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Lembrada como Outeiro que bole, Pedra bolideira, ou simplesmente bolideira, como outrora era conhecida, trata-se de mais um monumento desaparecido de Valpaços que no dealbar do século passado servia como um dos cartões de visita da Vila, como se pode ver pelo número 12 da colecção de postais da época, editada pala Casa Sesinando Chaves (fundada em 1894) e que obtive a partir do Blogue da Rua Nove, para servir de base para a reconstituição que aqui apresento. Situava-se na margem esquerda da Estrada Nacional 206, a poucos metros metros de distância do Cemitério Municipal em direcção a Carrazedo de Montenegro, numa propriedade da família Tavares, no Bairro do Monte Pequeno. Quantos valpacenses se lembrarão certamente deste curioso megálito da sua meninice, que, apesar de já se encontrar mutilado, servia ainda como um dos locais favoritos para as suas brincadeiras, à saída da escola!
A "pedra que bole" de Valpaços, no início do século XX
desenho e guache de Leonel Salvado
desenho e guache de Leonel Salvado
Tal como já havíamos dito no artigo A bolideira de Valpaços, publicado na categoria Curiosidades [local/regional] deste blogue, o monumento media 7 metros de comprimento, 4,50 de largura e 3,15 de altura. A estima e preocupação pela preservação e integridade deste admirável monumento megalítico remonta expressamente aos finais do século XIX por parte de homens da terra como foi o caso do ilustre autodidacta na investigação arqueológica e cultural, Joaquim de Castro Lopo e por parte ainda de outros figuras de renome nacional, como foi o caso do etnógrafo J. Leite de Vasconcelos que a estudou, reproduziu em desenho e a publicou na sua obra Religiões da Lusitânia. Não serviram, porém a dedicação de um e de outro para evitar que o pior viesse a acontecer: Em 1919 a Pedra que bole foi fendida a meio com uma carga de dinamite. A notícia foi de imediato publicada, com grande pesar, no Comércio do Porto, ao que creio, a avaliar pelas iniciais do respectivo autor, por Joaquim de Castro Lopo, nos seguintes termos:
«Pedra que bole
Valpaços, 1. – Hoje foi destruída por pedreiros a “Pedra que bole”, desta villa. Era uma pedra balouçante de 7 metros de comprimento, 4,6 de largura e 3,15 de altura. Curiosidade única desta Vila, era visitada por quantos aqui passavam. A “Padra que bole” estava vulgarizada em bilhetes postais e dela vem um desenho nas “Religiões da Lusitania”, vol I, p. 400, do Dr. J. Leite de Vasconcelos. Não houve nada que justificasse tam bárbaro vandalismo! – (C. L.).
(Do "Comércio do Porto", 1919)»Transcrição da revista O Arqueólogo Português.
Apesar de fendido, o megálito continuou a ser visitado e uma parte dele ainda oscilava, com emprego de ligeiro esforço, continuando a admirar os visitantes e, fazendo a maravilha da pequenada. Quando em 1944 o Padre João Vaz de Amorim dela falou, num artigo publicado na revista “Aquae Flaviae”, encontrava-se a “bolideira de Valpaços” ainda neste estado, não se escusando o autor de lamentar o facto de se encontrar mutilada, e deixar um apelo no sentido da sua preservação futura. Vejamos um excerto desse artigo:
«É um monumento megalítico e acerca do seu destino e significado são várias as opiniões entre os arqueólogos.[…] Mas seja qual for a sua interpretação científica, a verdade é que tais características da arquitectura pré-histórica merecem estudo, e são dignas de respeito e veneração das pessoas cultas. Apesar de já se encontrar algo mutilado, conviria preservar este valioso monumento de maiores atentados e fazer por que fosse elevado à categoria de monumento nacional.»
in Revista Aquae Flaviae, n.º 14, 1995, p.211 Debalde foi, porém, mais este apelo às pessoas cultas de Valpaços, pois, para surpresa ainda maior de entre alguns valpacenses desta categoria, em data posterior àquela publicação do Padre Amorim, que não consegui apurar com exactidão, o que restava do monumento foi irremediavelmente destruído. Sobre mais este lamentável acto escreveu José Lourenço Montanha de Andrade:
«Outeiro que bole:
[…]Começou por ser mutilada, mas apesar disso, ainda oscilava com emprego de ligeiro esforço, tendo mais tarde sido completamente destruída por acção de alguém da J.A.E., com que intenção, não sabemos.[…]
Foi pena que este monumento da Pré-História não tivesse sido preservado.
in Valpaço-Lo-Velho, caderno cultural 6, C. M. Valpaços, 2001, p. 21Agradecimento: Um especial agradecimento ao Sr. José Lourenço Montanha de Andrade pelas informações que gentilmente me proporcionou em relação à localização do monumento aqui retratado.
Reconstituição: Desenho e guache de Leonel Salvado
Reconstituição: Desenho e guache de Leonel Salvado
A foto dessa pedra oscilante também pode ser vista em
ResponderEliminarhttp://www.prof2000.pt/users/avcultur/postais/ValpacosPost01.htm
Euroluso:
ResponderEliminarFico-lhe grato pela informação. Não conhecia este site! O mesmo postal também se pode ver em dois espaços deste blogue(incluindo na barra lateral), que fomos encontrar em:
http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/2007/09/?page=17
Bem-haja e, já agora, Boas Festas e Próspero Ano Novo