sexta-feira, 26 de março de 2010

Bicentenário de Alexandre Herculano

Comemora-se no próximo dia 28 de Março de 2010 o bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano. É pena que o Ministério da Cultura não lhe dedique um programa comemorativo, lapso que, segundo o Jornal de Notícias, na edição de hoje, já foi confirmado pelo gabinete ministerial que «preferiu não avancar com justificações», ficando a celebração da efeméride à responsabilidade de instituições culturais do foro privado. Como não pretendemos seguir o exemplo, decidimos, antecipadamente, fazer-lhe uma sóbria homenagem, evocando alguns tópicos biográficos ilustrativos da sua grandeza moral, intelectual e profissional.


Oriundo de uma família de modestos recursos, ainda que o pai, Teodoro Cândido de Araújo, se tenha destacado como funcionário da Junta dos Juros, Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu no Pátio do Gil, à Rua de S. Bento, em 28 de Março de 1810. Viveu a sua infância e adolescência sob o dramático ambiente das invasões francesas que conduziriam o país à Revolução liberal de 1820.
Frequentou até aos seus 15 anos, o Colégio dos Padres Oratorianos de S. Filipe de Néry, no Convento das Necessidades, onde adquiriu uma formação clássica, mas aberta aos progressos científicos, mas devido à cegueira do pai e às dificuldades financeiras que se abateram sobre a família, não prosseguiu estudos universitários, dedicando-se por gosto e iniciativa própria ao estudo da literatura e das línguas, tais como o italiano, o inglês, o francês e o alemão, estudos esses que moldaram o seu espírito literário e fizeram despertar a sua vocação historiográfica.

Alistando-se, aos 21 anos, no exército liberal, tomou parte na fracassada Revolta de 21 de Agosto de 1831, contra o governo ditatorial de D. Miguel, que o levou ao exílio em Inglaterra e em França. No ano seguinte alista-se no Regimento dos Voluntários da Rainha, fazendo-se notar como um dos bravos do Mindelo que a 8 de Julho desembarcou na praia de Arnosa de Pampelido que ficou indevidamente conhecida como o desembarque do Mindelo, por se situarem as praias assim chamadas próximas uma da outra, um pouco a Norte da cidade do Porto.

Nos sucessos que se seguiram à tomada do Porto deu Herculano provas de grande coragem que não passaram despercebidas a D. Pedro IV, que logo o fez passar à disponibilidade e nomeou-o segundo bibliotecário da Biblioteca do Porto. É então que Alexandre Herculano empreende a sua vertiginosa escalada literária e historiográfica. Em 1837 é convidado para dirigir a revista de carácter científico e cultural, Panorama, em Lisboa de que foi o seu redactor principal até 1839. Em 1844 publica a obra que é considerada como a primeira referência, talvez também a principal referência, do Romance Histórico em Portugal, Eurico, o Presbítero.

Mas a obra que mais contribuiu para imortalizar a Herculano, como uma das figuras científicas e culturais mais destacadas do seu tempo, foi a sua História de Portugal, cujo primeiro volume foi publicado em 1846. Trata-se da obra que introduziu a historiografia científica em Portugal e que provocou um verdadeiro choque nos sectores mais conservadores da época, originando uma onda de indignação e revolta no Clero, mas que Herculano bem soube defender, usando como arma a defesa incondicional da verdade científica. Neste combate, publicou os opúsculos Eu e o Clero e Solemnia Verba, onde desfere violentos golpes contra o artificialismo da historiografia tradicional. Graças ao prestígio adquirido através desta obra, Alexandre Herculano foi, em 1852, nomeado sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa. Foi sob a tutela desta instituição que realizou o projecto de recolha dos documentos valiosos dispersos pelos cartórios conventuais do país, de que resultou uma preciosa compilação documental designada de Portugaliae Monumenta Historica que serve ainda hoje como um instrumento fundamental para o trabalho dos historiadores.

Contam-se muitas outras referências da sua produção literária, ao ponto de podermos considerar Herculano, além de político e jornalista e polemista, como um dos maiores romancistas e historiadores e poeta. Outra obra de extraordinária importância deixada por Herculano, enquanto historiador foi a História das Origens e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, inciada em 1854 e terminada em 1858.

Após o seu casamento com D. Mariana Meira, em 1857, retira-se definitivamente para a sua quinta de Vale de Lobos (Azóia de Baixo, Santarém) onde se fez também agricultor, e durante cerca de vinte anos, procurou conciliar a lavoura com uma intensa actividade literária. Enquanto agricultor destacou-se como uma dos mais conceituados produtores de azeite nacional. Desiludido com o rumo que via ser tomado pela vida pública portuguesa, não deixou de exercer um autêntico magistério moral sobre o País, através de de uma grande parte dos seus conhecidos opúsculos, recusando por várias vezes, como aliás sempre fizera, cargos políticos, honrarias e condecorações. Veio aí  a falecer no dia 13 de Setembro de 1877, em consequência de uma pneumonia.


Por: Leonel Salvado
Imagem ilustrativa in http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com

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