sábado, 24 de abril de 2010

25 de Abril há 36 anos

Comemora-se amanhão dia da liberdade e a Revolução dos Cravos. Este é o nome por que ficou conhecido o golpe de Estado militar que derrubou, sem derramamento de sangue e sem grande resistência das forças leais ao governo herdado do regime ditatorial de Oliveira Salazar, servindo o mesmo nome para se referir aos acontecimentos históricos, políticos e sociais que se seguiram ao golpe, até à aprovação da Constituição Portuguesa, em Abril de 1976.

Portugal Ressuscitado



Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.

Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.
Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.

Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.

Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.

Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.


José Carlos Ary dos Santos,
Caxias, 26 de Abril de 1974

Primórdios da História do automóvel

Nicolas-Joseph Cugnot, 1765, 1769 ou 1670. O engenheiro militar ao serviço de Luís XV pode ser considerado como um precursor da produção automóvel e qualquer uma daquelas datas como da fase embrionária do nascimento do automóvel. As duas interpretações são aceitáveis, mas, afinal o que Cugnot fez foi criar, um automóvel na mais verdadeira verdadeira acepção da palavra. A «locomotiva» rodoviária melhorada de 1670, que se encontra no Conservatoire National des arts et métiers, em Paris, movia-se pelos seus próprios meios (a vapor), apesar do seu aspecto bizarro e das suas extremamente limitadas performances (4 Km/hora!), mas com uma apreciável capacidade de carga (até 4 toneladas!!).

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Grupo do projecto «Auschwitz na 1ª pessoa» de regresso a Valpaços

Regressaram no passado dia 20 de Abril, Terça-feira, os professores e alunos da Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Valpaços que no dia 14 do mesmo mês partiram para a Polónia, para estabelecer um contacto pessoal com os seus parceiros polacos do Liceum Stanislawa Konarskiego, em Auschwitz e concretizar assim uma das etapas do projecto de parceria entre as duas Escolas, designado de «Auschwitz na primeira pessoa», da responsabilidade do professor João Coelho, projecto este que se afigurou perfeitamente adequado ao tema da área de projecto do 12º Ano da área de Línguas e Humanidades, ao qual se associou depois o 11º Ano e, como foi divulgado em vários meios de comunicação, veio a ser apadrinhado por Elie Wiesel, prémio Nobel da Paz em 1986, judeu e escritor, sobrevivente dos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald, que se congratulou com a iniciativa e deixou as seguintes palavras de esperança para o futuro em relação aos jovens que nela se envolveram:

É minha convicção que aquele que ouve uma testemunha se torna uma testemunha, por sua vez. Com o vosso conhecimento podeis tornar-vos uma força poderosa na preservação da Memória. Percebe-se que conheceis bem a grande importância da Memória. Espero que se mantenham sempre fiéis ao vosso compromisso de prestar testemunho. Jovens como vós dão-me esperança para o futuro. Continuem a aprender e a ler, mais e mais...

In http://diario.iol.pt, 27 de Janeiro de 2010

Dia mundial de S. Jorge e do Escutismo

Hoje, dia 23 de Abril comemora-se em Portugal Dia Mundial de S. Jorge e o Dia Mundial do Escoteiro de quem S. Jorge é também o Santo Patrono. Celebra-se ainda nesta data, o Dia Mundial do Livro e do direito do Autor e o Dia Nacional do Deficiente Auditivo.

São Jorge é também celebrado em outros países que o têm por Patrono, tais como o Reino Unido, Geórgia, Catalunha e Bulgária. Para o Reino Unido, o Dia de São Jorge é também o seu Dia Nacional. Muitos países celebram a sua data em 23 de Abril, que é a data tradicionalmente aceita do falecimento de São Jorge. O Dia de São Jorge é também comemorado localmente em Newfoundland, Canadá, e no Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

Fonte: http://pt.wikipedia.org, Categoria: Datas comemorativas
Imagem: http://www.fotolog.com/oracoes/18930373

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Selo de Fernão Mendes Pinto entra em circulação

Um selo em homenagem a Fernão Mendes Pinto, viajante nascido em Montemor-o-Velho e cidadão do mundo, entra esta quinta-feira, dia 22, em circulação.

Fernão Mendes Pinto volta assim a peregrinar, na sequência de um desafio da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho aos CTT.
Esta é mais uma iniciativa que se destina a assinalar o quinto centenário do nascimento do viajante e está integrada no plano de emissões filatélicas “Vultos da História e da Cultura”.
No dia 8 de Julho, na Galeria Municipal e no âmbito da exposição filatélica “A Escrita” - organizada pela Secção Filatélica da Associação Académica de Coimbra e pela Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, e com o apoio dos CTT – Correios de Portugal – o selo é apresentado em Montemor-o-Velho e é lançado o carimbo comemorativo e que vai ser aposto em toda a correspondência apresentada no local.
A par de Fernão Mendes Pinto; Gomes Eanes de Azurara, Alexandre Herculano e Francisco Keil do Amaral são outras personalidades portuguesas que integram a iniciativa “Vultos da História e da Cultura” e que também entram em circulação no dia 22 de Abril.
A ilustração do selo “Fernão Mendes Pinto – 500 anos do nascimento” ficou a cargo de Luís Filipe de Abreu.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Regina Quintanilha

Sra. D. Regina Quintanilha, Ilustração Portuguesa, edição semanal do jornal O Século, 24 de Novembro de 1913
clique sobre a imagem para aumentá-la

Regina da Glória Pinto de Magalhães Quintanilha, nasceu a 9 de Maio de 1893, e foi a primeira Advogada Portuguesa e Ibérica dos tempos modernos.
Sendo filha de Francisco António Fernandes Quintanilha, descendente de uma antiga e abastada família, transmontana de Miranda do Douro, e de Joséfa Ernestina Pinto de Magalhães, da casa de Sabrosa, de onde, segundo a tradição, também descenderia do grande navegador Fernão de Magalhães.
A 6 de Setembro de 1910, apenas com 17 anos, Regina Quintanilha requer a sua matrícula na Faculdade de Direito de Coimbra.
A 5 de Outubro de 1910, dá-se a Revolução Republicana, e o início das aulas, que seria normalmente a 17 de Outubro, é adiado já que os ânimos no país, encontravam-se exaltados, e na Universidade de Coimbra, a sala dos Capelos é destruída e os retratos dos Reis D. Carlos e D. Manuel, são baleados.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Santa Eulália

É a Santa padroeira da freguesia de Santa Valha. A propósito deste Santa colocam-se duas questões que podem ser discutíveis. Uma tem a ver com a origem do topónimo Santa Valha, havendo quem a relacione com Santa Eulália e quem duvide desta tese, argumentando que em português arcaico já se usavam as formas de Santa Olaia, Santa Ovaia e mesmo de Santa Valha. A outra questão é a que se prende com a identidade da própria Santa Eulália, uma vez que existiram duas Santas com esse nome, pela mesma época (finais do século III e inícios do século IV), e com semelhante hagiografia, isto é, ambas virgens mártires e do Cristianismo Primitivo: Eulália de Barcelona e Eulália de Mérida. O facto de que esta cidade era então a capital da Lusitânia abona em favor da Santa Eulália de Mérida como o orago de Santa Valha, sendo neste sentido que ela é considerada no site da respectiva Junta de Freguesia, que entendemos subscrever.

Combatentes valpacenses mortos na Guerra colonial

A Guerra do Ultramar foi um dos episódios dramáticos da História de Portugal na conjuntura colonialista do Estado Novo que só parece encontrar, na memória colectiva, alguns contornos de paralelismo com as perdas humanas que a Nação sofreu com o seu envolvimento na Primeira Guerra Mundial ditado pela Primeira República. Numerosas famílias portuguesas, viram, mais uma vez, partir para sempre os seus entes queridos que tombaram ao serviço da intransigência política portuguesa relativamente aos seus mais altos valores imperialistas. Para todas essas famílias deles ficaram apenas o luto, o choro e a revolta. Algumas delas, porém, passadas mais de três décadas, puderam encontrar algum conforto e derramar mais algumas lágrimas de emoção sobre os restos mortais. Foi o que sucedeu, com a família de José Carlos Moreira Machado, Furriel Miliciano natural de Sá, freguesia de Ervões, que a 25 de Maio de 1973 tombou na Guiné, como noticiou o Semanário Transmontano, na sua edição de 20 de Novembro de 2009 reportando-se às iniciativas de trasladação do corpo e respectiva homenagem com honras militares levadas a cabo pela Liga dos Combatentes da Guerra do Ultramar.

Santa Maria Maior e outras venerações marianas no concelho de Valpaços

Santa Maria Maior

Santa Maria Maior é o orago da freguesia de Valpaços, cidade sede do concelho com o mesmo nome. Também designada de Nossa Senhora das Neves, é um dos nomes pelos quais a Igreja Católica venera Maria segundo o culto de hiperdulia.

A invocação de Nossa Senhora das Neves é uma das mais antigas da Igreja Católica romana. Conta a tradição que vivia em Roma, o representante do imperador bizantino, com sua esposa. Era um fidalgo riquíssimo, sem filhos, chamado João. O casal já não sabia mais como gastar toda a sua fortuna. Por isso, decidiram construir obras- primas para a Igreja. Mas não sabiam quais escolher. Na noite de 4 para 5 de Agosto de 352, João sonhou que a Virgem Maria lhe pedia para construir uma igreja no local que estivesse coberto de neve ao amanhecer.
Ele acordou, contou à esposa e ambos começaram a questionar-se como seria possível nevar em pleno verão, em Roma. Nessa mesma noite a Mãe de Deus também apareceu em sonho ao Papa Libério e disse-lhe que no raiar do dia, a neve estaria cobrindo o monte Esquilino, e ali ele deveria erguer uma igreja em sua honra. Pela manhã a notícia do monte coberto pela neve, apesar de se estar no Verão, espalhou-se pela cidade. O Papa e João, por caminhos diferentes subiram a colina, seguidos pela multidão. No cume do Esquilino os dois encontraram-se, conversaram e entenderam que estavam ali pelo mesmo motivo. O Papa então demarcou a área para a construção da igreja e João financiou todo o projecto da Igreja de Santa Maria das Neves. Na Antiguidade as colinas do Esquilino eram o depósito de lixo da cidade. Com o tempo o lugar tornou-se um cemitério de escravos. Porém na época do Império Romano as colinas eram as preferidas pelos nobres para a construção das suas ricas vilas. Mesmo assim o povo não gostava do local. A construção da igreja deu nova vida à região. Em 431, o Concílio de Éfeso foi encerrado com a proclamação da "maternidade divina da Virgem Maria". O Papa Xisto III para comemorar essa verdade de fé quis construir uma grande igreja, bem "maior" que as outras. Decidiu que o local seria o mesmo indicado pela Mãe de Deus, ao então Papa Libério. Por isso, a velha igreja deu lugar ao monumento que é a basílica de Santa Maria Maior, adjectivo que dá conta da sua magnitude. A basílica guarda os primeiros e mais ricos mosaicos com a imagem de Nossa Senhora. De facto, é um dos maiores e mais belos santuários marianos de toda a Cristandade. Porém, a antiga tradição propagou a invocação de Nossa Senhora das Neves celebrada em muitos lugares no dia 5 de Agosto.

Fonte: http://www.cnbbo2.org.br (adaptado)
Imagem: ícone de Nossa Senhora Senhora das Neves, in http://pt.wikipedia.org, categoria: Mariologia.


Outras venerações marianas no concelho de Valpaços

Nossa Senhora das Neves é também orago da freguesia de Possacos. Existem ainda no concelho de Valpaços outros nomes pelos quais a Virgem Maria é venerada e que a tradição adoptou como orago, tais como Santa Maria em São Pedro de Veiga do Lila, Nossa Senhora da Ribeira, em Bouçoais, e Nossa Senhora da Expectação (também chamada de Nossa Senhora do Ó ou do Parto) nas freguesias de Canaveses, Alvarelhos, Nozelos, Vassal e Santa Maria de Émeres (aqui usa-se mesmo o nome de Nossa Senhora do Ó). Em certas localidades onde Nossa Senhora da Expectação  não é orago, existem templos a ela dedicados e é venerada em festas e romarias, como sucede em Água Revés e Castro, no mês de Agosto, e em Argeriz, no mês de Setembro.

Existem, além destas, outras festas e monumentos religiosos ligados a outras devoções Marianas, como acontece também em Argeriz (orago - S. Mamede), onde N.ª Senhora das Neves é festejada a 5 de Agosto e se edificaram capelas em honra de N.ª Senhora da Piedade e N.ª Senhora do Pranto.

Em Alvarelhos existe uma capela dedicada a N.ª Senhora da Saúde, embora actualmente este santa não seja festejada.

Em Barreiros (orago - S. Vicente), festeja-se a N.ª Senhora dos Aflitos, no 3.º Domingo de Agosto, e existe aí uma capela a ela dedicada.

Em Bouçoais, além de N.ª Senhora da Ribeira (orago), também se festeja, no 3º Domingo de Agosto, N.ª Senhora de Fátima e há uma capela da sua devoção, além de outra dedicada a N.ª Senhora do Ó.

Em Canaveses (orago: N.ª Senhora da Expectação) é também festejada Santa Bárbara, em data móvel, e na aldeia existe uma capela dedicada a N.ª Senhora de Fátima.

Em Carrazedo de Montenegro (orago - S. Nicolau), a 8 de Setembro, honra-se N.ª Senhora da Natividade com uma festa, também conhecida por Festa das Gaiolas, e, no Cubo, localidade anexa à mesma freguesia, festeja-se, no mês de Agosto, N.ª Senhora dos Milagres. Na mesma freguesia existem as capelas dedicadas às Santas referidas e uma outra dedicada a Santa Luzia.

Na freguesia de Curros (orago - S. Miguel), festeja-se, a 2 de Fevereiro, N.ª Senhora da Purificação, que tem uma capela dedicada à sua devoção.

Em Ervões (orago - S. João Baptista), também se festeja Santa Luzia, a 13 de Dezembro, e N.ª Senhora dos Prazeres, na Segunda-feira de Pascoela, possuíndo ambas estas santas uma capela em sua honra.

Em Fiães (orago - S. Miguel Arcanjo),  festeja-se N.ª Senhora do Socorro, no 1.º Domingo de Agosto, existindo também uma capela a si dedicada.

Em Fornos do Pinhal (orago - S. João), N.ª Senhora da Natividade é festejada a 8 de Setembro, e existem nesta freguesia duas capelas de invocações marianas, a da santa já referida e a de N.ª Senhora da Ajuda.

Na mesma data de 8 de Setembro é também festejada N.ª Senhora da Natividade, na freguesia de Friões (orago - S. Pedro), e a 15 de Agosto e 8 de Dezembro são celebradas festas em honra de N.ª Senhora da Assunção e N.ª Senhora da Conceição, respectivamente. Todas as três divindades possuem uma capela da sua invocação.

Em Lebução (orago - S. Nicolau), é festejada, no 2.º Domingo de Setembro, N.ª Senhora dos Remédios e na freguesia existe ainda uma capela dedicada a N.ª Senhora dos Fortes.

Em Nozelos, a festa de N.ª Senhora da Expectação (orago) realiza-se a 18 de Dezembro. Na mesma freguesia existe uma capela dedicada a N.ª Senhora das Dores e um Nicho em devoção a N.ª Senhora do Carmo.

Em Padrela e Tazém (orago - S. Pedro), festeja-se, a 15 de Agosto, N.ª Senhora da Assunção, e, em Maio, N.ª Senhora da Saúde.

Em Possacos, além da devoção a N.ª Senhora das Neves (orago), existem mais três monumentos dedicados ao culto mariano: As capelas de N.ª Senhora dos Aflitos, N.ª Senhora da Saúde e N.ª Senhora de Fátima.

As últimas duas santas referidas no parágrafo anterior são também festejadas em Rio Torto (orago - S. Pedro), ambas em Agosto, e na localidade encontram-se as capelas dedicadas ao seu culto, além de um monumento dedicado à Imaculada Concepção de Maria.

Em Santa Maria de Émeres (orago - N.ª Senhora do Ó), também se realiza a festa de N.ª Senhora dos Aflitos, juntamente com a de Santa Bárbara, no 1.º ou 2.º de Agosto.

Em Santa Valha, (orago - Santa Eulália), também se festeja, a 13 de Maio, N.ª Senhora de Fátima, que tem aí uma capela.

Em São João da Corveira (orago - S. Brás), festeja-se, no 1.º Domingo de Agosto Nª Senhora da Anunciação.

Em São Pedro de Veiga do Lila (orago - Santa Maria), festeja-se a 15 de Agosto N.ª Senhora da Boa Viagem. Na localidade existe uma capela da devoção de N.ª Senhora de Fátima.

Em Serapicos (orago- Santa Ana), festeja-se em Agosto N.ª Senhora dos Remédios e dela existe uma capela na freguesia.

Em Sonim (orago - N.ª Senhora da Assunção) existe uma capela dedicada a N.ª Senhora de Lurdes.

Em Tinhela para além da festa de N.ª Senhora da Assunção (orago), a 15 de Agosto, existe a capela de N.ª Senhora da Natividade.

Em Valpaços realiza-se, a 16 de Julho, a festa de N.ª Senhora do Carmo e, no 1.º Domingo de Setembro, a festa de N.ª Senhora da Saúde  em cuja honra se ergueu um monumental santuário. A cidade conta ainda, no seu património religioso edificado com a capela de N.ª Senhora dos Remédios.

Em Vassal (orago N.ª Senhora do Ó ou da Expectação) há festas em Agosto e Março dedicadas, respectivamente, à Padroeira e a N.ª Senhora da Encarnação, tendo esta uma capela em sua dedicação.

Em Veiga do Lila (orago - S. Pedro) realiza-se em Maio uma festa dedicada a N.ª Senhora de Fátima.

Em Vilarandelo (orago - S. Vicente) no último fim-se-semana de Agosto é dedicada uma festa a Santa Bárbara e N.ª Senhora dos Milagres, havendo na localidade, entre outras, uma capela da invocação de N.ª Senhora dos Milagres.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

De Lourenço Marques a Maputo

Quase sem Palavras...

Lço. Marques em 1895 (vista por António Enes)                                      Maputo na actualidade
 in http://edomingos.tripod.com/id17.html            in http://www.blogdacomunicacao.com.br


O litoral de Lourenço Marques, c. 1785                                            O litoral de Maputo na Actualidade
in http://edomingos.tripod.com/id15.html                                                       in http://kenraggio.com


...para comparar, reflectir e COMENTAR! 

A espingarda que derrotou Gungunhana

Ao combaterem a insurreição dos Vátuas, em 1895, as tropas portuguesas mandadas para Moçambique beneficiaram das lições das guerras entre Zulus e Britânicos, duas décadas antes. A formação em quadrado e o uso da espingarda de repetição Kropatcheck foram determinantes.

Gungunhana

Folheando a sempre interessante "Caderneta de lembranças" de Francisco Justiniano de Castro, a que já aqui várias vezes aludimos, à cata de efemérides, para o dia 5 de Janeiro encontrámos esta, com as habituais calinadas ortográficas do autor: "Janeiro, 5 [de 1896] chegou a nutiçia de ser preso o Rei Preto, na guerra de Àfrica pellas nossas tropas e que o trazem para Lisboa a apresentalo ao nosso Rei" [D. Carlos].

terça-feira, 13 de abril de 2010

Dicionário de palavras e termos que se diziam em Vilarandelo

Tanto em vilarandelo, como em muitas aldeias de Trás-os-Montes e do resto do nosso país, existem maneiras proprias de falar.
O que eu quero dizer é que somos um país muito diversificado e no campo dos regionalismos a diversidade é imensa.
Com a boa vontade de algumas pessoas consegui juntar algumas palavras e termos que se diziam aqui em Vilarandelo e obviamente na região, o que não quer dizer que nas aldeias e vilas perto de Vilarandelo não se falasse algumas destas palavras de uma outra maneira.
Assim sendo, a minha ideia seria apelar a algum Vlarandelense que se lembre de mais palavras, expressões e termos antigos que as deixe num comentário no final deste post, ou que envie para o meu mail : paulopascoal@gmail.com

Vocabulário(s) transmontano(s)

1. Palavras e expressões regionais usadas e recolhidas em Moimenta, concelho de Vinhais que não existem no dicionário da língua portuguesa, por Armindo Cardoso, Director de Serviços na Universidade do Minho

2. Vocabulário transmontano colhido no concelho de Moncorvo, por Abade Tavares Teixeira, in Revista Lusitana XIII, 1910.


                    
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ROMANCEIROS E CANCIONEIROS POPULARES TRANSMONTANOS

ROMANCEIROS

1 - Romanceiro Transmontano, in Revista Lusitana VIII, Antiga Casa Bretrand, Lx, 1903-1905
2 - Romanceiro Transmontano, in Revita Lusitana IX , Imprensa Nacional, Lx, 1906
3 - Romanceiro da Província de Trás-os-Montes, UC, Biblioteca Geral, 1987

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CANCIONEIROS

1 - Cancioneiro popular duriense, Centro Cultural Regional de Vila Real, António Cabral, 1983

2. Cancioneiro transmontano 2005, Santa Casa da Misericórdia de Bragança, 2005


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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Manuel Buíça, o regicida

Manuel Buíça e Alfredo Costa foram os dois regicidas, de entre os presumivelmente seis envolvidos, que foram abatidos imediatamente à consumação do assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe, na fatídica tarde do dia 1 de Fevereiro de 1908 no Terreiro do Paço. Interessa-nos falar aqui do primeiro dos mencionados regicidas, pela mera curiosidade que a particularidade de Manuel Buíça ter sido natural de uma aldeia do concelho de Valpaços tem suscitado. Os factos que a seu respeito iremos divulgar, citando o Padre João Vaz de Amorim na Revista Aquae Flaviae, tal como faz Montanha de Andrade, não se destinam a transmitir quaisquer sentimentos de carácter político-ideológico, mas tão só a divulgação imparcial desses factos que consideramos constituirem mais uma curiosidade local ou regional igual a tantas outras que publicámos e publicaremos nesta categoria.

Por detrás da incontestabilidade do acto cometido, esconde-se a questão da sua legitimidade, dos motivos ou das forças que estiveram na sua origem e até hoje muito se tem conjecturado nesse sentido a partir de uma enigmática carta-testamento que se guarda nos arquivos da Fundação Mário Soares e que foi supostamente redigida e assinada por Manuel da Silva Buíça no dia 28 de Janeiro de 1908, portanto quatro dias antes do regicídio, mas cuja assinatura só seria reconhecida por um tabelião lisboeta a 22 de Agosto, documento esse que ficou em posse do então «publicista» Aquilino Ribeiro. É dessa carta-testamento que nasce a controvérsia em torno da figura do regicida transmontano. Vejamos, em primeiro lugar algumas refrências biográficas a respeito da figura em causa, deixando para o final as especulações que o referido documento tem gerado.


O Regicida

No lugar e freguesia de Bouçoais, deste concelho [de Valpaços], nasceu Manuel dos Reis da Silva Buíça, um dos regicidas do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe, que foram assassinados do Terreiro do Paço, em Lisboa, no dia 1 de Fevereiro de 1908. Sua mãe, era Maria Bernarda, também conhecida por Maria Barroso, por seu pai ser oriundo da região barrosã de Cabril, freguesia de concelho de Montalegra, lá bem perto das faldas do majestoso Gerês. Viera ele em companhia de um sacerdote que, durante bastantes anos paroquiou esta freguesia. Aqui casou e constituiu família, chegando esta a ser bastante numerosa. Pobre, e lutando, por isso, com bastantes dificuldades, os pais de Maria Barroso, sendo esta ainda moça, decidiram-se a pô-la a servir, o que realmente fizeram, preferindo a casa de outro abade, Abílio Augusto da Silva Buíça. Este, apesar da sua ilegitimidade, era de estirpe fidalga, de boas tradições e certos meios de fortuna. Acerca dos Buíças e sua ascendência pode consultar-se a obra do Abade de Baçal.

O padre Abílio ordenou-se, talvez, para condescender com a vontade do seu progenitor, não reflectindo bem enquanto ao que é imposto pela Igreja àqueles que têm os dispensadores dos mistérios de Deus. Ascendeu ao sacerdócio levianamente, sem estudar como é de preceito, a sua vocação.

Por isso, não admira que mais tarde na sua negra batina se venham a notar algumas nódoas, embora como homem, sempre se distinga por um porte correcto e por uma linha inquebrantável de honradez. Dos seus amores ilícitos com Maria Barroso Lage houve seis filhos, sendo Manuel dos Reis da Silva Buíça o primogénito, que nasceu, como já dissemos, em Bouçoais, numa casa que fica a poucos metros para poente da actual igreja.

Apenas viu a luz do dia foi levado para o lugar de Cima de Vila das Aguieiras, onde foi amamentado e se demorou por espaço de dois anos.

Dali, voltou novamente a Bouçoais, residindo aqui até aos quatro anos, istó é, até que o abade Buíça consegue permutar a sua paróquia com a de um colega, que a seu tempo pastoreava a Vila de Vinhais. É nesta Vila que Buíça começa a frequentar os estudos primários. Dá boa conta de si na escola, é benquisto dos companheiros e condiscípulos e é obediente e submisso, qualidades essas que aos dezasseis anos o tronam digno de simpatia geral dos seus conterrâneos.

Vem então várias vezes a Bouçoais, onde tem numerosos parentes por parte da mãe (existindo ainda hoje bastantes), percorrendo estes outeiros e montados, mostrando já nesses verdes anos certa perícia como caçador de coelhos e perdizes. Não é somente na caça de monte que ele se revela, entrega-se à caça de rio, cujas águas rumorosas correm lá em baixo, apertadas entre as penedias dos inacessíveis desfiladeiros. Nada bem como um tritão e não tem receio de arrostar com perigos ou de descer às maiores profundidades, sendo sempre o primeiro entre todos os seus companheiros.

Passados esses belos tempos de juventude, assentou praça em Cavalaria, chegando dentro em pouco a Sargento. Deixou por isso a sua família, os seus companheiros de infância, estas terras e outras tantas coisas que ele, de certo mais tarde, ainda viria a recordar com saudade.

Esteve em algumas cidades do Norte, até que por fim, fixou definitivamente a sua residência em Lisboa, onde vem a casar com uma filha do Major João Augusto da Costa. É por ocasião dos preparativos para o seu casamento que Buíça vem, pela última vez, a Bouçoais.

Da sua vida em Lisboa dizem-nos o seguinte: «Café Gelo» ...lugar dos encontros apressados. Na mesa do canto mais escuro ao lado da saída da cozinha, um freguês quase constante, guardava ali a sua roda. Era de mediana estatura, muito claro de tez, vivos os seus olhos azuis contrastanto com a barba negra, na qual cintilavam alguns fios fulvos com linhazinhas de cobre. Espalhafatoso de gestos, berrador, de inventiva larga, aquele transmontano de Valpaços era de aparência delicada e atraía os revolucionário por sua fama de valente, seus ares despresadores ante as fachas de políticos e a decisão com que desafiava, arremetia e quasi sempre ficava da melhor.

Exercendo o professorado na Escola Moderna, mas, mal se adrejava entender, como podia ser mestre o turbulento que sempre se mostrava e o falho de exames de cursos de categoria oficial?

Contavam-se dele proezas de monta nas horas em que os nervos o sacudiam. Batera-se, em fúria, contra uma turba, no teatro da Rua dos Condes; no caminho de Linda-a-Pastora, vindo de uma reunião desaviera-se com um dos revolucionários e increpara-o em termos do outro puxar da pistola e ameçá-lo. Correra para ele e, ao segurarem-no tanta força dispendera entre o grupo, que só se quedara ao sentir o braço deslocado; fora Sargento em Cavalaria 7, e espancava os recrutas nos dias sombrios das suas cóleras, quando naturalmente se lembrava da má sina do seu viver.

Em Lisboa, nas Escadinhas da Mouraria, N.º 4, quarto andar, já viúvo, instalara-se lá com os filhos - Elvira e Manuel -, que a avó materna cuidava. Sentava-se com o produto das suas lições, andava sempre limpo e, bebendo o seu "cognac" no Café Gelo, rodeava-se dos que lhe apareciam falando a linguagem rebelde do seu agrado. Não escolhia. Precisava de um auditório para as suas falácias e, gesticulando, fuzilando os olhares, mostrando-se, ora arrebatado ora desdenhoso. Buíça tornara-se uma fisionomia familiar do Gelo, café este que apesar do seu título frio, era um vulcão de rebeldias.
O último feito da sua existência, todos nós o sabemos, foi um nefando crime, facto que encheu de desolação as douradas páginas da nossa luminosa e épica história. Devemos contudo considerar que os braços do cruel regicídio foram abatidos, Buíça e o Costa pagaram com as suas vidas as vidas que roubaram.

E os cúmplices?

Cá por estas terras ainda houve quem lembrasse o Buíça e chorasse a sua desventura. Foi a tia Luisa Penso, pobre velhinha octogenária, amiga de Maria Barroso que, entre soluços mal reprimidos, dizia que fora ela quem trouxera o Buíça das Aguieiras e que este era um menino muito bonito.

Fonte: citação de Padre João da Ribeira (revista Aquae Flaviae) por José Lourenço Montanha de Andrade, in Valpaço-lo-Velho 
Foto de Manuel Buíça in http://www.laicidade.org


A carta-testamento

A cópia da carta-testamento supostamente redigida por Manuel Buíça a 28 de Janeiro de 1909, quatro dias antes do regicídio [1] e o respectivo teor [2] são os que se seguem:

"Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes); fui casado com D.Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D.Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número... rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4º andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa".

[1] in http://tt08.blogspot.com/2009/10/ainda-o-testamento-de-manuel-buica.html (retirado do site da Fundação Mário Soares)
[2] in http://veritas.blogs.sapo.pt/arquivo/1078876.html


Especulações possíveis

Segue-se uma das especulações a respeito da autenticidade do documento, do envolvimento de Aquilino Ribeiro na conjura ou da possibilidade da sua relação específica com o acontecimento de 1 de Janeiro.

Ontem, por esta hora, escrevia sobre o espanto que me causara a leitura da transcrição da Declaração de Manuel Buiça (autor dos disparos que a 1 de Fevereiro vitimaram o Rei D. Carlos e o seu filho e sucessor Príncipe D. Luís).

Recordando o que então escrevi - depois de ler a transcrição dessa Declaração, supostamente efectuada perante Tabelião quatro dias antes do dia do atentado, ou seja a 28 de Janeiro, estranhava:
a) Que o que ela tínha de anúncio da intenção de cometer um crime não fosse percebida pelo próprio oficial público que é o Tabelião;
b) Que Aquilino Ribeiro e outro tivessem tido intervenção como testemunhas da mesma declaração, associando-se como possível cumplice de forma infantil;
c) Que alguém produzisse antes dos factos e sem saber qual o seu desenlace, um documento que ficaria em poder de terceiros e que poderia constituir a prova provada da sua participação dos factos a acontecer, para além de poder desencadear a vigilância que comprometesse a viabilidade do plano.

Recordando o que então li e está escrito no livro "A Maçonaria e a Implantação da República" (pp. 229): "Recorde-se ainda que Manuel Buiça fizera testamento no dia 28 de Janeiro - «Apontamentos indispensáveis se eu morrer»: «Meus filhos ficam pobríssimos não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e a compaixão pelos que sofrem. Peço que os eduquem nos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade que eu comungo e por causa dos quais ficarão, porventura em breve, orfãos."» Depois de transcrever essa parte da "Declaração" os autores do livro (Alfredo Caldeira e António Lopes) escreveram: "Serviram de testemunhas Aquilino Ribeiro, publicista, e Albano José Correia, empregado do comércio. O professor tinha dois filhos, Elvira, nascida em 1900, e Manuel, nascido e registado em 1907.".

Ontem e hoje andei um pouco às voltas com isto, fui desfiando os rumores da participação de Aquilino no atentado, fui encontrando quase sempre os mesmos argumentos e até um pedaço de documento atribuído ao espólio pessoal da Rainha D. Amélia, segundo o qual a esposa de um juiz de 1911 teria indicado àquela o nome de Aquilino como sendo um dos que aguardava no Largo do Corpo Santo pela eventualidade do insucesso da acção de Buiça e Alfredo Costa.
Porém a estranheza daquela Declaração continuava a sobrepor-se ao mundo novo de factos que começava a desenrolar-se a cada vez que puxava uma ponta do novelo.

Hoje, encontro cópia da Declaração em questão e da mesma resulta no essencial o seguinte:
a) Que Aquilino Ribeiro não foi testemunha (pelo menos oficial) da mesma e que só é referido no seu texto porquanto terá sido sim testemunha no registo civil do filho (Manuel) de Manuel Buiça;
b) Que a Declaração em questão não foi reconhecida (a letra e a assinatura de Manuel Buiça) pelo Tabelião no dia 28 de Janeiro de 1908 mas sim no dia 22 de Agosto desse mesmo ano, ou seja, mais de seis meses após a morte do próprio Buiça.
c) Que apesar da Declaração estar assinada com data de 28 de Janeiro de 1908 todos os seus selos, assim como a intervenção do próprio Tabelião Motta, tem a data de 22 de Agosto de 1908.

Com isto ficam afastadas todos os espantos da minha primeira estranheza que produziu uma sucessão de perguntas de que fui dando conta anteriormente e, assim, maçando como não consigo deixar de o fazer, quem teve a pachora de ir lendo o que para aqui fui deixando.


Dissipadas essas perguntas vêm agora outras:

a) Qual a razão deser daquela Declaração (qual o seu objectivo?).

Se o Manuel Buiça nada tem para deixar aos seus filhos, deixa-lhes um testamento de honra?. Um testamento em que regista a fórmula da carbonária e da maçonaria "Liberdade, igualdade, fraterninade" como razão de ser para o desaparecimento do pai?"

b) qual a razão para envolver no texto directamente Aquilino Ribeiro, a quem chama de "publicista" (qualificação que não é honrosa e que confirmaria os adjectivos que alguns lhe dispensaram como "pena mercenária" ao serviço da carbonária escrevendo três fascículos do seu primeiro romance - "A Filha do Jardineiro" - em jornal que pertencia ao outro regicida, Alfredo Costa, e através dos quais pretendia denegrir a imagem do Rei D. Carlos) no texto daquela Declaração.

c) Se - como li em vários lugares - Aquilino Ribeiro ficou depositário dessa carta - como explicar que a 22 de Agosto ela tenha sido reconhecida formalmente pelo Tabelião da Rua do Crucifixo. Quando nessa data Aquilino Ribeiro já estaria em Paris, "com o seu monóculo de janota"?

d) Por último se é certa a participação de Manuel Buiça numa intentona ocorrida precisamente a 28 de Janeiro de 1908 ("Intentona da Biblioteca") será que essa Declaração foi escrita visando a sua participação nessa acção e não no atentado de 1 de Fevereiro?

Esta última hipótese parece ganhar todo o sentido se tivermos presente que foi a tentativa de golpe agendada para 28 de Janeiro (na sequência da prisão de diversos líderes republicanos, entre os quais João Chagas) que desencadeou o Decreto fatídico para o Rei D. Carlos, através do qual o Governo de João Franco reagiu à descoberta desse mesmo golpe, em consequência do qual se realizaram diversas prisões e diversas fugas. Manuel Buiça esteve envolvido nessa tentativa de golpe que visava, também, a eliminação de João Franco. Logo, o mais provável é que a Declaração (a ter sido escrita por Manuel Buiça) tivesse em vista os acontecimentos de 28 de Janeiro e tivesse mesmo já sido escrita quando se temia que o golpe não triunfasse. Faz mais sentido que no próprio dia do golpe Manuel Buiça tenha escrito o que escreveu do que relacionar essa Declaração com o que aconteceu quatro dias depois, a 1 de Fevereiro.


Quanto ao resto, nomeadamente, quanto à razão pela qual a carta acaba por ser reconhecida mais de seis meses depois pelo Tabelião Motta, teria de se apurar quem a conservou e porquê. Uma coisa parece provável: quem procedeu ao seu reconhecimento (seis meses depois da morte quer do Rei quer do autor da Declaração) pretendeu associar aquela aos acontecimentos de 1 de Fevereiro e, eventualmente, associar a estes o próprio Aquilino Ribeiro. Mas é só - mais uma vez - uma especulação. Por outro lado sabe-se que foi realizada uma subscrição pública a favor dos filhos de Manuel Buiça, podendo também ser essa a razão pela qual a carta foi reconhecida e dada a conhecer, tornada pública como o foi.

Tiago Taron, in http://tt08.blogspot.com/ idem, 6 de Outubro de 2009

D. Afonso Henriques, um rei polémico

D. Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, foi transformado pelos historiadores numa das figuras polémicas da História de Portugal. Não se trata da batalha de Ourique ou de qualquer dos seus feitos, nem da sua origem genética ou das suas qualidades físicas e morais, que também já chegaram a ser postas em causa! Desta vez a questão central da polémica é a do local e data do seu nascimento. Para uns, isto é, para os mentores da visão tradicional, que é o que ainda consta nos manuais escolares, ele nasceu em Guimarães no ano de 1111. Para outros, entre os quais se destacam alguns medievalistas consagrados do país, credibilizou-se uma nova tese, que já tem perto de vinte anos: A de que, afinal, ele nasceu Viseu em Agosto de 1109. Em 2008 a polémica reacendeu-se, e neste ano os Municípios de Viseu e de Guimarães comemoraram as datas respectivas, reclamando, cada uma das cidades, a categoria de cidade-berço da Nacionalidade.

Cristóvão de Moura, uma figura controversa

O desfecho da crise dinástica despoletada pela morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir no ano de 1578 ficou a dever-se à argúcia de um jovem diplomata português que desde tenra idade frequentou a Corte espanhola, regressando a Portugal integrando o séquito da princesa D. Joana que veio a casar-se com D. João III e retornando com ela à Espanha assim que enviuvou. Trata-se de Cristóvão de Moura e Távora, filho de Luís de Moura, alcaide mor de Castelo Rodrigo e de D. Beatriz de Távora. Tendo caído nas boas graças de Filipe II que nele reconheceu excelentes dotes para a diplomacia, fê-lo embaixador de Lisboa, para onde se deslocou Cristóvão de Moura, chegando aí a 25 de Agosto de 1578. Foi ele quem fez valer os direitos à pretensão do rei espanhol ao trono de Portugal, obtendo junto dos principais jurisconsultos parecer favorável a tal pretensão e cativando através de certos favores a simpatia de uma  franja da fidalguia e da grande maioria da burguesia portuguesa. Reunidas as cortes em Tomar, no ano de 1581, logo aí Filipe II foi aclamado rei de Portugal, com o nome de Filipe I, consumando-se a união dos dois reinos sob a mesma coroa. O papel assumido por Cristóvão de Moura nesta delicada conjuntura da História de Portugal e a acumulação dos mais altos cargos, títulos e doações que desse papel lhe advieram haveriam de fazer recair sobre ele os mais acirrados ódios, enraizando-se no imaginário colectivo da população portuguesa em relação à sua pessoa a imagem de um infame traidor, imagem essa que hoje perdura amiúde na região de Figueira de Castelo Rodrigo, de cujo concelho, à época com sede em Castelo Rodrigo, foi ele feito senhor no ano de 1594 e em cuja aldeia histórica ainda se podem admirar as ruínas do seu palácio quinhentista.

O professor José Hermano Saraiva publicou no jornal regional de Figueira de Castelo Rodrigo, Ecos da Marofa, um interessante artigo em relação a esta figura controversa da História de Portugal, que passamos a trancrever:

CRISTÓVÃO DE MOURA, HERÓI OU TRAIDOR – MANEIRAS DE VER

Cristóvão de Moura era filho de Luís de Moura, alcaide-mor de Castelo Rodrigo, e de Beatriz de Távora. Tanto o pai como a mãe eram fidalgos mas o que colocava Cristóvão em alto plano eram os Távoras. Seu tio materno, Lourenço Pires de Távora foi uma das principais figuras da nobreza portuguesa do seu tempo e exerceu, com brilho, as funções de embaixador de Portugal na corte espanhola. Foi esse tio que o levou para a corte espanhola aos catorze anos. Aí foi pajem da Infanta D.Joana, que veio a casar com o Príncipe D. João e dele enviuvou poucos meses depois. O pajem Cristóvão regressou assim a Madrid, onde passou ao serviço de Filipe II, que o estimava como a um filho. Toda a sua vida correu em Espanha e as várias vezes que visitou Portugal, fê-lo como diplomata ao serviço de Castela. Após a morte de D. Sebastião, na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, sucedeu ao trono o já idoso Cardeal D. Henrique, e, por morte deste, em 1580, levantou-se o problema da sucessão na coroa portuguesa. Os vários pretendentes eram todos netos do Rei D. Manuel I: Tratava-se de escolher entre eles quem tinha mais direito. A quase totalidade da nobreza e os grandes mercadores inclinavam-se para Filipe II de Espanha, por este ser filho de D. Isabel, filha de D. Manuel. Uma outra facção, muito menos numerosa, entendia que o direito pertencia a D. Catarina, que era filha do Infante D. Duarte, também ele filho de D. Manuel. As classes populares entendiam que o direito pertencia a D. António, filho do Infante D. Luís, também filho de D. Manuel. MAS este Infante não casara e por isso D. António era filho natural, o que, segundo as leis do tempo, prejudicava o seu direito sucessório. Havia ainda outros netos mas sem relevância política. Filipe II enviou então a Portugal o seu íntimo colaborador Cristóvão de Moura com a incumbência de fazer a propaganda da sua candidatura e de atrair as adesões de alguns membros da nobreza que pareciam hesitar entre Filipe, D. Catarina e D. António. A escolha não era fácil. A Lei Sálica, que estava em vigor, preferia sempre a linha masculina à feminina. Ora Filipe era varão mas o seu direito à coroa de Portugal vinha por linha feminina. Catarina herdara esse direito por via masculina mas era mulher. Como escolher entre os dois? As opiniões dos juristas dividiam-se. Mas, mais poderosa que a subtileza da lei era a força dos factos: Filipe II era o único dos pretendentes que podia dispor da força das armas, e dispunha de um esmagador peso político e económico. O povo entendia que varão e filho de varão era D. António, e não se preocupava muito pelo facto de ser filho ilegítimo, acrescido da circunstância de a mãe, Violante Gomes, ser cristã-nova. Também D. João I – Mestre de Avis – era filho natural e isso não impediu de ser um grande rei e tronco de uma famosa dinastia. Cristóvão de Moura, embaixador extraordinário de Filipe II, conseguiu convencer muita gente, muitas vezes em troca de promessas, dádivas, favores. A causa de Filipe II triunfou e Cristóvão de Moura foi nomeado vedor da fazenda. Recebeu grandes recompensas, entre elas a doação da Vila de Castelo Rodrigo, com o título de Conde. A confiança de Filipe era tanta que o nomeou seu testamenteiro. Para o povo, o embaixador de Filipe II era um traidor. Para a nobreza, um herói, porque à sua habilidade diplomática se deve que o rei Filipe I de Portugal tenha respeitado a soberania portuguesa em muitos aspectos, nomeadamente mantendo a moeda nacional, a bandeira, a nomeação de portugueses para os cargos superiores de Portugal, etc. Essa preocupação de defender na medida do possível a autonomia de Portugal veio a valer-lhe a perda do validamento político quando a Filipe II sucedeu no trono português Filipe III, que não concordava com essa orientação política, mascarada contudo com a sua elevação ao título de Marquês.
Quem tinha razão?
Cristóvão de Moura foi um bom português ou um perfeito traidor? O instinto popular de independência exigia que o Rei de Portugal fosse um português, e por isso o braço popular apoiou até ao fim a causa do Prior do Crato. Para Cristóvão de Moura, as leis da sucessão dinástica estavam acima de quaisquer sentimentos patrióticos e parecia-lhe evidente que, na trágica situação em que Portugal se encontrava depois da derrota sangrenta de Alcácer Quibir, a solução que melhor defendia os interesses materiais dos portugueses era a sucessão de Filipe II.
Como se sabe, a dinastia Filipina reinou em Portugal apenas sessenta anos, porque em 1640 uma grande parte da nobreza fez causa comum com o sentimento popular que entretanto não se apagara no coração dos portugueses. Foi essa aliança dos quarenta conjurados de Lisboa com o sentimento geral da população que tornou possível a Restauração do 1 de Dezembro de 1640, que colocou no trono o Duque de Bragança, neto daquela Catarina que, em 1580, não conseguira fazer valer os seus direitos.
Com ou sem Cristóvão de Moura, Filipe II teria ocupado o trono português. O astuto e activo embaixador fez o jogo possível na época. Herói ou traidor? São maneiras de ver. E as sentenças do tribunal da História nunca são definitivas.

José Hermano Saraiva, in jornal Ecos da Marofa, edição de 25 de Janeiro de 2007

Imagem ilustrativa in http://artederoubar.blogspot.com/

sábado, 3 de abril de 2010

Valpaços: Reminiscências da cultura popular

Em consequência da evolução natural das coisas, dos tempos e das pessoas, muito do nosso património cultural tem vindo a perder-se ao longo dos anos. Trata-se de uma fatalidade, uma tendência praticamente irreversível, que já nos finais do século XIX causava a preocupação de alguns eruditos que se sentiram na necessidade ou na obrigação de a contrariar, empenhando-se num extraordinário esforço para recuperar algumas partes substanciais dessa área do património cultural que compreende regionalismos de linguagem popular, de romances, rimas e canções de embalar e que também faz parte da nossa História, em tudo aquilo cujo legítimo protagonista é o povo simples e humilde porque o foi preservando como pôde na oralidade. Foi o caso de José Leite de Vasconcelos, insigne linguista, filólogo, arqueólogo e etnógrafo português que ao longo da sua vida reuniu em torno de si, através da fundação da Revista Lusitana, em 1887, e da revista O Arqueólogo Português, em 1895, uma multidão de discípulos que também marcaram a sua época pelos trabalhos que realizaram nesta matéria. Um desses discípulos mais destacados foi o valpacense Joaquim de Castro Lopo, a quem devemos, para além de uma série de obras historiográficas e de investigação arqueológica, interessantes pesquisas sobre a Linguagem popular de Valpaços e de curiosos romances populares transmontanos, colhidos da tradição popular na mesma Vila.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

“Traição de Valpaços ou Traição a Valpaços?”

Um episódio de 1895…

Cento e catorze anos depois é reeditada a história de um acontecimento que marcou as gentes valpacenses. Depois de “Partido Progressista de Valpaços”, foi apresentada mais uma obra de José António Silva.
No domingo passado, inserido no programa da XII Feira do Folar de Valpaços, foi apresentado um livro, relativamente, pequeno, mas com uma “notável história”, sobretudo para os valpacenses.
“Traição de Valpaços ou Traição a Valpaços?” foi dado a conhecer por Francisco Tavares. O autarca valpacense deu uma verdadeira lição de história sobre dados ocorridos no concelho de Valpaços, que são relatados no livro, cujo protagonista é um antigo presidente da câmara, Miguel Machado, mais conhecido por Miguel de Fiães ou “coveiro da monarquia”, “representante legitímo dos interesses de Valpaços, discordando da decisão que pôs em causa a delimitação geográfica do concelho, adoptando a defesa que achou tanta conveniente contra quem ofensa fez ao povo valpacense.
Contrariando tal decisão, pagou com desprezo público e partidário, mas não se vergou aos vícios do poder, manteve a integridade de carácter que define a grandeza da alma dos grandes homens”. Francisco Tavares contextualizou a obra no panorama nacional e regional numa altura em que o concelho teria cerca de 30 mil habitantes e só se podia votar com 21 anos e com instrução primária.
A ideia de relatar o episódio “singular da história de Valpaços” surgiu através de um amigo do autor, Augusto Mesquita, de 85 anos, que lhe ofereceu duas publicações que ainda guardava “O Ataque do Sr. Teixeira de Sousa e ”A Minha Defesa”. José António Silva enriqueceu a reedição com “preâmbulo e perfis biográficos das personalidades em causa, acrescentando-lhe os respectivos retratos e mais iconografia possível”, afirmou, esperando “contribuir para a divulgação da memória cultural do concelho de Valpaços e deixar à disposição dos vindouros um material mais acessível para possíveis estudos concelhios”.
De ressaltar, ainda, as cópias dos jornais da época, que constam das páginas do livro, que confirmam a notoriedade que o acontecimento teve naquela época, sendo falado na imprensa durante vários meses.

Por: Cátia Mata
In http://www.avozdechaves.com/index.asp?idEdicao=385&id=14944&idSeccao=3410&Action=noticia

Concelho tem mais de 60 “Lagares Cavados na Rocha”

Adérito Freitas tem sido incansável na divulgação do património do concelho valpacense. No passado sábado foi apresentada a sua mais recente obra “Lagares cavados nas Rochas”.
A apresentação do décimo livro de Adérito Freitas sobre o património do concelho de Valpaços encheu o Pavilhão Multiusos no sábado da XII Feira do Folar.
“Lagares Cavados na Rocha” foi apelidado como a “jóia da coroa” por Augusto Lage, autor do prefácio e apresentador da obra. “Este livro é algo de excepcional. Adérito Freitas leva-nos até aos nossos antepassados. Dá-nos a conhecer 67 lagares cavados nas Rochas, comprovando que a cultura da vinha teve muito significado para as nossas populações há mais de vinte séculos”, referiu, acrescentando: “esta publicação tem a vantagem de nos desafiar para outras pesquisas na nossa terra. Ele ensinou as pessoas a valorizá-la. Não há ninguém que não conheça o Dr. Adérito e muitos dizem regularmente, tenho isto para o Dr. Adérito, tenho de mostrar aquilo ao Dr. Adérito”.
Francisco Tavares, o autarca valpacense, ex-aluno de Adérito Freitas, salientou a “pessoa atenta, que sabe motivar”, “uma referência a acolher nas nossas vidas (…) que deixa às gerações vindouras muito conhecimento que se não fosse ele não teríamos oportunidade de conhecer”.
Por sua vez, o autor apresentou, como habitualmente, meticulosamente, a estrutura e conteúdo do livro que referiu ter como objectivo “provocar dúvidas e interrogações” no que toca à divulgação e preservação do património.
A pesquisa de Adérito Freitas, natural do concelho e autor de 10 livros sobre património cultural de Valpaços, não se fica apenas pelo material em si. Porque “sondar a história do vinho é conhecer uma civilização velha de milénios que continua viva”, o autor fez toda uma contextualização do tema da vinha e do vinho enriquecendo a obra com provérbios, frases célebres, poemas, entre outros.

Obra dá a conhecer património concelhio

“Lagares Cavados na Rocha”, patrocinado pela Câmara Municipal de Valpaços, mostra 67 lagares localizados em 12 freguesias do concelho valpacense, onde se destaca a freguesia de Santa Valha com 21 “peças raras”.
Em cerca de 280 páginas, o arqueólogo inventariou, com imagens, mapas e outros conteúdos, património oculto cuja história engrandece a cultura do concelho. “Desde estruturas muito simples a estruturas mais complexas, onde um já muito evoluído sistema de prensa (torcularium) estaria presente, creio que de tudo haveria nos 67 lagares cavados na rocha do concelho de Valpaços”, referiu.
Adérito Freitas começou a escrever sobre a sua actividade de investigação arqueológica e etnológica centrada no património do concelho em 1986 a convite do autarca valpacense, Francisco Tavares, e esta é a sua décima obra editada desde então.

Por: Cátia Mata
In http://www.avozdechaves.com/index.asp?idEdicao=385&id=14944&idSeccao=3410&Action=noticia

Valpaços, Concelho da Foice

Diz-se por aí que Valpaços é o concelho da foice, mas o que a maior parte das pessoas não sabem é o porquê de lhe chamarem o concelho "da foice". Na edição n.º 13 do Jornal Arauto da Casa do Povo de Vilarandelo saiu um texto da autoria do Sr. Eduardo Ferreira Costa, ilustre Vilarandelense que vive em Valpaços. O Sr. Eduardo conta um episódio interessante sucedido no início do século XX em Valpaços que passo a transcrever:

"Era isto que eu ouvia vezes sem conta, principalmente, quando fui à tropa em 1967.

No comboio entravam mancebos de todos os lados e perguntavam-me:

- De onde és?...

- Sou de Valpaços.

- Ah!... És do concelho da foice.

A foice em questão é a foice roçadoura, de cabo comprido para roçar mato e silvas e, infelizmente, praticar alguns crimes, naquela época. Porque a dos ceifeiros era gadanho e ceifeiros havia muitos em todo concelho.
Eu tinha 14 anos quando um senhor de Vilarandelo, com os seus 90 anos me contou a revolta popular e o assalto, do qual ele mesmo participou, às finanças de Valpaços. Por motivos de lançamento e subida de impostos daquela época.
Houve uns cabecilhas que mobilizaram a população do concelho, no dia marcado havia uma concentração em Carrazedo rumo a Valpaços e outra em Vilarandelo rumo a Valpaços. Alguns grupos traíram a população e avisaram o chefe das finanças da revolta do povo. Assim, as finanças mobilizaram tropas de cavalaria vindas do Porto e no dia marcado estavam à espera dos revoltosos. Os de Carrazedo que viram passar por lá a cavalaria, desmobilizaram e não avisaram, uns dizem que por falta de tempo, outros que foi medo de represálias e como não havia telemóveis, a mensagem não passou.
Os da zona de Vilarandelo, ninguém faltou à hora marcada: Bairistas, Maltezes, perigosos e armados de armas de fogo, sacholas, forquilha e foices, uns calçados outros descalços, invadiram as finanças, queimaram os papeis e quando se aperceberam estavam cercados pela cavalaria, uns foram presos, outros pisados pelas patas dos cavalos e outros fugiram em debanda pelos campos, atirando com as armas do crime aos poços. Depois de recolhidas essas armas, as que estavam em maior número eram as foices. Daí Valpaços ter ficado conhecido pelo concelho da foice. Os que ficaram presos foram logo condenados a sustentar cavaleiros e cavalos temporariamente até os ânimos acalmarem. Quando foram julgados, o juiz apercebeu-se que a revolta teve origem na base de três famílias, Tétés, Tibérios e Taraitas, daí a revolta dos três TTT. Eu vi e li jornais nacionais que noticiaram o acontecimento naquela altura."

EDUARDO FERREIRA COSTA
Fonte: http://vilarandelocousasdeantanho.blogspot.com/2010/03/valpacos-concelho-da-foice.html