Nossa Senhora dos Cheiros, do lugar de Riobom, e dão o que a sua devoção permite para a missa cantada da dita Senhora e não são cativas por outro algum donativo.
Não há correio, servem-se do da Vila de Chaves que dista três léguas, chega às Quartas Feiras de tarde e parte ao Domingo pelas nove horas da manhã.
Dista da cidade capital de Braga, Primaz, dezoito léguas e da de Lisboa, capital do Reino, setenta e quatro.
Têm fontes nesta Freguesia, e em todos os lugares dela, que deveremos chamar de ordinárias mas saudáveis.
Não há porto de mar.
Não ruínas, nem muralhas ou fortalezas.
Não padeceu ruína alguma esta igreja, capelas ou casas no terramoto do ano de mil setecentos e cinquenta e cinco, ainda que fosse com veemência grande.
Não há mais coisa alguma especial ou digna de descrever.

Pelo que respeita às Serras
Não há serras no distrito desta minha Freguesia de marcos adentro.
Há uma planície de mato, perto, que poderá ter de largura e comprimento um quarto de légua, situado aonde chamam a Reboreda e principia ao lugar de Vilarinho do Monte, que está a Nordeste, e acaba em o lugar de Junqueira, para o Sul, e de outra parte principia no fundo da serra da Padrela e acaba, ao comprido, para a parte do Sudoeste.
Nesta dita planície nascem para a parte do Nordeste duas águas que vêm fazer de lagoa, não de água represa mas corrida, que passa pela falda da dita Reboreda por uma ribeira chamada da Junqueira para a parte do sul, pelo lugar de Sobrado, que serve para fazer regar alguns lameiros, e fenece em o rio chamado do Poio no lugar da chamada [Cunca?] em qual sítio tem outros lameiros em que se apascenta o gado daquele lugar.
Constam estes montes de urzes, carquejas e carvalhos. Não tem mais de que se faça memória. Em algumas partes destes montes se semeia centeio e trigo em pouca quantidade.
O temperamento destas terras é fresco, aonde de Dezembro até Abril, em alguns cimos, cai neve mas saudável.
Cria-se nestes montes muitos gados, como bois, cabras e ovelhas, e caça, assim como de perdizes, lebres e coelhos e destes géneros se criam abundantes se deixarem de matar nos meses que, pela lei, são proibidos por serem os tais montes naturais deles.

Pelo que pertence ao rio
Chama-se a este rio do Poio. Nasce na falda da serra de Padrela de três fontes que se juntam no sítio que chamam Bouças, o qual defontouro lança-se de marcha para a parte do poente. A este se une a água da Fonte de Padrela, vai correndo seu curso para a parte do Sul, daí volta para a do nascente, pelas margens e regadas de Sobrado e ribeiras do Poio, até chegar ao lugar das Vargeas. Neste sítio se lhe junta um regato que se acha a nascente dos lameiros de Vald’isa que toma a sua corrente até ao dito lugar das Vargeas aonde, unida às do Poio, segue a sua carreira outra vez para Sul, e passa por esta vez numa parte da serra de Carrazedo, ao poente. Junta-se mais ao dito rio do Poio outro regato que tem seu princípio em o lugar de Corveira donde, correndo para o Sul, passa por uma ilharga do lugar de Nuzedo. Aqui se lhe junta, a poente do dito lugar, mas seguindo sua corrente até às Vargeas aonde se junta com o dito rio Poio. É este o princípio do Rio Poio e fenece na ponte de Abreiro de onde entra no Foz Tua, tudo para a parte do Sul. Desde o fim ao princípio dista cinco léguas.
Não nasce caudaloso. Todo o ano corre. Os regatos que se lhes metem são os que acima digo, no distrito desta freguesia.
Não é navegável.
Corre do seu princípio até esta freguesia, para o Sul, daí para Nascente até às Vargeas e daqui para o Sul.
Não cria outros géneros de peixes mais que trutas e, estas, em pouca quantidade.
A pescaria a esta casta de peixes é feita de Junho até Setembro e é com chumbeira e redes de varrer e atravessar, porém pequenas por conta do pouco âmbito do rio.
Durante anos foi este rio, desta Freguesia, privilegiado por ser terra da Sagrada Religião de Malta, e ainda hoje é, e quando assiste na Comenda o Comendador lhe guardam o mesmo respeito e, no mais tempo, o devassam e pescam nos meses em que a lei não permite.
Nas poucas margens que tem nesta freguesia se cultivam de centeio, milho e trigo. O arvoredo é silvestre, nada de árvores de fruto por ser a terra de qualidade frigidíssima.
Nenhuma outra virtude tem as suas águas mais que fertilizar as terras.
No âmbito desta freguesia não tem, nem me consta tenha, outro nome mais que o de rio Poio.
Morre no Foz Tua, que é outro rio de maior curso, aonde chamam a Ponte do Abreiro, terra de Malta.
Não tem cachoeiras mas sim alguns prados, não muito fundos, e açudes tantos quantos são os moinhos, e não é nem pode ser navegável.
Não tem mais que uma ponte de cantaria, aonde chamam de Carrazedo, pela qual se continua a estrada Real de Bragança e Miranda e mais terras da parte do Nascente para a cidade de Braga e Porto.
No distrito desta freguesia há vinte e dois moinhos com vinte e dois açudes que todo o ano trabalham. Não há memória de que deixassem de moer por falta de água e, por isso, acodem no Verão quando há necessidade de água. De todos estes contámos quatro léguas em redondo, os quais moinhos estão, no distrito, de meia légua. Não há outro algum engenho.
Não há memória de que das areias deste rio se tirasse ouro ou alguma outra casta de metal.
As águas deste rio não são pensionadas a ninguém. Usam livremente os lavradores delas e estes só pagam, de marcos adentro, foros e pensões das terras ao Donatário delas que é o Comendador desta sobredita Comenda.
Do nascimento deste rio até aonde se submete no Foz Tua tem cinco léguas e passa por Padrela, lugar vizinho a esta freguesia para a parte do Poente, Sobrado, Vargeas, lugares desta freguesia, Carrazedo, Curros, Mascanho, Murça, Abreiro aonde, na parte deste lugar, se entranha no Foz Tua.


Não há coisa notável nesta terra, monte ou rio de que possa dar notícia na verdade.
Passo na verdade o referido que em fé da qual me assino, com dois párocos mais vizinhos, na forma da ordem que se me entregou e interrogatório junto.

São João da Corveira, dez de Março de mil setecentos cinquenta e oito, assino e declaro in verbo Sacerdotis.

O Reitor, João de Almeida Sousa e Sá

O vigário de Nuzedo, Padre João Nunes
O vigário de São Pedro de Padrela, Francisco Fernandes de Carvalho