terça-feira, 24 de agosto de 2010

Franklin Teixeira


Fervoroso republicano valpacense dos finais da Monarquia e dos primórdios da República, é recordado por seus conterrâneos e descendentes com grande respeito e admiração. Tomou parte, em 1891, no Porto, na malfadada revolta de 31 de Janeiro, que é considerada como o primeiro movimento revolucionário com vista à implantação da República em Portugal. Sabe-se que dos confrontos que se sucederam entre a multidão e a Guarda Municipal, que teve de contar com o auxílio do corpo de Artilharia da Serra do Pilar, de uma força de Cavalaria e do Regimento de Infantaria 18, resultaram 12 revoltosos mortos e 40 feridos. Franklin Teixeira foi um dos que conseguiu escapar com vida à refrega, tendo ainda ensejo de receber das mãos de alguns  dos seus correligionários forçados à rendição, uma das bandeiras com as cores da República, que as forças da ordem fizeram arrear, guardando-a como pôde e exibindo-a orgulhosamente em Valpaços.

Da sua inabalável e incontida dedicação à causa republicana, conta-se uma  outra arrojada façanha que ainda hoje pode causar alguma perplexidade a quem a ouça pela primeira vez: Diz-se que quando o rei D. Carlos, na sua viagem por estas terras, proveniente de Chaves em direcção a Mirandela, se apeou da sua carruagem, naquele lugar de Valpaços em frente do qual se situava o estabelecimento do rico comerciente local,  Eduardo Nunes ( edifício que já não existe, por ter sido mais tarde reduzido a escombros em consequência de um grande incêndio) deu de caras com uma inesperada recepção, onde se contavam alguns republicanos da terra, de entre eles Franklin Teixeira que não se terá coibido a dar, em altos brados, vivas à República, perante a surpresa geral e estupefacção do rei e sua comitiva.

Este acto, cometido por Franklin Teixeira, jamais foi entendido como uma atitude arruaceira, mas antes como uma prova incontestável das suas convicções políticas. Aliás, nem deve ser definido como traço marcante da sua personalidade, cuja nobreza de carácter e espírito tolerante lhe são reconhecidos, ainda hoje, tanto na tradição oral, como em obras monográficas que também lhe fazem referência.

Republicano convicto, mas também prudente apologista da defesa dos bons costumes e da ordem pública, foi ele escolhido pelo Governo Provisório, que se seguiu à triunfante Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, para conduzir a administração do concelho, missão que, segundo o Padre Vaz de Amorim, cuja credibilidade me parece ser de levar em conta, sobretudo porque as suas palavras foram escritas a menos de quarenta anos de distância dos factos a que se reportam, Franklin Teixeira parece ter cumprido com o necessário sentido de responsabilidade. Do texto daquele autor, a respeito deste valpacense, transcrevemos o seguinte excerto:

Após a revolução de 5 de Outubro, as novas instituições, são aqui [em Valpaços] recebidas com a mesma calma e indiferença que se notara por todo o país. Foi o primeiro administrador do concelho com a República, Franklin Teixeira, membro de uma família ilustre, espírito altamente tolerante e alma aberta aos mais nobres sentimentos. Como autoridade durante o Governo Provisório do novo regime político, soube cumprir o seu dever, impondo-se pela sua grandeza de carácter e austeridade de costumes. E para julgarmos do seu espírito de tolerância, bastará dizer-se que, durante a vigência do seu mandato, em Valpaços e concelho, não houve uma prisão nem se fizeram perseguições por causa da política.

Padre Vaz de Amorim (João da Ribeira), Revista Aquae Flaviae, n.º 14 ed. 1995, p. 199

Existe uma rua com o seu nome, em homenagem dos seus conterrâneos aos serviços públicos prestados.

Nota: Cumpre-me fazer aqui uma observação que é a de que alguns factos recolhidos da tradição oral que expus neste artigo, foram devidamente confirmados, e geograficamente enquadrados, pelo Sr. Manuel Medeiros, a quem de novo, em meu nome e dos restantes membros do presente blogue, agradeço a sua colaboração.

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