quinta-feira, 24 de junho de 2010

650º Aniversário do nascimento de Nuno Álvares Pereira



D. Nuno Álvares e Trás-os-Montes
Trata-se de uma das mais consagradas figuras da História Nacional, tanto no plano temporal – o Condestável – como no plano espiritual – o Beato Nuno. Por outro lado, costuma ser invocado como uma das personagens ilustres de Trás-os-Montes, pela sua ligação a esta província, por via do seu casamento, em 1376,  com D. Leonor de Alvim, uma senhora oriunda de uma abastada família em terras de Basto mas  tida por alguns autores, designadamente o Dr. Barroso da Fonte, como natural de Reboreda, freguesia de Salto, concelho de Montalegre e que havia casado,  em primeiras núpcias, com Vasco Gonçalves Barroso, alcaide do Castelo de Montalegre. Do seu enlace com Nuno Álvares que foi com ela viver para Pedraça, em terras de Basto, um prolongamento das terras do Barroso, nasceram três filhos, dos quais apenas sobreviveu Beatriz ou Brites, a única do sexo feminino, que viria a  casar-se em 1401 com o infante D. Afonso, filho bastardo de D. João I, indo o casal viver para Chaves até 1412, quando Brites aí morreu de parto. Pretende-se que foi da herança patrimonial do Condestável em favor do genro, em títulos (o condado de Barcelos) e terras (no entre Douro e Minho incluindo as do Barroso e em outras regiões do país) em conjunto com o dote que o Mestre de Avis quis atribuir ao filho que foi fundada a Casa de Bragança. De 1640 ao fim da monarquia, a Casa de Bragança garantiu ao país a necessária continuidade dinástica. Mas muito antes deste legado genético se revelar de grande utilidade para a monarquia portuguesa, D. Nuno Álvares Pereira cometeu os mais admiráveis feitos militares de que há memória e de que logo que se fizeram eco os nossos primeiros cronistas, desde Fernão Lopes, pois a ele se deveram em grande parte os sucessos obtidos sobre os castelhanos em várias (inéditas!) batalhas, das quais a referência mais popular foi a batalha de Aljubarrota. Salvaguardada a integridade da soberania portuguesa, Nuno Álvares Pereira despojou-se de todos os bens materiais e se fez monge na ordem carmelita por ele instituída no Convento do Carmo. A sua beatitude tornou-se de imediato popular e ao longo dos séculos ela foi oscilando até que, a 26 de Abril de 2009, o Papa Bento XVI entendeu dispor de argumentos bastantes para o inscrever no álbum dos Santos.

A família
Nuno Álvares Pereira nasceu em Portugal a 24 de Junho de 1360, muito provavelmente em Cernache do Bonjardim, sendo filho ilegítimo de fr. Álvaro Gonçalves Pereira, cavaleiro dos Hospitalários de S. João de Jerusalém e Prior do Crato, e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal. Cerca de um ano após o seu nascimento o menino foi legitimado por decreto real, podendo assim receber a educação cavalheiresca típica dos filhos das famílias nobres do seu tempo. Aos treze anos torna-se pajem da rainha D. Leonor, tendo sido bem recebido na Corte e acabando por ser pouco depois armado cavaleiro. Aos dezasseis anos casa-se, por vontade de seu pai, com uma jovem e rica viúva, D. Leonor de Alvim. Da sua união nascem três filhos, dois do sexo masculino, que morrem em tenra idade, e uma do sexo feminino, Beatriz, a qual mais tarde viria a desposar o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.


O Condestável
Quando o rei D. Fernando I morreu a 22 de Outubro de 1383 sem ter deixado filhos varões, o seu irmão D. João, Mestre de Avis, viu-se envolvido na luta pela coroa lusitana, que lhe era disputada pelo rei de Castela por ter desposado a filha do falecido rei. Nuno tomou o partido de D. João, o qual o nomeou Condestável, isto é, Comandante supremo do exército. Nuno conduziu o exército português repetidas vezes à vitória, até se ter consagrado na batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), a qual acaba por determinar à resolução do conflito.


O Beato Nuno
Os dotes militares de Nuno eram no entanto acompanhados por uma espiritualidade sincera e profunda. O amor pela eucaristia e pela Virgem Maria são a trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas. Assistia diariamente à missa, embora só pudesse receber a eucaristia por ocasião das maiores solenidades. O estandarte que elegeu como insígnia pessoal traz as imagens do Crucificado, de Maria e dos cavaleiros S. Tiago e S. Jorge. Fez ainda construir às suas próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de S. Maria da Vitória, na Batalha.

Com a morte da esposa, em 1387, Nuno recusa contrair novas núpcias, tornando-se um modelo de pureza de vida. Quando finalmente se alcançou a paz, distribui grande parte dos seus bens entre os seus companheiros, antigos combatentes, e acabo por se desfazer totalmente daqueles em 1423, quando decide entrar no convento carmelita por ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria. Impelido pelo Amor, abandona as armas e o poder para revestir-se da armadura do Espírito recomendada pela Regra do Carmo: era a opção por uma mudança radical de vida em que sela o percurso da fé autêntica que sempre o tinha norteado. Embora tivesse preferido retirar-se para uma longínqua comunidade de Portugal, o filho do rei, D. Duarte, de tal o impediu. Mas ninguém pode proibir-lhe que se dedicasse a pedir esmola em favor do convento e sobretudo dos pobres, os quais continuou sempre a assistir e a servir. Em seu favor organiza a distribuição quotidiana de alimentos, nunca voltando as costas a um pedido. O Condestável do rei de Portugal, o Comandante supremo do exército e seu guia vitorioso, o fundador e benfeitor da comunidade carmelita, ao entrar no convento recusa todos os privilégios e assume como própria a condição mais humilde, a de frade Donato, dedicando-se totalmente ao serviço do Senhor, de Maria - a sua terna Padroeira que sempre venerou -, e dos pobres, nos quais reconhece o rosto de Jesus.

Significativo foi o dia da morte de frei Nuno de Santa Maria, o domingo de Páscoa, 1 de Abril de 1431, passando imediatamente a ser reputado de “santo” pelo povo, que desde então o começa a chamar “Santo Condestável”.

Mas, embora a fama de santidade de Nuno se mantenha constante, chegando mesmo a aumentar, ao longo dos tempos, o percurso do processo de canonização será bem mais acidentado. Promovido desde logo pelos soberanos portugueses e prosseguido pela Ordem do Carmo, depara com numerosos obstáculos, de natureza exterior. Foi somente em 1894 que o Pe. Anastasio Ronci, então postulador geral dos Carmelitas, consegue introduzir o processo para o reconhecimento do culto do Beato Nuno “desde tempos imemoriais”, acabando este por ser felizmente concluído, apesar das dificuldades próprias do tempo em que decorre, no dia 23 de Dezembro de 1918 com o decreto Clementissimus Deus do Papa Bento XV.


As relíquias
As suas relíquias foram trasladadas numerosas vezes do sepulcro original para a Igreja do Carmo, até que, em 1961, por ocasião do sexto centenário do nascimento do Beato Nuno, se organizou uma peregrinação do precioso relicário de prata que as continha; mas pouco tempo depois é roubado, nunca mais tendo sido encontradas as relíquias que contivera, tendo sido depostos, em vez delas, alguns ossos que tinham sido conservados noutro lugar. A descoberta em 1966 do lugar do túmulo primitivo contendo alguns fragmentos de ossos compatíveis com as relíquias conhecidas reacendeu o desejo de ver o Beato Nuno proclamado em breve Santo da Igreja.


O Santo
O Postulador Geral da Ordem, P. Felipe M. Amenós y Bonet, conseguiu que fosse reaberta a causa, que entretanto era corroborada graças a um possível milagre ocorrido em 2000. Tendo sido levadas a cabo as respectivas investigações, o Santo Padre, Papa Bento XVI, dispõe a 3 de Julho de 2008 a promulgação do decreto sobre o milagre em ordem à canonização e durante o Consistório de 21 de Fevereiro de 2009 determina que o Beato Nuno seja inscrito no álbum dos Santos no dia 26 de Abril de 2009.

Referências


- http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/2009/ns_lit_doc_20090426_nuno_po.html (adaptado)
- Barroso da Fonte, Nuno Álvares Pereira: um santo que foi senhor de Trás-os-Montes, in Notícias do Douro, 6 de Março de 2009 | disponível em http://www.dodouro.com/noticia.asp?- - idEdicao=253&id=14973&idSeccao=2811&Action=noticia
Imagens: idem et http://heroismedievais.blogspot.com/2008/07/nuno-lvares-pereira-condestvel-de.html

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