terça-feira, 4 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – NOZELOS

Por Leonel Salvado


MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 16, NOZELOS, Monforte de Rio Lima (leia-se NOZELOS, Monforte de Rio Livre)
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 25, n.º (N) 42, p. 293 a 302]

Resposta de um papel que me veio remetido do Muito Reverendo Senhor Doutor Arcipreste Abade de Monforte e me foi entregue por António de Morais, deste Lugar, no qual se contém setenta interrogatórios em três capítulos dos quais […] respondo:
A Província em que fica este lugar que se chama Nozelos é a Província de Trás-os-Montes, Bispado de Miranda do Douro, Comarca de Torre de Moncorvo, termo da Vila de Monforte e Freguesia de Nossa Senhora da Expectação.
O Senhor desta terra e das mais de seu estado é o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Conde de Atouguia e o Senhor Donatário é o Excelentíssimo Senhor Conde de Valadares.
Este lugar, de onde vai este papel, chama-se Nozelos que se compõe de cinquenta e nove fogos e duzentas e seis pessoas. Este lugar está situado em uma terra que não é propriamente vale por estarem muitas moradas dela situadas em pedra dura e levantado em um alto que de todas as partes há ladeiras para subir a ele e da parte do nascente corre um ribeiro, na distância de três tiros de bala, que tem seu nascimento no termo de Cimo de Vila de Castanheira, freguesia de São João Baptista, no sítio do Pereiro, e da parte do Norte tem outro ribeiro que tem seu nascimento no termo do lugar de Bobadela onde chamam a serra da cortiça, distante deste lugar meia légua, o qual passa distante das últimas casas a um terço da mesma, e para a mesma parte do Norte se descobre o lugar de Tronco, freguesia de São Tiago, distante deste quase meia légua, e para o do Sul se descobre a igreja de São Miguel, do lugar de Fiães, distante deste meia légua, e não se descobrem deste mais povoações por causa de um outeiro que tem para a parte do Sul que impede descobrirem-se mais algumas, excepto a de Tinhela, que dista daqui meia légua por uma ribeira abaixo, que é propriamente vale.
Este lugar tem termo seu (e é termo da Vila de Monforte, distante deste uma légua) que tem aonde é mais amplo quase meia légua em circuito composto de terras lavradias, vinhas, lameiros, castanheiros e árvores infrutíferas que nesta terra se chamam por vários nomes, como são carvalhos, amieiros, salgueiro e sangrinhos e não compreende lugar nem aldeia alguma e o mais fica expressado [supra].
A Paróquia está dentro do lugar, no meio dele, e não compreende lugares nem aldeias a mais do que fica expressado, nem deste tenho mais que dizer.
O seu orago é Nossa Senhora do Ó, chamada por outro nome de Nossa Senhora da Expectação, e tem três Altares, dois colaterais e o Maior, aonde está a imagem da mesma cuja festa se celebra aos dezoito do mês de Dezembro com oito ou dez clérigos, e no mesmo Altar está a imagem de São Caetano cuja festa se celebra aos dez dias do mês de Agosto, e da parte da Epístola está o Altar de Santo António cuja festa se celebra aos treze de Junho, e  no mesmo Altar está a imagem de São Brás, aonde se lhe faz uma missa cantada com quatro clérigos com alguma limitada esmola que lhe traz algum romeiro no seu dia. Da parte do Evangelho está o Altar de Nossa Senhora do Rosário cuja festa se celebra no segundo Domingo de Outubro, conforme o zelo dos mordomos e todas as imagens são de vulto e está também neste Altar a imagem de Santo Amaro cuja festa se celebra no dia quinze de Janeiro, aonde vêm, nesse dia, muitos romeiros, principalmente velhos, a rezar à dita imagem onde trazem algumas esmolas que recolhe o mordomo para fazer a festa. E não há mais altares e estes estão todos compostos com asseio e limpeza, tendo todos os retábulos dourados e os mais ornatos condizentes. Não tem naves, somente tem, da parte do Evangelho, uma Sacristia aonde se conservam com asseio os ornatos da dita igreja e não tem Confraria alguma, nem Irmandade.
O Pároco é cura confirmado e quem o apresentou foi o Reverendo Reitor de Oucidres cujo Benefício é do mesmo e renderá cento e cinquenta mil réis e este curato renderá cinquenta mil réis.
Os frutos da terra que os moradores recolhem com maior abundância é o pão de centeio e algum trigo e vinho, sendo dos mais estimados e melhores desta Povíncia, castanhas, milho, feijão, ervanço e de todos os renovos que nesta terra se chamam do Verão.
Tem juiz ordinário, vereadore e, almotacés de cujo corpo se compõe a Câmara de fazem audiência na Vila de Monforte na Casa da Câmara, onde há cadeia para os delinquentes e a estes, juntos, se sujeita a gente desta terra e ao Doutor Corregedor da Torre de Moncorvo.
Esta terra não tem correio e se serve do de Chaves que chega ali na Quarta-feira, pelo meio-dia, e parte ao Domingo de tarde e dista desta terra três léguas.
Este lugar dista da cidade capital deste Bispado, que se chama Miranda do Douro, dezoito léguas, e da capital deste Reino setenta e cinco.
Há na Vila de Monforte, cabeça desta terra, um castelo e a fortificação e estado em que se acha descreve o Reverendo Abade de Monforte que tem as casas junto a ele.
Não tenho notícia de que nesta terra se arruinasse templo nem casa alguma no terramoto de 1755. Não há nesta terra coisa alguma digna de memória.

Há nesta terra alguns montes de lenhas com várias árvores cujos nomes são castanheiros, carvalhos, amieiros, salgueiros, sangrinhos e algumas árvores de fruto como são pereiras, macieiras, amoreiras e nestes montes se vêem vários lobos, porém não se criam nestes por serem os matos raros, e também neles se criam raposas, lebres, coelhos e perdizes e várias castas de aves como melros, rolas, corvos, bubelas, carriças e rouxinóis. Não há neste montes coisa especial de que se possa fazer reflexo, pois cada um tem seu dono e assim os não deixam fazer pastos de sorte que neles se criem ovelhas que possam causar deformidade.
Nesta terra não há rio. Nesta terra há dois ribeiros, os quais correm girando este lugar, um pela parte do Nascente e outro pela do Norte, e ambos se juntam no termo deste lugar no sítio chamado as Olgas e o que corre pela parte do Nascente tem o seu nascente daqui na distância de uma légua, no sítio chamado de Pereiro, termo de Cimo de Vila de Castanheira, freguesia de São João Baptista, e corre por terra infrutífera, porém os moradores de Cimo de Vila lhe divertem as águas para limarem os prados e Linhares com ela e o mesmo fazem os moradores da quinta de Pedome, que corre distante dela dois tiros de pedra, e entrando neste termo tem o mesmo efeito de limar os prados e linhares deste termo até onde se junta com o que corre pela parte do Norte para o Sul e, juntamente, nele há duas casas de moinhos, cada uma com duas rodas, para centeio e trigo, que moem ordinariamente desde o mês de Dezembro até ao de Maio e nele há umas castas de peixes que nesta terra se chamam escalos, os quais se extinguiram pela grande seca, porque no estio é preciso buscar algum poço mais fundo para nele beberem os gados e, assim, não cria senão escalos, rãs e cágados. Este tem o nome de ribeiro de Pedome porque passa somente na quinta chamada Pedome e tem um pontão de três traves de pau cobertas com pedras. E o que passa pela parte do Norte que nasce no sítio chamado da serra das cortiças, do termo de Bobadela, daqui distante meia légua, é mais pequeno, porém com mais substância e é mais saturável no Verão e tem o mesmo efeito de limar prados e Linhares deste termo e tem quatro casas de moinhos e as mesmas castas de pesca e, tanto que se juntam ambos não têm utilidade alguma neste termo porque correm pelo melhor sítio de terras de centeio e nelas fazem algum dano e daqui três léguas se metem no rio chamado Rabaçal.

E não tenho mais nada que dizer, por não haver rio nem serra, e para mais aclarar o que havia que responder pelos predicados e qualidades da terra, os cumpri neste papel. E assim, conclui este papel com a resposta acima declarada e neste escrita.

E, para fé da verdade me assino, hoje, vinte e um dias do mês de Abril de mil setecentos e cinquenta e oito.

O Padre Caetano de Sá Pereira,
Confirmado do lugar de Nozelos

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