terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Para lá do Douro - Memórias da quase esquecida batalha do Côa

Por Leonel Salvado

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Foi sobre a estreita ponte de curva apertada situada a 3 km da Vila de Almeida sobre terreno bastante íngreme onde corre o rio Côa em leito profundo e rodeada por acentuados declives de ásperos terrenos rochosos atravessados por numerosos muros de pedra que sucedeu, no dia 24 de Julho de 1810, o primeiro encarniçado combate da terceira invasão francesa, um dos mais dramáticos sucessos da Guerra Peninsular, entendido como dos mais decisivos para o triunfo anglo-luso na batalha das Linhas de Torres Vedras que se seguiu. Não obstante, a batalha ou combate do Côa, continua a ser um dos menos conhecidos confrontos militares desta Guerra.

Contando com a capacidade de resistência da moderna praça-forte de Almeida, a estratégia definida por Wellington para derrotar os franceses que entravam em Portugal por Vilar Formoso procedentes de Ciudad Rodrigo, compreendia a maior desertificação e destruição de víveres possível no planalto que se estende para sul e acções de guerrilha confiadas a milícias e ordenanças lusas sob as ordens de oficiais britânicos com o claro propósito de desmoralizar o adversário e, pela mesma sorte, atrasar a marcha de Massena sobre a capital de modo a proporcionar a melhor escolha e preparação do terreno para um primeiro embate massivo mais vantajoso para a aliança anglo-portuguesa (o que veio a materializar-se no Buçaco a 27 de Setembro) e ganhar tempo para uma mais eficiente construção das Linhas de Torres que vinha decorrendo em ritmo acelerado sob absoluto sigilo.

Tal estratégia não impediu a que as forças aliadas da Divisão Ligeira luso-britânica comandadas pelo Brigadeiro-General Robert Craufurd compostas por cerca de 5700 portugueses e britânicos se vissem forçadas a retirar em direcção à ponte perante o avanço dos 9800 franceses que compunham o 6.º corpo do exército de Massena comandado pelo Marechal Michel Ney. O início do combate desenrolou-se a cerca de 600 metros a sudeste do forte de Almeida onde se estabelecera a linha defensiva dos aliados. Numa primeira vaga, os franceses avançaram em força contra estes com os 13 batalhões de infantaria de Loison que logo foram desbaratados por 3 batalhões britânicos e dois batalhões de caçadores portugueses. Mas o súbito e inesperado ataque do 3º Regimento de Hussares provocou a maior desordem nas hostes anglo-lusas, que sofreram as suas primeiras baixas (12 mortos ou feridos e 45 prisioneiros) pelo que pouco depois Craufurd deu ordem de retirada em direcção ao Côa e ordenou à maior parte das forças para atravessarem a ponte e se posicionassem na margem ocidental ficando a outra parte do exército do lado oriental com ordens para retardar o inimigo tanto quanto possível. Rompida a defensiva dos aliados na margem oriental foi a muito custo e com pesadas baixas (333 homens) que se retiraram sobre a ponte sob cobertura de fogo dos batalhões anglo-lusos posicionados na margem oposta. A batalha, progressivamente mais encarniçada, prosseguiu a partir desse momento, pela posse da ponte. Os aliados conseguiram impedir todas as tentativas dos franceses para se apoderarem dela, mas as testemunhas coevas traçam um retrato terrífico do confronto asseverando que Craufurd esteve muito perto de ver os seus homens sofrerem o desastre total. Perante a coragem e determinação reveladas pelos soldados e oficiais em defender a todo o custo a ponte, Ney cedeu e ordenou a retirada concentrando-se a partir de então na tomada de da praça-forte de Almeida que mais tarde, efectivamente viria a capitular mas reteve aí o inimigo o tempo que foi preciso para se organizarem as linhas defensivas aliadas.

Em memória dos portugueses e britânicos que tombaram neste Combate do Côa foi erigido um modesto monumento sobre um afloramento granítico próximo da ponte que se vê na imagem. 

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