Por Leonel Salvado
MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 13, ERVÕES, Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 213, n.º (E) 44, p. 331 a 336]
Está na Província de Trás-os-Montes, termo da Vila e Comarca e Chaves, Arcebispado de Braga. É da jurisdição de Malta, cujos donatários são da Comenda de S. João da Corveira, da mesma religião.
Tem este lugar e freguesia duzentos e vinte vizinhos e pessoas seiscentas e quatro. Está situado na falda de um monte do qual se descobrem os lugares ou aldeias de Argeriz que fica à distância de uma légua, Santiago de Alhariz na distância de duas, Cachão na distância de outras duas e a serra de Santa Comba em meio com toda a sua largura; ela fica na distância de quatro léguas.
Não tem termo seu mas sim limites e compreende sete lugares, o de Sá que tem setenta e cinco vizinhos, o de Ervões sessenta, o de Valongo catorze, o de Alpande vinte e seis, o de Sadoncelho oito, o de Alfonge quinze e o de Lamas vinte e dois.
Está a Paróquia afastada do povo à distância de oitenta [?] passos, pouco mais ou menos, em campo ermo, e compreende sete lugares cujos nomes vão acima nomeados. O orago é o salvador São João Baptista. Tem três altares, o maior, que se denomina de Altar-mor, e dois colaterais, um deles do Santo Cristo e outro de Nossa Senhora do Rosário. Não tem nave alguma mas tem sim quatro Irmandades, a do Senhor, a do Nome de Deus, a de Nossa Senhora do Rosário e a de Santo António.
O Pároco é Reitor apresentado pelo Comendador da Corveira da religião de Malta, colado pelo Vigário Geral dela e tem de renda cento e oitenta mil réis, uns anos por outros. Não tem beneficiados.
Todos os lugares desta freguesia têm capelas e cada uma afastada da povoação dela: A de Sá, capela de Santa Lúcia; a de Valongo, de Nossa Senhora dos Prazeres; a de Alpande, de S. Pedro; a de Alfonge e Sadoncelho, de Nossa Senhora da Expectação; a de Lamas, de São Tiago e São Filipe; a de Ervões, de São Sebastião, cuja capela está dentro do povo. Em muitos dias do ano se frequenta em romagens as capelas da dita Santa Lúcia e Nossa Senhora dos Prazeres e nos seus próprios dias se faz junto a elas feira franca de um só dia.
Os frutos desta terra de maior abundância são pão, vinho e castanha por ser no país natural a qualidade destes géneros.
Está esta terra sujeita ao governo e às justiças da Vila de Chaves.
Há nesta terra quatro homens formados, dos quais dois advogados em Chaves e, além destes, há outro que está aqui ao serviço de sua Majestade e é casado em Vilarandelo.
Não tem correio e serve-se do de Chaves que fica na distância de três léguas.
Dista da cidade capital de Arcebispado dezoito léguas e da cidade capital do Reino sessenta. Tem os privilégios de Malta, porém não se sabe quais e não se lhe sabe outras antiguidades ou coisas dignas de memória. Tem este termo duas fontes humildes de que usa o povo e o gado dele. Não tem porto de mar. Não é murado. Não padeceu no terramoto de mil setecentos e cinquenta e cinco ruína alguma.
Nos confins desta terra há uma serra a que chamam de serra de São Julião cuja parte é no limite do lugar de Sá, desta freguesia de Ervões, e um pedaço dela passa quase de um quarto de légua e está desviada da parte dos moradores daquele lugar. Porém, não é frutífera e só serve para se produzir alguns principais alimentos no tempo de Inverno. Não sei nem me consta do comprimento e largura da dita serra, nem as léguas que compreende nem também os nomes dos principais braços dela. Na dita serra nascem dois rios, ambos do lado da serra, um deles que é o Carriço, a que também se chama Ribeirinho, que fica no limite do lugar de Sá e que corre noutros sítios em que perde o nome de Carriço, no qual há cinco moinhos de que o que fica a maior distância está a três quartos de légua. Tem um moinho de pedra em cujo sítio tem também dois moinhos, também de pão e logo mais abaixo, em pouca distância, há outro moinho, este desviado em meio quarto de légua, num monte de salgueiros, e todo este rio vai tão retirado que a margem dele não é frutífera e, suposto que por ele há algumas ervas e frutas silvestres, percorrem estes lugares somente no Inverno[…]. E [há] outro rio que nasce na mesma serra e no termo do lugar de Vilarandelo, na distância de meio quarto de légua, cujo rio tem o nome da Quadrada […]. Há mais outro rio que nasce num lugar chamado Prado dentro dos limites do lugar de Quintela de Friões, na distância de meia légua, e passa junto aos lugares de Sadoncelho e Alfonge e se mete no rio chamado de Rio Torto […].
Junto à serra estão os lugares de Sá e Vilar de Ouro.
Não há neste distrito fontes de propriedades raras. Não há nele minas de metais, porém há no lugar de Sá uma pedreira só de pedra.
Não há no pedaço da serra plantas ou ervas medicinais, porém, atrás do dito pedaço se cultiva em algumas partes. Não há na dita serra mosteiros, igrejas de romagem nem imagens milagrosas. A qualidade do seu temperamento [da serra] é fria. Alguns lobos se criam nela e alguma caça de coelhos. Não sei se haja lagoas ou fojos notáveis. Também me não consta que haja nela outra qualquer coisa digna de memória.
Chama-se ao rio o Carriço cujo nascimento é no arvoredo da serra no sítio do Ribeirinho, como digo no interrogatório quarto [acima] no qual vai declarado que se serve a povoação tanto deste regato como dos mais que entram nesta terra.
No rio ou regato a que chamam do Carriço e que perde o nome no sítio de Ribeirinho do Pisco [?], neste mesmo sítio tem um pontão de pedra assentado sobre madeira e, mais abaixo, no sítio a que chamam o Salgueiral, tem outro pontão de pedra e algumas poldras. O de Sadoncelho também tem poldras e, logo mais abaixo, um pontão de pedra e poldras num sítio do termo do lugar de Alfonge, tudo dentro desta freguesia de Ervões.
Não há memória que em algum tempo ou no presente se tirasse ouro das areias dos rios. Usam os povos livremente das suas águas para a cultura dos campos. Se este regato nesta terra é comprido devido aos menos, se consoante o é independente, o não sei; a distância pode ser mais de uma légua. Toda a freguesia é muito pouco notável.
Não há memória que em algum tempo ou no presente se tirasse ouro das areias dos rios. Usam os povos livremente das suas águas para a cultura dos campos. Se este regato nesta terra é comprido devido aos menos, se consoante o é independente, o não sei; a distância pode ser mais de uma légua. Toda a freguesia é muito pouco notável.
Mais ao dar o que se procurava por expressões tudo na verdade e forma o escrevi, em o mês de Março, cinco de 1758.
O Reitor Luís Fernandes da Serra
O Pároco de Vilarandelo Manuel de Sequeira Rebelo
O Reitor Manuel Teixeira Pires