Por Leonel Salvado
Correspondendo a um convite que nos foi graciosamente dirigido, fizemos uma visita ao Solar dos Morgados de Vilartão, situado na freguesia de Bouçoais no concelho de Valpaços. Este belo conjunto do património histórico edificado do concelho encontra-se em admirável estado de recuperação, graças ao espírito de iniciativa, energia e paixão pelas coisas da História que vimos transparecer da pessoa do seu actual proprietário, nosso afável e esclarecido cicerone, o Dr. Joaquim Malvar de Azevedo, oriundo de uma conceituada família de Vila Nova de Famalicão, em companhia de sua prestimosa esposa que é uma das descendente dos morgados de Vilartão e uma das herdeiras do vasto património da ilustre família dos Morais Soares, grande parte do qual teve de ser por eles readquirido pela compra, dada a sua dispersão ao longo dos tempos que se seguiram à extinção dos morgadios nos primórdios da era liberal. Trata-se de um amplo espaço de indescritível riqueza arquitectónica tanto no seu exterior como no interior do corpo do edifício, onde se respira história em cada um dos seus recantos e do imenso mobilário, enfim, um espaço revigorante para quem se disponha a entregar-se ao prazer de descobrir neste recôndito lugar de Trás-os-Montes uma riqueza patrimonial que não ficará muito a dever um grande número de sublimados solares e palácios-museu que recheiam os roteiros turísticos do país e movimentam multidões de visitantes, um solar de uma prestigiada linhagem aristocrática da Província que fez a história de Trás-os-Montes e onde coexistiram, e ainda coexistem, elementos arquitectónicos de épocas distintas de extraordinário interesse que vão desde século XVII ao século XX, em maior ou menor conformidade com os estilos de influência europeia rigorosamente definidos nos tratados de arquitectura de cada uma dessas épocas, a par com outros elementos tipicamente transmontanos.
Tivemos a oportunidade de constatar, sob orientação do Dr. Malvar de Azevedo, que na construção do solar no início do século XVII por determinação de Álvaro de Morais Soares -filho de Aleixo Gonçalves Soares e de D.ª Helena de Góis, de Vinhais, que casou em Vilartão com D.ª Maria Teixeira, filha Gaspar de Lobão, cavaleiro na Ordem de Cristo - quem instituiu o morgadio que perdurou por sete gerações, houve a preocupação em se aproveitar uma construção mais antiga inserida num pátio também certamente de construção mais antiga, provavelmente da época medieval, que actualmente é chamado de pátio grande ou das cavalariças, um espaço amplo e constituído por colunas de secção rectangular de generosas proporções e é tida como a ala mais antiga de todo o conjunto arquitectónico e, portanto anterior ao corpo principal do edifício setecentista que passou a compreender mais duas alas resultando numa estrutura em “U” com três pátios. Uma destas alas destinava-se aos serviços de cozinha com outras dependências e foi na entrada para este espaço que, já no século XX, o célebre Doutor Armando Morais Soares carinhosamente apelidado de “o último Doutor João Semana”, em homenagem e simpatia pela abnegada dedicação a que se entregou no tratamento dos seus doentes mais pobres e necessitados, que dividiu o compartimento para instalar o seu consultório. Desnivelada em três degraus do corpo principal, como era comum na época, a cozinha do solar é verdadeiramente admirável, compreendendo uma copa e uma dispensa e uma entrada independente. Outra ala, que integra uma parte de construção mais antiga a que atrás nos referimos, foi construída com o fim de acomodar a criadagem e a funcionar, também, como sala de arrumos. No corpo principal admirámos as sumptuosas salas de recepção dispostas em linha de que se destaca a câmara-mor. O centro desta câmara, onde se encontrava a cama dos morgados, estava alinhado através da ampla janela com o altar da capela do solar que foi mandada construir pelo mesmo Álvaro de Morais Soares em 1644, mais uma preciosidade arquitectónica em estado de ruína mas que, segundo o Dr. Malvar de Azevedo, se prevê para breve a sua recuperação. Ainda relativamente ao edifício do solar, se as alterações à planta original até à actualidade foram pouco significativas, o mesmo já não se dirá dos telhados, pois como observa o Dr. Malvar, estes originalmente seriam em forma de pirâmide mais ajustados aos tectos em masseira e cobertos com telhas fabricadas no próprio morgadio.
Cumpre ainda fazer uma referência à existência de um arquivo constituído por variada documentação, desde documentos de correspondência relativamente recentes, tendo em conta a antiguidade do solar, e fotografias antigas da família.
Para finalizar, devo dizer que foi uma honra e um prazer pessoal conhecer este grandioso exemplar da riqueza patrimonial que podemos achar no concelho de Valpaços e um prazer também conhecer as pessoas cujo espírito de determinação de coragem e apego ao seu património, que do ponto de vista histórico e cultural é de toda a comunidade local, regional e nacional, que são o Doutor Joaquim Malvar de Azevedo e sua esposa. Para eles vai a nossa gratidão pela oportunidade que nos ofereceram para conhecermos o Solar dos Morgados de Vilartão e para todos os valpacenses vai a nossa recomendação para que se disponham a conhecê-lo também.
Para já, sugerimos que façam uma visita ao blogue do Solar, começando pela sua página incial, AQUI.
Caro Leonel Salvado,
ResponderEliminarAgradecemos a sua visita, bem como da sua esposa e simpáticas filhas, que nos quiseram fazer com uma tarde tão agradavelmente passada.
Reconheço quanto é conhecedor da História de Valpaços e muito concretamente desta região em que o Morgadio de Vilartão foi instituído.
Lamento o tempo que depressa passou. Aguardamos mais visitas para breve.
Um abraço
Joaquim e Ângela
Caro Leonel,
ResponderEliminarNão agradeci, por lapso, o seu generoso e simpático post sobre o Solar de Vilarão, bem como a sua divulgação no seu conhecido blog: "Clube de História de Valpaços da E.S./3".
O meu muito obrigado.
Um grande abraço e até breve.
Jmalvar
Caro Joaquim Malvar,
ResponderEliminarReiterando o que disse no post (foi compartilhado em três páginas de grupo de informação cultural no Facebook) nós é que agradecemos o vosso amável convite e recepção. Bem-haja também pela renovação do convite para mais visitas.
Um abraço e beijinhos à Ângela,
Leonel e as três Anas