terça-feira, 11 de outubro de 2011

DOCUMENTOSAldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – CANAVESES

Por Leonel Salvado


MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 90, CANAVESES, Chaves.
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 8, n.º 90, p. 631 a 634]

Freguesia de Canaveses, termo da vila de Chaves, Província de Trás-os-Montes, Arcebispado de braga Primaz das Espanhas.  É comenda. Anda arrendada em um conto e cem mil Réis. É possuidora dela sua Senhora viúva que ficou de D. Vasconcelos.
É Comenda. Anda arrendada em um conto e cem mil réis e é possuidora dela uma viúva que ficou de Paulo de Vasconcelos.
Tem este povo a freguesia que é composta de quatro lugares: Canaveses, Cadouço, Émeres e Ermeiro, de oitenta e seis fogos e pessoas duzentas e cinquenta e nove.
Está este povo assentado em uma ribeira chamada Mengracia e está pegado em uma serra que está a meio dele e de Jou. As águas que descem desta são poucas, mas pela distância que há entre estes dois povos, que é uma légua, quando chega a Canaveses é crescida e, em tempo de água, de neve ou nevões, faz muito mal às fazendas de Canaveses com sua soberba corrente, trazendo consigo lenhas e paus que tira e arranca de seus lugares as colmeias a que pode chegar; os bois, bezerros e gado miúdo que o seu crescimento os obriga a passarem nas partes adiante e em volta por ter a erva dependurada que, com brevidade, se juntam alguns na ribeira. Há nesta serra lenhas de sorgo, medronheiro, carrasco e tem partes muito espessas que nela se criam lobos, raposas, porcos bravos e perdizes que só se podem matar pela terra, levando-os dependurados e mortosos, e águias.
Este povo supradito está situado na ribeira, não em campina, mas sim em arvoredos da serra. Contém tantos que muitos dos homens nele não vêem senão o céu. Tem mais o lugar de Cadouço que é aqui obrigado à missa, também posto em uma ribeira e metido em três outeiros. Tem este somente uma fonte com boa água, com qualidades nobres e renovo ajudado de um ribeiro que desce da serra supradita. Para baixo deste lugar está o de Émeres, por onde passa este ribeiro, metido também entre dois outeiros e tem duas capelas, a de Nossa Senhora da Expectação e a de Nossa Senhora da Conceição com sua fábrica que, de uns anos por outros, tem de renda mil e quatrocentos [réis]; e o do Cadouço, supradito, tem uma capela da invocação do Divino Espírito Santo com sua fábrica que rende nove mil réis, uns anos por outros.
Colhe esta freguesia, centeio, trigo, milho grande e miúdo, tudo muito pouco, mas produz azeite suficiente, mas o mais dele de povos de fora que dividem as oliveiras com estes moradores para socorrer à sua necessidade pela muita pobreza que aqui há. Colhe mais fruta, cereja e ginja, em pouca quantidade por ser ordinariamente o que chamam cá remendo. É de má casta de frutos que, sendo verdes se não vendem tanto, e maduro não tem o fruto semente de se tirar dele.
Tem este povo uma fonte no cimo do lugar, afastado dele à parte que vem do Cadouço, que é muito boa a sua água, quente no Inverno e fria no Verão.
Daqui se não deixa ver terra nem povo algum por estar cercada de outeiros e ter pela borda oliveiras que pertencem a este povo e suas árvores como são choupos e com seus pomares de macieiras. Tem também figueiras que dão figos bons, mas poucos.
Fica á volta deste Deimãos, São Pedro da Veiga, Veiga do Lila, Água Revés, Santa Maria de Émeres e Santiago da Ribeira. Dista uma légua de Água Revés, Santiago, Santa Maria de Émeres e São Pedro e meia de Deimãos. Dista de Chaves cinco léguas, de Braga dezoito, de Bragança três, de Vinhais oito, de Mirandela duas e meia e de Murça duas.
A invocação da igreja é Nossa Senhora da Expectação e está no meio do povo. Tem esta igreja uma quinta chamada Ermeiro, debaixo e metida entre dois cabeços que não prestam para nada. Tem esta igreja de Nossa Senhora da Expectação três Altares que são da mesma Senhora, outro de Santo António e outro de Nossa Senhora do Rosário, que tem sua fábrica dez mil réis. Tem a Confraria do Senhor.
O pároco desta é vigário que é apresentação do Reitor de São Pedro da Veiga e tem de côngrua cinco mil e cem réis, trinta e três alqueires de trigo, vinte e quatro almudes de vinho em mosto e cada morador paga um alqueire de pão de oferta.
Os frutos em maior abundância que aqui se colhem é centeio e linho galego.
Está este concelho sujeito ao juiz de fora da Vila de Chaves.
Este sítio dista da cidade de Braga dezoito léguas e de Lisboa dizem que sessenta.
A serra supradita terá de circuito duas léguas e de comprido será talvez uma. É rodeada de povos.
Já está dito das águas que descem dela. Estas vão ter ao rio de Mirandela, daí ao Douro que vai ter à cidade do Porto. Ao redor desta serra está o lugar de Jou, o de Rendufe, Cadouço, Canaveses e Zebras. Tem esta serra, no termo dela, algumas vinhas e colmeias. Cria-se nela os gados domésticos e bravos, como são os supraditos porcos, coelhos e perdizes.

Não havendo mais que dar nomeação na dita povoação, assino esta, feita hoje, aos [trinta?] de Março de 1758.

O vigário, José Pereira de Melo

O vigário de Jou, António Andrade de Lemos
O vigário de Veiga de Lila, António Pereira de Miranda        

1 comentário:

  1. Muito obrigada pela postagem. Meu avô paterno emigrou de Canaveses, concelho de Valpaços em 1889, para o Brasil. Ele tinha 11 anos. Já estive no lugar, em 1990. Seu pai tinha entre os sobrenomes, de Jou, o que acredito dizer que havia vindo de Jou, onde também estive. Mas sua mãe e sua avó eram de Canaveses. Adorei ver essa descrição que calha muito bem com o que vi na minha visita.

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