Por Leonel Salvado
MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 32, RIO TORTO, Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 32, n.º 136, p. 821 a 823]
Esta freguesia de São Pedro de Rio Torto é do Termo de Chaves e Arcebispado de Braga. Dista de Chaves cinco léguas, de Braga vinte e de Lisboa setenta. Compõe-se de dois bairros, oitenta fogos e duzentas e trinta pessoas maiores de doze anos.
Tem a igreja três Altares e dois colaterais. No maior está o Santíssimo e a imagem do Orago; nos colaterais, em um, Santo António, e no outro, Nossa Senhora do Rosário. Há mais duas, digo três capelas no Lugar, uma no bairro de Cima, de São Caetano cujo administrador e fabricante é Dona Romila da cidade de Braga e duas no bairro de baixo que são uma de São Sebastião e outra de Nossa Senhora da Anunciação cuja fábrica pertence aos moradores. Há mais na igreja três Confrarias, a do Santíssimo, a de Santo António e a das almas com a protecção da Ascensão do Senhor.
É esta igreja Reitoria dada da Mitra e rende para o pároco, cada ano, ad summum de setenta até setenta e cindo mil réis. Apresenta três curatos: o e Miradeses (o orago deste é São Sebastião), o de São Lourenço de Lilela e o da Vila de Prechas, cujos frutos são unidos a uma mesma comenda de que é Comendador o Ilustríssimo Conde de São Lourenço. Anda esta comenda arrendada por um conto e trezentos mil réis.
Está o sobredito lugar situado em uma planície baixa e angusta e rodeada de altos, por isso demasiadamente cálida. Tem o termo e distrito deste lugar três léguas em circunferência. Todo se cultiva, menos alguns altos e fragas que produzem algumas, poucas, lenhas para uso dos moradores.
Colhem-se no dito termo muitos frutos, como são azeite, trigo, vinho, cevada, centeio, pardas, castanhas, melões, melancias, repolhos, pimentos, grãos-de-bico e outros mais legumes.
Corre pela parte do Norte, quase próximo ao lugar, um rio de poucas águas no Verão, mas no Inverno bastante caudaloso, criando nele barbos, bogas, escalos e lúcios. Tem este, próximo ao lugar, uma ponte de cantaria com cinco arcos. Este rio tem sua base e princípio em uma fonte que chamam de unha da serra de Montenegro distante deste lugar três léguas e meia. Faz sua corrente de Norte a Sul até que entra no sobredito termo e aqui vira ao Nascente e no espaço de uma légua, digo dali a uma légua se mete em outro de maior grandeza que se chama Rabaçal que tem princípio no Reino de Castela. Este rio de Rio Torto na sua corrente faz muitas voltas e torcicolos e daqui se infere tenha este lugar o nome de Rio Torto.
No que respeita às antiguidades dignas de memória, não há mais que um cabeço alto perto e à vista do Lugar, em direitura do Norte, [aonde] se vêem uns vestígios das ruínas de uma fortaleza dos romanos ou mais antiga. Aqui neste sítio se tem achado relógios de ouro e dizem, é tradição, que também se acharam pratos de prata.
O que afirmo sub salvis e assino esta, que escrevi hoje em Rio Torto, catorze de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito e, comigo, os párocos abaixo nomeados.
O Encomendado,
João Álvares
O Pároco de Miradeses, Manuel Lopes
O Pároco de Nossa Senhora das Neves, Padre Baltazar Fernandes de Figueiredo
No penúltimo parágrafo, é feita referência a umas ruínas de "uma antiga fortaleza, onde se têm achado relógios de ouro e pratos de prata.".
ResponderEliminarQue lugar é este? Trata-se de algum Castro? Desconheço a existência de algo do género em Rio Torto. Alguém me poderá esclarecer?
Obrigado