sexta-feira, 29 de julho de 2011

831.º Aniversário da primeira vitória naval portuguesa com D. Fuas Roupinho - mito ou realidade?

Por Leonel Salvado
D. Fuas Roupinho, desenho de Jorge Miguel, do Album “Lendas da História de Portugal"

Esta data comemorativa envolve uma personagem lendária da História de Portugal cujos milagrosos e gloriosos feitos foram durante séculos sustentados apenas pela tradição oral e só vieram a ser registados por poetas e cronistas a partir do século XVI. Essa personagem foi D. Fuas Roupinho, alegadamente um arrojado cavaleiro da confiança de D. Afonso Henriques, em cujo reinado de destacou pelos seus actos de extraordinária bravura a que se deve o facto de, segundo a mesma tradição, ser considerado o primeiro comandante naval português protagonista da primeira vitória naval da Marinha portuguesa. Apesar de a sua real existência continuar a ser posta em causa, visto que o seu nome não é mencionado nos documentos coevos (reservando-se apenas, no "Livro de Linhagens do Conde D. Pedro", segundo Maria Fernanda E. G. da Silva - Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão, Liv. Figueirinhas, 1990, Vol.V, p. 395 - a existência, da alcunha de "Faroupim" atribuído a um tal de Fernão Gonçalves, nome que aparece frequentemente entre os confirmantes de doações de D. Afonso Henriques entre 1137 e 1183), alguns sucessos que lhe são atribuídos pela tradição afiguram-se para a maioria dos historiadores verosímeis, no contexto político e militar em que tiveram lugar, como é o caso, entre outros, da referida batalha naval que decorreu ao largo do cabo Espichel com aparatosa vantagem da armada cristã. Ainda que haja concordância relativamente ao ano de 1180, a data exacta apontada para tal sucesso também varia conforme os historiadores, sendo que para uns terá ocorrido a 15 de Julho, para outros a 16  de Junho (esta última subscrita por Joaquim Veríssimo Serrão - História de Portugal, Verbo, 1980, I Vol, p.104); para outros (como Maria Fernanda E. G. da Silva - estudo e lugar citados), o confronto terá sucedido a 29 de Julho, há exactamente 831 anos; para outros, ainda, em data imprecisa mas, seguramente, no Verão de 1180. Convém que se diga que, segundo o que de D. Fuas Roupinho referem os mencionados historiadores, o lendário cavaleiro já se houvera feito  notar vantajosamente em anteriores escaramuças contra os almóadas como foi a que ocorreu na Primavera de 1179 quando, enquanto alcaide-mor de Coimbra (segundo Maria Fernanda E. G. da Silva, id. ibid.) ou alcaide-mor de Porto de Mós (segundo J. Veríssimo Serrão, id. ibid.), havendo sido informado que os almóadas se preparavam para atacar este castelo, D. Fuas Roupinho, auxiliado pelas guarnições de Santarém e Alcanede e pelos valorosos cavaleiros da Ordem de Avis, caiu sobre eles, desbaratando-os, e entregando os mouros cativos ao soberano cristão, D. Afonso Henriques, pelo que só depois disto, refere Maria Fernanda da Silva, “o monarca recompensou-o largamente, nomeando-o alcaide de Porto de Mós (id. ibid).


Mito ou realidade, a verdade é que este lendário cavaleiro do século XII, ao qual se prende ainda uma outra lenda – a do “milagre de Nazaré” – e que, segundo as várias versões dos cronistas, encontrou a morte nesse mesmo de ano de1180,  ou no de 1184, ao largo de Ceuta em mais uma sortida naval contra os sarracenos, foi, tanto pela tradição popular como pelos escritos de poetas e eruditos, revestido de extraordinário halo de espiritualidade e dignidade, de que se fazem eco as estrofes 16 e 17 do canto VIII d’Os Lusíadas de Camões:

Vês este que, saindo da cilada,
Dá sobre o Rei que cerca a vila forte?
Já o Rei tem preso e a vila descercada:
Ilustre feito, digno de Mavorte!
Vê-lo cá vai pintado nesta armada,
No mar também aos Mouros dando a morte,
Tomando-lhe as galés, levando a glória
Da primeira marítima vitória.

É, Dom Fuas Roupinho, que na terra
E no mar resplandece juntamente,
Com o fogo que acendeu junto da serra
De Abila, nas galés da Maura gente.
Olha como, em tão justa e santa guerra,
De acabar pelejando está contente:
Das mãos dos Mouros entra a feliz alma,
Triunfando, nos céus, com justa palma.


Para aceder a um resumo acerca da “Lenda do milagre da Nazaré”,

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