domingo, 2 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – CRASTO

Por Leonel Salvado


Nota Prévia: Até ao decreto de 31 de Dezembro de 1853 que determinou a extinção do Concelho de Carrazedo de Montenegro e a criação da comarca de Valpaços a cujo concelho e comarca passou a integrar como uma anexa à freguesia de Água Revés e Crasto, a povoação com este último nome havia constituído freguesia independente do termo da Vila de Chaves e curato anexo à Reitoria de Carrazedo de Montenegro.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 12, CRASTO, Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 12, n.º 454, p. 3139 a 3142]

Lembrança do que se manda saber da terra e Freguesia de Nossa Senhora da Expectação do Lugar e Freguesia de Crasto.
O Padre João Lopes, pároco nesta Freguesia de Nossa Senhora da Expectação do Crasto, da Comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz, faço certo em como esta freguesia está na Província de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga Primaz, Comarca de Chaves e termo, da Freguesia de Nossa Senhora da Expectação.
Esta terra é de ElRei meu Senhor, no presente o Senhor D. José, que Deus guarde, e tem esta freguesia quarenta e oito moradores, de pessoas maiores noventa e três, de menores seis, de confissão somente. Está situada em um vale formando fila entre três altos os quais são o ladeiro alto, o Castelo e os Sumagreiros. Dela se não descobrem senão vales perto dela. Tem seu termo que tem de largo e comprido uma légua em quatro. A igreja está fora da povoação num tiro de espingarda. O seu orago é o que acima disse e tem três Altares e as imagens que neles se acham são no maior de Nossa Senhora, em um dos colaterais Santa Maria Madalena e Santo Nome de Jesus e em outro Santo Amaro cujo nome se celebra aos quinze de Janeiro, em qual dia vem a ele muita gente de romaria ao dito santo pelos muitos milagres que faz e neste dia se faz Feira em que se vende muita cerne de porco, couves, castanhas e outras mais coisas que a terra dá. O pároco é cura e a apresentação dele pertence ao Reitor de Carrazedo de Montenegro, da mesma comarca, e tem de estipêndio dez mil réis em dinheiro, seiscentos réis da doutrina, trinta e dois alqueires de trigo, dois almudes de vinho cálido e vinte e seis alqueires de centeio. Os frutos que os moradores colhem e são daqui levados são centeio, azeite, vinho e sumagre e de todos os mais é o centeio e vinho. Está sujeita às justiças da Vila de Chaves de que recebe o Juiz de Fora e o Vigário Geral. Serve-se do correio de Chaves, o qual chega na Quarta-feira e vai no Domingo e dista desta terra quatro léguas. Dista, esta freguesia, da cidade de Lisboa setenta léguas, da capital de Arcebispado, ou cidade de Braga, dezoito, e da Comarca, que é de Chaves, quatro. Acha-se nesta freguesia um castelo antigo que está ainda com algumas paredes em redondo, situado em um alto entre duas ribeiras e chamado o Castelo Moiro. Entre os dois rios [ribeiras] tem de largura uma légua em quatro, e, como já disse, [uma] principia na ribeira do Castelo Moiro e acaba na ribeira de Rio Torto e [outra] na ribeira de Vale de Égua e acaba nos sumagreiros do mesmo Castelo. […]
Por esta freguesia passam duas ribeiras que desaguam na mesma povoação, uma que corre todo o ano nesta povoação de Crasto e tem princípio na freguesia de Argemil que dista desta duas léguas e se mete nesta ribeira de Rio Torto que fica distante um quarto de légua. Tem uma outra de que faço menção que passa pela mesma freguesia junto do Castelo, a qual tem seu princípio na serra de S. Gião em uma fonte que fica deste distante três léguas e se mete no Rio Torto.
Cultiva-se nesta os montes, de que há pouca erva nesta terra, como carvalhos, carrascos estreitos, verguios e os mais destas terras são cultivadas pelos moradores delas. Esta terra é muito quente de Verão e no Inverno muito fria porque fica muito funda e não dá nela o sol senão no meio-dia. Nela se criam alguns gados miúdos, como são muitos nelas, e se criam algumas perdizes e coelhos.
Estes rios não são navegáveis nem são capazes de qualquer barco. São pequenos e não correm todo o ano. Neles se criam alguns peixes pequenos como são bogas e escalos que na Primavera pescam muito e toda a água no rio de que se podem servir não tem dono e são livres para quem as quer e pode caçar. Estão estes rios em parte cercados de árvores silvestres que não dão fruto. Têm estes rios alguns açudes de moinhos e têm estes dois rios cada um sua ponte com arribas de pau, uma ao pé do mesmo povo e outra aonde se mete a ribeira no rio Rabaçal. E têm estes dois rios três moinhos de moer pão na ribeira que passa pelo povo e outro na beira da mesma que apanha as duas águas. Das águas dos ditos rios usam os vizinhos delas livremente para as culturas dos seus campos. Passa esta ribeira que vai pelo dito povo num lugar chamado Ribas e noutro chamado Avarenta e acaba em outro chamado Rio Torto. E o outro rio principia na serra que disse de S. Gião e passa por Quintela, Ribeira de Santiago, Sanfins e acaba em Rio Torto.
E não se continha mais nos ditos interrogatórios e informando-me com pessoas mais velhas desta freguesia, fiz esta carta do que pudesse fazer memória que tudo aqui escrevi em verdade e de que foram testemunhos o Abade Manuel Alves, pároco e São Pedro Fins e o cura António Martins, pároco de São Mamede de Argeriz, que tudo posto na verdade assinei ao fim como na verdade in verbo sacerdotis, aos quatro de Agosto de Setecentos e cinquenta e oito anos, o cura, Padre João Lopes, pároco desta freguesia.
O Padre João Lopes
O vigário de São Pedro Fins, comarca de Chaves, Padre Manuel Alves
O Padre António Martins   

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