segunda-feira, 31 de maio de 2010

Comemora-se hoje o nascimento de D. Manuel I, o venturoso


D. Manuel I, o “Venturoso”, nasceu em Alcochete a 31 de Maio de 1469, falecendo em Lisboa a 13 de Dezembro de 1521, tendo sido o 14º Rei de Portugal, de 1495 a 1521, o único a subir ao trono sem ser descendente ou irmão do antecessor, beneficiando da morte de um primo e de cinco irmãos. Foi o nono filho de D. Fernando, Duque de Viseu (irmão do Rei D. Afonso V), sendo primo e, posteriormente, cunhado do Rei D. João II (o qual casara com D. Leonor, irmã de D. Manuel), tendo sido educado na Corte. Não obstante começar por ser um filho segundo da aristocracia, em 1484 era já o principal senhor privado do reino, concentrando os títulos de Duque de Beja e de Viseu, de governador da Ordem de Cristo e de condestável do reino.
Com o falecimento de D. João II, sem filhos legítimos (apesar de ter procurado legitimar um bastardo, infante D. Jorge de Lencastre, que viria a ser Duque de Coimbra) nem irmãos sobrevivos – extinguindo-se assim, automaticamente, toda a descendência de D. Afonso V -, D. Manuel (neto de D. Duarte; tendo todos os seus cinco irmãos mais velhos falecido já até 1484) viria a herdar o trono, também por influência da irmã, obstando às pretensões do referido D. Jorge de Lencastre.

Prosseguiria a política de expansão marítima, enquanto procurava, paralelamente, a unidade ibérica, mediante uma estratégia matrimonial; o que viria a concretizar-se, mas com a união das coroas no soberano espanhol, com Filipe I (não obstante D. Manuel ter deixado 6 filhos varões legítimos).
Em 1497 casou com D. Isabel de Aragão, filha dos Reis Católicos espanhóis (entretanto já viúva do filho de D. João II, D. Afonso, falecido aos 16 anos, na sequência de uma queda de cavalo), vindo a ser jurados herdeiros dos tronos de Castela e Aragão. Porém, D. Isabel viria a falecer aquando do parto de D. Miguel da Paz, o qual, no dia do seu nascimento, seria aclamado rei de Portugal e dos referidos reinos; o herdeiro viria contudo a falecer com menos de 2 anos de idade.
D. Manuel viria a casar novamente, em 1500, com D. Maria de Castela (igualmente filha dos Reis Católicos), união de que viriam a nascer os futuros reis D. João III e Cardeal D. Henrique. De novo viúvo desde 1517, casaria ainda, em 1519, com D. Leonor de Castela.

O seu reinado fica marcado pelo apogeu dos Descobrimentos, de que foi um dos principais impulsionadores (desenvolvendo o plano da Índia, engendrado por D. João II) – de que decorre o seu cognome (tornando-se senhor de um Império marítimo abarcando dois oceanos e quatro continentes, ostentando o título de “Rei de Portugal e dos Algarves, de aquém e de além-mar, senhor da navegação e da conquista da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”) -, tendo mandado erigir obras monumentais como o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, retomando a construção do Mosteiro da Batalha, e intervindo ainda no Convento de Cristo, em Tomar, criando um estilo arquitectónico, designado “manuelino”.
Nesse período de 26 anos Vasco da Gama conseguiria finalmente descobrir o caminho marítimo para a Índia, tendo Pedro Álvares Cabral concretizado o “achamento” do Brasil, enquanto Afonso de Albuquerque dominava a Índia, assegurando para Portugal o monopólio do comércio das especiarias orientais.
A base económica de Portugal passara a repousar no ouro da Mina – a política imperial continuou a assentar, sobretudo, no controlo do Oceano Atlântico e na ocupação das suas ilhas – e na pimenta da Índia, alvo de monopólio régio.
Todavia, as riquezas de que beneficiou não seriam devidamente aplicadas, tendo sido utilizadas em fausto e luxo (próprio de um príncipe do Renascimento), preparação de novas frotas e investidas bélicas; logo a partir de 1512, Portugal começaria a atravessar uma conjuntura de crise.

D. Manuel teria também de lidar com a questão dos judeus, refugiados em Portugal na sequência da expulsão de Espanha, decretada pelos Reis Católicos. Influenciado pelos sogros, viria a impor aos judeus a conversão ao catolicismo, para evitar também a expulsão de Portugal, tornando-se muitos “cristãos-novos”. Em 1506, com o crescendo do sentimento anti-judaico, dar-se-ia o pogrom de Lisboa, com o massacre de cerca de 4 000 judeus.
Noutro domínio, a par de uma política centralizadora, lançou um amplo programa de reformas administrativas, publicando as “Ordenações Manuelinas”, revendo as leis fiscais, reformando a justiça e ordenando o aparelho público.
Quando parecia que D. Manuel poderia vir a liderar a Cristandade contra os muçulmanos, Lisboa seria atingida pela peste; vítima do flagelo, em 1521, encerrava-se o reinado do “Venturoso”, que jaz no Mosteiro dos Jerónimos.

Autor: Leonel Vicente, in http://carreiradaindia.net (adaptado)
Imagem ilustrativa: Retrato de D. Manuel I | foto de domínio público via wikipedia commons

domingo, 30 de maio de 2010

Escola Secundária comemora Centenário da República


Música e exposições fazem parte do programa das Comemorações do Centenário da República, que tiveram lugar, esta semana, em Valpaços, e que contaram ainda com uma verdadeira lição de história, dada, nada mais, nada menos do que por Fernando Rosas.

As escolas do país foram convidadas pela Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República para participar naquele importante evento que decorre durante este ano e culmina no próximo dia 5 de Outubro.
A Secundária de Valpaços associou-se às referidas comemorações e, através do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, organizou na passada terça-feira, 25 de Maio, um colóquio sobre a República.

Para falar sobre o assunto, esteve presente Fernando Rosas. O professor universitário, historiador, político português, actualmente Deputado na AR pelo Bloco de Esquerda, viajou da capital para abordar e contextualizar a Implementação da República em Portugal.
Oriundo de uma família de tradições republicanas, ele próprio um cidadão publicamente empenhado na defesa de ideias de justiça e igualdade social, o seu interesse enquanto investigador voltou-se para a História do Estado Novo e é hoje unanimemente considerado um dos maiores especialistas portugueses neste período histórico.
Fernando Rosas, durante a sua exposição, levou a plateia numa viagem ao mundo português, ao seu passado, às suas dificuldades, aos seus erros, à evolução da sociedade portuguesa, etc. “A Repuública foi uma tentativa falhada de modernizar política e economicamente o nosso país”, sentenciou.
A Implantação da República, em 1910, foi, na opinião do historiador, uma “revolução tipicamente lusitana, quase tudo saiu ao contrário do que estava planeado, mas os republicanos venceram”.
Fernando Rosas falou, ainda, das conquistas da República, que fez a separação da Igreja e do Estado. Dizer “Viva a Republica queria dizer viva a democracia, viva a liberdade, viva o progresso (…). A Implementação da República foi a primeira esperança, uma porta histórica aberta para a democracia, uma porta que esteve fechada até ao 25 de Abril de 1974”, culminou.

A receber Fernando Rosas esteve o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Valpaços, Amílcar Almeida, que viu a oportunidade como “preciosa para ouvir um testemunho rico sobre o tema e trazer o professor até Valpaços foi uma iniciativa arrojada e frutífera”.
Também Abel Ribeiro, Presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária de Valpaços agradeceu a presença do deputado e historiador, assim como lembrou que a mesma não teria sido possível sem o empenho do coordenador de departamento que organizou a acção, Maximino Machado.


A Exposição integrada nas Comemorações da República
A parte da manhã foi dedicada a uma cerimónia comemorativa que contou com a colaboração da Guarda Nacional Republicana e da Banda Municipal de Valpaços, onde, como não poderia deixar de ser, não faltou o Hino Nacional.
Puderam ainda ser visitadas um conjunto de exposições consagradas ao tema e repartidos entre o salão do polivalente e o pavilhão II, entre elas um conjunto de painéis de pseudo-azulejos e outras referências iconográficas alusivas aos finais da Monarquia e ao processo de evolução da República em Portugal.

Por: Cátia Mata, in A Voz de Chaves, edição de 28-05-2010.

sábado, 29 de maio de 2010

O Estado Novo no distrito de Vila Real - ligeira variante numa terrível continuidade?

O distrito de Vila Real foi uma das regiões de condição interior e rural, senão mesmo a mais destacável de entre elas, onde os respectivos poderes periféricos agiram e interferiram de uma forma ou de outra, mas com espantosa peculiaridade, contra a instalação do regime, nos moldes em que Salazar o preconizou para o País, que é o do sentido da institucionalização de um modelo corporativo - fascista adaptado à ditadura saída da revolta militar de 28 de Maio de 1926. Tal parece ser a conclusão a que chegou o historiador Rui Ramos, por exemplo, quando se propôs inquirir «acerca do que era o Estado Novo visto por baixo, no país interior das aldeias, vilas e pequenas cidades de província, onde vivia a maioria dos portugueses dos anos 30». Para tal, dispôs este historiador de um precioso acervo documental publicado em 1982 pela Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista que integra os relatórios e documentos que o tenente Horácio de Assis Gonçalves foi enviando, durante 30 anos, a Salazar sobre a sua actividade ao serviço do regime inclusive enquanto Governador Civil de Vila Real, nos dez anos que se seguiram a 1934. Assis Gonçalves, um transmontano nascido em Vinhais (Bragança), em 1889 e um dos tenentes do 28 de Maio (ainda vivo em 1975), foi também um homem de reconhecida formação literária, da confiança pessoal do Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, a quem serviu entre 1930 e 1934 como secretário oficial. Foi a 22 de Julho de 1934 investido pelo ditador no cargo de governador civil do distrito de Vila Real. É controversa a razão que teria levado Salazar a provê-lo nesse cargo – uma conjura engendrada pelo coronel Henrique Linhares de Lima para afastar de Lisboa o jovem oficial revolucionário, em cujas veias se temia ainda fervilhasse perigosamente o espírito do 28 de Maio, absorvendo-o em tarefas administrativas no remoto distrito transmontano, ou, o que se depreende melhor das suas próprias memórias, uma decisão pragmática de Salazar em colocar ali uma pessoa de confiança para levar por diante a premente tarefa da difusão do regime – mas parece certo que a sua escolha foi condicionada pelo facto de ser um homem natural e conhecedor da realidade humana dessa província, como o próprio Assis assevera. O que aliás parece condizer com a desconfiança que a reputação do distrito de Vila Real parecia inspirar ao chefe do governo e de que Assis Gonçalves se faz eco quando se lhe referiu, no início do suas funções de Governador Civil, como um dos distritos «mais difíceis de governar».

O ambiente político e social do distrito de Vila Real era entendido na capital como seriamente preocupante, conhecida e designada que era a região como «um dos mais fortes baluartes» do Partido Republicano Português de pendor democrático. Perfilavam-se como patriarcas desse movimento, a abater ou a aliciar, influentes figuras regionais como Nicolau Mesquita que nasceu em Chaves em 1871 e que foi Governador Civil em 1917, chegou a ascender ao Senado pelo distrito e foi presidente da Câmara de Chaves entre 1923 e 1926, onde granjeou grande notoriedade e estima por uma extensa lista de obras públicas, tal como o Liceu da cidade que iria ser apontado como um dos bastiões da resistência republicana, lista essa que a campanha de desacreditação que contra ele foi urdida pela Ditadura instalada com o 28 de Maio, não bastou para ofuscar, antes serviu de motivo para uma calorosa homenagem pública que lhe foi feita em Chaves. Além disso, uma grande parte da sua «influência» e prestígio herdara-a ele de António Teixeira de Sousa, um dos líderes do Partido Regenerador dos tempos da Monarquia com quem estabelecera assinalada amizade. Outra figura temida pelos promotores do regime do Estado Novo dava pelo mesmo nome Nicolau Mesquita (presumindo-se tratar-se de filho do primeiro e seu sucessor ideológico), um conceituado advogado e que também fora Governador Civil na Primeira República, professor na Escola Industrial de Chaves e conservador do Registo Civil. Outros nomes de flavienses radicados noutras cidades do país, ficaram para sempre conhecidos pela sua firmeza de carácter e lealdade para com os seus conterrâneos na luta contra a ditadura, tais os casos do general Sousa Dias, do tenente-coronel António Ribeiro de Carvalho, cujo pai, o General Augusto Ribeiro de Carvalho ainda vivia em Chaves no tempo em que Assis Gonçalves exercia o cargo de Governador Civil.

Foi este ambiente de refracção ideológica com que Assis se deparou, lamentando o fraco entusiasmo com que Chaves o recebeu, em contraste com a entusiástica recepção que lhe reservaram os moradores da capital de distrito. A piorar a situação estava a circunstância de em Vila Real a cisão ter estalado mesmo entre os partidários da União Nacional em consequência do Governo de José Timóteo Montalvão Machado, que agora, e a contragosto, se via substituído por Assis, pelo que este logo tratou de solicitar de Salazar a atribuição de alguma distinção honorífica ao amuado Governador, antes de se dedicar com todas as suas energias às necessárias diligências para neutralizar os focos de resistência da oposição democrática e as querelas entre os grupos de pressão regionais que ameaçavam o regime. Neste intenso labor administrativo julgava o Governador Civil ter encontrado "remédio santo" para os problemas mais espinhosos. Conseguiu, com aparente golpe de sorte que o chefe dos «democráticos», Nicolau Mesquita (o primeiro), se retratasse, em nome da necessária compreensão e obediência aos valores do patriotismo, o qual acedeu em retirar-se para Pedras Salgadas dedicando-se até ao fim da sua vida, em 1941, à administração da empresa de águas termais designada então de "Sociedade de Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas" e, portanto, deixando desamparados os inconvenientes opositores do Estado Novo em Vila Real que sempre o tiveram como líder carismático e com que se concertavam na luta contra o regime. Ao mesmo tempo, logrou refrear os ânimos dos promotores de algumas, esporádicas, manifestações de descontentamento e resolver a «embrulhada política» em que se vira envolvido o concelho de Sabrosa. Para prevenir males maiores em todo o distrito tratou Assis de convidar para presidente da União Nacional no distrito de Vila Real o Doutor Luís de Morais Sarmento, médico afamado em todo o distrito e professor da Universidade de Coimbra, director clínico na estância termal de Vidago e, acima de tudo, um transmontano que desenvolvia na sua terra natal, Paradela de Monforte (concelho de Chaves) uma apreciável obra de benemerência social. Para o problema mais delicado do concelho de Sabrosa, onde a respeitabilidade do regime parecia estar em crise, a acção de Assis devia passar por soluções mais delicadas. Aí confrontavam-se perigosamente três facções partidárias derivadas do regime, mas nenhuma condizente com a ordem prescrita por ele: A mais forte congregada contra o inconformado Montalvão Machado; outra, mais fraca a seu favor; uma outra, ainda mais pequena e contra ambas as anteriores, de feição nacional-sindicalista. A solução passou, sem meias medidas, pela escolha para presidente da União Nacional do concelho da Sabrosa de um «ponderado sexagenário, erudito e publicista, rico, muito respeitado por toda a gente», José Maximiano Correia de Barros, enfim uma figura de consenso, como o era Morais Sarmento a nível distrital. Para garantia de maior estabilidade ainda, entendeu Assis Gonçalves livrar-se de António Marques da Cunha, um resistente da União Republicana da linha de Brito Camacho, da presidência da câmara de Sabrosa e substituí-lo na administração do concelho por um leal «nacionalista», António Serôdio. Partiu depois Horácio de Assis Gonçalves à conquista do «professorado primário», ciente de que era dele e do clero paroquial que dependia a opinião das aldeias. Assis chegou a confessar que fora com os clérigos que aprendera a falar com o povo, e registava orgulhosamente que em Barqueiros, por exemplo, já ouvira dois operários nos seus discursos louvar Salazar.

O sentimento de confiança do governador nos seus primeiros meses em Vila Real era tal que na correspondência expedida a Salazar gabava-se das sucessivas conquistas que julgava ter obtido nos vários concelhos do distrito, primeiro em Peso da Régua, depois em Valpaços e a seguir em Alijó. O optimismo de Assis manifestou-o ele, a 5 de Julho de 1935, nos seguintes termos:

Está tudo em ordem. Não tem hoje o Governo, por certo, em todo o País, um distrito mais bem organizado, mais obediente, mais integrado nos modernos princípios do Estado.

Mas por detrás deste optimismo escondiam-se profundos desencantos que sempre acompanharam o Governador-civil. Por um lado, as dificuldades que encontrou na sua relação com o Governo Central, o qual reduzia o papel de Governador Civil a de seu mero delegado, ao mesmo tempo que a acção da União Nacional, à escala distrital, também se via diminuída. O desagrado perante esta realidade foi, aliás, partilhado por Luís de Morais Sarmento que ocupava a presidência da União Nacional. Por outro lado, devido ao inabalável caciquismo que se vira obrigado a combater nos mesmos locais em que se gabava de controlar, sobretudo em Peso da Régua e em Alijó, isto é nos concelhos do Douro-Sul onde as fortunas vinhateiras proporcionavam uma sólida base económica às oposições e que o levaram à sua desilusão acerca da mudança dos maiorais do seu distrito, Assis reiteraria uma ideia há muito feita, como se vê pelas seguintes palavras que dirigiu a Salazar:

[É um distrito] muito individualista, eivado de velhos costumes de caciquismo político, custa-lhe a adaptar-se à nova forma “corporativa e colectivista” que pretendemos imprimir à fisionomia social da Nação."

Apesar de todas as contrariedades que aqui expusemos, dos sinais de impotência manifestados por Assis no Governo Civil de Vila Real, é inegável que o Estado Novo corporativo se estabeleceu no distrito, nove anos depois da Revolução. Os resultados das eleições de 1935, ainda que com a candidatura única do general Carmona e reduzida a eleição a uma espécie de plebiscito, expressam esta realidade de um controlo que o regime logrou obter e da tranquilidade social que se seguiu, sem sobressaltos de monta, até à manhã de 25 de Abril de 1974, sobretudo nos concelhos mais politizados que eram os de Vila Real e Chaves, e mostram também que isso foi possível graças aos esforços de Assis que soube instalar o Estado Autocrático servindo-se do velho sistema liberal como meio de influência. Desagregaram-se o regime eleitoral do constitucionalismo monárquico e da República, emergiu a administração autocrática, mas tudo isso implicou a adopção de um regime de tolerância reservado aos grupos e famílias dominantes no distrito de Vila Real, em certos casos os mesmos grupos e famílias que outrora animaram o Partido Regenerador e o Republicano (Democráticos!). Tratou-se, portanto, de um processo constituído por rupturas na continuidade que aqui foram sentidas, talvez, de uma forma particularmente inédita. Terminamos com a conclusão que Rui Ramos retira, relativamente a esta questão, do seu estudo sobre o Estado Novo no distrito de Vila Real.

«O imobilismo era a chave do regime, e isso estava de alguma forma relacionado com o modo como ele se inscrevia no social.
Talvez esteja aqui o ponto de partida para começarmos a compreender porque esta parte da sociedade portuguesa que aqui visitámos – a do interior norte – se parece ter conformado durante tanto tempo à ditadura de Salazar. Talvez porque só lhe chegasse dessa ditadura um eco que quase se confundia, se bem que num contexto mais rígido e policiado, com os equilíbrios de poderes tradicionais. Monarquia constitucional, República, Estado Novo: as rupturas parecem nítidas sobretudo nas grandes cidades do litoral do País. Nos gabinetes dos ministérios, nos cafés, nas fábricas, nas rotundas e avenidas discute-se e vivem-se intensamente as mudanças. No interior, na província, representam às vezes não mais que ligeiras variantes numa terrível continuidade.»


Bibliografia: RAMOS, Rui, O Estado Novo perante os poderes periféricos: o governo de Assis Gonçalves em Vila Real (1934-39), in Análise Social, vol. XXII (90) 1986-1º, pp. 109-135.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pretérito mais que presente

Quinze alunos da Escola Secundária de Valpaços recuaram no tempo para compreender o que era viver em Oswiecim (Auschwitz), durante a II Guerra Mundial. Criaram uma parceria com uma escola polaca, e com a ajuda dos alunos escreveram um diário. O projecto termina com a viagem a Auschwitz, para conhecer o campo de concentração onde morreram um milhão e cem mil pessoas.«Pretérito mais que presente» é uma reportagem de Joana de Sousa Dias, com sonorização de Herlander Rui. Passa na TSF quinta-feira, hoje, dia 27 de Maio, depois das 19 horas. Repete Sábado, dia 29, depois das 13h00. Vídeo com pós-produção de Ana António.
(Clique na imagem e veja o vídeo)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Astrolábio

(Clique na imagem e ouça a reportagem sobre o Astrolábio)

terça-feira, 25 de maio de 2010

A Exposição integrada nas Comemorações da República na Escola Secundária de Valpaços

Realizaram-se hoje as actividades para as Comemorações do I Centenário da República que foram agendadas para esta data. Uma dessas actividades compreende um conjunto de exposições consagradas ao tema e repartidos entre o salão do polivalente e o pavilhão II. A exposição estará aberta ao público durante mais um ou dois dias. O Clube de História entendeu publicar aqui um resumo dos panfletos que foram criados para servirem de guia e de instrumentos de informação complementares relativamente aos materiais expostos de modo a chegar a todos os cidadãos que por motivos de vária ordem não se possam deslocar à Escola Secundária de Valpaços. Trata-se de um conjunto de painéis de pseudo-azulejos  e outras referências iconográficas alusivas aos finais Monarquia e ao processo de evolução da República em Portugal.

clique duas vezes para ampliar


quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Cromos" da História de Portugal

Alterações de última hora no Programa de Actividades das Comemorações do I Centenário da República

Por motivos que são alheios à direcção da Escola Secundária de Valpaços e aos responsáveis pela organização do evento, tiveram estes que proceder a algumas rectificações na disposição horária estabelecida no cartaz que havia sido divulgado e que aqui também publicámos. Assim, a palestra sob a responsabilidade do Professor Doutor Fernando Rosas, que havia sido agendada para a parte da manhã do dia 25 de Maio, terá início às 14 horas, ficando a mesma manhã destinada a uma cerimónia comemorativa que contará com a prestimosa colaboração da Guarda Nacional Republicana e da Banda Municipal de Valpaços, seguida de um convite reservado aos presentes para uma visita às exposições consagradas ao tema da República. Apresentamos de seguida o cartaz com as devidas rectificações.


terça-feira, 18 de maio de 2010

O primeiro automóvel em Portugal

O primeiro carro que entrou e circulou em Portugal foi um Panhard & Lavassor, em 1895, comprado pelo conde de Avilez que depois de uma viagem a Paris, ficou entusiasmado com este novo meio de transporte e encomendou um exemplar á Casa Panhard & Levassor de Paris.

Está actualmente em exposição no Museu da Alfândega na cidade do Porto e é propriedade do Automóvel Clube de Portugal. Como se disse trata-se do primeiro automóvel a entrar em Portugal.
Várias peripécias marcaram a sua entrada em Portugal. Na Alfândega não sabiam qual a designação a atribuir ao objecto, se uma alfaia agrícola ou uma "locomobile" (máquina movida a vapor). Acabou por se optar pela última designação.
Este foi o veículo protagonista do primeiro acidente de viação em Portugal, quando na sua primeira viagem de Lisboa para Santiago do Cacém, atropelou um burro.

in http://atoleiros.com/automovel.htm (adaptado)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

«Mulheres da República» em recente edição de selos pelos CTT

Não queria deixar passar esta data em branco, sem fazer uma alusão ao papel da Mulher ao longo da nossa História recente, nomeadamente na transição da Monarquia para a República. O 5 de Outubro de 1910, marca a viragem da História Portuguesa no dealbar do Século XX, cheia de esperança nos valores da Revolução Francesa e tão significativa para os direitos civis, políticos e, de alguma forma ainda que muito tímida, sociais. Nesta conjectura, os CTT lançaram uma emissão em Outubro de 2009 cujo título “Mulheres da República”, destaca o papel relevante de alguns vultos femininos que fizeram história como Mulheres. Nas Comemorações dos 100 Anos da Implantação da República em Portugal e estando a decorrer ao longo deste ano várias efemérides relativas ao Centenário, é justo neste dia, falar da Mulher e, ao mesmo tempo, a sua evolução no período republicano. A emissão [...] é composta por seis selos, um bloco e o sobrescrito de 1º dia de circulação.
Retrata-nos Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Angelina Vidal, Carolina Beatriz Ângelo, Carolina Michaelis.

Por João Paulo Mesquita Simões, 8 de Março de 2010 (adaptado)
in http://filatelicamentecentro.blogspot.com

Nota editorial: Pelo que constatámos através da mesma fonte, a edição foi acrescentada em 2010 com a inclusão de Virgília Quaresma e Emília de Sousa Costa, pelo que perfaz um total de 8 selos, correspondendo a 8 justas homenagens a mulheres portuguesas que lutaram pela liberdade e pela legítima afirmação dos seus direitos.

sábado, 8 de maio de 2010

Feira do Livro 2010

Realiza-se no presente ano de 2010, nos dias 11, 12 e 14 de Maio, na Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Valpaços, mais uma edição da Feira do Livro da iniciativa do Departamento de Línguas que, desta feita, compreende um inédito programa de actividades em que a literatura e a música estarão interligadas. De salientar que a efeméride contará com  participação do Pe. Ricardo Pinto numa palestra intitulada "Ao encontro de Miguelo Torga" e com a presença de Rita Sampaio, escritora, que foi aluna nesta instituição. O Clube de História deseja a todos os organizadores, participantes e visitantes a melhor satisfação e proveito no evento.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Carolina Beatriz Ângelo

Carolina Beatriz Ângelo era natural da cidade da Guarda onde nasceu em 1877, frequentou o Liceu e fez os preparatórios para admissão ao ensino superior. Em Lisboa matriculou-se Escola Politécnica e na Escola Médico-Cirúrgica, formando-se em Medicina em 1902, no mesmo ano em que casou com o primo Januário Barreto, como ela médico, e activista republicano. Pioneira na prática das intervenções cirúrgicas, foi a primeira médica portuguesa a operar no Hospital de S. José. Trabalhou também em Rilhafoles sob a orientação de Miguel Bombarda e, como Adelaide Cabete, acabou por dedicar-se à ginecologia, com consultório na Rua Nova do Almada, em Lisboa.
Em 1906, juntamente com outras quatro médicas – Adelaide Cabete, Domilia de Carvalho, Emília Patacho e Maria do Carmo Lopes – Carolina Beatriz Ângelo aderiu ao Comité Português da agremiação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes, sendo uma das vogais da direcção. No ano seguinte, em 1907, foi iniciada na Maçonaria, na Loja Humanidades, com o nome simbólico de Lígia. Assim, Carolina Beatriz Ângelo, com Ana de Castro Osório, Adelaide Cabete e Maria Veleda fez parte do quarteto que traçou o rumo do feminismo português, conquistando certa elite feminina para o campo republicano.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Positivismo e a 1ª República

Texto de António Mota de Aguiar:

Foi na década de 40 do século XIX que Auguste Comte concebeu o positivismo, doutrina filosófica caracterizada pela ideia de que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia iria desembocar numa sociedade de bem-estar geral. Essa doutrina positivista combateu as ideias idealistas e espiritualistas da Natureza, afirmando-se anti-teológica e anti-metafísica.
Nada por isso melhor, na década de 60 desse século, que o positivismo comteano para conferir uma dimensão de necessidade e objectividade às reivindicações republicanas. Não existindo uma sociedade científico-industrial em Portugal, o positivismo português foi essencialmente um movimento sociológico, desligado das ciências da Natureza [1].
Foi o positivista Teófilo de Braga (1843-1924) (na figura, em 1864, com apenas 21 anos) quem escreveu o primeiro Manifesto do Partido Republicano Português, em 1891, pouco antes da revolta do Porto de 31 de Janeiro [2]. O positivismo republicano apontou para os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, e, adaptado à sociedade portuguesa, situou-se entre o pensamento reaccionário e as correntes revolucionaristas e anarquistas. Ao contrário do projecto comteano, o positivismo foi, entre nós, um projecto da pequena e média burguesia.
Identificado que foi o positivismo com o ideário republicano, o primeiro ideólogo do republicanismo tinha sido Henriques Nogueira (1825-1858), activista da década de 40, que escreveu uma “espécie de evangelho republicano português” [3]. Já nas décadas de 60 e seguintes, defensores do positivismo como Manuel Emídio Garcia (1838-1904), Elias Garcia (1830-1891), Basílio Teles (1856-1923), e Sampaio Bruno (1857-1915), além do já referido Teófilo de Braga, alimentaram as primeiras polémicas em defesa da sociologia de Comte. Nessa época assistiu-se em Portugal à implantação progressiva da corrente republicana que se viria a tornar bastante influente na intelectualidade portuguesa.
Enquanto em Portugal nos debatíamos com os acontecimentos históricos dos últimos anos da monarquia, sem meios para investir na ciência e importando a tecnologia, lá fora, no virar do século XIX para o XX, a Física debatia-se com dilemas como os que estiveram na base das duas principais teorias físicas do século XX: a teoria da relatividade e a teoria quântica. Era o começo da física moderna.
Não foi muito feliz entre nós o movimento positivista até ao final da segunda década do século XX. Contudo, a partir de 1920 a comunidade científica portuguesa foi acumulando alguns trunfos, em consequência da reforma no ensino efectuada pelo Governo Provisório da 1ª República. Os primeiros estudos entre nós da Relatividade foram efectuados em 1912 pelo republicano Leonardo Coimbra (1883-1936), que foi ministro de Instrução Pública da República em 1919 e 1923. Este filósofo tem uma postura claramente idealista: a realidade é determinada pelo pensamento (“As teorias físicas são produto da mais profunda elaboração mental”), pelo que para ele a inteligibilidade não seria determinada pela experiência, tal como afirmavam os positivistas.
É assim que, no início da década de 20, o trabalho desenvolvido durante a 1ª República começa a dar alguns frutos, apesar de “a produção científica em Portugal no século XX não ter atingido o brilho observado noutros países europeus” [4] , e de “até à década de 30 a relatividade parecer não ter interessado cientificamente os físicos portugueses e, além do desinteresse, manterem sobre ela um profundo cepticismo” [5] .
A sociedade científica portuguesa desta época continua, de facto, pouco desenvolvida, mas há indícios na década de 20 de um desabrochar científico e cultural em Portugal, designadamente, por meio da acção das Universidades Livres, fundadas em 1912, e das Universidades Populares, fundadas em 1913, em Lisboa e no Porto [6], onde talentosos e dedicados professores leccionaram Astronomia, Relatividade e outras matérias.
Em 1923, o Ministro de Instrução António Sérgio criou a “Junta de Orientação de Estudos” que servirá como precursora da Junta de Educação Nacional (JEN), surgida em 1929. De 1929/30 a 1950 foram concedidas pela JEN 812 bolsas, que beneficiaram 434 bolseiros [7], cuja maioria regressou a Portugal enriquecendo com os seus conhecimentos a ciência e a cultura portuguesa.
Dezenas de homens da ciência atravessaram estas décadas de 20, 30 e 40, incrementando com o seu saber a cultura em Portugal [8]. Destacamos alguns: António da Silveira, Pedro José da Cunha, António dos Santos Viegas, Francisco de Castro Freire, Aarão Lacerda, Henrique Teixeira Bastos, Álvaro Basto, Egas Pinto Basto, Souza Nazaré, Pinto Basto, Augusto Ramos da Costa, Victor Hugo Lemos, Mário Mora, António Santos Lucas, José de Almeida Lima, Gago Coutinho, Egas Moniz, António Sérgio, Cyrilo Soares, Manuel Peres, Francisco Gomes Teixeira, Manuel Valadares, Branca Marques, Aurélio Marques da Silva, António Aniceto Monteiro, etc.
Foi nesta década que visitaram Portugal dois nomes importantes da Física Teórica: o espanhol José Maria Plans y Freire e o francês Paul Langevin. Na sequência desta última visita foi inaugurada em Abril de 1930 na Biblioteca Nacional uma notável exposição sobre a Relatividade, que contou com a colaboração de sábios estrangeiros.
Não procurámos indagar se todos os homens de ciência deste período histórico foram positivistas. A problemática foi abordada e de certo modo resolvida por Correia Barata no jornal "O Século”, quando, em 1876, na luta contra o pensamento reaccionário e em defesa das concepções darwinistas e positivistas, escrevia que a doutrina de Darwin, “que não era ateu”, podia ”…ser aceite, sem o mínimo de escrúpulo de consciência, pelo melhor católico, porque há um abismo profundo entre a discussão da origem última ou causa prima de todas as coisas existentes e qualquer sistema que tenha por fim explicar os fenómenos biológicos, inorgânicos ou físicos” [9].
Mas, como tudo na vida evolui, também o positivismo evoluiu para o neo-positivismo fundado pelo Círculo de Viena:
“A filosofia das ciências é, no final do século XIX e princípios do século XX, a herdeira histórica do positivismo oitocentista, distinguindo-se desta corrente filosófica pela sua visão crítica da própria ciência e pelo esforço em determinar os limites exactos da validade desta. A filosofia da ciência demarcar-se-á do positivismo metafísico, começando por exercer uma crítica baseada na própria evolução histórica da ciência; dos seus próprios problemas, a ciência passou a interrogar-se sobre o seu método, a natureza deste e os próprios limites do conhecimento científico” [10].
Foi nessas décadas do século XX que viveram os principais investigadores científicos neo-positivistas portugueses: o matemático Mira Fernandes escreveu sobre Relatividade em vários artigos em revistas italianas; o matemático Rui Luís Gomes, que escreveu um manual científico sobre Relatividade e criou um seminário em Física Teórica na Universidade do Porto; o astrónomo Manuel dos Reis. que escreveu O Problema da Gravitação Universal, considerado um livro de referência na área; o físico nuclear Mário Silva, autor de vários livros de ciência e do projecto do Instituto do Rádio em Coimbra; o astrónomo Melo e Simas, que efectuou medidas da luz rasando o bordo de Júpiter para verificar se a luz era deflectida pela gravidade do planeta; o médico Abel Salazar, que empreendeu vários trabalhos de investigação científica, sendo considerado o principal divulgador em Portugal do neo-positivismo (deixou escrito em O Diabo, entre 1936 e 1940, 50 artigos sobre o empirismo lógico); e o matemático e pedagogo de renome Bento de Jesus Caraça. Nestes tempos, participaram na divulgação da ciência revistas como o Jornal de Sciencias e Mathematicas e Astronómicas (publicado até 1905), O Diabo, que já referimos, Águia, Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, O Instituto, e outras, com vidas mais ou menos efémeras.
Porém, os inimigos da ciência, muito receosos das novas ideias, cedo se incompatibilizaram com a comunidade científica. Fortalecido o Estado Novo com a Constituição de 1933, caiu de imediato sobre o movimento científico português a versão portuguesa do fascismo internacional. Com a repressão de 1930 a 1950 sobre os homens da ciência, os mais notáveis protagonistas da ciência portuguesa foram desaparecendo da cena nacional, tendo muitos deles sido presos. No ano de 1947 deu-se o "golpe de misericórdia". As veleidades de desenvolvimento científico terminaram então. Mais cientistas foram parar à prisão, outros exilaram-se para não serem presos e para fugirem à asfixia e mediocridade do Estado Novo. Em consequência, no princípio da década de 50 o atraso cultural e científico do país era enorme. A censura, a polícia política e os tribunais de excepção, exerciam estrito um controlo da sociedade.
Apesar do seu desfecho trágico, a 1ª República deixou bem marcado na mente dos portugueses o espírito de liberdade e progresso que a norteou. Hoje, a quase cem anos de distância, não podemos esquecer que o ar de liberdade que respiramos teve, pelo menos em parte, a sua origem no dia 5 de Outubro de 1910.

REFERÊNCIAS:

[1] Fernando Catroga, Os inícios do Positivismo em Portugal, O seu significado político-social, Universidade de Coimbra, 1977, e A importância do positivismo na consolidação da ideologia republicana em Portugal, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1977
[2] A.H. de Oliveira Marques, A 1ª República Portuguesa: Alguns aspectos estruturais, Livros Horizonte, pp. 540 e seguintes, 1980
[3] A.H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. II, p. 240 e seguintes. Palas Editores, 1973.
[4] Décio Ruivo Martins, Dissertações einsteinianas em Portugal (1911-1930), “Einstein Entre Nós”, Coord. de Carlos Fiolhais, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2005, p. 60
[5] Augusto Fitas, A Teoria da Relatividade em Portugal (1910-1940), “Einstein Entre Nós”, Coord. Carlos Fiolhais, Imprensa da Universidade de Coimbra 2005, p. 15
[6] Veja-se Oliveira Marques, História de Portugal, Edições Agora, vol. II, pp. 232-234.
[7] Amândio Tavares, O Instituto para a Alta Cultura e a investigação científica em Portugal, Lisboa, 1951 e A. Celestino da Costa, A JEN, Publicações da Sociedade de Estudos Pedagógicos, Série A-2, 1934
[8] Einstein entre nós, Coord. de Carlos Fiolhais, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2005
[9] Fernando Catroga, Os inícios do Positivismo em Portugal, O seu significado político-social, p. 40, Universidade de Coimbra, 1977
[10] Augusto Fitas, José M. Rodrigues, e M. Fátima Nunes, “A filosofia da ciência no Portugal do século XX”, in Pedro Calafate, org., História do Pensamento Filosófico Português Lógica, Conhecimento, Filosofia da Ciência, vol. 5, pp. 429-430, Editorial Caminho, 2000.

Ramalho - de monóculo atento na República


«A República principiou energicamente por condenar igrejas, conventos, hospitais, asilos, colégios, bibliotecas, escolas e associações de beneficiência, como, por exemplo, a das Cozinhas Económicas que em 17 anos dispendeu na sua obra mais de 1.100 contos de reis; como a das Damas da Caridade, as quais no último ano da sua gerência (...) visitaram no seu domicílio em Lisboa 4327 doentes, pelos quais foram distribuidos 16.408$865 reis; como a da Irmandade das Senhoras Viúvas, presidida pela Rainha a Senhora D. Maria Pia, distribuindo em esmolas nas suas visitas às casas e às enfermarias cerca de 2 contos de reis por ano; como (...) a das Irmãzinhas dos Pobres, as quais, com o exclusivo produto de esmolas, edificaram um vasto palácio em que mantinham confortávelmente e carinhosamente, sem subsídio algum do tesouro, 300 velhos inválidos.
Para compensar tão enormes desfalques no ensino e na assistência pública, ceiou-se uma instituição nova, o Museu Republicano, estabelecido no extinto Colégio do Quelhas. Nesta casa, primeira e por enquanto creio que única fundação pedagógica do novo regime, existe, segundo detalhados documentos fotográficos, publicados pela Ilustração Portuguesa, a famosa sala apologética do regicídio. Nela figura com os retratos dos regicidas e versetos dos Lusíadas dedicados ao culto dos heróis e inscritos nas paredes, um trofeu central composto de um pedestal coberto de veludo, sobre o qual, ao lado de um busto da República, de uma coroa de flores e de uma longa palma, a palma dos mártires, se vê o gabão e o chapeu do Buiça e a clavina com que foi assassinado no dia 1 de Fevereiro de 1908, aos 19 anos de idade, num landau descoberto, em frente de seus pais, o inocente e imaculado príncipe D. Luis Filipe de Bragança. Junto da clavina de Buiça vê-se também o revolver de que se serviu Costa para matar, à queima-roupa, com um tiro na nuca, o rei D. Carlos
O museu inaugurou-se solenemente com um almoço a que assistiram todos os membros do Governo (...)
O mesmo número da Ilustração Portuguesa, consagrado à inauguração do museu da República, dá-nos ainda em sucessivas fotografias o aspecto de diversos trâmites da fabricação de bombas explosivas. Informa o interessante magazine que em Lisboa se fabricam por centenas bombas de caracter mercenário. Parece ser apenas um passatempo de delicados amadores».

in Ramalho Ortigão, «Últimas Farpas», (1911-1914), Clásica Editora, pág. 37.

Cronologia da república - 6 de Maio

1911
Tumultos em Torres Novas

1913
É fechado o jornal “O Socialista” de Lisboa

1915
Inauguração em Lisboa do centro monárquico D. Carlos I

1917
É fechado o jornal “O Notícia da Beira” de Castelo-Branco

1918
O governo proíbe a exportação de carnes ou derivados

1919
O director da polícia de segurança do estado é demitido por não concordar com as perseguições aos operários

1922
O governo contrai um empréstimo para a construção de cinco bairros sociais

Fonte: http://centenario-republica.blogspot.com/

Comemorações do I Centenário da República Portuguesa

Realizar-se-á no dia 25 de Maio na Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Valpaços, a partir das10:30 h um grupo de activididades no âmbito das Comemorações do Centenário da República em curso por todo o País. A Efeméride contará com a presença do ilustre historiador Professor Dr. Fernando Rosas que fará uma dissertação sobre a ascensão e queda da 1ª República. A entrada é livre.


Nota Importante: Cumpre informar que o programa atrás divulgado foi sujeito a alterações de última hora. Por determinação do grupo de organizadores das actividades para as Comemorações do I Centenário da República na Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Valpaços, a efeméride passa a ter início às 10:00 horas, na data estabelecida, com a cerimónia do hastear da bandeira e do canto do hino nacionais com a intervenção da Banda Musical de Valpaços e de uma parada militar da Guarda Nacional Republicana. As actividades restantes mantêm-se tal como se encontram definidas no Cartaz.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Diário da República - episódios parlamentares

O Presidente Manuel Teixeira Gomes terá tentado garantir o apoio do Exército, em mais umas vésperas de golpada. E, para isso, nada como um chazinho em Belém com todos comandantes das unidades de Lisboa. Mas o Governo trocou-lhe as voltas e é o próprio, insistindo, a deslocar-se em visita aos quarteis da capital. Na sessão parlamentar de 8 de Janeiro de 1924, o deputado Cunha Leal denuncia o ocorrido:

«Esta atitude pessoal do Presidente da República junto da guarnição de Lisboa tinha o seu complemento nos intervalos das visitas. S. Ex.ª vinha da liberal Inglaterra; desembarcou dum navio inglês sob a bandeira inglesa; conhecia muito bem os seus costumes. Ser-me-à lícito saber se algum dia o venerando e supremo magistrado da República teve o ensejo de ver que o rei da Inglaterra procurasse por qualquer forma exercer qualquer acção sobre oficiais?
Evidentemente que S. Ex.ª não vem de Inglaterra conspirar; mas a verdade é que o sr. Presidente da República preferia dar a este País uma direcção errada, talvez tentando o aliciamento de oficiais»

«Não apoiados.

Apoiados.

Protestos».

«O Chefe do Estado tinha saído de Belém, fazendo uma escapada de colegial e procurando iludir o Governo...»

«Protestos da esquerda

Vozes: A pessoa do sr. Presidente da República não pode ser discutida!

O sr Cunha Leal (continuando): «O sr. Presidente da Republica foi, sem conhecimento do seu Governo, ao Corpo de Marinheiros contar quantas peças lá estavam. Dali seguiu para o Arsenal, de onde, sem conhecimento ainda do Governo, pretendeu embarcar para bordo do Douro revoltado, navio em que se encontrava chefiando a revolta o sr. João Manuel de Carvalho, íntimo amigo do Chefe do Estado. Foi depois disto que o Governo, topando pelo telefone o Chefe do Estado, lhe manifestou a sua estranheza por S. Ex.ª se ter querido ir lançar nos braços dos revoltosos».

Cunha Leal concluiria a sua intervenção, em mais este caso, na Câmara, desabafando:
«Que bem tem pago o Partido Nacionalista as listas brancas com que votou o nome do sr. Teixeira Gomes! O pior é que pagam connosco a República e a Nação».
Fonte: Costa Brochado, «Para a História de um Regime», Editorial Império, 1949, pág. 26.

Cronologia da república - 4 de Maio

1914
Manifestações no Porto; com agressões a vários padres

1916
É fechado o jornal “O Leste” de Elvas
A Lei 523 decreta o estado de sítio nacional
O governo cria a intendência dos bens dos inimigos

1919
Greve dos funcionários da companhia de gás de Lisboa
Greve dos trabalhadores da câmara municipal de Lisboa
Greve dos operários metalúrgicos de Lisboa

1921
A assembleia dá ao governo o poder de dar ou tirar a liberdade de comércio de bens alimentares
O governo revoga a lei de dissolução da assembleia da república


domingo, 2 de maio de 2010

Dia da Mãe 2010


Neste ano de 2010 o Dia da Mãe comemora-se hoje, dia 2 de Maio. O «Dia das Mães» em Portugal era comemorado até há alguns anos, no dia 08 de Dezembro, mas passou a ser celebrado no 1º domingo de Maio em homenagem à Maria, mãe de Jesus. As mães recebem presentes, mensagens e flores, em uma celebração que reúne toda a família.
Nesta data que é também de homenagem religiosa à Virgem Mãe, o Clube de História deseja a todas as Mães e às suas famílias os melhores sentimentos de Amor, Carinho e Confiança no Futuro.
Imagem in http://3.bp.blogspot.com (adaptada)
Poema in http://educacaodeinfancia.com/poema-para-o-dia-da-mae/

Alguns dados históricos sobre o Dia da Mãe
O Dia das Mães também designado de Dia da Mãe teve a sua origem no princípio do século XX, quando uma jovem norte-americana, Anna Jarvis, perdeu sua mãe e entrou em completa depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a ideia de perpetuar a memória da mãe de Annie com uma festa. Annie quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas. Em pouco tempo, a comemoração e consequentemente o Dia das Mães se alastrou por todos os Estados Unidos e, em 1914, sua data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson: dia 9 de Maio.

A mais antiga comemoração dos dias das mães é mitológica. Na Grécia antiga, a entrada da primavera era festejada em honra de Rhea, a Mãe dos Deuses.*

O próximo registo está no início do século XVII, quando a Inglaterra começou a dedicar o quarto domingo da Quaresma às mães das operárias inglesas. Nesse dia, as trabalhadoras tinham folga para ficar em casa com as mães. Era chamado de "Mothering Day", fato que deu origem ao "mothering cake", um bolo para as mães que tornaria o dia ainda mais festivo.
Nos Estados Unidos, as primeiras sugestões em prol da criação de uma data para a celebração das mães foi dada em 1872 pela escritora Júlia Ward Howe, autora de O Hino de Batalha da República.
No Brasil, o primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou a data no segundo domingo de maio. Em 1947, Dom Jaime de Barros Câmara, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, determinou que essa data fizesse parte também no calendário oficial da Igreja Católica.
Em Portugal, o Dia das Mães é celebrado no primeiro domingo de Maio.
Em Israel o dia da mãe deixou de ser celebrado, passando a existir o dia da família em Fevereiro.
In http://pt.wikipedia.org
*Os romanos festejavam o Dia da Mãe em honra a Cybele, a mãe dos seus deuses, enquanto os gregos o celebravam em honra de Rhea, mãe dos seus deuses e mulher de Cronos.