sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A desaparecida capela de S. Sebastião


Existem diversas referências da “Valpaços há muito desaparecida” que só ecoam na memória viva de alguns valpacenses. Uma delas é a da capela de São Sebastião, que foi mandada construir pelos antepassados dos morgados da Teixugueira, obra que tem sido datada dos finais do século XVI ou princípios do século XVII e que se localizava na confluência das ruas de Passos Manuel e do Olival com a Rua Direita.

Nos meados do século XVIII a capela de S. Sebastião, que então se erguia no limite Norte da Vila, ainda possuía uma certa importância para os devotos fregueses de Valpaços, pois o vigário de Santa Maria de Valpaços, Francisco Pereira de Aial, nas suas Memórias Paroquiais datadas e assinadas a 8 de Março de 1758, realçava assim o carácter milagroso do Santo:

[…] Tem em Valpaços a ermida de São Sebastião que está na borda do lugar para o norte. É milagrosa a dita imagem, porque, havendo males contagiosos ou na gente ou nos gados, recorrem a ela os moradores, e logo cessam; e, haverá dez anos, houve um mal de que ninguém escapava; fez-se uma festa ao Santo e com ela uma procissão em que se cercou a freguesia, e não deu o dito mal a mais ninguém.[…]
in Monografia de Valpaços, A. Veloso Martins, 2ª ed., 1990, p.97

A capela de S. Sebastião, já certamente sem a importância espiritual de outrora, foi demolida, segundo indicação assaz vaga de A. Veloso Martins na sua Monografia de Valpaços, no princípio do século passado, o que me pareceu pouco credível, face ao tinha sido dito pelo Padre João Vaz de Amorim na revista Aquae Flaviae (edição de 1995 pág.188) em artigo datado de 20 de Novembro de 1943, onde, a respeito da capela, refere, de modo igualmente vago, que «ainda há poucos anos foi demolida.» Mais recentemente, Adérito Medeiros Freitas é mais preciso relativamente a esta questão: Numa nota que este autor  faz a uma antiga fotografia da Fonte Grande, cedida por José António Soares da Silva e publicada na sua obra  "Fontes de Abastecimento de Águas, concelho de Valpaços" (ed. Câmara Municipal, 2005, vol. II, p.209), refere expressamente que a capela de S. Sebastião "foi mandada demolir pela Câmara Municipal, no ano de 1914.

A capela de S. Sebastião pouco antes de ser demolida
desenho e guache de Leonel Salvado

Não foram ainda devidamente esclarecidas as razões da sua demolição, mas é de supor que para corresponder ao dinamismo a que a novas autoridades republicanas se apostaram  trazer à vilade Valpaços, sede municipal, decorridos cerca de oito décadas desde a criação do concelho - 1836 – e ultrapassadas as explosões anárquicas que se abateram sobre a terra nos finais da monarquia (haja em vista, na categoria “tópicos historiográficos [local / regional]” do presente blogue, o artigo O motim de Valpaços de 1862), ela teria sido ditada sob a sigla do progresso. Assim, face à urgência em corresponderem às mais prementes necessidades básicas da população, na obrigação de proceder a obras de reconstrução e reordenamento urbano, onde quer que se justificassem, por mais drásticas que pudessem eventualmente parecer aos munícipes mais conservadores. Ao que parece, o local atrás referido, que se situava próximo da casa comercial de João dos Reis, e na qual «passava a calheia [leia-se quelha] da Fonte [a Fonte Grande] para o Tambolhão», era uma zona crítica que convinha desafogar. É esta aliás a explicação que é proposta por A. Veloso Martins, na Monografia de Valpaços (2.ª Ed., 1990, p.122) relativamente à demolição da capela.

A capela de S. Sebastião foi completamente demolida, tal como, mais tarde a Fonte Grande também o foi parcialmente, sendo o que dela restou imediatamente soterrado, a poucas dezenas de metros na direcção da Rua Direita. Cerca de três décadas depois, durante o mandato do Eng.º Luís de Castro Saraiva, enquanto presidente da Câmara, deu-se continuidade ao alargmanto da via, também à custa de algumas demolições no casario do lado oposto, na direcção dos Paços do concelho.

Aqui deixo mais um fragmento de “Valpaços desaparecida” resgatada dos ”re(en)cantos da memória”, reconstituída com base numa antiga fotografia publicada por A. Veloso Martins e, mais uma vez, de acordo com a diligente e preciosa orientação do Sr. Manuel Medeiros, a quem publicamente agradeço, em nome do Clube de História e dos aficionados pelas coisas do passado valpacense.

Reconstituição: Desenho e guache de Leonel Salvado

2 comentários:

  1. Foi sempre assim, destruir o que tanto custou a construir, e ainda hoje se continua. Eu sempre tive a ideia, que a culpa seria dos engenheiros por vezes a penas um. Hoje a câmara de Valpaços tem uma equipe de engenheiros, e não há um que de conta dos erros que se continuam a fazer demolir demolir é a palavra de ordem e para construir o que? Os Valpacenses sempre foram pessoas pacatas, e sem tempo para parem e pensar, naquilo que os nossos autarcas fazem e desfazem. Perto do lugar onde existiu a capela de S. Sebastião, também uma taça de um valor arquitectónico muito elevado sendo transferida do parque assim chamado atrás da câmara. Foi então de novo montado ali no eixo das duas ruas.
    Neste trabalho feito a cargo do sr. Manuel Cruz no qual também participei. Qual foi o meu espanto passados uns anos voltei da Alemanha e essa taça linda com as marcas da água que nela jorrava, tinha desaparecido, e para onde? Fiz varias perguntas da qual ninguém sabia o que tinha acontecido. Mas hoje sei onde está, jogada ao caso junto do lixo e a quem ninguém dá valor sendo esta em tempos uma pérola de Valpaços.
    Mas há mais fica para outro comentário.

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