Por Leonel Salvado
António Bernardino da Cruz
Coutinho | foto: José António Soares da Silva,
O Partido Progressista
em Valpaços, 1886 – 1910, CMV, 2006 (adaptado) |
moldura:
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Nasceu no primeiro dia do mês de
Setembro de 1869 na vila de Valpaços. Foi filho de Luís Rodrigues da Cruz
Coutinho, “médico cirúrgico” aqui
radicado e proprietário, oriundo de Alvações do Corgo, Santa Marta de
Penaguião, e de Maria de Jesus Lopes, natural da mesma vila de Valpaços.
É recordado como personalidade benquista
e assim admirada e respeitada em Valpaços, não em virtude das suas habilitações
literárias, que foram limitadas, mas do seu carácter espirituoso, singular
inteligência e argúcia e invejável sucesso obtido nos empreendimentos agrícolas
a que se dedicou.
Adquiriu, também por isso, desde muito
jovem, significativa notoriedade no exercício de cargos de responsabilidade pública
e notável afirmação na vida político-partidária da sua terra natal.
No ano de 1887, com apenas 18 anos de
idade, foi administrador substituto do concelho de Valpaços.
Em 1894 casou na mesma vila com Maria
Cândida de Sousa Gavaias, de 32 anos de idade, filha natural de Maria da
Trindade, ambas também naturais da freguesia
de Santa Maria Maior de Valpaços.
Enquanto o partido Regenerador
definhava, o seu interesse pela actividade partidária ao lado dos Progressistas
proporcionou-lhe a entrada para a comissão executiva do respectivo partido em
1897, o ano que representa o momento áureo das actividades do mesmo partido em
Valpaços. Cruz Coutinho pertenceu, juntamente com os demais membros da mesma
comissão, à “Assembleia Geral Instaladora
da Confraria de Nossa Senhora da Saúde” e à “Comissão Promotora” da Construção da mesma capela, contribuindo com
vários donativos para a mesma comissão e para a instituição hospitalar que
ainda estava em obras desde 1882. Foi também um dos primeiros “Irmãos” inscritos em 1897 na confraria
que ajudou a criar.
Em 12 de Dezembro de 1901, Cruz Coutinho
foi o primeiro signatário da carta enviada ao conde de Vila Real, líder
distrital do partido, expondo a deplorável situação que se vivia no Centro Progressista de Valpaços em consequência
da demissão do Presidente da comissão executiva, Dr. Francisco José de
Medeiros. O mesmo sucedeu em 22 de Junho de 1906 na carta enviada aos
correligionários para, segundo as instruções chegadas do líder distrital, se
realizar no 1º dia do mês seguinte uma reunião com vista a nova reconstituição
do partido com uma nota sobre a expressa disposição do conde de Vila Real para
aceitar presidir a nova comissão. Finalmente, na data combinada, 1 de Julho,
Bernardino da Cruz Coutinho integrou a nova comissão executiva como 2º
Secretário. Pouco mais se fez, porém, nos quatro anos que se seguiram até á
dissolução do Partido em 11 de Outubro de 1910.
Entre 1905 e 1908 foi por quatro vezes presidente da câmara de Valpaços cumprindo inicialmente três mandatos sucessivos.
Em 1909, por outro lado, António
Bernardino da Cruz Coutinho gozava da reputação de abastado proprietário
valpacense, exportador de azeite e viticultor.
Diga-se apenas a título de curiosidade
que, para além da sua intensa actividade político-partidária em Valpaços e da
aparente prosperidade devida aos seus empreendimentos agrícolas, o seu nome
também se tornou conhecido fora dos limites do concelho por ter sido sobrinho,
e afilhado de baptismo, de um importante livreiro e editor portuense, António
Rodrigues da Cruz Coutinho de quem se diz que foi amigo de Guerra Junqueiro e
que este lhe terá dedicado alguns versos satíricos que foram publicados em 1875
no 1.º n.º do jornal “Lanterna Mágica”.
Em 16 de Maio de 1941, António
Bernardino da Cruz Coutinho, já viúvo, lavrou o seu testamento e em 4 de
Fevereiro de 1946 veio a falecer em Valpaços.
Ver uma reprodução artística deste
retrato