Por Leonel Salvado
MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo34, SERAPICOS , Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 34, n.º 79, p. 657 a 660]
Satisfazendo a ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral desta Comarca de Chaves.
O Padre João dos Santos, Pároco nesta freguesia de Santa Ana de Sarapicos, faço certo em que esta freguesia fica sita na Província de Trás-os-Montes, Comarca e Termo de Vila de Chaves, Arcebispado de Braga, Primaz.
Esta terra é do Ducado da Sereníssima Casa de Bragança.
Tem esta freguesia, ao presente, noventa e dois fogos, pessoas de Sacramento duzentas e oitenta e seis, menores vinte e duas e ausentes vinte e oito.
Está situada junto ao cume da montanha, virada para o Nascente, no cimo de um vale. Dela se descobre a Vila de Mirandela, distante quatro léguas e o lugar de São Pedro de Veiga do Lila, distante três léguas, e nenhum outro mais se avista.
Toda esta freguesia está em termo seu sem que seja sujeita a outro Senhorio. Consta de cinco lugares que são Sarapicos, Corveira, São Ciprião, Aveleda e Friande. Sarapicos tem de fogos quarenta e seis, Corveira doze, São Ciprião dezanove, Aveleda nove e Friande seis.
A igreja paroquial está no meio do lugar de Sarapicos. O orago dela é Santa Ana e tem três Altares, o maior de Santa Ana, os colaterais, da parte do Evangelho, de Nossa Senhora do Rosário, e o da parte da Epístola, de São Sebastião. Tem uma só nave e não tem Irmandade alguma.
O pároco desta é vigário ad Nutum, apresentado pelo Reverendo cabido da Sé de Braga e renderá, cada um ano, setenta mil réis.
Não tem beneficiado algum.
Não tem convento algum.
Não tem hospital.
Não há Casa de Misericórdia.
Tem esta freguesia quatro capelas que são, em Corveira de Santa Margarida, em Sarapicos,de São Sebastião, em Aveleda, da Senhora dos Remédios, e em São Ciprião, o mesmo São Ciprião; são as invocações. Todas estas capelas estão dentro dos mesmos lugares referidos e a fabricação delas pertence aos moradores dos mesmos lugares. Não acode a elas, em tempo algum do ano, romagem.
A maior quantidade de frutos que esta terra costuma dar é centeio.
É governada esta terra pelo juiz de fora e Comarca da Vila de Chaves.
Não há memória que desta freguesia saísse homem insigne em virtudes, Letras ou Armas.
Não tem feira. Somente, em dia de Santa Ana, se juntam alguns tendeiros, padeiros e frutas de que se não pagam coisa alguma.
Serve-se esta freguesia do correio da Vila de Chaves, que parte na Segunda feira e chega na Quarta, que dista desta freguesia duas léguas grandes e, de Chaves a Vila Real, aonde ele chega, nove léguas.
Dista esta da cidade de Braga, capital deste Arcebispado, dezoito léguas e da cidade de Lisboa, capital do Reino, setenta léguas, conforme dizem.
Não tem privilégio algum esta terra.
Não há nesta freguesia, nem perto, fonte de água alguma com especialidade, nem vizinha.
Não há porto de mar nesta freguesia, nem perto dela há castelo ou fortificação alguma.
Capítulo primeiro, digo segundo.
Nesta freguesia não há serra alguma. Tudo é terra cultivada e não tenho mais que dizer destes interrogatórios.
Capítulo terceiro.
Nesta freguesia não há rio nem ponte, nenhum moinho nem pisão, somente duas fontes que tem este lugar de Sarapicos sitas por baixo da igreja em que principia um pequeno regato que corre do Poente ao Nascente e de cujas águas se servem livremente os moradores dela para limar e regar, e, saindo fora dos limites da freguesia, se junta com outro semelhante e passam pelo lugar de Midões e junto ao lugar do Crasto e de Rio Torto e, logo abaixo deste, fenece no rio Tua, que distará desta freguesia três léguas. E ao longo deste regato há alguns amieiros e carvalhos e não há peixe de casta alguma.
E não tenho mais que responda em todos estes interrogatórios, nem há coisa alguma mais digna de memória, e, por tudo ser na verdade, roguei ao Padre Filipe Borges, de Vilarinho do Monte, que esta me escrevesse por me achar com impedimento, e tudo o referido o juro in verbo Sacerdotis.
Sarapicos, dezassete de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O Pároco João dos Reis
O Vigário de Nuzedo, Padre João Nunes
O Reitor de Nossa Senhora da Assunção de Santa Leocádia, Manuel Álvares.
Nem tiveram o cuidado de verificar, que o Orago não correspondia.
ResponderEliminarCONSIDERO (NA MINHA CONDIÇÃO DE NATURAL DE AVELEDA ) UMA DESCRIÇÃO PAUPÉRRIMA E HORRÍVEL DA FREGUESIA DE SERAPICOS E DAS ALDEIAS A ELA AGREGADAS,POR ESTAR CHEIA DE INCORREÇOES,OMISSOES E COMPLETA DESADEQUAÇAO DAS REALIDADES ACTUAIS DESTA PEQUENA ZONA DO CONCELHO DE VALPAÇOS. ATRAVÉS DESTA DESCRIÇÃO NUNCA NINGUÉM, ESTRANHO A ELA, FICARÁ A CONHECER MINIMAMENTE OS COSTUMES ,A GASTRONOMIA,AS GENTES QUE A HABITAM,O CLIMA,A OROGRAFIA DOS TERRENOS ONDE ESTÁ IMPLANTADA, AS CULTURAS AGRÍCOLAS DOMINANTES E,POR FIM ,TAMBÉM A RUDEZA TELÚRICA DESTAS TERRAS, BEM COMO DAS PERSPECTIVAS DE FUTURO QUE SE RASGAM PARA OS SEUS POVOS,DESDE SEMPRE TÃO ABANDONADOS Á SUA SORTE,DESDE LOGO PELA CÂMARA MUNICIPAL DE VALPAÇOS (PESE EMBORA ALGUNS PEQUENOS INVESTIMENTOS EM VIAS DE COMUNICAÇAO,ABASTECIMENTO DE ENERGIA ELECTRICA E ÁGUAS E TAMBÉM DE SANEAMENTO FEITOS EM TEMPOS RECENTES ) E, SOBRETUDO, PELO GOVERNO DO PAÍS. ENFIM, MAS É O QUE HÁ, E EU ESPERO,E FAÇO VOTOS NESSE SENTIDO,PARA QUE A CÂMARA MUNICIPAL DE VALPAÇOS ENCARREGUE ALGUÉM, CONHECEDOR PROFUNDO DESTA REGIÃO, DE FAZER UM ESTUDO CIRCUNSTANCIADO DAS GENTES E DAS DEBILIDADES E POTENCIALIDADES DA FREGUESIA DE SERAPICOS EM TODOS OS DOMÍNIOS ACIMA DESCRITOS.
ResponderEliminarÓ sua besta, a descrição «paupérrima e horrível» é de 1758.
ResponderEliminar