domingo, 14 de março de 2010

Acção Valpaços

Foi no contexto das lutas liberais que Valpaços se destacou no plano da História nacional, convertendo-se num dos palcos desse sangrento conflito, quando faltavam apenas dez dias para celebrar o seu décimo aniversário, enquanto sede de concelho, concelho este que, por esse tempo, era ainda geograficamente bastante limitado.

Resultou das vicissitudes da guerra que ficou conhecida como a Patuleia que decorresse na região um dos seus mais conhecidos confrontos militares e que foi o que opôs as forças populares comandadas pelo marquês de Sá da Bandeira e as tropas fiéis à Rainha D. Maria II, comandadas pelo barão do Casal.


Tal cometimento [...] deu-se em 16 de Novembro de 1846, entre as forças populares comandadas por Sá da Bandeira, General da Junta do Porto, e as tropas partidárias da Rainha, estas superiormente comandadas pelo Barão do Casal, que partira de Chaves em 23 de Outubro desse ano com uma brigada composta dos Regimentos de Cavalaria 6 e 7, pelo Batalhão de Caçadores 3 e Regime de Infantaria 13.


Por vários motivos justificáveis e, sobretudo por não confiar na oficialidade dos Regimentos 3 e 15 de Infantaria, Sá da Bandeira desiste de avançar sobre Chaves e resolve bater em retirada para Mirandela, a 15 de Novembro, indo a 1.ª Brigada pernoitar a Ervões, e a 2.ª a Vilarandelo. No dia imediato, ou seja, a 16 de Novembro, a marcha prosseguiu até Valpaços, em cujas cercanias se juntou toda a divisão da causa popular, e onde houve um curto descanso. Sá da Bandeira pretende apressar a sua retirada, para o que já algunas unidades têm iniciado a marcha em direcção a Rio Torto.


As tropas do Barão do Casal não lhes dão porém tempo, estando já à vista nas proximidades de Valpaços. Sá da Bandeira manda retroceder parte da sua gente, que já ia a caminho de Mirandela, e vai dispondo os seus contigentes de maneira a ocuparem os lugares favoráveis de Valpaços, e a restante, isto é, o Batalhão de Baião e Infantaria 3, formam à esquerda da linha defensiva. Aproxima-se o trágico momento da luta fratricida. As tropas fiéis à Rainha também já estão a postos. Entretanto, parece que em ambos os campos há uma hesitação.


Foi então que um acontecimento extraordinário mostrou quanto eram fundadas as suspeitas do General liberal Sá da Bandeira sobre a fidelidade dos Regimentos 3 e 15.


Seriam 3 horas e meia da tarde, quando o Visconde de Vinhais, que vinha com a divisão de Casal, e que já com a adesão contava, avançou para aqueles dois corpos, a galope, e acompanhado por uma escolta de Cavalaria e apoiado por forças de Caçadores e Infantaria 13, soltando vivas, passou logo para o lado do inimigo e abriu fogo sobre o Batalhão de Baião. O Regimento 15 ainda hesitou, porque o seu Comandante Coronel Feio, mandou formar quadrado para resistir à Cavalaria do Visconde de Vinhais, mas pouco depois ouviram-se vozes de revolta por parte dos praças, que aprisionaram grande número de oficiais que não queriam aderir à traição.


Por fim, todo o Regimento se passou para o Campo do inimigo. As tropas da Patuleia (Sá da Bandeira), foram enfraquecidas por uma traição, e as do Governo souberam aproveitar a sua superioridade numérica, abandonando o Campo do inimigo, sem que sobre ele tivessem alcançado qualquer resultado positivo.


O número de mortos, não chegou aos vinte e a duração do combate também foi relativamente pouca. A divisão do Barão do Casal e do Visconde de Vinhais, em Vilarandelo praticou roubos e motivou destruições e ainda actos revoltantes, que encheram de pavor e indignação a população daquela aldeia. As tropas liberais abandonaram Valpaços na maior desorganização, e assim fizeram a retirada por Murça até Pinhão, onde tomaram barcos e regressaram ao Porto pelo Rio Douro.


A população de Valpaços, impressionada fortemente com tais sucessos, comportou-se acima de todo o elogio. Deu sepultura piedosa aos mortos no seu cemitério e afadigou-se prodigalizando o melhor tratamento, carinhosamente dispensado a todos os feridos, sem olhar a partidos.

Por: Leonel Salvado
Fonte: Padre João Vaz de Amorim, revista Aquae Flaviae, citado por José Lourenço Montanha de Andrade, Valpaço-lo-Velho.
Imagem ilustrativa in http://santaremhistorico.blogspot.com/

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