sábado, 24 de abril de 2010

25 de Abril há 36 anos

Comemora-se amanhão dia da liberdade e a Revolução dos Cravos. Este é o nome por que ficou conhecido o golpe de Estado militar que derrubou, sem derramamento de sangue e sem grande resistência das forças leais ao governo herdado do regime ditatorial de Oliveira Salazar, servindo o mesmo nome para se referir aos acontecimentos históricos, políticos e sociais que se seguiram ao golpe, até à aprovação da Constituição Portuguesa, em Abril de 1976.

Portugal Ressuscitado



Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.

Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.
Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.

Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.

Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.

Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.


José Carlos Ary dos Santos,
Caxias, 26 de Abril de 1974



Breve histórico da Revolução dos Cravos

A luta do povo português contra o fascismo e a guerra colonial tornou-se um poderoso movimento de massas, abrangendo praticamente todas as classes e sectores da vida nacional.

Nos últimos meses de 1973 e nos primeiros de 1974, antecedendo imediatamente o 25 de Abril, o movimento popular de massas desenvolvia-se impetuosamente em todas as frentes: A primeira grande frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento operário. A classe operária intervinha como vanguarda em toda a luta antifascista, em todo o processo da luta popular. A repressão caía violentamente sobre o movimento operário. Nunca, porém, o fascismo conseguiu liquidar e abafar a organização e a luta dos trabalhadores. Grandes greves dos operários industriais, dos transportes, dos empregados, dos pescadores, dos trabalhadores agrícolas, exerceram profunda influência no processo revolucionário.

Antes de regressarem a Santarém, os homens da EPC realizam ainda algumas missões no meio de aplausos populares.

De Outubro de 1973 até o 25 de Abril, além de muitas centenas de pequenas lutas nas empresas, mais de cem mil trabalhadores agrícolas do Alentejo e Ribatejo participaram numa vaga de greves que vibrou golpes repetidos, incessantes e vigorosos no abalado edifício do regime fascista.

A segunda frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento democrático. As formas de organização e métodos de acção de massas do movimento democrático português são um exemplo brilhante da associação do trabalho legal e do trabalho clandestino nas condições duma ditadura fascista.

Mantendo sempre uma grande firmeza política e de objectivos, o movimento democrático nas mais pequenas condicionais possibilidades de actuação legal e semilegal, soube encontrar formas de organização e de acção que lhe permitiram esclarecer amplos sectores e desencadear poderoso movimento de massas.

A terceira grande frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento juvenil. A juventude teve um papel de extraordinário destaque na luta contra a ditadura fascista. Os jovens (trabalhadores e estudantes) estiveram sempre nas primeiras linhas em todas as frentes da luta política, económica e cultural, na agitação clandestina, nas manifestações de rua, nas actividades de maior perigo.

Os revoltosos contêm como podem a multidão e deixam os jornalistas seguir de perto os acontecimentos.

A quarta grande frente da luta popular foi a das classes e camadas médias. Os intelectuais, ao longo de quase meio século de opressão, constituíram sempre uma força de oposição, participando activamente no movimento democrático e desenvolvendo toda uma acção cultural e de criação literária e artística contra o fascismo.

Nos últimos tempos da ditadura, as acções dos intelectuais haviam-se intensificado. A criação da Associação Portuguesa de Escritores e os grandes movimentos dos professores do ensino secundário e dos médicos, com grandes assembleias, concentrações e greves, mostraram bem a oposição tenaz ao regime.

Em todos os sectores da vida social, o povo português passara à ofensiva contra a exploração e a opressão fascistas, pelas liberdades e pela solução dos seus problemas vitais.

Na situação portuguesa pesava de forma crescente a guerra colonial com todas as suas consequências. Os efeitos da guerra sentiam-se na vida económica, social e política e na situação das próprias forças armadas. A situação foi-se agravando ainda mais na medida em que os movimentos de libertação da Guiné - Bissau, Moçambique e Angola alcançaram sérios êxitos na luta armada.

Por isso, nos últimos tempos do fascismo, o movimento contra a guerra colonial e as lutas nas forças armadas tornam-se um dos centros de polarização de descontentamento e de energias e adquirem uma importância cada vez maior.

Os revoltosos contêm como podem a multidão e deixam os jornalistas seguir de perto os acontecimentos.

É a quinta grande frente da luta popular contra a ditadura que acabará por ser determinante para lhe pôr fim.

A luta contra a guerra colonial e pelo reconhecimento do direito dos povos submetidos ao colonialismo português à completa e imediata independência, tornou-se nos últimos anos do fascismo um vigoroso movimento nacional.

Das imagens que o 25 de Abril produziu nenhuma é tão marcante quanto a do soldado e povo sempre lado a lado. Adquirindo crescente amplitude e tomando várias formas, essa luta travava-se em três frentes principais: a acção política, a resistência nas forças armadas e acções contra o aparelho militar colonialista.

Correspondendo à acção política, multiplicam-se as acções de resistência no seio das próprias forças armadas.

Nunca numa guerra colonial o número de desertores e refractários atingiu uma cifra comparável à registada em Portugal. Segundo alguns cálculos, o número de refractários chegou a atingir quase um terço dos mancebos em idade militar. Na grande corrente emigratória um forte contingente era de jovens fugindo ao serviço militar e à guerra. A par das deserções, as manifestações de resistência nas forças armadas adquiriram um carácter cada vez mais frequente e maciço. É nesta situação e neste ambiente que toma corpo o "movimento dos capitães" (Movimento da Forças Armadas - MFA).

O "movimento dos capitães" traduz, nas forças armadas, a tomada de consciência do povo português da necessidade do fim da guerra e da pronta liquidação do fascismo. As forças armadas, que haviam sido durante quase meio século o principal apoio do fascismo, tornam-se dia a dia o apoio cada vez mais condicional e incerto. Ganhas para a causa da revolução democrática, acabaram por vibrar o golpe mortal na ditadura.

O agravamento das contradições e dificuldades do regime e o aprofundamento da crise interna, por um lado, e o vigoroso desenvolvimento da luta popular contra a ditadura e contra a guerra, por outro, indicavam que se aproximava a passos rápidos e seguros uma situação revolucionária.

E ao levantamento militar sucedeu-se imediatamente o levantamento popular. No próprio dia 25, as massas populares apareceram poderosas, rodeando, acarinhando, apoiando e estimulando os militares, tomando elas próprias iniciativas de ação, fundindo o povo e as forças armadas numa mesma aspiração e num mesmo combate.

Depois de quase meio século de fascismo iniciava-se a Revolução portuguesa que iria causar a surpresa e a admiração da Europa e do mundo.

Em 25 de Abril de 1974 terminava, derrotada pelo Movimento das Forças Armadas - MFA e pelo povo a longa ditadura fascista de 48 anos que Salazar impôs ao povo português, ditadura tão estruturada, tão repressiva, que sobreviveu à morte do ditador ocorrida em 1970. Foi talvez a mais linda festa política dos oito séculos da história de Portugal: a multidão, milhares de pessoas em estado de júbilo, dançava, cantava, chorava, sorria. E se abraçava, e abraçava os jovens soldados sem medo dos fuzis. E ocorreu então um caso extraordinário, até hoje sem explicação. Não se sabe como nem porquê, havia cravos vermelhos nas mãos do povo. Homens, mulheres e crianças de cravos nas mãos. Milhares de cravos. E o povo enfeitou de cravos os fuzis militares. E do povo a revolução ganhou nome: Revolução dos Cravos!

In http://cc25a.utopia.com.br/25abril

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