quarta-feira, 31 de março de 2010

Valpacenses na luta contra o Estado Novo

Antes da impropriamente designada de Primavera Marcelista e muito antes do movimento dos Capitães de Abril, foram inúmeros os portugueses que deram provas da sua coragem e determinação na luta pela liberdade, não por via da anarquia, mas dos mecanismos da democracia liberal em que ainda acreditavam e através dos quais se mobilizaram assim que essa oportunidade lhes pareceu garantida. De entre a imensa plêiade de heróis inconformados com a rigidez e autoritarismo do regime do Estado Novo, contam-se algumas desconhecidas, ou mal conhecidas, personagens que nasceram em terras de Valpaços ou a estas se afeiçoaram por variados motivos. Cumpre, aos seus conterrâneos, tanto aos que os chegaram a conhecer e com eles conviveram, como às novas gerações que asseguram a continuidade histórica das terras que os viram nascer, fazer-lhes a merecida homenagem e resgatá-los da sombra dos heróis já consagrados da História Nacional e Local.

Convém recordar que entre 1927 e 1931, a ditadura militar em Portugal conseguiu, por meios repressivos, demover as tentações de uma alternativa política baseada na renovação da Constituição de 1911. No período que se seguiu, entre 1933 e 1974, a República transformou-se num regime político totalitário que ficou conhecido como do Estado Novo e que foi permitindo a realização de um ritual de eleições legislativas, em cujas campanhas, à mistura com as campanhas para as presidenciais, os cidadãos indesejáveis ao regime, puderam, até 1945, de 4 em 4 anos, exprimir as suas ideias e até envolver-se em querelas entre as facções oposicionistas à Assembleia Nacional. Contudo, nas três eleições realizadas para a Assembleia Nacional (1934, 1938 e 1942), nunca houve condições para a apresentação de candidatos oposicionistas aos propostos pela União Nacional, mas valeu esse ritual para despertar e ir cimentando a consciência nacional para a insustentável situação política portuguesa. O final da segunda Guerra Mundial em 1945 e afirmação das democracias pluralistas encorajadas pelos países vencedores, forçaram o Presidente do Conselho, Salazar, a encenar uma imagem democratizada do regime, determinando a realização de eleições legislativas nesse mesmo ano, quebrando a consagrada regra do quadriénio, dissolvendo a Assembleia Nacional e convocando os colégios eleitorais para a constituição de uma nova câmara. Abriram-se assim novas perspectivas para os oposicionistas, e logo um grupo de republicanos, tendo por certo a breve liberalização do regime, solicitou autorização para convocar uma reunião com vista à avaliação das condições de representação da oposição nas legislativas, no que foi contemplado. Assim se abriu caminho para a mobilização de uma admirável mole de portugueses corajosos que ousaram «declarar guerra» a um regime disfarçado que iria manter-se firme, durante cerca de mais três décadas, na aplicação dos mesmos princípios ditatoriais que sempre a sustentaram. Entre 1945 e 1973 o número de portugueses, homens e mulheres, republicanos e monárquicos, que ousaram candidatar-se à oposição, na Metrópole, nas ilhas e no Ultramar, ultrapassou as quatro centenas e a eles ficamos dever em primeiro lugar, o triunfo da liberdade e da democracia em Portugal, cabendo aos seus pioneiros, de entre os quais, como dissemos, se contam alguns Valpacenses, uma especial homenagem da nossa parte. Foram eles João Baptista Vaz Amorim, um desses pioneiros e certamente o mais conhecido, Armando Félix Castanheira, José Alberto Rodrigues e Diamantino Augusto Teixeira Furtado. São eles os nossos homegeados de hoje.


João Baptista Vaz de Amorim
Nasceu em Vilarinho das Paranheiras, Chaves, a 6 de Agosto de 1880 e faleceu na mesma localidade a 19 de Janeiro de 1962. Estudou no liceu de Guimarães, foi convidado para ser professor no Colégio de S. Joaquim, em Chaves mas decidiu ingressar no Seminário de Braga. Ordenado sacerdote em 1901, foi colocado na freguesia de Paradela, Valpaços. Republicano de antes de 1910, não aceitou as perseguições ao clero e emigrou para o Brasil, onde foi exercer funções junto do bispo de S. Paulo. A pedido da mãe, regressou a Portugal e foi designado pároco de Loivos, onde permaneceu durante 23 anos, tendo depois pedido para ser colocado na freguesia de Bouçoais, onde se dedicou à investigação arqueológica e etnológica, publicando artigos sobre o tema em diversos jornais e revistas, quase sempre assinados com o pseudónimo João da Ribeira. Em 1949, foi candidato pela lista organizada em Vila Real e que não foi aceite, sob o pretexto oficial de que não fora possível obter a sua certidão de eleitor, facto que ele mais tarde desmentiria. Publicou, também, com o nome de João da Ribeira, o livro Pelos Montados da Serra: aspectos portugueses (Chaves, 1935), bem como um trabalho sobre arqueologia: Na Citânia de Briteiros: uma pedra enigmática? (Guimarães, 1952). Deixou preparado outro livro, que se intitularia Coisas da Minha Terra e que não chegou a ser publicado.


Armando Félix Castanheira
Nasceu em Valpaços, Trás-os-Montes, a 19 de Maio de 1890. Fixou-se muito novo em Lisboa e fez-se quase imediatamente sócio do Centro Escolar Republicano «Dr. Alexandre Braga»; pertenceria mais tarde aos corpos directivos dos Centros Escolares Republicanos «Dr. Alberto Costa» e «Fernão Boto Machado». Foi funcionário dos serviços de urbanização de Lisboa e prestou serviço na Associação Académica da Faculdade de Medicina de Lisboa. Em 1929, foi duas vezes detido, uma por suspeita de distribuir propaganda subversiva, outra também por suspeitas, agora de manter ligações com militares da guarnição de Lisboa para fins revolucionários. Colaborou activamente na propaganda das candidaturas da oposição ao Estado Novo: em 1949, apoiou a candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República, em 1957, fez parte da comissão de Lisboa da Comissão Promotora do Voto e, em 1958, apoiou a candidatura presidencial do Dr. Arlindo Vicente. Trabalhou também empenhadamente nas campanhas para as eleições legislativas, designadamente as de 1961 e de 1965. Neste ano foi candidato de uma das listas de Lisboa. Foi um dos subscritores do Programa para a Democratização da República, pelo que foi detido e interrogado pela PIDE.


José Alberto Rodrigues
Nasceu em Vale do Campo, Cabanas, [Curros], Valpaços, a 8 de Dezembro de 1905 e faleceu em Bornes, Vila Pouca de Aguiar a 8 de Novembro de 1979. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra [os actuais descendentes afirmam que se licenciou na Universidade de Lisboa] e exerceu a advocacia em Vila Pouca de Aguiar. No exercício da sua profissão, interveio em defesa de vários arguidos políticos nos tribunais plenários. Foi membro da comissão central do Movimento Nacional Democrático e do MUD (Movimento de Unidade Democrática) e participou em todas as campanhas eleitorais da oposição. Foi duas vezes membro do conselho distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados e outras duas vezes delegado dos advogados do círculo judicial da Figueira da Foz. Em 1969 foi candidato da oposição à Assembleia Nacional pela CDE (Comissão Democrática Eleitoral) de Vila Real e no mesmo ano apresentou, no II Congresso Republicano de Aveiro, uma tese intitulada «A Terra e o seu Emigrante» e, em 1973, no III Congresso da Oposição Democrática, também realizado em Aveiro, apresentou a tese «Breve Análise da Situação de Portugal no Mundo em 1973 Comparada com a Posição que Tinha em 1925, Ainda no Governo da República».


Diamantino Augusto Teixeira Furtado
Viseu, 1965 – Nasceu em Veiga de Lila, Valpaços, a 14 de Maio de 1913, e faleceu em Mangualde a 5 de Fevereiro de 1988. Licenciou-se em Medicina na Universidade de Coimbra. Em 1965 foi candidato da oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo. Foi director de uma casa de saúde de Mangualde e, em 1976, foi designado presidente da Obra Social Beatriz Pais-Raul Saraiva.

Por:  Leonel Salvado

Fontes: Mário Matos e Lemos, Candidatos da Oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo (1945-1973), Divisão de Edições da Assembleia da República e Texto Editores, Lda, 2009 (adaptado). Foto: campanha de Humberto Delgado às presidenciais no Cine Parque de Chaves (22/5/1958) in blogue O Flaviense.

sábado, 27 de março de 2010

D.ª Maria do Carmo Carmona

Nasceu no dia vinte e oito de Outubro de 1879 em Serapicos, concelho de Valpaços. Quando o alferes de Cavalaria, de nome António Óscar Fragoso Carmona prestou serviço militar no Regimento de Cavalaria n.º 6, aquartelado em Chaves, conheceram-se, apaixonaram-se e casaram. Esse alferes veio a ser o Marechal Óscar Carmona que formou governo em 9 de Julho de 1926 e que foi eleito Presidente da República em 1928. Para além de ser a primeira-dama Portuguesa da época, foi sempre muito amiga de Trás- os- Montes, sua Província natal. Sempre procurou colocar a influência que resultava do facto de ser mulher do mais alto magistrado da Nação para ajudar a Terra e as Gentes. Foi, por exemplo, o Marechal Carmona que por Decreto n.°16. 621, de 12 de Março de 1928 elevou a vila de Chaves à categoria de cidade. Este é um exemplo claro de que tal distinção terá muito a ver com o facto de ser casado com uma Trasmontana. A Câmara de Chaves reconheceu esse facto e ainda outros como por exemplo a creche ou Lactário, construído em 1936, no Jardim Maria Rita que desde logo teve o nome de Maria do Carmo Fragoso Carmona. Também houve um bairro habitacional com o nome do General Carmona. Por tudo isso a autarquia atribuiu o nome desta ilustre Trasmontana dos fins do sec. XIX e meados do Sec. XX, a uma rua da cidade. Morreu em Lisboa, em 13 de Março de 1956.

Nota editorial: Também o município de Valpaços quis perpetuar a memória da ilustre senhora oriunda do concelho, Maria do Carmo Ferreira da Silva Fragoso Carmona, atribuindo o seu nome a uma das avenidas da actual cidade, a avenida Dª Maria do Carmo Carmona.

Por: Leonel Salvado
Fonte: http://www.dodouropress.pt
Foto ilustrativa: in http://www.museu.presidencia.pt

sexta-feira, 26 de março de 2010

Bicentenário de Alexandre Herculano

Comemora-se no próximo dia 28 de Março de 2010 o bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano. É pena que o Ministério da Cultura não lhe dedique um programa comemorativo, lapso que, segundo o Jornal de Notícias, na edição de hoje, já foi confirmado pelo gabinete ministerial que «preferiu não avancar com justificações», ficando a celebração da efeméride à responsabilidade de instituições culturais do foro privado. Como não pretendemos seguir o exemplo, decidimos, antecipadamente, fazer-lhe uma sóbria homenagem, evocando alguns tópicos biográficos ilustrativos da sua grandeza moral, intelectual e profissional.


quinta-feira, 25 de março de 2010

Marechal António Óscar de Fragoso Carmona

António Óscar de Fragoso Carmona foi Presidente da República Portuguesa de 1928 a 1951. Em 1910 já tinha patente de Capitão do exército, mas foi quando ainda era Tenente que esta individualidade ficou com ligação a Valpaços. O jovem Tenente, então a prestar serviço no Quartel de Chaves, apaixona-se por D. Maria do Carmo Carmona, uma jovem valpacense, que veio a ser a Primeira Dama.
Em 1922 já era General e foi o promotor de justiça no julgamento dos implicados na Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921, onde viria a sucumbir António Granjo, um flaviense ilustre. Foi depois convidado para Ministro da Guerra no Governo de Ginestal Machado. Após papéis de relevo em actividades políticas, foi eleito Presidente da República, cargo que desempenhou durante 33 anos.
Foi promovido a Marechal em 1947.

Fonte: José António Silva in Boletim Municipal de Valpaços, Setembro de 2008, p.31

O Antigo Tanque Novo

O tanque público revestia-se de uma importância crucial para o género feminino popular. Era o ponto de encontro diário para as mulheres e raparigas do povo que, entregues às lides domésticas, tinham assim oportunidade de as transformar em puro acto social, o que, de alguma forma, amenizava tão árdua tarefa, sobretudo em tempo frio.
De facto, era no tanque onde se cruzavam notícias, revelavam segredos e ansiedades, escorriam lágrimas de tristeza ou alegria e, na maior parte das vezes, se lavava a roupa suja em ambos os sentidos da expressão.
Para além de tudo isto, o tanque, com a sua vocação essencialmente feminina, proporcionava ainda muitas satisfações aos homens, constituindo o espaço de breves trechos de derriço ou de troca de olhares insinuantes com piropos à mistura, revelando-se o sucessor da “fontana” ou do “rio” das “Cantigas de Amigo” dos nossos poetas da Idade Média.
As raparigas usavam-no como pretexto e álibi para encontros mais demorados com os seus “amigos”.
Actualmente, o tanque colectivo encontra-se em vias de extinção, encontrando-se apenas um exemplar no Bairro das Lages, na freguesia de Valpaços.
Na imagem pode ver-se o antigo Tanque Novo, do qual só já resta a toponímia, mas que vai ser recordado com monumento alusivo, na rotunda próxima da sua anterior localização.

segunda-feira, 22 de março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

Acção Valpaços

Foi no contexto das lutas liberais que Valpaços se destacou no plano da História nacional, convertendo-se num dos palcos desse sangrento conflito, quando faltavam apenas dez dias para celebrar o seu décimo aniversário, enquanto sede de concelho, concelho este que, por esse tempo, era ainda geograficamente bastante limitado.

Resultou das vicissitudes da guerra que ficou conhecida como a Patuleia que decorresse na região um dos seus mais conhecidos confrontos militares e que foi o que opôs as forças populares comandadas pelo marquês de Sá da Bandeira e as tropas fiéis à Rainha D. Maria II, comandadas pelo barão do Casal.

Profecias falhadas!

Longe vão os tempos de Nostradamus!
É a crise das profecias de há uns tempos a esta parte. Ironicamente, as provas de que o futuro é imprevisível provêm de onde menos se espera. Especialistas de renome nas mais variadas áreas falham, grosseira e espantosamente nas previsões sobre as matérias que era suposto acertarem. 



sábado, 13 de março de 2010

A afirmação da Mulher em Portugal

A mulher, numa perspectiva histórica universal, foi uma figura destacada durante a Pré-História e História Antiga. Os clãs do Paleolítico eram matriarcais, cabendo às mulheres as primeiras experiências e a consolidação da sedentarização e proeminência do governo familiar. Além disso, os primeiros sentimentos religiosos da Humanidade ligados à adoração da Terra, à Natureza e aos ciclos da fertilidade deificaram-na ao associarem esses objectos de culto à figura feminina, daí nascendo a imagem da Deusa-Mãe. As civilizações antigas, O Egipto, a Suméria, Babilónia, a Grécia e a Roma primitiva prolongaram esta tradição de sublimação da Mulher. Contudo, a civilização hebraica que começou por retomar esta tradição, deu origem ao processo de desvirtuamento da mulher ao impor o patriarcado, centralizando na figura masculina a religião e o culto. O poder da figura masculina viu-se depois reforçado na civilização romana, por influência da tradição hebraica, na celebração do pater famílias, entendendo-se como as principais virtudes da mulher a submissão e a obediência, o que implicava o seu afastamento da vida pública.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O Dia Internacional da Mulher

Celebra-se a 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher. O Dia Internacional da Mulher, tem origem nas manifestações femininas por melhores condições de trabalho e direito de voto, que se verificaram no início do século XX, na Rússia, Europa e nos Estados Unidos. A data foi adoptada pelas Nações Unidas, em Dezembro de 1977, para lembrar tanto as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres, em homenagem às mulheres russas que se manifestaram a 8 de Março por Pão e Paz, manifestações que estiveram na origem da Revolução de 1917. como as discriminações e as violências a que muitas mulheres ainda estão sujeitas em todo o mundo. 1975 foi o Ano Internacional da Mulher. Desde então, a data também tem sido utilizada para fins meramente comerciais, perdendo-se parcialmente o significado original.


Origem


A ideia da existência de um dia internacional da mulher foi proposta na virada do século XX, no contexto da Segunda Revolução Industrial, quando ocorre a incorporação da mão-de-obra feminina em massa, na indústria. As condições de trabalho, frequentemente insalubres e perigosas, eram motivo de frequentes protestos por parte dos trabalhadores. As operárias em fábricas de vestuário e indústria têxtil foram protagonistas de um desses protestos contra as más condições de trabalho e os baixos salários, em 8 de Março de 1857, em Nova Iorque. Muitos outros protestos ocorreram nos anos seguintes, destacando-se o de 1908, quando 15.000 mulheres marcharam sobre a cidade de Nova Iorque, exigindo a redução de horário, melhores salários e direito ao voto.

O primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 28 de Fevereiro de 1909 nos Estados Unidos da América, por iniciativa do Partido Socialista da América.

Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhaga, dirigida pela Internacional Socialista, quando foi aprovada proposta da socialista alemã Clara Zetkin, de instituição de um dia internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada. No ano seguinte, o Dia Internacional da Mulher foi celebrado a 19 de Março, por mais de um milhão de pessoas, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça.

Poucos dias depois, a 25 de Março de 1911, um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist mataria 146 trabalhadores - a maioria costureiras. O número elevado de mortes foi atribuído às más condições de segurança do edifício. Este foi considerado como o pior incêndio da história de Nova Iorque, até 11 de setembro de 2001. Para Eva Blay, é provável que a morte das trabalhadoras da Triangle se tenha incorporado ao imaginário coletivo como sendo o fato que deu origem ao Dia Internacional da Mulher.

Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da Revolução russa de 1917. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), a greve das operárias da indústria têxtil contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que resultaram na Revolução de Fevereiro. Leon Trotsky assim registrou o evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”.





Após a Revolução de Outubro, a feminista bolchevique Alexandra Kollontai persuadiu Lenin para torná-lo num dia oficial que, durante o período soviético permaneceu numa celebração da "heróica mulher trabalhadora". No entanto, o feriado rapidamente perderia a vertente política e tornar-se-ia numa ocasião em que os homens manifestavam a simpatia ou amor pelas mulheres da vida —; uma mistura das festas ocidentais do Dia das Mães e do Dia dos Namorados, com ofertas de prendas e flores dos homens às mulheres. O dia permanece como feriado oficial na Rússia, bem como na Bielorrússia, Macedónia, Moldávia e Ucrânia).

Quando a Tchecoslováquia integrava o Bloco Soviético (1948 - 1989), esta celebração foi apoiada pelo Partido Comunista da Tchecoslováquia, e foi gradualmente transformando-se em paródia. O MDŽ (Mezinárodní den žen, "Dia Internacional da Mulher" em checo) era então usado como instrumento de propaganda do partido, que esperava assim convencer as mulheres de que considerava as necessidades ao formular políticas sociais. Durante as últimas décadas, o MDŽ acabou por se tornar uma paródia de si próprio. A cada dia 8 de março, as mulheres ganhavam uma flor ou um presentinho do chefe. Assim, o propósito original da celebração perdeu-se completamente. A celebração ritualística do partido no Dia Internacional da Mulher tornou-se estereotipada e era mesmo ridicularizada pelo cinema e pela televisão, na antiga Checoslováquia. Após o colapso da União Soviética, o MDŽ foi rapidamente abandonado como mais um símbolo ridicularizado do antigo regime.

No Ocidente, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado durante as décadas de 1910 e 1920, mas esmoreceu, sendo revitalizado pelo movimento feminista da década de 1960.

1975 foi designado como o Ano Internacional da Mulher.

in Wikipédia.org, categoria: dias especiais (adaptada)
Fonte da imagem ilustrativa do cabeçalho:  http://buritydigital.blogspot.com

Por: Leonel Salvado

terça-feira, 9 de março de 2010

Valpaços na rede viária romana

Por Leonel Salvado

Valpaços e uma larga parte das freguesias que o compõem encontravam-se no cruzamento de importantes vias romanas. Sob o asfalto de uma grande parte da estrada nacional que o ligam a Chaves, Vila pouca de Aguiar e a Castro de Avelãs, de algumas estradas municipais ou perto delas, sob a vegetação, escondem-se os troços de calçadas que serviram de variantes ao importante Itinerário XVII de Antonino que na época romana ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica (Astorga), por Aquae Flaviae (Chaves). Tem estado a ser feito um estudo minucioso no sentido de se obter uma reconstituição cartográfica o mais fiável possível deste e de outros itinerários das vias romanas em Portugal. Outros vestígios e achados, tais como pontes romanas ou medievo-romanas e marcos miliários associados a esses troços, têm sido de grande valor para a sua reconstituição, ao mesmo tempo que servem para assinalar a importância que os mesmos troços tiveram no complexa rede viária de então bem como a importância e a prosperidade que delas retiravam os povoados hispano-romanos junto das quais elas passavam. E esta realidade deverá ser levada em conta, e tem-no sido, para as nossas localidades nas quais ou próximas das quais existem evidências arqueológicas que autorizam crer-se no seu remoto povoamento e ainda mais nos casos em que a toponímia pareça reforçar essa crença. Tal realidade parece ajustar-se a uma variedade de povoações do concelho de Valpaços, entendidas como exemplos paradigmáticas dela.

O itinerário XVII de Antonino
clique sobre o mapa, para o ampliar


A Via Avgusta XVII tinha origem em Braga, no local onde hoje existe o Largo Carlos Amarante, e atravessava os actuais municípios de Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Montalegre, Boticas, Chaves, Valpaços, Vinhais, Bragança (em território português), e Vilardeciervos, Santibañes e Rosinhos de Vidriales, Camarzana de Terra e Castrocalbón, terminando em Astroga, perfazendo um total de 400 Km.

Tendo em conta o grande número de miliários e pontes romanas identificadas não restam dúvidas de que a Via XVII compreendia, a partir de Chaves dois itinerários: um que inflectia em Valpaços para Nordeste, passando por Vinhais, até Castro de Avelãs, talvez a capital do povo Zoelae, próximo de Bragança, cuja origem romana, tradicionalmente aceite, ainda não está esclarecida; outro itinerário que ligava directamente Chaves a Vinhais confluindo com o anterior e seguindo para Castro de Avelãs. Assinala-se ainda uma variante a Nordeste-Sudoeste de Valpaços em direcção a Vila Pouca de Aguiar. 

Assim, as referências arqueológicas disponíveis permitem que se faça a seguinte descrição do traçado viário que atravessava o território do actual concelho de Valpaços que é o que se reconstitui no mapa atrás apresentado, com a indicação das mesmas referências (miliários e pontes) que lhe estão associadas:


A. ITINERÁRIO CHAVES - VALPAÇOS - CASTRO DE AVELÃS NA ROTA DA VIA XVII

Partindo da Madalena, Chaves (depois de atravessar o Tâmega, segue a direito pela EN103, na capela continua em frente por terra, na bifurcação segue à direita para Qta. de S. Germano; após o canal segue à esquerda e 50 m depois segue à direita onde passa a calçada que ascende ao Alto de S. Lourenço), segue para:

Eiras (miliário a Constancio I)

S. Lourenço (ver magnífico troço da Calçada de S. Lourenço subindo a encosta; miliário anepígrafo já desaparecido; o acesso à calçada faz-se no miradouro de S. Lourenço continuando depois pela Casa dos Ferradores, Largo do Cruzeiro, Rua da Travessa, até à EN213; ao chegar ao chafariz segue para Juncal).

Ponte Romana de S. Lourenço sobre a rib. de S. Julião (1 arco, a 500 m da povoação e segue para Arco e Lama)

S. Julião de Montenegro (na Igreja paroquial apareceram 4 miliários, miliário Macrino e miliário a Décio, este da milha VI, expostos dentro da igreja, um miliário anepígrafo no adro da igreja e ainda um fragmento na casa do Pe. Fernando Pereira; segue por Falgueira, Poças, Alto da Gesta e Barracão).

Travessia do ribeiro de Limãos.

(apareceram dois miliários nas obras de demolição da capela de Sta. Luzia; um miliário a Macrino está no terreiro da casa de Hermínio Quintino e outro nas fundações da mesma).

Vilarandelo (miliário a Macrino, apareceu na Capela do Espírito Santo dentro do cemitério e está hoje no jardim junto ao mercado junto com um outro miliário a Caracala que apareceu no pátio duma casa particular em Vilarandelo; um fragmento de miliário foi para o MRF em Chaves)

Lagoas

Valpaços (calçada a Norte desta cidade e miliários deslocados no Solar e Capela dos Morgados Pinto Leite, Casa do Arco).

Possacos (calçada com 2 km desvia à direita da EN206 e desce à ponte; 4 miliários, o miliário a Magnêncio indicando as milhas a Braga apareceu junto à Igreja e está hoje numa casa particular em Carlão, Alijó, um miliário a Macrino estaria na Qta. do Padre António de Sousa, um miliário talvez a Delmácio aparecido no Largo das duas Fontes e um talvez a Carino, todos desaparecidos; no lugar do Bairro existia um miliário também desaparecido no muro de uma fonte).

Ponte Romana do Arquinho ou de Possacos sobre o rio Calvo (1 arco; daqui provém o miliário a Maximino e Máximo, deslocado depois para a ponte de Vale de Telhas, acabando junto à capela de N. Sra. de Fátima em Vale de Telhas onde está hoje; indica reparações da via na frase vias et pontes temporis vetustate conlapsos restituerunt curante; a calçada continua até à EN206).

Ponte Romano-Medieval de Vale de Telhas, sobre o rio Rabaçal, Fornos do Pinhal (EN206; reconstrução medieval com elementos romanos, como blocos de pedra com marcas de fórfex; existiam 6 miliários; um miliário a Maximino e Máximo, está hoje no Museu de Vila Real; um miliário a Numeriano e outro a Maximiano já desaparecidos).

Vale de Telhas; PINETUM, mansio a XX milhas (29,6 km) de Chaves, mencionado na via XVII situava-se talvez no Castro do Cabeço em Vale de Telhas. Vale de Telhas (existe um miliário junto à fonte romana e o miliário a Maximino e Máximo junto à capela de N. Sra. de Fátima.)
Bouça (miliário da milha XXII contadas a partir de Chaves, está hoje junto ao café 'Estrela do Norte' na Ferradosa; também na casa da família Verdelho, em Vale de Gouvinhas, há um miliário a Maximiano proveniente do leito do rio Rabaçal junto à Ponte de Vale de Telhas; topónimo Estalagem).

Ferradosa




Fraziela (3 fragmentos anepígrafos, talvez da milha XXIV um dos quais na berma da estrada junto à casa do Sr. Manuel Maia; segue pela Qta. da Calçada, Padrões, Redonda, Cabeço da Mós, Qta. do Ermidão e Estalagem).

Ponte Romano?-Medieval do Arquinho ou de Ermidão sobre a rib. do Arquinho, Fradizela (indicada na EN206; 1 arco).

Ponte Romana da Pedra, Torre de Dona Chama sobre o rio Tuela (ao km 6 da EN206; 6 arcos).





Torre de Dona Chama (ver projecto VIAS AVGVSTAS no concelho de Macedo de Cavaleiros)

Vila Nova da Rainha (calçada com 900 m, começa a 1 km da povoação, segue paralela à EN206; fragmento de miliário na berma da EN206, 600 m antes da povoação; miliário anepígrafo no centro da povoação suportando uma varanda).

N. Sra. das Dores, Lamalonga (calçada com 1500 m ladeia a capela)

Lamalonga (no adro da Capela de S. João apareceu um miliário a Constâncio Cloro que está hoje no MAB com o nº 1565 e um outro anepígrafo entretanto destruído).

Este itinerário prosseguia, fora dos limites actuais do concelho de Valpaços, em direcção Castro de Avelãs (que foi talvez a REBORETUM, mansio assinalado na via XVIII a XXXVI (53,3 Km) de PINETUM) por Carvalhal, Lamalonga, Agrochão, Portela, Zoio, Carrazedo, Formil, e Gostei.


Durante muito tempo foi considerada a variante seguinte, mas actualmente parece descartada devido à ausência de vestígios concludentes:

B. ITINERÁRIO CHAVES - VINHAIS - CASTRO DE AVELÃS NA ROTA DA VIA XVII

Trata-se de uma variante que passava também por terras do concelho de Valpaços, de que se conhecem quatro miliários em Bouçais e um em Soeira.


Partindo de Chaves seguia para:

Faiões.

Ponte Romano?-Medieval de Faiões sobre a rib. de Avelelas.

St. Estevão (por nascente) Ponte do Arquinho e Assureiras.

Águas Frias (segue pela calçada do Souto Bravo e pelo sopé do Castelo de Monforte, talvez uma statione; continua pelo planalto por Breia, Jaguintas, Calhelhas das Presas e Baixinha das Presas)

Bobadela (da Igreja paroquial segue pela chamada Estrada que atravessa a povoação e segue por Souto das Almas, Sítio da Estrada e Fraga das Antas até)

Nozelos (segue a norte da povoação e atravessando os ribs. de Cima e da Pulga e sobe a)

Lebução - daqui deriva a via para a região mineira de Três Minas (Tresminas) em Vila Pouca de Aguiar.

Ponte Romano?-Medieval de Picões sobre o rio Rabaçal.

Bouçoais (estava em ruínas e hoje está submersa).

Valpaço

Curopos (seguia por Fonte do Mau Nome, Breia, Pedra Mourisca, Estalagem de Baixo e de Cima e Souto Escuro onde terá existido um miliário)

Sobreiró de Baixo (vem pelo Monte da Forca e Cruz das Cortes, e segue pelo sopé do Monte da Circa).

Travessia da rib. das Trutas no Pontão (segue entre os Altos da Portela e do Pinheiro)

Vinhais (miliário a Maximino e Máximo da milha C... só existe a transcrição; segue por calçada já destruída na encosta do Castro da Cidadelha).

Vila Verde (provável statione no Forte de Modorra de apoio à via)

Ponte Romano?-Medieval de D. Marinha sobre a rib. de Padornelo

Ponte Romano?- Medieval da Soeira ou Ponte Velha sobre o rio Tuela, (18 m, 2 arcos; segue pelo sopé do Castro da Ponte)

Soeira (provável mutatio; a via sobe 1 Km até à Capela de S. Sebastião em Vilar onde apareceu um miliário a Augusto?, transformado em sarcófago, hoje no MAB com o nº 1566; segue pela Igreja Velha, sítio das Prainas e desce ao rio)

Travessia do rio Baceiro (sobe a Castromil por calçada e daí desce pela Calçada de Dossãos - em alternativa poderia passar na Ponte de Castrelos e daqui a Castro de Avelãs)

Gondesende (necrópole e calçada; continua por Oleiros da Breia)

Donai (segue para Grandais)

Castro de Avelãs (nas Terras de S. Sebastião).


C. VARIANTE NORDESTE-SUDOESTE DE VALPAÇOS EM DIRECÇÃO A VILA POUCA DE AGUIAR

Trata-se uma outra variante transversal às vias referidas atrás da qual se conhecem 4 ou 5 miliários. Derivava em Lebução da variante norte, seguia para sudoeste até Sá, onde cruzava com a Via XVII, continuando depois na direcção da região mineira de Três Minas.

A partir de Lebução (deriva da variante norte da Via XVII talvez por Tortomil e Alto da Fraga do Marco) prossegue para:

Fiães (possível miliário aparecido no vicus de Muradelhas, antiga Lavagornia?)

Tinhela (calçada e Ponte Romana?)

Alvarelhos (calçada)

Lama de Ouriço ( miliário a Magnêncio, hoje desaparecido)

(onde cruza com a Via XVII)

Valelongo (miliário anepígrafo; hoje está no exterior dum armazém em Vilarandelo)

Ervões

Lamas

Monsalvarga (miliário anepígrafo na berma da estrada que passa na aldeia; calçada)

Vassal (fragmento de miliário numa casa particular)

Argeriz (calçada entre o Castro de Ribas e o santuário de rupestre de Pias de Mouros, passando na Ponte Romana? do Regato do Pereiro)

Carrazedo de Montenegro

Vila Pouca de Aguiar

Fonte: http://viasromanas.planetaclix.pt/index.html

domingo, 7 de março de 2010

A Bolideira de Valpaços

Trás-os-Montes é, sem dúvida uma das regiões portuguesas onde ainda podem ser admirados alguns raros exemplares de monólitos graníticos oscilantes que, por vezes, são interpretados como monumentos megalíticos resultantes não da erosão natural, mas da acção humana que os afeiçoou à medida das suas necessidades de culto, mas cujo significado ainda permanece um mistério.



Um dos exemplares conhecidos destes impressionantes litomonumentos, situa-se na localidade que lhe deve o nome, Bolideira, freguesia de Bobadela, concelho de Chaves. Celestino Chaves dedica-lhe merecida atenção no seu blogue Fragasnossas, proporcionando aos leitores a aquisição de algumas informações interessantes, bem como a observação de várias fotos obtidas de diversos ângulos. Mas a localidade de Valpaços também já teve a sua Bolideira, facto que para muitas pessoas, para muitos valpacenses até, sobretudo os das gerações mais recentes, pode constituir uma surpresa.

sábado, 6 de março de 2010

Zé do Telhado

Foi em terras de Valpaços que José Teixeira da Silva essa figura imortalizada na tradição popular com o nome de Zé do Telhado e visto como um Robim dos Bosques português ou uma espécie de Guevara das guerras liberais, cometeu uma das suas mais admiráveis proezas e que um dia no cárcere da Relação do Porto haveria de relatar ao seu campanheiro de cela, o romancista Camilo de Clo. Branco. Entendido por uns como um ladrão sem escrúpulos, «filho de um capitão de ladrões, Joaquim do Telhado, que saía ao Marão», para citarmos o Padre João Vaz de Amorim que, nem por isso lhe retira o mérito de valente lidador, primeiro como lanceiro da rainha cuja bravura foi notada na Revolta dos Marechais pelo próprio Saldanha ao lado do qual combateu, o que lhe valeu ter sido dado como ordenança de Sá da Bandeira, é considerado por outros como uma figura esforçada em favor dos mais fracos e que só a postura firme e imperturbável contra as injustiças sociais cometidas por alguns «arrogantes remediados», o obrigou a fazer-se fora-da-lei e contra eles cometer alguns assaltos.

O Padre João de Amorim descreveu assim na revista Aquae Flavie a grandiosa façanha de Zé do Telhado em Valpaços:

Acompanhou a expedição de Sá da Bandeira a Valpaços, a quem foi dado como ordenança. As proezas cometidas nessa temerosa e mal sortida batalha, estão descritas nas condecorações da Torre-e-Espada, que o Visconde por sua própria mão lhe apresilhou na farda. Fora o caso de do cômoro de uma ribanceira alguns soldados do regimento traidor apontarem armas ao General, conturbado pela fumaça das descargas. ZÉ DO TELHADO arrancou a cavalo a toda a brida, toma as rédeas do cavalo do General, obriga-o a saltar um valado.
Mal deram o salto, as balas passaram poucas polegadas acima das cabeças de ambos. A este tempo três soldados de cavalaria avançaram desapoderados sobre o General. ZÉ DO TELHADO, embarga-lhes a retirada e derramando o primeiro de um golpe, fere mortalmente o segundo e persegue o terceiro, que fugia, até lhe arrancar a vida pelas costas.
Quando voltou da facção já o General tinha a medalha suspensa que o VALENTE recebeu com mais delicadeza que entusiasmo de honras.

Por: Leonel Salvado
Fonte: José Lourenço Montanha de Andrade, Valpaço-lo-Velho.
Imagem ilustrativa in http://agualisa6.blogs.sapo.pt

Valpaços - antes e depois

O fotógrafo que à época (anos 20 do século passado) conseguiu este belo registo da então ainda vila de Valpaços não imaginava, certamente, as profundas alterações que a mão humana iria implementar alterando, também profundamente, o espaço urbano a que hoje damos a designação de centro histórico ou, se quisermos, a parte mais antiga da urbe. E também não estaria à espera que, de uma forma, diria, um pouco grosseira, alguém viesse a utlizar o seu documento fotográfico para ilustrar uma possível comparação da Valpaços desse tempo com a de hoje.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Comemoração do dia dos Diretos Humanos

O dia 10 de Dezembro é considerado o Dia Nacional dos Direitos Humanos, por uma resolução aprovada em 1998 pela Assembleia da República levando em conta a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que celebrava então os seus cinquenta anos e a adesão de Portugal à Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que contava o seu vigésimo aniversário. Trata-se, portanto de uma efeméride cujos antecedentes lhe incutem um significado comemorativo bastante relevante.
A data vem, por isso,  sendo comemorada um pouco por toda a parte, de modo particularmente especial pelas comunidades escolares espalhadas pelo país. No dia 10 de Dezembro de 2009 o evento teve lugar na nossa Escola, através de uma iniciativa do Departamento de Ciência Humanas e Sociais.

Por: Leonel Salvado
Fonte ilustrativa in http://area.dgidc.min-edu.pt

terça-feira, 2 de março de 2010

Portugal na C.E.E. a 1 de Janeiro de 1986

No dia 1 de Janeiro de 1986 Portugal torna-se o 11.º membro da família europeia. Era um anseio da nossa comunidade política desde a “Revolução dos cravos” ocorrida doze anos antes. Da necessidade de nos afirmarmos perante o resto da Europa resultaram as negociações que proporcionam a nossa integração no grupo comunitário. O primeiro governo republicano português enviou os portugueses para as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, o Estado Novo optou por uma posição neutral no Segunda Grande Guerra e os dirigentes do pós 25 de Abril decidiram que Portugal devia acompanhar a Europa na Comunidade Económica Europeia.

A implantação da Republica em 5 de Outubro de 1910

Advertência

Este pequeno folhetim de divulgação ilustrada das efemérides e datas comemorativas da História de Portugal já devia ter sido publicada em Outubro passado. Ainda que tal não tenha sido possível, não deixa de ter sentido fazê-lo agora, aproveitando o facto de se encontrarem a decorrer, por toda a parte, as Comemorações do I Centenário da República. Propomos que seja um primeiro passo para as actividades que se seguirão.





Da Monarquia à República
Portugal viveu a monarquia durante cerca de 770 anos, isto é, aproximadamente entre 1139 e 1910. A monarquia portuguesa foi substituída pela Primeira República Portuguesa após a Revolução de 5 de Outubro de 1910, mas os primeiros passos para a sua implantação já tinham sido dados em 1891, no Porto, e com o regicídio, em 1908.Em 1926 um golpe de estado pôs fim à 1.ª república e instaurou-se uma ditadura militar que vigorou até 1930 com a entrada em cena de António de Oliveira Salazar que em 1930 foi nomeado presidente do Conselho (chefe do Governo), dando início ao novo regime a que se deu o nome de Estado Novo que só viria a ser derrubado com a Revolução de 25 de Abril de 1974.

Nos finais do século XIX aumenta a vontade de mudança devido a uma série de factores: A crise do Ultimato inglês, a débil situação económica pelo facto de o país continuar a ser essencialmente agrícola, a fraca industrialização que se limitava a alguns sectores e às zonas de Lisboa e Porto, a falência dos bancos e de muitas pequenas e médias empresas. Tudo isto fez aumentar o descontentamento social, não só dos operários, com salários baixos e ameaçados pelo desemprego e dos camponeses na extrema pobreza, mas também de largos sectores da burguesia que se organizam em sociedades secretas (a Maçonaria e a Carbonária) e iniciam uma intensa campanha contra a monarquia. Tudo parecia ser culpa da Monarquia!

Os antecedentes da queda da Monarquia

O descrédito perante a Monarquia já se fazia sentir em 1880, aquando do Tricentenária da Morte de Camões.
Durante essas comemorações os populares davam vivas à República, manifestando o seu repúdio pela Monarquia, enquanto os intelectuais republicanos aguardavam ansiosamente por uma melhor oportunidade para derrubar o regime.



Em 31 de Janeiro de 1891 surge na cidade do Porto a primeira tentativa de derrube da Monarquia. Mas a revolta falhou, dela resultando 12 mortos e 41 feridos entre os revoltosos.





Entretanto, o rei decide nomear João Franco como Ministro das finanças para tentar resolver a grave crise financeira e amenizar a situação. Mas João Franco instaura um regime ditatorial, fazendo crescer ainda mais a contestação.A impopularidade crescente do rei e o clima de contestação gerado pela ditadura de João Franco, contribuíram para o regicídio.

No dia 1 de Fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, são assassinados no Rossio, quando a família real se deslocava de coche por entre a multidão. Depois disso esperava-se a todo o momento a Revolução.

Ela surgiria dois anos depois!


A implantação da República

Enfim, a Revolução decisiva! Durante todo o dia de 4 de Outubro de 1910 se ouviram tiros nas ruas de Lisboa.
A população amotinou-se em cada esquina, improvisando barricadas. A Marinha interveio em favor dos republicanos, e logo pela manhã do dia 5 de Outubro as tropas fiéis ao rei, aquarteladas no Rossio, rendiam-se.


Proclamada a República, nessa manhã, foi nomeado um governo provisório sob a presidência de Teófilo Braga que elaborou as primeiras leis da 1.ª República.
A família real embarcou para o exílio e a notícia foi chegando dias depois, semanas depois, em alguns casos, aos vários cantos do País.
Alguns dias depois, talvez em Valpaços…


 Texto e ilustrações de Leonel Salvado

Património edificado - arquitectura religiosa

Está já em preparação uma primeira incursão pela descoberta e divulgação do Património edificado, que neste caso se refere à arquitectura religiosa do concelho.

A primeira experiência manifestar-se-á sob a forma de um panfleto, com o título à Descoberta do Património, que reúne informações sobre os exemplos mais destacados do património edificado religioso do concelho de Valpaços que são os monumentos desta natureza classificados como imóveis de interesse público (IIP) ou os que se encontram em vias de classificação. No panfleto, dedobrável em três colunas com verso e reverso, constarão dos dados de interesse para os eventuais visitantes, tais como a localização, a distância relativamente a Valpaços, o tipo de protecção/classificação, a cronologia e o contexto monográfico.



O mesmo panfleto será acompanhado com folhetos relativos a cada imóvel, com a respectiva descrição e imagens, bem como os possíveis contactos e recursos para eventuais visitas ou estudo. Vamos deixar aqui o teor do panfleto, bem como dos folhetos que o compõem.


À descoberta do Património

Este primeiro panfleto destina-se a servir de modelo a posteriores acções de divulgação ou poderá servir de guião para posteriores visitas de estudo que o Clube de História venha a organizar com o patrocínio de outras instituições da comunidade.


Destacamos neste primeiro panfleto apenas os exemplos de património edificado religioso que foram classificados como IMÓVEIS DE INTERESSE PÚBLICO (IIP) ou que se encontrem em vias de classificação e que são, aliás, os mais conhecidos e de melhor acessibilidade.


FREGUESIAS SELECCIONADAS
Água Revés, Argeriz, Carrazedo de Montenegro, Poçacos, Santa Valha, S. João da Corveira, Valpaços, Vilarandelo.

1. CAPELA DE SÃO CAETANO.
Localização: Vila Real, Valpaços, Água Revés

Distância de Valpaços: 9 Km

Protecção: em vias de classificação.

Cronologia: 1737



Contexto monográfico: Faz parte integrante do Solar dos Sampaio e Cunha. A paróquia de São Bartolomeu de Água Revez já aparece constituída no século XII, supondo-se que foi um pequeno concelho encravado no termo de Chaves, dispondo de carta de povoação do século XII ou XIII. Recebeu foral doado por D. Manuel a 12 de Novembro de 1516. Manteve-se como vila e sede de concelho até 1836, passando neste ano para o concelho de Carrazedo de Montenegro e, com a extinção deste, em 1853, para o concelho de Valpaços.

Descrição: Capela Barroca de planta longitudinal de nave única, apresentando uma fachada principal delimitada por duas pilastras onde assenta o entablamento, no friso de triglifos e métopas destaca-se, em alto-relevo, a flor-de-lis que alterna com uma flor tipo rosácea. No capitel podemos observar algumas máscaras. A capela é encimada por um frontão interrompido contendo dois pináculos e ao centro observa-se um nicho com a estátua S. Caetano, tendo no topo uma cruz latina. A curiosidade desta capela é o facto de o portal apresentar o mesmo desenho da fachada principal, com elementos similares à fachada destacando-se o brasão de pedra d’armas do doador – Manuel Mariz Sarmento – 1737.


No interior, destaca-se a talha dourada, salientando-se ao alto e no topo do retábulo uma tela representando o Senhor da Cana Verde rodeado por pássaros. O altar-mor é constituído por arquivoltas concêntricas com aduelas radiantes e colunas pseudo-salomónicas sem estrias o que permite acentuar o movimento espiralado. As colunas onde se enrolam motivos florais, têm talha pouco volumosa, e na base observam-se, meninos exóticos adornados com farta plumagem (possível influencia brasileira). No dossel do sacrário encontramos elementos decorativos bem ao estilo joanino, os anjos, festões, plumagens e conchas. Por fim, o coro apresenta uma belíssima varanda de madeira bem trabalhada em forma de adufe.


2. IGREJA MATRIZ DE SÃO MAMEDE.

Localização: Vila Real, Valpaços, Argeriz

Distância de Valpaços: 12 Km

Protecção: não definido

Cronologia: origem de fins séc. XIII/remodelação do séc. XVIII.


Contexto monográfico: É da paróquia de São Mamede de Argeriz que tem como anexas à freguesia as povoações de Ribas, Pereiro, Midões e Vale de Espinho. Argeriz é povoação muito antiga e essa antiguidade surge arqueologicamente atestada, dentro dos limites da freguesia, por vestígios que remontam à época proto-histórica (castro de Ribas), romana e visigótica. O topónimo Argeriz radica na onomástica germânica e o termo Villa Algericii surge em documentos dos séculos XIII e XIV, como nas Inquirições de D. Afonso III e D. Dinis.

Descrição: Igreja de planta rectangular, com nave única e capela quadrangular com torre sineira de dupla arcada rodeada de quatro pináculos e encimada por uma cruz latina com um suporte decorado com enrolamentos.

O portal da fachada principal é encimado por um nicho vazio e a iluminação é feita através de uma fresta e uma janela na parede lateral esquerda e por quatros janelas na parede lateral direita.

O altar-mor encontra-se separado da nave por um arco de volta perfeita, o retábulo é caracterizado pela talha bastante simples. As colunas são lisas e os capitéis decorados com folhagem pouco exuberante. Na nave, observamos quatro capelas, quatro altares de talha e dois púlpitos, de bacia quadrada sobre mísula com pia em forma de concha e máscara.


3. IGREJA MATRIZ DE CARRAZEDO DE MONTENEGRO

Localização: Vila Real, Valpaços, Carrazedo de Montenegro.

Distância de Valpaços: 18 Km

Protecção: IIP, Dec nº 28/82, DR 47 de 26 de Fevereiro de 1982.

Cronologia: Séc. XVI e XVIII (remodelação).


Contexto monográfico: É da paróquia de S. Nicolau de Carrazedo, freguesia constituída ainda pelas povoações anexas de Argemil, Redondelo, Silva, Cubo, Ribeira da Fraga e Avarenta. É paróquia muito antiga, cuja existência e autonomia se atesta em documentos do início da nacionalidade, dos reinados de D. Afonso III e D. Dinis. S. Nicolau de Carrazedo foi reitoria de Mitra e Comenda da ordem de Cristo, com seis curatos anexos: Santa Maria de Émeres, Crasto, Sanfins, Argeriz, Padrela e Curros.

Descrição: Na imponente fachada principal, destacam-se, as duas altas torres sineiras rodeadas por uma balaustrada ladeada por quatro pináculos. Na base observam-se cinco arcos de aresta encimados por medalhões, no arco central encontram-se dois anjos que seguram a coroa real aberta, e uma arcada tripla dá acesso ao interior.

No 1º andar existem cinco janelas, duas com frontão curvo, uma com frontão triangular e uma balaustrada. No 2º andar há três nichos com frontões triangulares, o da direita contém a imagem de Santa Bárbara com dois dos seus atributos: pena de pavão e torre, à esquerda um frade e ao centro não podendo deixar de ser, a imagem de S. Nicolau, padroeiro da igreja vestido de bispo, com mitra e báculo.

O nicho do centro, termina com um frontão quebrado que ostenta a magnífica imagem de S. Francisco Xavier e é rematado por um globo mundo com cordão serpentiforme do qual parte uma cruz.


4. IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS NEVES

Localização: Vila Real, Valpaços, Poçacos.

Distância de Valpaços: 4 Km

Protecção: IIP, Dec nº 28/82, DR 47 de 26 de Fevereiro de 1982.

Cronologia: início do século XIX


Contexto monográfico: a paróquia é de povoação antiga, havendo no seu termo vestígios de ocupação da época castreja e romana (a ponte do Arquinho e troços de calçada romana). A povoação é mencionada nas Inquirições de D. Afonso III de 1258. Foi também terra de solares com imponentes edificações brasonadas que hoje se admiram.

Descrição: A Igreja com amplo adro murado é de planta rectangular e de uma só nave. A fachada principal é um magnífico trabalho de cantaria. O portal da fachada principal, rematado por um frontão curvo, é encimado por um nicho que envolve a imagem de Nossa Sra. das Neves em pedra pintada. Do lado esquerdo tem uma janela rectangular rematada por um frontão curvo, do lado direito um relógio cravado na pedra. No topo da fachada, ao centro, o campanário de dois sinos é rematado por dois pináculos que ladeiam um foragéu. No interior, deparamo-nos com notáveis conjuntos de talha dourada. Pode-se ainda destacar a cobertura da capela – mor em caixotões com pinturas. A riqueza do retábulo da capela – mor é bem ao estilo barroco, a talha dourada do altar-mor e dos laterais é prova disso. O sacrário é decorado com enrolamentos de meninos e pássaros. No trono alto e piramidal, anjos alados pontuam uma decoração sem grande relevo. As colunas colossais estão decoradas com vides, cachos de uvas, pássaros e meninos. Nos altares laterais, as arquivoltas não ligam às colunas e a decoração de sabor rocócó é definida por dois filetes lisos e preenchida com pintura marmoreada. Os lóbulos da arquivolta apelam para o neo-manuelino com a exuberância de formas e uma forte interpretação naturalista-simbólica de temas originais, aqui definido por, grinaldas e flores feitas à parte e colocadas à pilastra sobre pintura fingida. No altar do Sagrado Coração de Jesus o retábulo é de sabor rocócó, a pintura realça-se e a talha fica para segundo plano. Nas colunas de altura desigual e fuste liso os apliques de flores seguem a linha rocócó. Este templo, local a visitar, é um excelente exemplo da arquitectura religiosa do XVII.


5. IGREJA MATRIZ DE SANTA VALHA/SANTA EULÁLIA

Localização: Vila Real, Valpaços, Santa Valha.

Distância de Valpaços: 13 Km

Protecção: IIP, Dec nº 45/93, DR 290 de 30 de Novembro de 1993.

Cronologia: meados do séc.XVII.


Contexto monográfico: Pertencem ainda à freguesia as povoações de Calvo (já extinta) e Teixugueiras (convertida em quinta agrícola). A Aldeia é dividida por um ribeiro em dois bairros distintos: O da Madalena, que se crê ter sido o povoado primitivo, cujo nome resulta da arruinada capela de Santa Maria Madalena, seu orago; o bairro do Sobreiro, onde se ergue a igreja matriz, e a capela de São Miguel. Achados arqueológicos autorizam a remontar a antiguidade de Santa Valha às épocas castreja e romana.

Descrição: Inserida numa aldeia onde a traça tradicional e rural ainda é evidente, a igreja paroquial de Santa Valha de planta rectangular é rodeada por um adro murado. Ostenta na frontaria, sobre a porta rectangular, uma rosácea ladeada por dois brasões. No topo da fachada, ao centro, o campanário de dois sinos é rematado por dois pináculos e uma cruz latina. No interior, deparamo-nos com um dos mais notáveis conjuntos de arte sacra do concelho de Valpaços. Destacamos a talha e duas pinturas a óleo sobre a madeira. Uma representa Nossa Senhora do Desterro, talvez do séc. XVII, e outra, provavelmente do mesmo pintor, de S. João Evangelista. O altar – mor de estilo joanino final, em trânsito para o rocócó de que aliás apresenta alguns elementos, anjos tocheiros de grande qualidade artística assentes num pedestal, decoram e ladeiam altar-mor. O trono, e o sacrário são de estilo rocócó, bem como a pintura e a decoração da talha. Dois pares de colunas apresentam decoração vegetalista. As colunas extremas de fuste liso são ornamentadas com motivos concheados assimétricos. O desenho ondulante do alçado é rematado com querubins que servem de enquadramento à pomba do Espírito Santo. A nave da igreja, do lado dos evangelhos, abre-se para a capela de Sto. Cristo com a seguinte inscrição, datada de 1722: “esta capela mandou fazer à sua custa Hierónimo de Morais Castro Soto Maior”. O retábulo contém duas colunas pseudo-salamonicas, a primeira com meninos, parras e uvas, e a segunda canelada, com meninos, pássaros e folhagens, correspondendo a arquivolta. As aduelas da arquivolta são decoradas com cabeças de menino. O friso é preenchido com cabeças de anjo. As pilastras têm cariátides, possivelmente alguma influência do estilo maneirista. Realçamos ainda, as magnificas esculturas do frágil Ecce Homo e do Senhor dos Passos.


6. IGREJA MATRIZ DE S. JOÃO DA CORVEIRA

Localização: Vila Real, Valpaços, S. João da Corveira.

Distância de Valpaços: 19 Km

Protecção: Não definido. Monumento descrito pela DGEMN.

Cronologia: Possível origem medieval, reconstruída no séc. XVII.


Contexto monográfico: Possui seis aldeias anexas: Rio Bom, Sobrado, Junqueira, Vilarinho do Monte, Nozedo e Varges. A igreja da freguesia de S. João Baptista de Corveira era anexa à freguesia de Santa Leocádia do Monte, sendo da apresentação do respectivo Reitor, passando depois a comenda da ordem de Malta no termo de Chaves, pertencendo ao concelho de Carrazedo de Montenegro, transferindo-se para o de Valpaços, com a extinção daquele, por Decreto de 31 de Dezembro de 1853. É povoação antiga, surgindo mencionada em documentação eclesiástica do século XII.

Descrição: Planta longitudinal composta por três naves, capela-mor e sacristia de plantas rectangulares. Fachada principal orientada a O. com empena truncada por campanário de dupla ventana e cornija recta, e pináculos piramidais de remate esférico, nos cunhais. Porta central de lintel recto com frontão triangular encimado por cruz sobre esfera. Na fachada Sul adossa-se, pelo exterior, uma escada de pedra de lanço único de acesso ao coro-alto por porta de lintel recto. Interior de espaço diferenciado, com naves divididas por colunas de tipo toscano, e capela-mor de articulação sublinhada por arco triunfal e degrau. Ocupando o primeiro tramo das naves, coro-alto com balaustrada de madeira, apoiado em pilares de madeira e em duas colunas adossadas que flanqueiam a porta principal. À esquerda, pia baptismal de granito assente em plataforma lajeada. Altares de talha policroma sobre fundo branco, dispostos colateralmente e no topo nas naves laterais. Arco triunfal de volta perfeita, decorado com toro, assente em pilastras com chanfro e imposta moldurada. Retábulo de talha dourada e policroma sobre fundo branco, de tipo tripartido com tribuna, trono ao centro e painéis laterais pintados entre colunas pseudo-salomónicas. Características particulares: Ostenta transformações bem visíveis de um templo de raiz medieval, na silharia, na porta principal refeita com lintel recto e frontão triangular e que deveria ser inicialmente de arco de volta perfeita como as laterais, na capela-mor ampliada (para albergar o retábulo de talha dourada); corpo da sacristia acrescentado e adossada a escada exterior de acesso ao coro. O pináculo do lado S. da fachada principal possui um curioso relógio de sol com representação de uma face humana. A organização interna formando três naves separadas por colunas de tipo toscano, sem arcos, constitui também uma característica pouco frequente neste tipo de igreja.


7. IGREJA MATRIZ DE VALPAÇOS/DE SANTA MARIA MAIOR

Localização: Vila Real, Valpaços, Valpaços.

Protecção: Não definido. Monumento descrito pela DGEMN

Cronologia: Início do século XIX.


Contexto monográfico: A cidade de Valpaços é capital de concelho, por Decreto de 6 de Novembro de 1836, cabeça de comarca, sede de freguesia com o mesmo nome, também designada de paróquia de Santa Maria de Valpaços, tendo coma anexas as povoações de Lagoas, Valverde e Vale de Casas. São da jurisdição do seu vigário as freguesias de Poçacos e Rio Torto. A toponímia atribui a Valpaços origem antiga, sendo de destacar o topónimo arcaico Valpaço-lo-Velho que ainda perdura na tradição popular. Há quem se refira à sua existência já no reinado de D. Sancho I. Contudo, nunca teve foral. Foi elevada à categoria de Vila com o nome de Valpassos por Decreto de 27 de Março de 1861. Finalmente foi elevada a categoria de Cidade por Decreto de 13 de Maio de 1999.

Descrição: Edifício de planta longitudinal de nave única, delimitado exteriormente por pináculos. Os muros encontram-se flanqueados por contrafortes. A fachada encontra-se delimitada por pilastras de ângulo e remata com uma alta e elegante torre sineira. O portal apresenta lintel recto, sendo encimado por um nicho que envolve a imagem da Virgem. A abóbada de granito separa a nave da capela-mor. Tem coro abalaustrado, baptistério e púlpito. O retábulo da capela-mor é do estilo renascença. Para além deste retábulo tem mais quatro laterais. Esta igreja é obra de um mestre pedreiro galego.

INSCRIÇÕES: em cartela sobre o portal: ANNO / DO S(e)N(ho)R / 1808; no relógio de sol colocado sobre a cornija da empena, no lado S.: ANO 'DE' 1807; na fachada lateral E., acima do capitel do cunhal apilastrado da frente, pintada: 1830 (entre dois pés de flor); na moldura do mostrador relógio instalado na fachada principal: 1.851; no retábulo-mor, pintada: RESTAURADA/ OFICINAS / ANTº ALVES, SUC. "FILHOS" / BRAGA / 1980.


8. IGREJA MATRIZ DE VILARANDELO/DE SÃO VICENTE

Localização: Vila Real, Valpaços, Vilarandelo.

Distância de Valpaços: 6 Km

Protecção: IIP, Dec nº 29/84, DR 47 de 26 de Junho.

Cronologia: contrução – séc.XVII ; restauro – séc. XVIII.


Contexto monográfico: É freguesia sem anexas e cujo orago é S. Vicente. Encontram-se no seu termo abundantes vestígios arqueológicos típicos da época castreja e romana, tendo sido nesta época importante local de passagem da rede viária romana. Alguns topónimos, como Muradelha e Cividade apontam no mesmo sentido da antiguidade da ocupação humana da área integrada na freguesia de Vilarandelo. Foi, juntamente com a igreja S. jão Baptista de Corveira, comenda da ordem de Malta.

Descrição: A Igreja Matriz de S. Vicente de planta rectangular, tem na fachada principal um portal em arco de volta redonda encimado por um óculo tipo olho-de-boi. O campanário de duas aberturas remata a fachada, encimado por uma cruz da Ordem de Malta, o que revela a sua presença na região e a sua ligação à construção da igreja. À volta da Igreja encontramos cruzeiros em granito, formando a via-sacra, onde a cruz de Malta está aí também representada, gravada ao centro do cruzeiro. No interior, deparamo-nos com a decoração da talha dourada, azulejos do séc. XVIII e, nas paredes da capela-mor, frescos da 1ª metade do séc. XVIII alusivos à Paixão e Morte de Jesus os quais se encontram repintados a óleo.

A Talha ocupa metade da igreja e, além da capela–mor, percorre o arco cruzeiro e as capelas laterais. No retábulo da capela–mor aparecem os habituais pássaros e uvas do estilo nacional, mas curiosamente aqui não aparecem os meninos.

Por: Leonel Salvado
Fonte: Município de Valpaços http://arquivo.valpacos.pt/