Depois de quase quatro décadas, a missa voltou a realizar-se na Capela de S. Genésio, graças à vontade e voluntariado da população, que quer dar nova vida a uma aldeia cujo último habitante já deixou a terra natal há muitos anos.
Longe dos tempos em que a alegria da “rapaziada” enchia as ruas, do tempo em que os lagares de azeite não tinham mãos a medir, em que oriunda de uma terra fértil, a população ia aos Possacos, sede de freguesia em carros de bois buscar apenas alguns alimentos, o Cachão é considerada uma aldeia desabitada, mas não ao abandono. Gente não falta com vontade de a mostrar ao povo e alguns puseram mãos à obra. Um deles foi Manuel Correia, de 62 anos, que embora emigrado em França e a trabalhar numa empresa de construção que lhe deu oportunidade de correr o mundo, nunca esqueceu a terra que o viu nascer e teve sempre vontade de lhe dar vida. Inicialmente, a cada três anos, encarregava-se de pintar a capelinha, mas o mato crescia e tornou a “quase promessa” impraticável. Depois, quando o tempo lhe permitiu passar mais tempo pela freguesia de Possacos, onde reside, começou a contactar as gentes locais e agora já se vêm os frutos.
No ano passado, começou a pedir material e ajudas para a reconstrução da Capela de S. Genésio, “que por custar a dobrar a língua, a população da localidade passou a chamar S. Gens”, considerado o santo alegre, que gostava de festas.
Depois, cerca de uma dezena de populares, sobretudo homens, alguns nascidos na localidade, arregaçaram as mangas e sob a forma de voluntariado, abdicando do descanso de fim-de-semana, fizeram o restauro do chão, das peredes e do telhado. Fazendo valer a máxima de que “quere é poder”, levavam o material em carros próprios, ou tractores, e almoçavam em conjunto, muitas vezes dentro da capela.
Aldeia ganha vida
Em finais de Agosto, a população respondeu em força às comemorações que inauguraram a requalificada capela, onde 37 anos depois foi celebrada a eucaristia pelo Padre Manuel Alves, que apoiou a ideia desde o início e que já naquela altura era pároco na localidade.
“Tivemos mais pessoas do que esperavamos”, contou Manuel Correia, um dos que partilhou com os presentes lembranças das histórias das casas e famílias que nelas habitavam. “O principal problema é o caminho. Se estivesse arranjado as pessoas não fujiam e iam lá mais vezes”, conta Manuel, que não poupa elogios a uma terra rica, onde viveu até cerca dos 18 anos, altura em que tinha mais de uma centena de “vizinhos”.
A próxima etapa é a composição do altar da capela, que está orçada em 8500 euros. Para angariar apoios, o próprio Padre Manuel Alves escreveu a Dulce Pássaro, Ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território, cuja família também tem propriedades no Cachão: “Há famílias que não esqueceram o berço e estamos empenhados em restaurar a capela na sua origem e douramento do altar”, referiu.
Sobre a possibilidade de assaltos, Manuel Correia, cuja família chegou a ter uma serralharia no Cachão, garante que foi colocada uma porta blindada e por isso não haverá problemas. Enquanto isso está empenhado no gradeamento exterior da capela, antes da restauração do fontanário e tanque público de lavar a roupa, e mostra entusiasmo com as obras: “Tenho um primo que já reconstruiu a casa. Tem tudo, casa de banho, quarto, etc. Vou reconstruir também a casa da minha família, mas a capela está em primeiro lugar”.
Cachão à espera – Que futuro?
Ainda hoje são muitos os agricultores que cultivam as terras da aldeia, apesar de desabitada, tanto de Valverde como de Possacos.
Pelas ruas da aldeia, qualquer pessoa fala algo sobre o Cachão. Apesar de algumas reconhecerem que nasceram “na escravidão, em que as crianças de 10 anos já trabalhavam à geira e de sol a sol”, quem conheceu o Cachão no seu auge fala com saudade: “terra rica, havia fartura, tinhamos de tudo e as pessoas iam lá buscar o que a terra dava. Bons tempos, era gente divertida. As pessoas dos Possacos, Vale de Salgueiro, Miradezes e Vale de Telhas iam para lá para se divertir”, contava uma habitante Á Voz de Chaves.
Erguida ao lado do Rio Rabaçal, a aldeia, apesar de pequena, era rica em património como ainda se denota hoje em dia. Não faltavam as nórias, os fornos, os lagares, os moinhos, que ficaram esquecidos quando “a população envelhecida começou a morrer e não havia gente nova para trabalhar na terra”.
Em tempos falou-se da construção de uma barragem naquela zona, o que deu alguma esperança à população, “mas o projecto, se existiu, ficou pelo papel, tal como um projecto ligado ao turismo”. Algumas pessoas têm a esperança e sentenciam: “o Cachão ainda vai voltar a ser o que era”.
Cátia Mata
In http://diarioatual.com/?p=2436
Longe dos tempos em que a alegria da “rapaziada” enchia as ruas, do tempo em que os lagares de azeite não tinham mãos a medir, em que oriunda de uma terra fértil, a população ia aos Possacos, sede de freguesia em carros de bois buscar apenas alguns alimentos, o Cachão é considerada uma aldeia desabitada, mas não ao abandono. Gente não falta com vontade de a mostrar ao povo e alguns puseram mãos à obra. Um deles foi Manuel Correia, de 62 anos, que embora emigrado em França e a trabalhar numa empresa de construção que lhe deu oportunidade de correr o mundo, nunca esqueceu a terra que o viu nascer e teve sempre vontade de lhe dar vida. Inicialmente, a cada três anos, encarregava-se de pintar a capelinha, mas o mato crescia e tornou a “quase promessa” impraticável. Depois, quando o tempo lhe permitiu passar mais tempo pela freguesia de Possacos, onde reside, começou a contactar as gentes locais e agora já se vêm os frutos.
No ano passado, começou a pedir material e ajudas para a reconstrução da Capela de S. Genésio, “que por custar a dobrar a língua, a população da localidade passou a chamar S. Gens”, considerado o santo alegre, que gostava de festas.
Depois, cerca de uma dezena de populares, sobretudo homens, alguns nascidos na localidade, arregaçaram as mangas e sob a forma de voluntariado, abdicando do descanso de fim-de-semana, fizeram o restauro do chão, das peredes e do telhado. Fazendo valer a máxima de que “quere é poder”, levavam o material em carros próprios, ou tractores, e almoçavam em conjunto, muitas vezes dentro da capela.
Aldeia ganha vida
Em finais de Agosto, a população respondeu em força às comemorações que inauguraram a requalificada capela, onde 37 anos depois foi celebrada a eucaristia pelo Padre Manuel Alves, que apoiou a ideia desde o início e que já naquela altura era pároco na localidade.
“Tivemos mais pessoas do que esperavamos”, contou Manuel Correia, um dos que partilhou com os presentes lembranças das histórias das casas e famílias que nelas habitavam. “O principal problema é o caminho. Se estivesse arranjado as pessoas não fujiam e iam lá mais vezes”, conta Manuel, que não poupa elogios a uma terra rica, onde viveu até cerca dos 18 anos, altura em que tinha mais de uma centena de “vizinhos”.
A próxima etapa é a composição do altar da capela, que está orçada em 8500 euros. Para angariar apoios, o próprio Padre Manuel Alves escreveu a Dulce Pássaro, Ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território, cuja família também tem propriedades no Cachão: “Há famílias que não esqueceram o berço e estamos empenhados em restaurar a capela na sua origem e douramento do altar”, referiu.
Sobre a possibilidade de assaltos, Manuel Correia, cuja família chegou a ter uma serralharia no Cachão, garante que foi colocada uma porta blindada e por isso não haverá problemas. Enquanto isso está empenhado no gradeamento exterior da capela, antes da restauração do fontanário e tanque público de lavar a roupa, e mostra entusiasmo com as obras: “Tenho um primo que já reconstruiu a casa. Tem tudo, casa de banho, quarto, etc. Vou reconstruir também a casa da minha família, mas a capela está em primeiro lugar”.
Cachão à espera – Que futuro?
Ainda hoje são muitos os agricultores que cultivam as terras da aldeia, apesar de desabitada, tanto de Valverde como de Possacos.
Pelas ruas da aldeia, qualquer pessoa fala algo sobre o Cachão. Apesar de algumas reconhecerem que nasceram “na escravidão, em que as crianças de 10 anos já trabalhavam à geira e de sol a sol”, quem conheceu o Cachão no seu auge fala com saudade: “terra rica, havia fartura, tinhamos de tudo e as pessoas iam lá buscar o que a terra dava. Bons tempos, era gente divertida. As pessoas dos Possacos, Vale de Salgueiro, Miradezes e Vale de Telhas iam para lá para se divertir”, contava uma habitante Á Voz de Chaves.
Erguida ao lado do Rio Rabaçal, a aldeia, apesar de pequena, era rica em património como ainda se denota hoje em dia. Não faltavam as nórias, os fornos, os lagares, os moinhos, que ficaram esquecidos quando “a população envelhecida começou a morrer e não havia gente nova para trabalhar na terra”.
Em tempos falou-se da construção de uma barragem naquela zona, o que deu alguma esperança à população, “mas o projecto, se existiu, ficou pelo papel, tal como um projecto ligado ao turismo”. Algumas pessoas têm a esperança e sentenciam: “o Cachão ainda vai voltar a ser o que era”.
Cátia Mata
In http://diarioatual.com/?p=2436
Eu gostaria de me juntar a um projeto comunitário nesta aldeia. arminda bernardino, 933486638
ResponderEliminarSou sobrinho neto do local de Cachão Cel Ribeiro do exercito Português do início do século passado, neto de seu irmão Luciano Anibal Ribeiro, que partiu do Cachão em 1908 para o Brasil. Vou visitar a Poçacos e ao Cachão neste maio de 2018 com minha esposa, minha irmã e seu esposo. Busco por parentes para um abraço e fotos. Agradeço por informações que me permitam encontrá-los. Grato. Saudações cordiais. Eduardo Marcel Ribeiro - Curitiba/Brasil
ResponderEliminarA proposito, emribei@yahoo.com
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