Francisco António P. Guerra Lage | foto:
Sanfins – Valpaços,
https://sites.google.com/site/sanfinsvlp/
(adaptado) | moldura:
http://www.ruadireita.com
Nasceu no último terço do século XIX no
lugar de Fonte Mercê, freguesia de Água Revés e Crasto, no seio de uma antiga e
conceituada família desta freguesia proprietária da “Casa de Fonte Mercê” ao tempo representada por seu pai, Cândido
Júlio Lage.
Após uma breve passagem pela Academia
Politécnica do Porto em que no dia 21 de Outubro de 1893 se matriculou na “classe de voluntários” do curso de
Engenharia Civil, a duas cadeiras preparatórias, decidiu abandonar os estudos,
encerrando a matrícula em Junho do ano seguinte, e regressou a Trás-os-Montes,
fixando-se em Sanfins onde no mesmo ano de 1893 havia casado com Maria de
Jesus, natural desta freguesia do concelho de Valpaços. Dedicou-se
energicamente à agricultura e tornou-se grande produtor de azeite e cereais e abastado
proprietário, detentor da maior casa de lavoura da região e de vasto património
fundiário que se estendia aos termos dos lugares de Crasto e Lilela. Além da
sua importante Casa solarenga de Sanfins, popularmente conhecida como a “Casa Grande”, ainda na década de 1940
constituía motivo de honra tanto para si e a família como para os moradores da
aldeia o facto de, graças às suas excepcionais qualidades de gestor agrícola,
possuir no sítio chamado do “Sagrado”,
“o maior olival do concelho de Valpaços”.
Francisco Lage gozou de admirável
reputação, tanto da parte dos humildes aldeãos que o conheceram melhor do que
ninguém e o cognominavam de “pai dos
pobres”, como de alguns homens de letras que também assim o definiram
associando-lhe os atributos de «homem
generoso e bom, leal fecundo e hospitaleiro» (João da Ribeira) e de «compadre
e padrinho da aldeia inteira» (A. Veloso Martins). Além de agricultor
pródigo e folgazão é ainda recordado como uma pessoa acomodada aos costumes
urbanos e, sobretudo um apaixonado pela música, descolando-se várias vezes ao
Porto para aí poder assistir a concertos de música clássica.
Foi também personalidade destacada na
vida política do concelho de Valpaços e no exercício de cargos de responsabilidade
na liderança corporativa em direcção a cuja vila era visto amiúde deslocar-se
na sua garbosa e estimada “égua russa”.
Foi militante e prestigiado membro do
executivo do Partido do Partido Progressista de Valpaços, acompanhando todas as
actividades promovidas por este desde a sua reorganização em 1897. Foi um dos
irmãos da Confraria de Nossa Senhora da
Saúde cuja criação se deveu ao dinamismo então imprimido no seio do partido
pelas mais gradas figuras da sua comissão executiva. Passou a intervir mais
activamente na acção do mesmo partido após a crise de 1901 que foi despoletada
pela demissão do Dr. Francisco José de Medeiros da liderança, vindo a
revelar-se como um dos mais enérgicos promotores da sua reorganização. Foi,
nesse sentido, um dos signatários da carta que a 12 de Dezembro desse mesmo ano
foi enviada ao líder distrital dos Progressistas para o pôr ao corrente da
discórdia instalada no partido e da premente necessidade da sua renovação, bem
como da carta que no dia 22 de Junho de 1906 foi expedida aos correligionários
com a convocatória da reunião que para esse fim e com a anuência do mesmo líder
distrital - conde de Vila Real - se realizou em Valpaços. Foi um dos vogais da
nova comissão executiva aprovada por aclamação na Assembleia Geral de 1 de
Julho de 1906 onde se apresentou como principal interveniente das propostas aí
avançadas. Continuou integrado no Partido Progressista de Valpaços até à sua
dissolução definitiva anunciada pela comissão em 22 de Outubro de 1910.
Já havia sido Presidente da Câmara de Valpaços em 1901 e no tempo da República voltou a sê-lo em 1937, após ter presidido a Comissão Municipal Administrativa no ano anterior e, por inerência de cujo cargo, lhe ter cabido a responsabilidade de receber em Valpaços o Presidente da República, Marechal Óscar Carmona, na cerimónia de celebração do Centenário da elevação de Valpaços a concelho. Foi depois Presidente do Grémio da Lavoura do concelho de Valpaços, no exercício de cujo cargo ainda se
mantinha em 1943. Faleceu na sua casa de
Sanfins poucos anos depois com larga e ilustrada descendência directa.
Fontes:
ADUP APP - Academia
Politécnica do Porto, 1837-1911, Livro
de Matrículas e Actos Finais dos alunos da
Faculdade de Ciências : Preparatórios | http://repositorio-tematico.up.pt;
ALVES, Paulo, Sanfins
– Valpaços | https://sites.google.com/site/sanfinsvlp;
AMORIM, Pe João Vaz de, “Por Montes e Vales… terras de Monforte e Terras de Montenegro”, in
Revista Aquae Flaviae, nº 14, Chaves,
Dezembro 1995;
MARTINS, A. Veloso, Valpaços, Monografia, Lello
& Irmão, Porto, 2.ª ed., Dez. 1990;
SILVA, José António Soares da, O Partido Progressista de
Valpaços, 1886-1910, ed. C. M. Valpaços, 2006.
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