segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Francisco António Pereira da Guerra Lage

Por Leonel Salvado

Francisco António P. Guerra Lage | foto: Sanfins – Valpaços,
https://sites.google.com/site/sanfinsvlp/
(adaptado) | moldura:  http://www.ruadireita.com


Nasceu no último terço do século XIX no lugar de Fonte Mercê, freguesia de Água Revés e Crasto, no seio de uma antiga e conceituada família desta freguesia proprietária da “Casa de Fonte Mercê” ao tempo representada por seu pai, Cândido Júlio Lage.
Após uma breve passagem pela Academia Politécnica do Porto em que no dia 21 de Outubro de 1893 se matriculou na “classe de voluntários” do curso de Engenharia Civil, a duas cadeiras preparatórias, decidiu abandonar os estudos, encerrando a matrícula em Junho do ano seguinte, e regressou a Trás-os-Montes, fixando-se em Sanfins onde no mesmo ano de 1893 havia casado com Maria de Jesus, natural desta freguesia do concelho de Valpaços. Dedicou-se energicamente à agricultura e tornou-se grande produtor de azeite e cereais e abastado proprietário, detentor da maior casa de lavoura da região e de vasto património fundiário que se estendia aos termos dos lugares de Crasto e Lilela. Além da sua importante Casa solarenga de Sanfins, popularmente conhecida como a “Casa Grande”, ainda na década de 1940 constituía motivo de honra tanto para si e a família como para os moradores da aldeia o facto de, graças às suas excepcionais qualidades de gestor agrícola, possuir no sítio chamado do “Sagrado”, “o maior olival do concelho de Valpaços”.
Francisco Lage gozou de admirável reputação, tanto da parte dos humildes aldeãos que o conheceram melhor do que ninguém e o cognominavam de “pai dos pobres”, como de alguns homens de letras que também assim o definiram associando-lhe os atributos de «homem generoso e bom, leal fecundo e hospitaleiro» (João da Ribeira) e de «compadre e padrinho da aldeia inteira» (A. Veloso Martins). Além de agricultor pródigo e folgazão é ainda recordado como uma pessoa acomodada aos costumes urbanos e, sobretudo um apaixonado pela música, descolando-se várias vezes ao Porto para aí poder assistir a concertos de música clássica. 
Foi também personalidade destacada na vida política do concelho de Valpaços e no exercício de cargos de responsabilidade na liderança corporativa em direcção a cuja vila era visto amiúde deslocar-se na sua garbosa e estimada “égua russa”.
Foi militante e prestigiado membro do executivo do Partido do Partido Progressista de Valpaços, acompanhando todas as actividades promovidas por este desde a sua reorganização em 1897. Foi um dos irmãos da Confraria de Nossa Senhora da Saúde cuja criação se deveu ao dinamismo então imprimido no seio do partido pelas mais gradas figuras da sua comissão executiva. Passou a intervir mais activamente na acção do mesmo partido após a crise de 1901 que foi despoletada pela demissão do Dr. Francisco José de Medeiros da liderança, vindo a revelar-se como um dos mais enérgicos promotores da sua reorganização. Foi, nesse sentido, um dos signatários da carta que a 12 de Dezembro desse mesmo ano foi enviada ao líder distrital dos Progressistas para o pôr ao corrente da discórdia instalada no partido e da premente necessidade da sua renovação, bem como da carta que no dia 22 de Junho de 1906 foi expedida aos correligionários com a convocatória da reunião que para esse fim e com a anuência do mesmo líder distrital - conde de Vila Real - se realizou em Valpaços. Foi um dos vogais da nova comissão executiva aprovada por aclamação na Assembleia Geral de 1 de Julho de 1906 onde se apresentou como principal interveniente das propostas aí avançadas. Continuou integrado no Partido Progressista de Valpaços até à sua dissolução definitiva anunciada pela comissão em 22 de Outubro de 1910.
Já havia sido Presidente da Câmara de Valpaços em 1901 e no tempo da República voltou a sê-lo em 1937, após ter presidido a Comissão Municipal Administrativa no ano anterior e, por inerência de cujo cargo, lhe ter cabido a responsabilidade de receber em Valpaços o Presidente da República, Marechal Óscar Carmona, na cerimónia de celebração do Centenário da elevação de Valpaços a concelho.  Foi depois Presidente do Grémio da Lavoura do concelho de Valpaços, no exercício de cujo cargo ainda se mantinha em 1943. Faleceu na sua casa de Sanfins poucos anos depois com larga e ilustrada descendência directa.


Fontes:
ADUP APP - Academia Politécnica do Porto, 1837-1911, Livro de Matrículas e Actos Finais dos alunos da Faculdade de Ciências : Preparatórios | http://repositorio-tematico.up.pt;
ALVES, Paulo, Sanfins – Valpaços | https://sites.google.com/site/sanfinsvlp;
AMORIM, Pe João Vaz de, Por Montes e Vales… terras de Monforte e Terras de Montenegro”, in Revista Aquae Flaviae, nº 14, Chaves, Dezembro 1995;
MARTINS, A. Veloso, Valpaços, Monografia, Lello & Irmão, Porto, 2.ª ed., Dez. 1990;
SILVA, José António Soares da, O Partido Progressista de Valpaços, 1886-1910, ed. C. M. Valpaços, 2006.

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