sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias - ÁGUA REVÉS

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Estando ainda por finalizar esta série documental das Memórias Paroquiais das freguesias que pertencem actualmente ao concelho de Valpaços, segue-se a transcrição do documento da antiga freguesia de Água Revés (Vila e termo) hoje de Água Revés e Crasto, a primeira freguesia pela ordem alfabética. Lamentavelmente, não se torna ainda possível transcrever o documento relativo à freguesia de Padrela, uma vez que a cópia de que dele disponho é praticamente ilegível.  

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 1, ÁGUA REVÉS, Moncorvo
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 1, n.º 46, p. 341 a 344]

Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral.
Satisfazendo os interrogatórios que por ordem de Vossa Mercê me foram entregues e com esta remeto, não se oferece dizer mais que o seguinte, sobre a Terra, por não haver nela Serra, nem Rio de que faça menção.
A Vila de Água Revez fica na Província de Trás-os-montes, no Arcebispado de Braga Primaz, pelo Governo Secular pertence à Correição da Torre de Moncorvo. É freguesia de S. Bartolomeu que é orago da mesma Vila. É Abadia apresentada pela Sereníssima Casa de Bragança, mas o Senhorio da Terra foi, até ao último de Janeiro de 1758, o Senhor Luís Guedes de Miranda, último administrador da antiga Casa de Murça; por falecimento deste e por falta de sucessão legítima, tomou posse a Coroa no mês de Fevereiro do mesmo ano.
Tem esta Vila cinquenta vizinhos e duzentas e nove pessoas.
Está situada em uma Ladeira que desce do Poente a Nascente e subindo o meio dela para Poente, [avista-se] o lugar de Valpaços, o de Vale de Salgueiro e o de Argeriz; o primeiro dista légua e meia, o segundo duas e meia, o terceiro uma légua, e todo o terreno da terra quente, do Norte para o Sul, finaliza o horizonte desta vila na serra de Siabra, Reino de Castela, em distância de dezoito léguas [permeando] desta Vila à dita serra os três referidos lugares e outros muitos do Reino de Portugal que se não avistam, e muitos rios sendo o último, o celebrado Douro.
É esta dita Vila cabeça de um pequeno Concelho que compreende duas Quintas, uma chamada Carreira Martinho, que tem dez vizinhos e vinte e nove pessoas, e outra chamada Brunhais, que tem trinta e sete vizinhos e cento e quinze pessoas, tem um lugar chamado Fonte Mercê, que tem trinta e nove vizinhos e pessoas cento e quarenta, e vem a ter todo o Concelho, Vila e seus Lugares, cento e trinta e seis vizinhos e quatrocentas e noventa e três pessoas actualmente.
A Paróquia que tem por orago S. Bartolomeu está situada no princípio da Vila trinta passos desviada dela e das primeiras casas em que se forma sua rua, e todos os referidos Lugares que tem o Termo e Concelho, lhe são sujeitos e fazem uma só Freguesia. Tem a dita Igreja quatro Altares, sendo o primeiro dele o maior em que está o Santíssimo Sacramento e não tem a Capela-Mor; outro no Corpo da igreja que é antiquíssimo e sem naves, nem especial pedraria; se acham da parte direita dois altares, o primeiro em que se venera a Senhora Santa Catarina, o segundo que está metido no corpo da parede da mesma igreja se adora uma veneranda Imagem do Senhor Santo Cristo, em uma cruz pregado, a mais devota que se encontra em toda a Província; da parte esquerda em um Altar que dá costas à Capela-Mor está a Senhora do Rosário, e não tem mais Altares. Destas Imagens, a do Senhor Santo Cristo, em que o Povo tem singular devoção, tem feito prodigiosos milagres em muitas pessoas e animais servis, restituindo-lhes a vida de que tinham pouca esperança. Tem duas Irmandades, a do Santíssimo Sacramento e a das Almas.
O Pároco é Abade apresentado pela Sereníssima Casa de Bragança, percebe [recebe] de Dízimos um ano por outros duzentos mil réis, fora o incerto do pé do Altar que renderá trinta até quarenta mil réis.
Não tem Beneficiados, nem Conventos, nem Hospital, nem Casa de Misericórdia.
Tem no fundo da Vila uma Capela de S. Sebastião que descobre a rua toda até o cimo e a quem se faz a sua festa no seu dia, não ttm que ponderar [apreciar] por ser ordinária. Tem outra, [a um] quarto de légua fora da Vila, com a invocação da Senhora da Ribeira, prodigiosa Imagem, para tirar as sezões  [febre], ou maleitas, àqueles que com a sua camisa, andando com elas, lhe vão varrer a sua Capela, que também não tem que notar no material e feitio; faz-se-lhe a sua festa ao 21 de Novembro. Tem outra Ermida com a invocação da Senhora do Ó no lugar de Brunhais, que se festeja aos 18 de Dezembro. Tem outra Ermida com a Imagem do Salvador do Mundo dentro do lugar de Fonte Mercê, que se festeja no dia da Transfiguração do Senhor. São todas sujeitas à própria paróquia da freguesia [e] não concorre a elas romagem, só nos seus dias à sua festa a maior parte da gente do concelho.
Os frutos que a terra dá e que os moradores recolhem com mais abundância [são] centeio e azeite, os mais géneros de trigo, graduras [feijões], linho e castanha, vinho e hortaliças; são em pouca quantidade por serem as terras de ladeira e de pouco fundo, sem águas de rega e muito quentes.
Tem Juiz Ordinário, que despacha por assessor as causas cíveis e crimes, que eram apeladas para a Ouvidoria da Vila de Murça enquanto o Senhor Luís Guedes de Miranda foi Donatário, e seus predecessores, desta terra e das mais de seu estado; presentemente são apeladas para a Correição de Moncorvo. Tem Casa da Câmara e todos os oficiais que lhe são respectivos, cadeia e pelourinho e fica dito que é Termo e Concelho sobre si e demarca por todos os lados com o Termo da Vila de Chaves.
Não consta que saíssem dela homens de avultadas façanhas que mereçam na história singular menção, nem em Letras, nem em virtudes, exceptuando o comum, que são domáveis, belos soldados e servem bem a Sua Majestade.
Não tem feira forra, nem cativa, e o Correio de que usa é o da Vila de Chaves que dista desta três léguas e a Cidade de Braga capital do Arcebispado, vinte e duas, e a de Lisboa capital do Reino sessenta e duas.
Não tem privilégios, nem coisas dignas de memória.
Tem duas fontes, uma no princípio da Vila, a que chamam a Fonte da Igreja, de pedra de cantaria e na sua frente um nicho com a Imagem de S. João, falta nela suas águas no Julho, Agosto e Setembro, dizem que por tomarem outra corrente, depois que a formaram de novo. Tem outra que dá água com abundância todo o ano, em prado que fica no fundo da Vila [que] está lájea [coberta] e pouco asseada. As águas de uma e outra fonte são singulares tanto para a saúde como para o gosto, a cor delas, no tempo que costumam rebentar as fontes, [é] branca como leite e sempre ficam inclinadas a esta cor, por serem as veigas donde saem de pedra lousinha.
Não é Porto de Mar, nem é murada, nem padeceu ruína no Terramoto de 1755.
Estão na forma ponderada os interrogatórios, desde o primeiro até 27, respectivos a esta Terra, satisfeitos com toda a verdade sem afectação nem diminuição, o que juro aos Santos Evangelhos e que não há nela nem serra, nem rio, o que também certificam os dois Párocos mais vizinhos que vão assinados, e para o mais que for obedecer a vossa mercê tem a minha vontade certa e súbdita. Deus guarde a vossa mercê muitos anos. Água Revés, 17 de Março de 1758.

De vossa mercê, Capelão, Servo e Súbdito,
O Abade José Rodrigues Álvares.

O Pároco do Crasto, o Padre João Lopes.
Santa Maria d’Emeres, Pároco Francisco Martins.

Informação da Vila de Água Revés e suas circunstâncias.

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