domingo, 11 de setembro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – FORNOS DE PINHAL

Por Leonel Salvado


MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 16, FORNOS DE PINHEL [leia-se FORNOS DE PINHAL], Monforte de Rio Livre.
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 16, n.º 135, p. 851 a 854]

Fornos do Pinhal
Província de Trás-os-Montes, Bispado de Miranda do Douro, Comarca de Torre de Moncorvo, termo de Monforte de Rio Livre, anexa do Benefício de Santa Valha. É do donatário que é o Conde de Atouguia. Tem cento e quatro vizinhos e trezentas e vinte e quatro pessoas de sacramento. Está situado num vale e descobre-se dela o povo da Bouça e o de Vale de Telhas que dista, cada um deles, uma légua. Tem termo seu que terá meia légua em circuito e não compreende lugar nem aldeia alguma. Está a paróquia dentro do lugar e não tem mais lugares nem aldeias. O seu orago é da colação de São João Baptista e tem somente três altares, o altar maior do orago e os dois colaterais, um de Nossa Senhora do Ó e outro de São Sebastião. Não tem Irmandade alguma. O seu pároco é Cura por apresentação do Abade de Santa Valha e tem de rendimento cinquenta mil réis, pouco mais ou menos. Tem duas ermidas, uma de Nossa Senhora com o título do Prado, no fim do povo saindo para Santa Valha, que pertence ao povo, e outra de Santo António, no fim do povo saindo para Vale de Telhas, que pertence a Francisca de Morais, mulher nobre. À capela da Senhora do Prado concorrem muitos romeiros, especialmente a oito de Setembro. É Senhora de muitos milagres. Os frutos da terra que os moradores recolhem medianamente são pão, centeio, vinho, azeite, castanha e feijão, porém disto pouco. Não tem juiz ordinário nem câmara, está sujeito ao juiz e Câmara de Monforte de Rio Livre e ao Corregedor e Provedor de Moncorvo. Não tem correio, serve-se do correio de Chaves que dista quatro léguas. Dista da cidade capital de Bispado dezoito léguas e de Lisboa, capital do Reino, setenta.
Quanto à serra não há que dizer por causa de o povo distar longe das serras.
À distância de quase meia légua deste povo passa um rio que se chama Rabaçal. Nasce no Reino da Galiza mas não se sabe como se chama o sítio. Não se sabe se nasce logo caudaloso. Corre todo o ano. Entra nele uma ribeira chamada do Calvo. Esta, em partes é útil para os campos porquanto os moradores regam prados e linhóis e em partes são as suas margens inférteis e despenhadeiras. Passa na distância deste povo meio quarto de légua pela parte do poente e morre no Rabaçal, na parte do Sul, no sítio chamado Gasalho. Não é navegável nem capaz de embarcações. É de curso arrebatado em toda a sua distância. Corre da parte do Norte para a do Sul. Cria peixes em abundância e suas espécies originais são barbos e bogas. Não se cultivam as suas margens de uma parte e de outra por serem muito despenhadeiras e terem muitas árvores silvestres. Sempre conserva o mesmo nome Rabaçal e não consta que em nenhum tempo tivesse outro nome ou princípio de o ter. Morre no rio Tuela, por cima da Vila de Mirandela. Tem cachoeiras, açudes, é fragoso e de arrebatado curso que lhe impede o ser navegável.
Tem uma ponte de pedra bem lavrada, com suas grandes colunas em cantaria bem fabricada no sítio de Barca, limite de Vale de Telhas, termo de Mirandela. Tem moinhos e azenhas de moer pão e não consta que tenha outro engenho algum. Não consta que em nenhum tempo tirassem da sua área ouro nem outra casta de metal. Não usam os povos de suas águas por causa de suas margens, de uma parte, e noutra serem infabricáveis. Dizem que terá doze ou treze léguas, pouco mais ou menos, e não consta que passe por povoação alguma. E não há mais coisa alguma digna de memória.

O Padre João Nogueira Souto
[Sem data]

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