Por Leonel Salvado
DICCIONARIO GEOGRAFICO OU NOTICIA HISTORICA DE TODAS AS CIDADES, VILLAS, LUGARES, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ, assim antigas, como modernas… d’o Padre Luiz Cardoso
TOMOII
1752
[p.775]
CURROS. Lugar da Provincia de Traz os Montes, Arcebispado de Braga, Comarca, e Termo de Chaves: tem ioncoenta e quatro fogos. A Igreja Paroquial, dedicada a S. Miguel, tem três Altares, o mayor, o de N. S. das Neves, e o de S. Sebastiaõ. O Paroco é Vigario “ad nutum”, apresentaçaõ do Reytor de S. Nicolao de Carrazedo Montenegro. Rende esta Vigairaria vinte alqueires de centeyo, vinte e seis de trigo, vinte e quatro almudes de vinho, sete arráteis de cera fina, e dez mil e seiscentos reis em dinheiro, que tudo para o Commendador, que he o Marquez de Fronteira; e de cadafregues cobra hum alqueire de centeyo. Colhem de toda a casta de frutos. Passa por este districto o rio Reboredo.
In BNP, Biblioteca Nacional Digital
MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 12 , CURROS, Chaves.
[Cota actual: Vol. 12, n.º 487, p. 3385 a 3392]
Eu, o Padre António Gonçalves, vigário da Freguesia de São Miguel de Curros, Comarca de Chaves, recebi ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral da Comarca de Chaves, no dia vinte e sete de Fevereiro de mil e setecentos e cinquenta e oito anos, com uns interrogatórios para responder. A eles, o teor é o seguinte.
A Província é de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga, Comarca, Termo e Freguesia de São Miguel de Curros, tudo da Comarca de Chaves.
É de El-rei de Portugal, nosso Senhor. Tem duzentos e quinze [pessoas] de sacramento e dezanove menores. Está situada numas serras e montes. Povoações não se descobrem dela nenhumas e dista destas povoações, ditas atrás, meia légua. Tem termo seu, todo tortuoso e pouco lavradio. Os lugares são três: Curros, que é onde está a igreja matriz, Cabanas e Vale do Campo que vem aí à missa. Cabanas tem doze vizinhos, Vale do Campo outros doze, e Curros vinte e sete.
A igreja está no meio do lugar. O orago é São Miguel, altares tem três, o altar maior é de S. Miguel e do Mártir São Sebastião e dos colaterais, um da Imagem do Santo Cristo e o outro de Nossa Senhora das Neves. Naves não há e Irmandades também não. O Pároco é Vigário “ad nutum” da apresentação do Reitor de São Nicolau de Carrazedo de Montenegro e tem de renda trinta a trinta e cinco mil réis. De beneficiados não há nenhum. De conventos, hospital, casa de misericórdia e ermidas, não há que responder. Os frutos que se colhem são pão e vinho, algum trigo, castanha e algum milho, de tudo pouco. Não há juiz ordinário nem câmara. Estão sujeitos ao juiz de fora e câmara da vila de Chaves.
Correio não há e nos servimos do correio da Vila de Chaves, que dista quatro para cinco léguas, chega na Quarta e parte ao Domingo. Dista do Arcebispado de Braga vinte léguas e da cidade de Lisboa, capital, sessenta léguas. Não padeceu ruína nenhuma [do Terramoto de 1755] que haja de dar notícia.
A serra chama-se Lombo Alto, Palhaça, Sobreira Velha, Sobreira Nova, […] e Salgueiral. Tem de comprimento uma légua e um quarto e de largura uma légua. Principia no marco da Lagoa e acaba no marco de Vale de Égua e de largura, uma légua, da Pedra Escrita até ao Salgueiral.
O rio que se acha nesta freguesia é um rio que vem de Carrazedo e neste se mete um regato que principia na Palhaça e outro que principia no Sabugueiro que se chama do Vale e o dito rio corre para Murça e, daí, para baixo.
Vilas não há nenhuma na serra. Lugares há os que ficam ditos acima nas ditas serras que são a do Lombo Alto, Sobreira e Salgueiral. Os lugares que estão nelas e ao largo delas são Curros, Cabanas e Vale do Campo. Por algumas partes [da serra] se semeia centeio, por outras há soutos e vinhas e por outras torgas, urzes e não mais. É tão fria que não cria senão montes que nem erva criam. Não há fojos nem lagoas.
Vilas não há nenhuma na serra. Lugares há os que ficam ditos acima nas ditas serras que são a do Lombo Alto, Sobreira e Salgueiral. Os lugares que estão nelas e ao largo delas são Curros, Cabanas e Vale do Campo. Por algumas partes [da serra] se semeia centeio, por outras há soutos e vinhas e por outras torgas, urzes e não mais. É tão fria que não cria senão montes que nem erva criam. Não há fojos nem lagoas.
O rio não tem nome próprio, senão os dos lugares por onde passa, como o rio de Curros. O sítio de onde nasce é do termo de Padrela. Não nasce caudaloso, vem-se juntando a algumas lagunas e todo o ano corre pouco ou muito. Neste rio não entram outros rios senão os regatos,que já dissemos, o da Sobreira e o do Vale. Não é navegável nem capaz de embarcações. É arrebatado quando há trovoadas em que vêm as águas das serras. Corre de Norte para Sul. Os peixes que cria são peixes miúdos e algumas trutas. Não há pescarias. O rio é comum sem ter senhorios. Nas suas margens não há árvores de fruto, senão alguns amieiros que não dão fruto.
As suas águas não têm virtude nenhuma senão para beber a gente e os gados. Não consta que tivesse outro nome nunca, senão o de rio de Curros, nem outro diferente até ao presente.
Este mete-se no rio Tua que vai juntar-se com o que vai de Mirandela, que todos correm para o mar. Não há cachoeiras nem represas, senão uns açudes de moinhos e pisões e o rio não é navegável. Não há pontes de cantaria, só há duas de pau, uma que chamam a do Ribeiro e outras dos Salgueiros. Moinhos e pisões alguns há, lagares de azeite e noras ou outro engenho não há. Os povos usam livremente de suas águas sem pensão e as águas alguns anos secam.
O seu nascimento, que já o disse acima, é em Padrela. Passa por S. João da Corveira e Carrazedo de Montenegro e, deste, por Curros para baixo, por Penabeice, Mascanho e Murça, nada mais. E outra coisa que houve de muito notável foi que no dia de São João de 1757 houve grandes trovões, com pedra, que destruíram os frutos e levaram medas de pão e gados e as águas arrasaram os mais frutos.
E não se continha mais nos interrogatórios que respondi, com devido respeito, fielmente como se me ordenava.
E por ser verdade, assino e juro in verbo sacerdotis, Curros, hoje cinco de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
Este mete-se no rio Tua que vai juntar-se com o que vai de Mirandela, que todos correm para o mar. Não há cachoeiras nem represas, senão uns açudes de moinhos e pisões e o rio não é navegável. Não há pontes de cantaria, só há duas de pau, uma que chamam a do Ribeiro e outras dos Salgueiros. Moinhos e pisões alguns há, lagares de azeite e noras ou outro engenho não há. Os povos usam livremente de suas águas sem pensão e as águas alguns anos secam.
O seu nascimento, que já o disse acima, é em Padrela. Passa por S. João da Corveira e Carrazedo de Montenegro e, deste, por Curros para baixo, por Penabeice, Mascanho e Murça, nada mais. E outra coisa que houve de muito notável foi que no dia de São João de 1757 houve grandes trovões, com pedra, que destruíram os frutos e levaram medas de pão e gados e as águas arrasaram os mais frutos.
E não se continha mais nos interrogatórios que respondi, com devido respeito, fielmente como se me ordenava.
E por ser verdade, assino e juro in verbo sacerdotis, Curros, hoje cinco de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O Vigário, Padre António Gonçalves
O Vigário de São Pedro de Padrela, Francisco Fernandes de Carvalho
O Vigário de Nossa Senhora da Assunção de Tazém, Eleutério de Albuquerque
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