terça-feira, 31 de agosto de 2010

Joaquim de Castro Lopo

última actualização: 21 de Fevereiro de 2012

O ilustre valpacense

Joaquim de Castro Lobo tem sido relembrado como um dos homens mais cultos do seu tempo em Valpaços e, quiçá, em toda província de Trás-os-Montes. Considerado pelo Padre João Vaz de Amorim (Revista Aquae Flaviae, nº 14, 1995, p.193) que o conheceu pessoalmente, quando já passava dos oitenta anos de idade, como «escritor de merecimento e filólogo erudito» subscreveu, o mesmo Padre Amorim, as palavras de José Leite de Vasconcelos (na época, o mais conceituado mestre nacional em linguística e filologia e hoje considerado como um dos precursores da moderna arqueologia e um dos pioneiros da etnografia científica em Portugal) que a propósito de Joaquim de Castro Lobo disse “que fora dos homens mais cultos que ele conhecera durante as suas excursões por Trás-os-Montes”.


O intelectual e publicista

Nascido em Valpaços, a 2 de Novembro de 1860, Joaquim de Castro Lopo deve ter concluído o curso liceal em qualquer data anterior a 1880, pois a 25 de Setembro desse ano, obteve do pároco de Santa Maria de Valpaços a sua certidão de nascimento, com o propósito de se matricular em Direito na Universidade de Coimbra, certidão essa que se guarda nos Arquivos da mesma Universidade com o n.º 165, L.º LXIII, 2ª série. O verbete de matrícula correspondente data de 2 de Outubro de 1883, e no referido Livro de Registo LXIII consta expressamente a referência de ano lectivo de 1883-84 e de 1.º Ano de Direito. Joaquim de Castro Lopo contava então perto de 23 anos e é de supor que tenha frequentado apenas o 1º Ano do curso em que se matriculou, posto que não existem mais verbetes de matrícula em seu nome. Por razões que de momento desconhecemos, Joaquim Castro Lopo renunciou definitivamente à sua pretensão de obter o curso visado, e qualquer razão a aventar, até ver, será meramente especulativa – Impossibilidades financeiras familiares devido à conhecida existência do grande número de irmãos? O irresistível apelo de outros interesses que mais se coadunavam com a sua real vocação e que mais tarde iriam revelar os seus mais conhecidos talentos (imprensa literária, investigação arqueológica, etnográfica, enfim a paixão pelos valores patrimoniais de natureza histórica e cultural)?
A verdade é que durante o resto da sua longa e brilhante vida intelectual e pública, ele foi acima de tudo um autodidacta. Exerceu a profissão de Tesoureiro de Finanças na sua terra natal, ao mesmo tempo que se entregou a um intenso labor redactorial na imprensa local, regional e nacional. Em 1888 fundou o Semanário Avisos, de que apenas se publicaram 12 números, em virtude da incúria dos responsáveis pela sua impressão numa tipografia de Chaves que lançavam o periódico com a pior qualidade material e de composição e revisão, chegando ao ponto de substituir artigos agendados por anúncios de outros jornais. No ano seguinte, começou a participar na Revista Lusitana, recém-criada por José Leite de Vasconcelos, publicando o resultado das suas apaixonadas pesquisas sobre a linguagem popular de Valpaços (aproveitando o ensejo para aí também fazer uma apreciação filológica acerca do topónimo da Vila) e de curiosos romances populares transmontanos, recolhidos da tradição popular em Valpaços. Participou ainda na revista O Archeólogo Português, fundada em 1895 também por Leite de Vasconcelos, e acompanhou este insigne investigador durante as suas deslocações a Trás-os-Montes em trabalhos de campo. Colaborou ainda na página literária de O Primeiro de Janeiro e esporadicamente no Comércio do Porto. Homem extremamente zeloso do património histórico e cultural da terra que o viu nascer, e que conhecia melhor do que ninguém, julgo ter sido ele (já o tinha dito no artigo “A desaparecida bolideira de Valpaços” publicado na categoria “re(en)cantos da memória” deste blogue) quem de forma célere divulgou n’O Comércio do Porto o primeiro atentado cometido, em 1919, contra a integridade da “pedra que bole”, numa mensagem breve, mas eivada de profunda indignação, mensagem essa assinada por “CL”, que depois foi publicada na revista O Archeólogo Português. Da sua extensa produção histórico-literária contam-se ainda, pelo que se extrai do  I volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, coordenado por Barroso da Fonte, as publicações de Viajem ao Jaú, em 1912, Subsídios para a História de Valpaços e Hospital Municipal, bem como a muito apreciada monografia O Concelho de Valpaços, onde também se mencionam aquelas. Convém que se diga que esta última é uma publicação póstuma de materiais de grande interesse historiográfico que o seu autor, Valbel, foi acumulando e sendo descobertos por sua filha, Berta, esta as entregou ao irmão, Constantino de Castro Lopo, que se encontrou perante a honrosa responsabilidade de lhe lavrar um sereno e comovente prólogo e de o fazer publicar, o que veio a suceder no ano de 1954, pela Tipografia Minerva, em Lourenço Marques (hoje Maputo) onde residia. Na mesma obra coordenada por Barroso da Fonte realça-se a sua prodigiosa memória e a sua capacidade para decorar sonetos de autores mundiais.


O político e orador

Uma outra faceta de Joaquim de Castro Lopo é a do monárquico convicto que soube aliar a sua invulgar inteligência, o seu saber e os seus dotes oratórios a uma notável actividade política no seio do Partido Progressista em Valpaços. Graças às pesquisas de José António Soares da Silva sobre O Partido Progressista de Valpaços entre 1886 e 1910, cujos resultados foram publicados na sua interessante obra assim intitulada, não subsistem dúvidas acerca do notável protagonismo exercido por Joaquim de Castro Lopo desde 1886, nos sucessos que o autor considera fazerem parte da «notícia mais recuada do Partido Progressista de Valpaços». Logo no banquete que se seguiu à sessão da Assembleia Geral de 1 de Abril do Centro Progressista do Concelho, onde se deliberou apoiar-se a candidatura  do Dr. Francisco José de Medeiros para as eleições de Deputados em Março do ano seguinte, coube Joaquim de Castro Lopo brindar os seus correligionários com um discurso de invulgar eloquência eivado de optimismo e de exaltação patriótica, exaltação patriótica essa fundada nos actos de bravura dos heróis portugueses do passado, que Soares de Silva interpreta mais como um reflexo da elevação de espírito do orador do que como um artifício calculista de retórica, com o fim de salvaguardar «a recente aliança estratégica de João Franco com os progressistas». Da actividade partidária em curso a partir de 18 de Abril de 1897, Joaquim de Castro Lopo é proposto para 1.º Secretário da Comissão Executiva do Partido em Valpaços por mais de meia centena de militantes signatários. Mais tarde, em 1901, com a demissão do Dr. Francisco José de Medeiros da presidência da Comissão Executiva, Joaquim de Castro Lopo terá intervindo na crise que então se abriu no Partido, participando na decisão dos vários membros do órgão que, por unanimidade, resolveram dissolvê-lo, lavrando a respectiva acta, e sendo um dos signatário da Carta que a 12 de Dezembro desse mesmo ano os progressistas valpacenses enviaram ao líder distrital do Partido, o Conde de Vila Real, solicitanto o seu parecer para uma nova reconstituição dos órgãos do Centro progressista de Valpaços. Perante a ausência de resposta  do Conde de Vila Real até Janeiro de 1906, e a interposição do Conselheiro Sebastião Telles, Presidente do Centro Progressista de Lisboa, que em Junho de 1905 havia enviado um ofício ao Partido Progressista de Valpaços, coube a Joaquim de Castro Lopo lavrar uma extensa carta em resposta ao líder da capital, onde insistia na urgência que se devia atender na reconstituição do partido. Em Janeiro de 1906, o conde de Vila Real informava os progressistas de Valpaços da sua disposição em presidir a futura Comissão Executiva e, finalmente,  a 1 de Julho de 1906 foi celebrada a Assembleia Geral, presidida pelo Pe João Lopes Teixeira Delgado, na casa do Dr. José de Castro Lopo, onde se reorganizou o Partido e se propôs de novo Joaquim de Castro Lopo para 1º Secretário da respectiva Comissão Executiva. Nessa Assembleia mais uma vez Joaquim de Castro Lopo proferiu um sentido discurso abrilhantado pela sua natural eloquência e espírito encorajador, não obstante a conjuntura de incerteza política vigente que culminaria com a implantação da República e com uma mensagem de resignação e impotência dirigida a todos os progessistas pelo seu líder nacional, José Luciano de Castro. Foi neste ambiente de paulatino desânimo que se foi esgotando o fôlego dos progressistas, até à sua dissolução em Outubro de 1910. Joaquim de Castro Lopo ainda sobreviveu a três décadas de regimes sob o signo da República, mas durante todo esse tempo manteve-se incondicionalmente fiel às suas convicções monárquicas, da mesma forma como fiel se manteve aos seus elevados valores morais, ao amor pela  sua terra e à defesa do patrimonónio histórico e cultural da mesma.


O filantropo

Da mesma maneira como se rendeu aos valores culturais do concelho, parece ter-se rendido também perante certas preocupações e responsabilidades de natureza essencialmente filantrópica. Não tanto por, como se sabe, ter sido por sua proposta que o feriado da vila passou de 24 de Junho para a data comemorativa da sua elevação a sede de concelho, 6 de Novembro, mas por ter sido ele quem fundou a 25 de Julho de 1914 Associação Beneficente Municipal de Valpaços e lhe elaborou os estatutos e, num acto de grande humanismo,  ter sido ele a assumir a responsabilidade de canalizar as verbas atribuídas àquela instituição, através de subsídios e donativos, para a construção de um Hospital Municipal. Recorde-se que a Associação Beneficente Municipal foi criada com o objectivo de substituir, na mesma missão de  tomar a seu cargo o Hospital Municipal, a Arquiconfraria do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria (fundada em 1875) e a Confraria de Nossa Senhora da Saúde (fundada em 1879) que foram extintas pela Lei da Separação Igreja e do Estado, de 20 de Abril de 1911.  Tal foi o seu empenho nesta causa que nos finais dos anos 30 ainda o Hospital Municipal beneficiava de donativos particulares. Uma nota curiosa: Desde 1877 que foram vários os benfeitores do Hospital, mas um dos maiores de entre eles, já na época da Associação Benificiente Municipal, foi o próprio irmão de Joaquim Castro Lopo, João Constantino de Castro, domiciliado em Lisboa quem, em 1933, para a conclusão do Hospital ofereceu uma esmola de Esc 10 000$00 e, do seu testamento datado de 13 de Julho de 1940 legou Esc. 1000$000 ao mesmo Hospital. Tal era o altruísmo que unia os irmãos Castro! Do envolvimento de Joaquim de Castro Lopo na questão que esteve na origem da fundação da Confraria de Nossa Senhora da Saúde, a alegada descoberta de uma pegada atribuída a Nossa Senhora, que já foi classificada como uma «invenção dos Castros», devo dizer que me parece que, no mais profundo do seu íntimo, o único aproveitamento que Joaquim de Castro Lopo procurou retirar desta questão foi o da expectativa das pessoas que se reuniram nos paços municipais para decidirem da criação da Confraria em «conseguirem a construção de um Hospital ou a conclusão do que há muito estava começado», e que era, afinal, o que se vinha afigurando como medida urgente em Valpaços, desde 1881.
Visto como um Homem de grande responsabilidade e abnegação, foi Joaquim de Castro Lopo provido no cargo de Administrador da Empresa das Águas de Vidago e Pedras Salgadas, cargo geralmente confiado a reconhecidas figuras de relevo na vida política.
Joaquim de Castro Lopo faleceu na sua residência em Valpaços no dia 17 de Maio de 1952, com a provecta idade de 91 anos. Fez-lhe o município a merecida homenagem dando o seu nome a uma das suas ruas.


A família

Joaquim de Castro Lopo nasceu, como dissemos, em Valpaços, a 2 de Novembro de 1860, sendo baptizado 5 dias depois na igreja paroquial de Santa Maria de Valpaços, como consta da sua certidão de idade, a que também fizemos referência. Foi seu padrinho, João Constantino de Castro, solteiro, caixeiro, morador no Porto, que fez procuração a José Joaquim de Castro, proprietário, morador em Valpaços e tio do baptizado, para assistir ao baptismo, e sua madrinha Ana Maria de Castro, solteira e irmã do baptizado. Foi o sétimo, na ordem de filiação, de uma dezena de filhos de Constantino de Castro, natural de Argemil, e de Maria Joana Fernandes, natural de Valongo, ambas aldeias do concelho de Valpaços, casados em 1847. Era, pelo lado paterno, neto de José do Espírito-Santo de Castro e Maria Luísa da Costa, naturais de Ponte da Barca, que se estabeleceram como comerciantes em Valpaços com seus filhos, bisneto de Bento de Castro e Luísa da Costa, naturais de S. Tomé de Estourães, no concelho de Fafe, e trineto de João Luís da Costa e Maria Luísa Fernandes, naturais de Ponte-da-Barca. Pelo lado materno era neto de António José Fernandes, que foi alferes do exército no reinado de D. João VI, por carta real de 14 de Junho de 1825, e Francisca Teresa.
Joaquim de Castro Lopo casou com Emília Teixeira e dela houve os seguintes filhos:

AMADEU DE CASTRO LOPO. Nasceu a 12-III-1888 em Valpaços e faleceu a 10-V-1888 em Valpaços.

ADELINA DE CASTRO LOPO. Nasceu a 16-III-1890 em Valpaços. Casou com António Augusto Martins, sem descendência. Faleceu a 2-XIX-1973.

BERTA DE CASTRO LOPO. Nasceu a 24-IV-1891 em Valpaços. Faleceu solteira a 7-IV-1986 em Valpaços.

JOSÉ JOAQUIM DE CASTRO LOPO. Nasceu a 9-VI-1893 em Valpaços. Faleceu no Brasil em data incerta, sem descendência.

AMADEU DE CASTRO LOPO. Nasceu a 12-V-1895 em Valpaços. Casou com Benedita Domingues do Nascimento, filha de um fazendeiro brasileiro. Faleceu a 16-XII-1978 no estado de S. Paulo, Brasil. Não se conhece descendência.


CONSTANTINO DE CASTRO LOPO. Nasceu em Valpaços a 7 de Maio de 1897. Casou em África (Moçambique) com Ada Daphne Bruton, e deixou três filhos: Constantino, Madalena e Ricardo. Faleceu em Valpaços a 8 de Julho de 1995. É referenciado na obra coordenada por barroso da fonte DICIONÁRIO DOS MAIS ILUSTRES TRANSMONTANOS E ALTO DURIENSES nos seguintes termos:

«[…]Também usou o pseudónimo de Bento de Castro. […] Em 1910, por altura da Implantação da República, Emigrou aos 14 anos para o Brasil, onde permaneceu durante a adolescência. Regressou a Portugal, onde decidiu partir para Moçambique em meados dos anos 20. Aí ganhou raízes. Ingressou no Banco Nacional Ultramarino, onde chegou a gerente da filial de Porto Amélia.
Após o seu casamento em 1933, fundou a Companhia Sagal (Algosão e Sisal) em Porto Amélia em meados dos anos 30 com o cunhado Dr. Luís Eduardo Soromenho. Em 1942 foi transferido para Lourenço Marques, associando-se como sócio gerente da Firma J. A. Carvalho, proprietária da Minerva Central, Casa Bayly, Gráfica Trasmontana, e varias outras livrarias e tipografias localizadas nas principais cidades de Moçambique. Castro Lopo e os seus sócios nestas e outras firmas `as quais se associara, criaram centenas de postos de trabalho em Moçambique. EM 1973 veio à Metrópole, na capacidade de vereador, em representação da Câmara de Lourenço Marques para participar no Congresso de Municípios. Desempenhou durante 30 anos vários cargos na direcção da Câmara do Comércio e Indústria de Moçambique, desde vogal, tesoureiro, secretario, Vice-presidente, Presidente e Presidente da Assembleia Geral.
Devido aos seus vastos investimentos em negócios e imobiliária em Moçambique, e `a idade avançada dos 77 anos, Constantino de Castro Lopo e a esposa permaneceram no país durante dez anos após a independência que se deu em 1975.
Foi colaborador regular da imprensa em Portugal, Moçambique e editou alguns livros em prosa e verso: Poemas Bárbaros, José Ben Jacob, Sem Rumo, Tema Mártir, Câmara de Comércio de Lourenço Marques, Alcorão (tradução do Inglês), Kitab Us Salat, Folhas de Outono. Os seus trabalhos continuam a ser publicados em antologias e outras publicações pelo filho, Ricardo Bruton de Castro Lopo, herdeiro dos direitos de autor.»

Informações adicionais disponibilizadas por Ricardo Bruton de Castro Lopo:
Em 1984 Constantino emigrou para o Brasil com a esposa onde residiu durante seis anos na companhia do filho mais velho, Constantino (Jnr).
Em 1991 o casal regressou a África onde residiu em johanneJburg - África do Sul na companhia do filho mais novo, Ricardo. Em 1994, o casal acompanhou este filho mais novo quando este emigrou com a sua família para Toronto, Canadá.
Em 1995 Constantino (Snr.), com 98 anos de idade, regressou `a sua vila/cidade natal Valpaços, Trás-os-Montes, Portugal na companhia da esposa, onde residiu na Santa Casa da Misericórdia durante mês e meio antes de falecer.
Foi sepultado no cemitério de Valpaços na campa que comprara em 1940 e onde estão sepultados os seus pais - Joaquim e Emília de Castro Lopo.
Constantino de Castro Lopo e Ada Dapne Bruton de Castro Lopo (que veio a falecer em albufeira 18 meses após a morte do marido) teriam hoje os três filhos acima mencionados, oito netos, cinco bisnetas, e um trineto. Estes estão dispersos por Portugal, Brasil, Itália, Inglaterra, e Canadá.



JÚLIO DE CASTRO LOPO. Nasceu em Valpaços a 18-IV-1899. Segundo informações que nos fez chegar uma das suas sete netas, casou em Angola com Olga Ferreira de Lacerda com quem teve seis filhos: Júlio Carlos, casado com Maria Antonieta, Emília Olga, João Constantino, Joaquim Manuel Rui Abel e Ana Maria. Faleceu em Valpaços a 4-III-1971. Este filho de Joaquim de Castro Lopo figura no DICIONÁRIO DOS MAIS ILUSTRES TRANSMONTANOS E ALTO DURIENSES, como uma das personalidades distintas do seu tempo, pelo que entendemos transcrever o que a seu respeito se refere, nesta obra:

«Passou mais de meio século em Angola, onde deixou bem marcada a sua passagem por ali. A sua ocupação principal passou a como funcionário público. Mas ele foi, essencialmente, um intelectual. Deixou uma infinidade de obras, para além das muitas dezenas de artigos de carácter científico que deixou nos jornais e revistas, tanto do Ultramar como da Metrópole. Citamos os principais livros: Estudos de historiografia Angolense; O Vocábulo "Loanda" Subsídios Históricos (1942); Para a História da Imprensa de Angola (1962); Recordações da Capital de Angola de Outros Tempos (1963); Para a História do Cacau de Angola (1964) Jornalismo de Angola Subsídios para a sua História (1964); Ensaios bio bibliográficos: Um intelectual Monsenhor Doutor Manuel Alves da Cunha Notas Biográficas e Bibliográficas (1948); Uma Rica Dona de Luanda (1959); Uma Bragança no Cemitério de Luanda; Um doutor de Coimbra em Luanda (1959); Dois Brasileiros na Capital de Angola (1962); Conferências: Em Louvor de Guerra Junqueira: e de sua obra (1950); Para a História do Jornalismo de Angola (1952 reportagens arquivadas em opúsculos), Alguns aspectos dos Musseques de Luanda (1948); A propósito do Centenário da Associação Comercial de Luanda (1965 inédito); Do Amor e do Dinheiro (conf. proferida em 19.10.1951 em Luanda, no Palácio do Comércio, a convite da Sociedade Cultural de Angola). Merece também referência a obra editada pela Agência Geral do Ultramar, com um prefácio elogioso, do Dr. Amândio César. Essa obra, chamou se: Paiva Couceiro, uma grande figura de Angola (1968). Amândio César esclarece que este livro resultou da junção de 37 artigos que Júlio de Castro Lopo assinou em Notícia, a partir de 20 de Fevereiro de 1965, sobre Paiva Couceiro. Igualmente informa que I.C. L. colaborou em A Província de Angola, Faíscas, O Sport de Luanda, Mocidade, A Pátria, Comércio de Angola, A Situação, última Hora que mais tarde se transformou no Diário de Luanda e Notícias. Colaborou ainda nas revistas: Notícia, Angola Ilustrada e Actividade Económica de Angola. Juntamente com Virglio Cidrais fundou a revista KI KI RI KI, sendo ele o director literário e editor e aquele seu associado o director artístico. O insuspeito ensaísta Amândio César escreveu, nesse prefácio: "Não estamos diante de uma personalidade que se lançou à aventura através dos trilhos intelectuais por onde executou a sua vasta e importantíssima obra. Não. Júlio de Castro Lopo é, antes de mais nada, o investigador sério, isento, imperturbável, para quem só os factos e os documentos contam"


ALFREDO DE CASTRO LOPO. Nasceu a 27-XI-1900 em Valpaços. Faleceu a 13-XII-1983 em Valpaços. Casou com Armanda dos Remédios Teixeira Lage.

JOÃO CONSTANTINO DE CASTRO LOPO. Nasceu a 18-IV-1903 em Valpaços. Faleceu a 16-XI-1916 em Valpaços.

AUGUSTO DE CASTRO LOPO. Nasceu a 26-XI-1905 em Valpaços. Casou em segundas núpcias com Júlia Wilson e teve um filho com o mesmo nome. Faleceu a 28-II-1972 na Rodésia.

ALBERTO DE CASTRO LOPO. Nasceu a 2-XII-1908 em Valpaços. Casou no Brasil com Sabina Nunes, filha de um contratante de carnes. Faleceu em Julho de 1969 no Rio de Janeiro, Brasil.

Bibliografia e outras fontes

LOPO, Joaquim de Castro, O Concelho de Valpaços, por Valbel, 1954, Lourenço Marques

AMORIM Padre João Vaz de , Revista Aquae Flaviae, n.º14, 1995
MARTINS, A. Veloso, Monografia de Valpaços, Lello&Irmão, Porto, 2.ª edição, 1990
Manuscrito inédito: A Família Castro e Valpaços, por Maria Madalena de Castro Medeiros, 1956.
DICIONÁRIO DOS MAIS ILUSTRES TRANSMONTANOS E ALTO DURIENSES, coordenado por Barroso da Fonte, Editora Cidade Berço, Guimarães, I Vol.*
*In http://www.dodouropress.pt/index.asp?idedicao=66&idseccao=564&id=3029&actionnoticia
SILVA, José António Soares da, O Partido Progressista de Valpaços, 1886-1910, Ed. CMV, s/d

Agradecimento: Ao Sr. Manuel Medeiros pelas informações prestadas e pela autorização de consulta e aproveitamento do documento inédito da autoria de Maria Madalena de Castro Medeiros, A Família Castro de Valpaços. Agradeço também ao Sr. Eugénio Borges, descendente da figura biografada,  pelas infomações adicionais que proporcionaram a rectificação de alguns dados genealógicos.

Nota: Devido a novas informações de que se reconhece necessária credibilidade, esta publicação foi sendo actualizada com base em novas informações, pelo que difere da sua primeira versão publicada na data em epígrafe.

domingo, 29 de agosto de 2010

Perdão póstumo a Billy the Kid gera controvérsia nos Estados Unidos

Quantos portugueses, de entre as gerações menos jovens, não se viram já, na sua mocidade, fascinados pelos Western Pioneers e outros heróis do Far west, imortalizados no cinema e na BD! As referências parecem inesgotáveis: Bufallo Bill, David Crockett, Daniel Boone, Wild Bill Hickok e outros fora-da lei como Billy the Kid, Jesse James, Butch Cassidy… São figuras simplesmente admiráveis pela sentido mitológico de que se revestem na memória colectiva norte-americana. Para a maioria das pessoas, são admiráveis enquanto figuras reais que se destacaram no seio de uma sociedade em adaptação ao mundo selvagem do Novo Continente, nos séculos XVIII e XIX. Em alguns casos,  ainda mexem com a sensibilidade e a consciência pessoal dos seus descendentes ou dos descendentes daqueles que com eles se relacionaram, como se vê por esta “notícia com História”, publicada há já mais de um mês n’o Público, mas que entendemos dever trazer até aos nossos leitores.
Leonel Salvado

18.08.2010 - 14:18
Por Nuno de Noronha
Cento e trinta anos depois, Bill Richardson, governador do Novo México, sente-se na obrigação de perdoar o mais famoso fora-da-lei americano. É uma questão de promessas por cumprir, diz sobre Billy the Kid, o pistoleiro-lenda do velho Oeste norte-americano. A história gira à volta da curta mas controversa vida de Henry McCarty. Ou melhor, de Billy the Kid, como era e ficou conhecido. Morreu antes de completar os 22 anos, alvejado a tiro, talvez numa emboscada, na remota localidade de Fort Sumner, no Novo México.

Lucy usava instrumentos há 3,4 milhões de anos

Hominídeos já utilizavam utensílios 800 mil anos antes do que se pensava.
Os antepassados do homem moderno já utilizavam instrumentos de pedra há 3,4 milhões de anos. Esta é uma novidade que altera radicalmente a visão da ciência sobre Lucy, a avó mais famosa da humanidade, que viveu nessa altura. A descoberta, que faz recuar em mais de 800 mil anos a utilização de instrumentos por parte dos antepassados do Homo sapiens, é publicada hoje da revista Nature.
O Homo habilis, que viveu há 2,5 milhões de anos, foi assim chamado porque usou instrumentos. Isso tornou-se evidente quando se descobriu essa espécie. Mas, mais recentemente, o achado de ossos de mamíferos com marcas de cortes encontrados junto a outros ossos de Australopithecus afarensis (a espécie de Lucy), em Gona, na Etiópia, pôs os antropólogos a pensar. A ligação directa entre ambos os achados acabou, no entanto, por não poder ser estabelecida, pois apareceram também nas mesmas escavações fósseis do género homo. Estes antepassados mais directos poderiam ter sido os utilizadores de instrumentos de pedra naquele contexto.

Aquecimento da Terra ditou fim dos mamutes

por Filomena Naves, 19 de Agosto de 2010

A Equipa internacional coordenada pela universidade britânica de Durham estudou pólenes antigos e concluiu que os grandes herbívoros perderam as suas pastagens
A teoria preferida para explicar o fim dos mamutes, há quatro mil anos, tem sido a de que ele foi caçado até à extinção pelo Homo sapiens. Mas afinal não terá sido assim. Um estudo de uma equipa internacional, que olhou para pólenes antigos e fez simulações por computador, diz que o motivo foi a diminuição drástica das pastagens, desencadeada pelo início do período interglaciar que estamos a viver desde há 12 mil anos. Uma explicação que é uma parábola para os tempos modernos, dizem os autores do estudo, que o publicam hoje na revista Quarternary Science Reviews.
As conclusões resultaram de uma investigação mais vasta para caracterizar e datar o clima e a vegetação no hemisfério norte durante e após a última era glaciar. Pelo caminho os cientistas reuniram dados que destronam a ideia de que a extinção dos mamutes - e de outros mamíferos gigantes, como o leão das cavernas ou o rinoceronte lanudo, que desapareceram também por essa altura - ficou a dever-se à caça e à com- petição por território por parte do Homo sapiens.

sábado, 28 de agosto de 2010

Nossa Senhora da Saúde



Começam hoje, as festas religiosas e profanas dedicadas a Nossa Senhora da Saúde, em Valpaços. Para conhecer o respectivo programa, consulte o Notícias de Valpaços, AQUI.


Nossa Senhora da Saúde

É um dos vários nomes pelos quais a Igreja Católica venera a Virgem Maria, particularmente em Portugal, onde se lhe presta culto com esta designação.

É a santa tradicionalmente invocada pelos doentes e a tradição do seu culto, no nosso país, deve remontar ao século XVI, quando se lhe atribuiu a intervenção miraculosa na erradicação de vários surtos de peste que terão ocorrido em Portugal. O Padre António Vieira no seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, já se fazia eco desta tradição quando comentou: Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde [...].


Iconografia

Geralmente, o único traço iconográfico distintivo da Senhora da Saúde é o segurar com o braço esquerdo o Menino Jesus, à semelhança da Nossa Senhora do Carmo, mas sem qualquer outro adereço (são variadas as indumentárias das diversas Senhoras da Saúde).

In http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_da_Sa%C3%BAde


O culto da Nossa Senhora da Saúde em Portugal

O culto da Nossa Senhora da Saúde espalhou-se pelo país e hoje são várias as capelas e igrejas (algumas das quais com o título de santuário, como é o caso de Calpaços) que a evocam. Nossa Senhora da Saúde é o orago (ou co-orago) das seguintes povoações:

• Alqueidão (Figueira da Foz);
• Arrifes ( Ponta Delgada);
• Belide (Condeixa-a-Nova);
• Barreiras (Cadaval);
• Carvalhos (Vila nova de Gaia - Portugal)
• Cordinhã (Cantanhede);
• Esposende;
• Gançaria (Santarém);
• Gueifães (Maia);
• Moinhos da Gândara (Figueira da Foz);
• Senhora da Saúde (Évora);
• Sacavém (Loures);
• Torres Vedras (Coutada).
• Valpaços (Vila Real; orago: Santa Maria Maior);
• Vila Fresca de Azeitão (Setúbal);


O culto de Nossa Senhora da Saúde no concelho de Valpaços

Em Portugal, a data da sua celebração não é a mesma em todos os locais onde ela é venerada, variando entre os meses de Abril, Agosto e Setembro. Em Valpaços, por exemplo é, por tradição, celebrada, em eucaristia e procissão, no primeiro Domingo de Setembro, tal como acontece também na Coutada, em Torres Vedras. Como já havíamos referido neste blogue (veja-se Santa Maria Maior e outras devoções Marianas no concelho de Valpaços), Nossa Senhora da Saúde é também festejada nas freguesias de Padrela em Tazém (em Maio) e Rio Torto (em Agosto). Em Alvarelhos, embora não conste da tradição a realização de festejos em sua honra, existe uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Milagres.

Na cidade de Valpaços, as festas religiosas ligadas ao culto desta santa têm como local de atracção de milhares de peregrinos o monumental Santuário que começou por ser uma capela da invocação de Nossa Senhora da Saúde, cuja construção se iniciou no ano de 1897 por iniciativa da respectiva Confraria criada no mesmo ano por algumas figuras conceituadas do concelho, iniciativa essa inspirada na alegada existência de uma pegada da Virgem Maria descoberta numa das lajes desse local. Como referiu o nosso amigo e colaborador, José António Soares da Silva, depois de classificar a descoberta como uma «invenção dos Castros» num artigo publicado a 16 de Janeiro de 2009 no Jornal a Voz de Chaves, intitulado O culto e a romaria de Nossa Senhora da Saúde, «o que é certo é que assim se iniciou o culto a Nossa Senhora da Saúde em Valpaços, dividido em festa religiosa e profana que perdurou até aos nossos dias com assinalável êxito.»

A Rua Passos Manuel


Uma das mais belas e airosas vistas do tecido urbano de Valpaços é o panorama que se nos oferece quando caminhamos no sentido Sul - Norte pela rua Passos Manuel. O alinhamento desta rua com resto da Rua D.ª Maria do Carmo Carmona que nos conduz ao secular jardim público é um exemplo dos bons resultados da modernidade urbanística de Valpaços que se sabe ter sido conquistada à custa de muitos sacrifícios, coragem e determinação de todos aqueles que a levaram por diante.
Mas a rua Paços Manuel tem uma história curiosa!
É mais um “re(en)canto da memória” da nossa “Valpaços desaparecida”!
Como muitos valpacenses certamente se recordarão, há pouco mais de meio século a Rua Passos Manuel tinha um aspecto bastante diferente do actual. Para as gerações mais novas, isto poderá ser uma novidade.

Clique sobre a imagem para ampliar
Até aos meados do século passado, a Rua Passos Manuel encontrava-se isolada pelo alto casario do lado Norte da rua do Olival que lhe era perpendicular. Para se aceder à actual rua D.ª Maria do Carmo, tornava-se necessário prosseguir, à direita, pela do Olival e caminhar uma dezena de metros. Tal isolamento, porém, não impediu a que até à década de 20 do século passado funcionasse num dos imponentes edifícios da margem ocidental da rua de Passos Manuel, cujo conjunto arquitectónico, com a sua original cobertura exótica, ainda se encontra relativamente bem preservado, o então popular Hotel Barreira. Do lado oposto já existia o, também perservado, edifício comercial de João José dos Reis e, na continuação deste, no sentido N - S, o edifício que serviu de Central eléctrica da Vila. A habitação que se observa ao centro da ilustração ("em retrospectiva"), situada no lado Norte da confluência das duas ruas, era de Manuel Gonçalves que exercia a profissão de sapateiro, e que, mais tarde, foi carcereiro na cadeia que durante muitos anos funcionou no solar da Fonte.

Rua Passos Manuel nos meados do século XX  (sentido S-N)
Desenho e guache de Leonel Salvado

Quis o destino que os valpacenses mais bairristas e com vontade de progresso pudessem contar com um Homem com o mesmo entusiasmo e com capacidade empreendedora, o Engenheiro Luís de Castro Saraiva, que entrou para a presidência da Câmara Municipal de Valpaços em 1952, e aí se manteve em mandatos consecutivos até 1964. Foi com ele que os primeiros e mais arrojados planos de remodelação urbanística da vila ganharam forma e foram concretizados, deixando Castro Saraiva uma grandiosa obra que os seus conterrâneos entenderam homenagear, dando o seu nome a uma avenida da Vila. Dessa obra de Castro Saraiva, fez parte o projecto de que resultou a demolição de uma larga área de antigas habitações no extremo oriental da rua do Olival, de forma a desbloquear a rua Passos Manuel e fazê-la confluir com a rua D.ª Maria do Carmo Carmona, e, ao mesmo tempo, alargar o espaço de circulação na direcção da Rua D. Pedro V, do Jardim Público e dos Paços do Concelho.

Nota: O trabalho de reconstituição aqui apresentado, como habitualmente, sob a forma de ilustração, foi baseado numa fotografia gentilmente cedida pelo Sr. Manuel Medeiros e a elaboração do presente artigo surgiu sob sugestão do mesmo, nosso diligente colaborador a quem publicamente agradecemos mais este amigável gesto.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

101.º Aniversário do nascimento de Madre Teresa de Calcutá

Nascida a 26 de Agosto de 1910, na Macedónia, no seio de uma humilde família de albaneses com mais dois irmãos,  Madre Teresa sempre considerou a data de 27 de Agosto como o dia do seu aniversário, por ter sido nesse dia que ela foi baptizada com o nome de Agnes Gonxha Bojaxhiu. Aos treze anos de idade, viu-se inspirada pela vida missionária ao ouvir um missionário jesuíta que tinha estado em missão na Índia. Seis anos mais tarde, decidida, sob tal inspiração, a entregar-se ao serviço dos outros e a aguardar a “voz de Deus” abraçou a vida missionária, solicitou e conseguiu a admissão na congregação das “Irmãs do Loreto” que missiovavam em Bengala, na Índia, e, depois de aprender a língua inglesa em Dublin, foi enviada para Darjeeling, onde fez o seu noviciado no colégio das irmãs de Calcutá. Em 1931 fez a sua profissão religiosa, emitindo, os necessários votos temporários de pobreza, castidade e obediência com o nome de Teresa, escolhido por ela em honra à monja francesa, Teresa de Lisieux, que havia sido canonizada em 1927, sendo conhecido por Santa Teresinha. Mudou-se depois para Calcutá onde de dedicou, durante os anos 30 e 40, ao magistério, ensinando Geografia no colégio bengalês de Saint Mary pertencente à congregação de Nossa Senhora do Loreto. Foi então que, tocada pelas condições de extrema pobreza que assistiu na Índia e que afectavam sobretudo as crianças, mulheres e idosos que viviam na rua, fez profissão perpétua a 24 de Maio de 1937, tirando um curso rápido de enfermagem e dedicando-se de corpo e alma aos cuidados dos desfavorecidos. Para este fim, fundou a Ordem das Missionárias da Caridade, adoptando o hábito com as cores brancoa e azul, representativas da pureza e da Virgem Maria, e passou a viver uma vida de profunda austeridade e de completa dedicação à pregação, ao ensino, à caridade e aos serviços médicos. Chegou mesmo a obter a nacionalidade indiana, para melhor cumprir os votos que fez perante a Ordem por ela criada. Seguiram-se uma série de instituições criadas por sua própria iniciativa e outras sob tutela especial da Santa Sé que engrandeceram o papel de Madre Teresa no seio da Igreja Católica, adquirindo um halo de santidade no serviço que abnegadamente prestou ao mundo. 

Caldeirada de personalidades

Quantas personalidades é capaz de intendificar no quadro que segue?
clique no quadro para ampliar! Obrigado.



in http://faceaovento.wordpress.com

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Franklin Teixeira


Fervoroso republicano valpacense dos finais da Monarquia e dos primórdios da República, é recordado por seus conterrâneos e descendentes com grande respeito e admiração. Tomou parte, em 1891, no Porto, na malfadada revolta de 31 de Janeiro, que é considerada como o primeiro movimento revolucionário com vista à implantação da República em Portugal. Sabe-se que dos confrontos que se sucederam entre a multidão e a Guarda Municipal, que teve de contar com o auxílio do corpo de Artilharia da Serra do Pilar, de uma força de Cavalaria e do Regimento de Infantaria 18, resultaram 12 revoltosos mortos e 40 feridos. Franklin Teixeira foi um dos que conseguiu escapar com vida à refrega, tendo ainda ensejo de receber das mãos de alguns  dos seus correligionários forçados à rendição, uma das bandeiras com as cores da República, que as forças da ordem fizeram arrear, guardando-a como pôde e exibindo-a orgulhosamente em Valpaços.

Da sua inabalável e incontida dedicação à causa republicana, conta-se uma  outra arrojada façanha que ainda hoje pode causar alguma perplexidade a quem a ouça pela primeira vez: Diz-se que quando o rei D. Carlos, na sua viagem por estas terras, proveniente de Chaves em direcção a Mirandela, se apeou da sua carruagem, naquele lugar de Valpaços em frente do qual se situava o estabelecimento do rico comerciente local,  Eduardo Nunes ( edifício que já não existe, por ter sido mais tarde reduzido a escombros em consequência de um grande incêndio) deu de caras com uma inesperada recepção, onde se contavam alguns republicanos da terra, de entre eles Franklin Teixeira que não se terá coibido a dar, em altos brados, vivas à República, perante a surpresa geral e estupefacção do rei e sua comitiva.

Este acto, cometido por Franklin Teixeira, jamais foi entendido como uma atitude arruaceira, mas antes como uma prova incontestável das suas convicções políticas. Aliás, nem deve ser definido como traço marcante da sua personalidade, cuja nobreza de carácter e espírito tolerante lhe são reconhecidos, ainda hoje, tanto na tradição oral, como em obras monográficas que também lhe fazem referência.

Republicano convicto, mas também prudente apologista da defesa dos bons costumes e da ordem pública, foi ele escolhido pelo Governo Provisório, que se seguiu à triunfante Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, para conduzir a administração do concelho, missão que, segundo o Padre Vaz de Amorim, cuja credibilidade me parece ser de levar em conta, sobretudo porque as suas palavras foram escritas a menos de quarenta anos de distância dos factos a que se reportam, Franklin Teixeira parece ter cumprido com o necessário sentido de responsabilidade. Do texto daquele autor, a respeito deste valpacense, transcrevemos o seguinte excerto:

Após a revolução de 5 de Outubro, as novas instituições, são aqui [em Valpaços] recebidas com a mesma calma e indiferença que se notara por todo o país. Foi o primeiro administrador do concelho com a República, Franklin Teixeira, membro de uma família ilustre, espírito altamente tolerante e alma aberta aos mais nobres sentimentos. Como autoridade durante o Governo Provisório do novo regime político, soube cumprir o seu dever, impondo-se pela sua grandeza de carácter e austeridade de costumes. E para julgarmos do seu espírito de tolerância, bastará dizer-se que, durante a vigência do seu mandato, em Valpaços e concelho, não houve uma prisão nem se fizeram perseguições por causa da política.

Padre Vaz de Amorim (João da Ribeira), Revista Aquae Flaviae, n.º 14 ed. 1995, p. 199

Existe uma rua com o seu nome, em homenagem dos seus conterrâneos aos serviços públicos prestados.

Nota: Cumpre-me fazer aqui uma observação que é a de que alguns factos recolhidos da tradição oral que expus neste artigo, foram devidamente confirmados, e geograficamente enquadrados, pelo Sr. Manuel Medeiros, a quem de novo, em meu nome e dos restantes membros do presente blogue, agradeço a sua colaboração.

Hoje é dia de São Bartolomeu, apóstolo

É um santo católico que foi um dos apóstolos de Jesus Cristo, cujo nome é de origem aramaica, de referência patronímica, derivando de Bar Talmay, que significava filho de Talmay. Nos Evangelhos, porém não figura aquele nome, mas segundo a tradição ele seria o Natanael que ali aparece, nome que significa Deus Deu, em alusão a ter sido ele a testemunhar a acção de Jesus nas Bodas de Canaã de onde alegadamente Bartolomeu seria oriundo. Ainda segundo a tradição, enquanto se dedicava à pregação, ele sofreu o martírio em Albanópolis, actual Derbent, no Cáucaso, onde a mando do governador foi esfolado vivo. As suas relíquias foram levadas para Roma, jazendo na igreja que aí foi edificada em sua dedicação. Embora sejam escassas as informações acerca de S. Bartolomeu, é um santo especialmente venerado pela Igreja católica que exorta os fiéis a seguirem os ensinamentos da sua vida, como o fez o Santo Padre, o Papa, no dia 4 de Outubro de 2006. É festejado a 24 de Agosto.
A respeito do culto a S. Bortlomeu, obtivemos a partir do blogue de S. Bartolomeu do Galegos, dedicado a esta freguesia da Lourinhã as seguintes curiosas referências:

O culto a São Bartolomeu, na península [Ibérica], é anterior à reconquista cristã e, em Portugal, muitas paróquias instituídas nessa época têm São Bartolomeu como orago. O seu culto encontra-se espalhado por todo o país e as povoações que o têm por padroeiro são, na sua maioria, bastante antigas e, pelo menos sete delas, usam o seu nome como topónimo.

Efectivamente, no concelho de Valpaços, sabe-se que ele é orago na freguesia de Água Revés e Crasto e a sua devoção é tão antiga quanto esta histórica localidade. A sua festa é aqui realizada em dia móvel do mês de Agosto. A 24 de Agosto também lhe são dedicadas festas em Santa Valha, onde existe uma capela da sua invocação, e em Santiago de Ribeira de Alhariz.

In http://saobartolomeudosgalegos.blogspot.com/
Imagem: http://ecclesia.com.br/synaxarion/?tag=sao-bartolomeu

Para mais detalhes sobre a vida de S. Bartolomeu, clique AQUI.

Há 99 anos


Destaque da notícia da eleição de Manuel de Arriaga

A 24 de Agosto de 1911, Manuel de Arriaga era eleito Presidente da República por um mandato de 4 anos.
Na realidade, esta data serve para marcar a primeira experiência eleitoral para as Presidenciais da História de Portugal, e Manuel de Arriaga é referenciado como o primeiro Presidente eleito da República Portuguesa, sucedendo a Teófilo Braga que até aí presidiu ao Governo Provisório, ainda que mais tarde esta sucessão de invertesse em virtude da abdicação do primeiro em favor do segundo. Trata-se, portanto, de uma data de relevância histórica comemorativa, ainda que a tenhamos inserido aqui na categoria de Instantâneos [Nacional].

Imagem: http://coisasdopassado.blogspot.com/2008_08_01_archive.html

Para aceder a uma síntese biográfica a respeito de Manuel de Arriaga e das circunstâncias da sua eleição, clique AQUI.

Há 190 anos

Alegoria à revolução liberal de  1820, no Porto

A 24 de Agosto de 1820 teve início em Portugal a Revolução Liberal que iria conduzir o país à Monarquia Constitucional e à República, entrecortada por alguns regimes ditatoriais, e à Democracia. Trata-se, por conseguinte, de uma data comemorativa de extraordinária importância.


Para aceder a uma síntese acerca do contexto histórico deste evento clique AQUI.

Imagem: http://faceaovento.wordpress.com/2009/12/21/

218.º Aniversário do nascimento de Joaquim António de Aguiar

Joaquim António de Aguiar (Coimbra, 24 de Agosto de 1792 — Lavradio, 26 de Maio de 1884) foi um político português do tempo da Monarquia Constitucional e um importante líder dos cartistas e mais tarde do Partido Regenerador. Foi por três vezes chefe de Governo de Portugal (1841–1842, 1860 e 1865–1868, neste último período chefiando o Governo da Fusão, um executivo de coligação dos regeneradores com os progressistas. Ao longo da sua carreira política assumiu ainda várias pastas ministeriais, designadamente a de Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça durante a regência de D. Pedro nos Açores em nome da sua filha D. Maria da Glória. Foi no exercício dessa função que promulgou a célebre lei de 30 de Maio de 1834, pela qual declarava extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares, sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional. Essa lei, pelo seu espírito anti-eclesiástico, valeu-lhe a alcunha de o Mata-Frades.

In http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Ant%C3%B3nio_de_Aguiar

domingo, 22 de agosto de 2010

A desaparecida “bolideira de Valpaços”


clique sobre a imagem para ampliar

Lembrada como Outeiro que bole, Pedra bolideira, ou simplesmente bolideira, como outrora era conhecida, trata-se de mais um monumento desaparecido de Valpaços que no dealbar do século passado servia como um dos cartões de visita da Vila, como se pode ver pelo número 12 da colecção de postais da época, editada pala Casa Sesinando Chaves (fundada em 1894) e que obtive a partir do Blogue da Rua Nove, para servir de base para a reconstituição que aqui apresento. Situava-se na margem esquerda da Estrada Nacional 206, a poucos metros metros de distância do Cemitério Municipal em direcção a Carrazedo de Montenegro, numa propriedade da família Tavares, no Bairro do Monte Pequeno. Quantos valpacenses se lembrarão certamente deste curioso megálito da sua meninice, que, apesar de já se encontrar mutilado, servia ainda como um dos locais favoritos para as suas brincadeiras, à saída da escola!
A "pedra que bole" de Valpaços, no início do século XX
desenho e guache de Leonel Salvado

Tal como já havíamos dito no artigo A bolideira de Valpaços, publicado na categoria Curiosidades [local/regional] deste blogue, o monumento media 7 metros de comprimento, 4,50 de largura e 3,15 de altura. A estima e preocupação pela preservação e integridade deste admirável monumento megalítico remonta expressamente aos finais do século XIX por parte de homens da terra como foi o caso do ilustre autodidacta na investigação arqueológica e cultural, Joaquim de Castro Lopo e por parte ainda de outros figuras de renome nacional, como foi o caso do etnógrafo J. Leite de Vasconcelos que a estudou, reproduziu em desenho e a publicou na sua obra Religiões da Lusitânia. Não serviram, porém a dedicação de um e de outro para evitar que o pior viesse a acontecer: Em 1919 a Pedra que bole foi fendida a meio com uma carga de dinamite. A notícia foi de imediato publicada, com grande pesar, no Comércio do Porto, ao que creio, a avaliar pelas iniciais do respectivo autor, por Joaquim de Castro Lopo, nos seguintes termos:

«Pedra que bole

Valpaços, 1. – Hoje foi destruída por pedreiros a “Pedra que bole”, desta villa. Era uma pedra balouçante de 7 metros de comprimento, 4,6 de largura e 3,15 de altura. Curiosidade única desta Vila, era visitada por quantos aqui passavam. A “Padra que bole” estava vulgarizada em bilhetes postais e dela vem um desenho nas “Religiões da Lusitania”, vol I, p. 400, do Dr. J. Leite de Vasconcelos. Não houve nada que justificasse tam bárbaro vandalismo! – (C. L.).
(Do "Comércio do Porto", 1919)»
Transcrição da revista O Arqueólogo Português.

Apesar de fendido, o megálito continuou a ser visitado e uma parte dele ainda oscilava, com emprego de ligeiro esforço, continuando a admirar os visitantes e, fazendo a maravilha da pequenada. Quando em 1944 o Padre João Vaz de Amorim dela falou, num artigo publicado na revista “Aquae Flaviae”, encontrava-se a “bolideira de Valpaços” ainda neste estado, não se escusando o autor de lamentar o facto de se encontrar mutilada, e deixar um apelo no sentido da sua preservação futura. Vejamos um excerto desse artigo:


«É um monumento megalítico e acerca do seu destino e significado são várias as opiniões entre os arqueólogos.[…] Mas seja qual for a sua interpretação científica, a verdade é que tais características da arquitectura pré-histórica merecem estudo, e são dignas de respeito e veneração das pessoas cultas. Apesar de já se encontrar algo mutilado, conviria preservar este valioso monumento de maiores atentados e fazer por que fosse elevado à categoria de monumento nacional.»
in Revista Aquae Flaviae, n.º 14, 1995, p.211

Debalde foi, porém, mais este apelo às pessoas cultas de Valpaços, pois, para surpresa ainda maior de entre alguns valpacenses desta categoria, em data posterior àquela publicação do Padre Amorim, que não consegui apurar com exactidão, o que restava do monumento foi irremediavelmente destruído. Sobre mais este lamentável acto escreveu José Lourenço Montanha de Andrade:

«Outeiro que bole:

[…]Começou por ser mutilada, mas apesar disso, ainda oscilava com emprego de ligeiro esforço, tendo mais tarde sido completamente destruída por acção de alguém da J.A.E., com que intenção, não sabemos.[…]
Foi pena que este monumento da Pré-História não tivesse sido preservado.
in Valpaço-Lo-Velho, caderno cultural 6, C. M. Valpaços, 2001, p. 21

Agradecimento: Um especial agradecimento ao Sr. José Lourenço Montanha de Andrade pelas informações que gentilmente me proporcionou em relação à localização do monumento aqui retratado.

Reconstituição: Desenho e guache de Leonel Salvado

sábado, 21 de agosto de 2010

367.º Aniversário do nascimento de D. Afonso VI

D. Afonso VI foi uma dos monarcas mais  problemáticos da História de Portugal. Foi o 23.º rei e o 2º da dinastia de Bragança.
Devido à prematura morte, a 13 de Maio de 1653, de seu irmão mais velho, o príncipe D. Teodósio - em quem se depositavam grandes esperanças enquanto futuro rei, tendo em conta a sua inteligência, benigna personalidade e singular dedicação literária -  e de sua irmã, a infanta D. Joana de Bragança, a 17 de Novembro do mesmo ano, o infante D. Afonso prefigurou-se como o legítimo candidato à Coroa. Considerado como um jovem doente física e mentalmente, só foi colocado no trono a 28 de Junho de 1662, graças  aum golpe palaciano criteriosamente preparado por um dos seus aios, o terceiro conde de Castelo Melhor, D. Luís de Vasconcelos e Sousa, que determinou o afastamento da vida pública da mãe, D. Luísa de Gusmão, quem exercia a regência desde 15 de Novembro de 1656 (o rei, D. João IV, havia falecido a 6 de Novembro de 1656). D. Luísa cede perante a possibilidade de entregar o trono do filho e mais tarde recolheu-se ao convento dos Agostinhos Descalços. Durante o seu curto reinado efectivo, de cerca de cinco anos e meio, D. Afonso VI continuou a manifestar uma conduta pouco digna, e o seu desastroso casamento com D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, Mademoiselle d´Aumale, ditaria o seu fim enquanto rei de Portugal. Em 1667 é instado pela rainha Maria Francisca, sua mulher, e pelo infante D. Pedro, seu irmão, a abdicar do trono em favor deste, o que D. Afonso assentiu. Aguardando-se a anulação do casamento real, a pedido da rainha, as Cortes de Lisboa, reunidas em 1668, sugeriram ao infante o casamento com a rainha, que entretanto se havia recolhido em clausura, com suas damas e oficiais no convento da Esperança, e baniram D. Afonso VI para a ilha Terceira, nos Açores, onde permaneceu em estado de progressiva degradação moral, e em 1674 foi mandado regressar ao Continente, sendo conduzido a uns aposentos do Palácio de Sintra, onde sobreviveu durante mais nove anos em grande sofrimento físico. Aí faleceu a 12 de Setembro de 1683, aos 39 anos.


Para uma diversificada e detalhada fonte de informações a respeito de D. Afonso VI clique AQUI.

Imagem: http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/afonso6.html

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Fonte Grande



É um outro monumento desaparecido de Valpaços. Situava-se junto à confluência das ruas do Olival, de Passos Manuel e da Rua Direita (hoje rua D.ª Maria do Carmo Carmona), a poucos metros para Sul do local onde se localizava a também desaparecida capela de São Sebastião. Foi parcialmente demolida por volta de 1924-25, segundo indicação, certamente fundamentadada de Adérito Freitas na sua obra Fontes de Abastecimento de Água, concelho de Valpaços (ed. da C.M., 2005, p. 209), soterrando-se o que dela restou formando-se um amplo espaço arejado que passou a ser conhecido como o Largo da Fonte Grande e instalando no local uma bomba hidráulica manual de grande volante. (ver, no presente blogue, a publicação as possíveis razões da demolição de  A desaparecida Capela de S. Sebastião. )

Fonte Grande de Valpaços, pouco antes de ser demolida
desenho e guache de Leonel Salvado

A sua reconstituição aqui apresentada, que foi possível graças à existência de uma antiga foto publicada na Monografia de Valpaços de A. Veloso Martins, pode dar aos nossos leitores uma ideia mais clara do seu aspecto e do contexto topográfico em que se inseria. Aquela mesma foto foi também recentemente publicada por Adérito Medeiros Freitas na obra que atrás mencionámos, juntamente com uma outra cedida ao autor pela Sr.ª Dr.ª Maria Eugénia Mota Pimentel (Id., p.210) mas se a primeira destas se encontra ligeiramente distorcida, a segunda não representa o monumento na sua totalidade o que nos impede de fazer o seu enquadramento topográfico com o mínimo rigor possível. Era uma fonte de mergulho de grandes proporções, planta quadrangular, aberta na frontaria por um arco de volta perfeita e rematada por uma cúpula cónica. Não encontrei nenhuma referência cronológica sobre a sua construção, mas pelos elementos arquitectónicos que a compunham, não seria certamente de construção anterior ao século XVI.

Agradecimento: Mais uma vez o meu sincero agradecimento ao Sr. Manuel Madeiros pelas úteis indicações que me forneceu acerca do local onde este belo monumento se situava.

Reconstituição: Desenho e guache de Leonel Salvado

Quem salvou a vida a D. João I, na batalha de Aljubarrota?

Por Leonel Salvado

Durante muitos anos, sempre que se impunha relevar os cometimentos de heroicidade individual dos portugueses naquela que foi uma das mais importantes e recordadas vitórias obtidas pela Nação contra os castelhanos, vinham a lume, para além da inabalável figura do Condestável, D. Nuno Álvares Pereira, sublimadas referências patrióticas à trilogia feminina constituída por Brites de Almeida (a “padeira de Aljubarrota”), Joana Gouveia (ou Joana Fernandes) e Maria de Sousa. A propósito desta, escrevia o Padre A. Alberto Gonçalves, em 1940:

O reinado de D. João I foi fértil em altruísmos femininos, foi um alfobre de sublimes abnegações desinteressadas que não é lícito pôr em dúvida porque foram grandes e inexcedíveis.
Senão vejamos. Aqui depara-se-nos, Maria de Sousa que, corajosamente defendeu e salvou a vida do rei, derrubando Álvaro Gonçalves Sandoval, com um golpe de partazana, quando ele tentava matar D. João I, e depois tolheu o passo a um grupo de castelhanos, pondo-os em fuga. […].
In O Sentimento Patriótico na Mulher Portuguesa, Livraria Civilização, Porto, 1940, p. 31.

Curiosamente, esta visão tradicional, eivada de extremo sentimento patriótico que convinha à ditadura do Estado Novo, continua viva na memória colectiva de muitos portugueses que a ostentam ainda, com orgulho e aparente convicção. No actual site da Câmara Municipal de Alcobaça, pode ler-se:

É conhecido o episódio da Padeira de Aljubarrota, Brites de Almeida, que na ressaca da batalha teria surpreendido sete Espanhóis escondidos no seu forno e que um a um, à pazada, a todos despachou para o outro mundo.
Esta porém, não é a única mulher célebre em Aljubarrota, embora das outras quase não haja já memória, e a grande maioria jamais ouviu falar nelas. Para que a sua memória também possa perdurar, aqui fica o retrato das suas façanhas.
Uma é Maria de Sousa, que com um golpe de “partazana” (uma espécie de alabarda) derrubou Álvaro Gonçalves Sandoval, quando este pretendia matar D. João I, e que atravessou com um dardo, Gonçalo Nunes de Gosman, “apóstata da Pátria e da Família”, pois era irmão do Condestável, e que tolheu o passo a um grupo de castelhanos que fugia, suportando heroicamente a sua posição, com uma espada durante um bom quarto de hora, matando uns vinte?, dos tais castelhanos, saindo sã e salva desse combate.
Outra, foi Joana Fernandes, que entrincheirada num silvado, fez um dano cruel aos soldados Espanhóis, atirando-lhes com pedras, e despejando por cima dos que ali passavam água a ferver, que mandava buscar de quando em quando a casa de uma vizinha. Só faltava cozinhá-los num caldeirão, que está em Alcobaça e que o povo de Aljubarrota há muito reivindica a sua devolução à sua origem, em vão.
Portanto, não temos uma heroína, mas três. Nem todas as terras se podem gabar disto.
In http://www.cm-alcobaca.pt/index.php?ID=1895

No ano de 2006, Pedro Gomes Barbosa e Carlos Santos Mendes publicaram o livro intitulado De Macedo a Macedo de Cavaleiros, a Figura de Martim Gonçalves de Macedo, uma edição da Câmara Municipal, cuja capa se pode ver ao lado, conferindo a esta cidade transmontana do distrito de Bragança uma posição de destaque no referencial da heróica história militar nacional, devido ao papel desempenhado por aquele nobre fidaldo de Macedo de Cavaleiros na batalha de Aljubarrota, a quem, afinal, terá cabido o mérito de ter cometido o memorável, mas quase esquecido, acto de ter livrado de morte certa o primeiro rei da dinastia de Avis quando este lidava em desvantagem contra o castelhano Álvaro Gonçalves Sandoval.

No Fórum Trás-os-Montes, a 4 de Novembro de 2008, Maria Portugal apresentou duas publicações que exprimem duas formas bem distintas de interpretação das questões relacionadas com D. Martim Gonçalves de Macedo: Uma datada de 21 de Agosto, da autoria de Saul António Gomes, com algumas reservas críticas do autor perante o silêncio a que a respeito do herói alegadamente macedense, sepultado no Mosteiro da Batalha, se submetem as fontes históricas mais antigas e conceituadas; logo a seguir, um artigo mais recente, publicado no Jornal Nordeste, da autoria de Sandra Canteiro, em que se transmite uma informação mais segura e confiante acerca da identificação do cavaleiro associado à sepultura, à sua heróica acção, bem como à sua origem de Macedo de Cavaleiros, tudo isso garantido pelo Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, inaugurado no dia 11 de Outubro de 2008. Para aceder à transcrição destas publicações, clique, em baixo, em «Ler mais».

O livro que aqui pomos em destaque, é um livro que vale a pena ler, não só porque veio desmistificar, de uma forma historiograficamente criteriosa, um facto há muito conhecido, mas que permanecia um enigma, e que dava azo a todo o tipo de abusivas especulações, mas também porque nele já se propõem algumas explicações para as interrogações colocadas por Saul António Gomes (que talvez ainda não tivesse lido o livro) quanto à estranha ausência de relação desse facto com o macedense Martim Gonçalves de Macedo, nas fontes coevas e subsequentes, cronologicamente mais próximas.

Para obter a versão PDF do livro clique na capara da obra acima exposta.

D. MARTIM GONÇALVES DE MACEDO: UM HERÓI IGNORADO DA BATALHA REAL
Escrito por Saul António Gomes
21-Ago-2008

Em túmulo raso, à entrada da Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, em lousa em que se notam, na parte superior, vestígios de execreção lapidar, mas com legenda, inscrita mais abaixo, em caracteres tardios e neo-góticos, o visitante é informado de se tratar da sepultura de Martim Gonçalves de Macedo ou de Maçada.
A tradição historiográfica batalhense explica a razão desta sepultura em lugar tão discreto e simultaneamente tão simbólico no magnífico panteão gótico da segunda dinastia portuguesa. Trata-se de um escudeiro que, nos campos de S. Jorge, no desenrolar da cruenta Batalha Real, no entardecer do dia 14 de Agosto de 1385, salvou a vida ao rei D. João I de Portugal.
Esta tradição tem fundamento histórico, como veremos, mas não a encontramos documentada nos grandes textos e autores antigos mais conceituados. Situações há, contudo, em que o Mosteiro da Batalha, nos seus diversos testemunhos arqueológicos, artísticos e heráldico-epigráficos, recorda uma história que as grandes crónicas, contra o que seria de esperar, eventualmente, omitem ou desconhecem. O inverso, naturalmente, também se verifica, podendo defender-se que a memória da famosa Batalha Real, que está no fundamento da edificação deste impressionante templo e panteão do Quattrocento europeu, se lavrou, ao longo do tempo, tanto pela palavra escrita em pergaminho ou em papel, quanto pela palavra lapidada em pedra.
Fernão Lopes ignora em absoluto o nome de Martim Gonçalves de Macedo, posto que aluda à luta, no zénite da batalha, entre o Mestre de Avis e o cavaleiro castelhano Álvaro Gonçalves de Sandoval, com vantagem para este, que conseguiu dobrar, joelhos postos em terra, o Soberano dos Portugueses. Na iminência de Álvaro de Sandoval desferir o golpe mortal, contudo, seguindo o celebrado cronista, o Rei da Boa Memória terá conseguido inverter a situação. Não explica cabalmente, no entanto e na verdade, como sucedeu este verdadeiro milagre que salvou a vida ao jovem monarca.

Eis o passo tal qual Fernão Lopes o refere na sua crónica:

“El-Rey, quamdo vyo a avanguarda rota e o Conde em tamanhada pressa, com gramde cuydado e todos com elle abalou rijamente com sua bamdeira, dizemdo altas vozes com gram esforço: Auamte, senhores, auamte! Sam Jorge, Sam Jorge! Portugall, Putugall, ca eu som el-Rey! E tamto que chegou hu era aquell duro e aspero trabalho, leixadas a(s) lanças de que se pouco seruiram por aazo da mesura da gemte, começou de ferir de facha assy desemuolto e com tal uomtade como se fosse huum simprez caualleiro desejosso de guanhar fama. E ueo a ell per aqueçimento Aluaro Gonçaluez de Sandouall, bem mançebo e de boom corpo, ardido caualeiro, casado daquell anno. E como el-Rey alçou a facha, deçemdo pera lhe dar, ell reçebeo o golpe, e trauou per ella, e tirou tam rijo que lha leuou das maãos e feze-o ajeolhar dambollos geolhos; e foy logo leuantado. E quando Alvaro Gonçalvez leuantou a facha pera lhe dar com ella, el-Rey esperou o golpe, e tornou-lha a tomar per aquella guysa; e quando lhe qujsera outra vez dar, jazia ja morto pellos que eram presentes que o majs a pressa fazer nom poderom, porque cada huum tijnha que veer em sy.” (Crónica de D. João I, Capº 42).

Atentemos bem no que escreve Fernão Lopes. D. João I, lutando com facha contra Álvaro Gonçalves de Sandoval, perde-a e, indefeso, cai por terra (“feze-o ajoelhar dambollos geolhos”). Esperar-se-ia o pior, o fim. Mas o cronista evita pormenores e regista, apenas, o comentário: “e foy logo leuantado”. Não nomeia, pois, o ou os interventores neste momento vital de toda a história deste famoso prélio luso-castelhano. D. João I recupera a sua facha e volta a perdê-la num segundo e imediato choque com Álvaro de Sandoval, combatente que revelava superioridade física. Valeu a D. João I que “os que eram presentes” mataram o castelhano.
O não identificado autor da Crónica do Condestável, absorvido em projectar D. Nuno Álvares Pereira como estratega e herói fundamental da Batalha Real, omite este acontecimento, tudo resumindo em breves palavras:

“E o conde estabre indo ante a sua bandeyra, forom em elle postas muytas lanças e em breve forom todas as lanças, de huã avenguarda e da outra, quebrantadas e vallado dellas feyto, e entom vierom as fachas e logo el rey, com a rreguarda, com grande aguça se ajuntou aa venguarda, feryndo de fachja tantos e taes golpes que eram asperos de atender aaquelles que os soffriam, como vallente rey ajudando seus naturaes, e sua real coroa defendendo.” (Crónica do Condestável, Capº 51).

O silêncio em torno do nome de Martim Gonçalves de Macedo não é, surpreendentemente, um exclusivo de Fernão Lopes ou do anónimo autor da Crónica do Condestável. Luís Vaz de Camões, n’Os Lusíadas (Canto IV, 28-45), não se lhe refere, o mesmo sucedendo com Francisco Rodrigues Lobo, o afamado poeta leirenense, que conhecia bem o Mosteiro de Santa Maria da Vitória e a sua Capela do Fundador, o qual, no seu poema épico O Condestabre de Portugal D. Nuno Alvares Pereyra, contando largamente a Batalha Real, não descobre senão o episódio evocado na tradição lopesiana:

“Mas o Rey Portugues que nelle atenta,
Em quem só tinha a Patria sustentada,
Ante os seus animosos se apresenta,
Com huma facha na mão dura, e pesada.
E qual o Sol na furia da tormente,
Alegra a gente nautica infiada,
Que sorvesse no abismo vio mil vezes,
Tal o Rey se mostrou aos Portuguezes.

A elles Lusitanos esforçados,
Que eu sou rey vosso, e vosso companheyro,
A elles (vay dizendo em grande brados)
Vamos desenganar este Estrangeyro.
Tras elle os Portugueses animados,
Seguindo o seu farol tão verdadeyro,
As forças renovando, os braços movem,
Contra as gentes sem conto que alli chovem.”

(O Condestabre, Canto XIV).


Frei Luís de Sousa, o celebrado cronista dominicano, escrevendo, sobre o Mosteiro da Batalha, por 1621, páginas de ímpar beleza na sua História de S. Domingos, nas quais colhemos pormenores invulgares e da maior relevância informativa do passado deste instituto monástico, como faz a propósito e por exemplo, da Capela do Fundador ou das Capelas Imperfeitas, nada aponta sobre os túmulos rasos que se encontram à entrada da igreja conventual, posto que atente nos demais sepulcros que nas capelas da cabeceira da igreja, na sala capitular e no claustro se encontravam.
Também o anónimo autor de O Couseiro, nas bem conhecidas memórias históricas da Diocese de Leiria, redigidas em meados de Seiscentos, mais precisamente por finais da década de 1650, nos capítulos 68 a 74, se calou em relação ao assunto que nos ocupa.

Dois séculos mais tarde, em 1827, D. Fr. Francisco de S. Luís, autor da conhecida Memoria historica sobre as obras do real Mosteiro de Sancta Maria da Victoria, chamado vulgarmente da Batalha, acrescenta informação inédita e objectiva sobre o histórico monumento. Disserta com interesse sobre os túmulos rasos de Mateus Fernandes e de Diogo Gonçalves de Travassos, localizados, como escrevemos, à entrada poente da igreja. Mas nada deixa escrito sobre o túmulo de Martim Gonçalves de Macedo.
Perante o silêncio destes respeitáveis cronistas e autores, como se poderá atentar na lápide que identifica Martim Gonçalves de Macedo sem alguma dúvida e suspeição crítica? Tratar-se-á, porventura, de alguma falsificação histórica incrustada no monumento gótico em fase tardia?

Fonte: http://www.trasosmontes.com/forum/viewtopic.php?t=3625


SALVOU A VIDA DO FUTURO REI
Macedo de Cavaleiros
Ilustre macedense combateu em Aljubarrota

O cavaleiro macedense, D. Martim Gonçalves de Macedo, que salvou a vida ao Mestre de Avis, futuro D. João I e rei de Portugal, é referenciado no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA), inaugurado no passado dia 11 de Outubro.
O equipamento, criado no local onde se deu, a 14 de Agosto de 1385, o confronto é promovido pela Fundação Batalha de Aljubarrota, à qual o município de Macedo de Cavaleiros se associou.
Assim, a localidade transmontana é destacada no CIBA devido ao heroísmo de D. Martim Gonçalves de Macedo, notável cavaleiro que assumiu um papel importante na Batalha. Segundo se conta, o ilustre macedense salvou a vida ao futuro rei D. João I, ao colocar-se entre o Mestre de Avis e o castelhano D. Álvaro Gonçalves de Sandoval, a quem acabou por matar.
D. João I reconheceu este acto e, desde a Batalha de Aljubarrota, no brasão de armas dos Macedo passou a constar um braço de azul, com uma maça de armas de prata, usada por D. Martim Gonçalves de Macedo para assassinar D. Álvaro Gonçalves de Sandoval.
Sandra Canteiro, Jornal Nordeste, 2008-11-04
In DTM

Fonte: Id.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

António Maximino Carneiro



Nasceu em 3.02.1872 na freguesia e concelho de Alijó, distrito de Vila Real, filho de Francisco José Carneiro, natural da freguesia de Carção, concelho de Vimioso no distrito de Bragança, e de Maria do Rosário, de Alijó, casados e residentes nesta vila.

Radicou-se em Valpaços pelos meados da década de 90 com a profissão de “escrevente”onde em 1899 casou com Olímpia Dias da Costa, aqui nascida e filha de um casal oriundo de Montalegre, João Dias da Costa Júnior, Tabelião do Juízo da Comarca de Valpaços,e Guilhermina Augusta de Magalhães Dias. No ano de 1900 trabalhou no Cartório Notarial do 4.º Ofício de Valpaços ao lado do sogro.

Após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, dedicou-se à vida político-partidária assumindo a liderança do Partido Democrático local. Pela mesma época foi contratado para exercer as funções de “Tesoureiro da Fazenda Pública no concelho de Valpaços”, actividade que ainda exercia em 1937, passando no ano seguinte à categoria de “Tesoureiro da Fazenda Pública Efectivo de Valpaços”. Foi no exercício destas funções que Maximino Carneiro, “o Tesoureiro das Finanças” como era popularmente conhecido, granjeou enorme respeito e simpatia em todos os recantos do concelho, apesar da aversão que o povo costumava sentir em relação aos titulares deste cargo. O Padre João Vaz de Amorim descreveu-o, já em 1944, como um homem «inteligente e trabalhador e possuindo sobretudo a rara qualidade de atrair» (revista Aquae Flaviae Nº 14, Dexembro de 1995). Como bem observou o mesmo Padre Vaz de Amorim, a popularidade, veneração e estima que António Maximino Carneiro adquiriu em todo o concelho sucedeu apesar da impopularidade que o seu cargo de "Tesoureiro de Finanças", aliás da Fazenda Pública, costumava suscitar entre a população segundo provas históricas que a comprovam. Convém recordar, mais uma vez, que os anos subsequentes à Patuleia e ao célebre confronto militar ocorrido em Valpaços que é designado como “Acção Valpaços” até à queda da Monarquia, foram anos de grande agitação popular por toda a antiga Província de Trás-os-Montes e particularmente no distrito de Vila Real e na vila de Valpaços. Basta recordar os motins populares de Valpaços de 1892, um dos mais graves dessa época (contra as obrigações fiscais e arrolamentos prediais), e de 1909 movimentado contra a Recebedoria e a Repartição de Finanças. Nestes tumultos populares, de carácter espontâneo, os insurgentes mostraram-se determinados em descarregar o seu ódio na destruição da documentação que se guardava nas sedes das comarcas fiscais e em atentar contra a vida dos respectivos funcionários, em especial os escrivães da Fazenda, que tiveram que ser escoltados pelo exército para prevenir males maiores (haja em vista no presente blogue o artigo “O motim de Valpaços de 1862”).

Fazendo fé em Vaz de Amorim, que se pronunciou, a poucas décadas de distância, sobre os sucessos que em Valpaços cabem neste contexto da História Regional, e, tendo em conta a sua autoridade decorrente do mérito de ter sido um dos primeiros e mais  perseverantes opositores à ditadura salazarista (veja-se o artigo publicado neste blogue sob o título Valpacenses na luta conta o Estado Novo), não me parece descabido aceitar a seguinte interpretação que é a que se acha implícita no seu discurso: para a acalmia que se registou nos primeiros tempos da República contribuíram, muito certamente, as qualidades morais e o espírito de tolerância de homens experimentados no melhor trato com a população como António Maximino Carneiro e Franklim Teixeira (de quem contamos também tratar aqui, numa próxima oportunidade). É evidente que novas agitações de ordem política ainda dariam lugar, em 1918, na sequência do assassinato de Sidónio Pais, a um circunstancial episódio de ocorrência subversiva em Valpaços, que foi o assalto cometido contra o administrador do concelho, o padre António Borges, mas este é um assunto que nos propomos tratar em outro lugar deste blogue.


Em 25 de Julho de 1914, Maximino Carneiro colaborou com Joaquim de Castro Lopo na criação da bem-sucedida “Associação Beneficente Municipal”, vindo a ser Presidente da Câmara por vários anos a seguir àquela data. Convém referir que esta instituição esteve na origem da “Associação Beneficente Municipal da Misericórdia de Valpaços”, provisoriamente aprovada em 1945 e  transformada, no ano seguinte, com novos estatutos, na “Misericórdia de Valpaços”da qual deriva a actual Santa Casa de Misericórdia de Valpaços. A iniciativa inicial, partilhada por Maximino Carneiro e apoiada pela Câmara Municipal, foi motivada pela necessidade de impedir que as obras do Hospital, em curso sob a égide da “Confraria de Nossa Senhora da Saúde” - formalmente extinta, em 1911, por força da Lei da Separação do Estado e da Igreja - fossem interrompidas e os valores a elas destinados alienados em favor do Estado.

Foi um Homem que sem possuir superiores habilitações académicas foi capaz de se posicionar muito acima das suas responsabilidades e prestar valiosos serviços ao concelho de Valpaços ao lado das demais figuras ilustres do seu tempo.
António Maximino Carneiro faleceu em Valpaços no dia 5 de Dezembro de 1951, com descendência directa.

O seu nome foi consagrado pela Câmara Municipal de Valpaços na toponímia urbana.