sábado, 16 de julho de 2011

Ciganos são heterogéneos e diferenciam-se entre si

2011-07-01
Por Carla Sofia Flores

“É preciso desmontar preconceitos!”, alerta investigadora

Tradições culturais variam consoante os grupos

Com maior ou menor intensidade, os ciganos continuam a ser vítimas de preconceitos e a ser estigmatizados pelos não ciganos, um pouco por todo o lado, dando-se assim azo a um afastamento e falta de interacção. Contudo, esta realidade também existe dentro da própria comunidade cigana, que é“muito heterogénea”, sendo que há grupos que se diferenciam entre si e negam a autenticidade da identidade cigana a outros.

Este cenário foi registado por Lurdes Nicolau, doutoranda da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que nos últimos cinco anos investigou a vida de pessoas de etnia cigana, nomeadamente no concelho de Bragança. Neste estudo, a também professora de ensino básico propôs-se “a conhecer o grupo étnico cigano que maioritariamente se encontra em Trás-os-Montes e compreender a interacção que o mesmo estabeleceu com a população maioritária, tanto no meio local -urbano e rural -, como no que concerne à instituição escola”.

Em declarações ao «Ciência Hoje», Lurdes Nicolau explicou que este estudo surgiu depois de ter constatado que “os ciganos de Pamplona [onde deu aulas a crianças desta etnia] eram diferentes dos que conhecia em Trás-os-Montes”. Ao investigar sobre o assunto, deparou-se com “a inexistência de bibliografia científica acerca dos ciganos desta região portuguesa”, pelo que decidiu “inteirar-se da situação e perceber qual a situação do nordeste transmontano”.

Esta foi também uma forma que a aluna da UTAD encontrou para “’desomogeneizar’ os ciganos de Portugal”, na medida em que eles são diferentes entre si. “Não vamos generalizar. Devemos tratá-los como indivíduos e não como um só grupo”, alertou.  “Temos preconceitos e criamos estereótipos. Também os tinha quando comecei a contactar com eles, mas há de tudo. Se os excluirmos, cada vez ficam mais excluídos, pelo que é preciso desmontar preconceitos acerca deles”,  disse ainda. (Na foto, Lurdes Nicolau)

Gitanos e Chabotos
Esta investigação permitiu verificar que, em Trás-os-Montes, há dois grupos que se auto-diferenciam entre si, através de aspectos culturais, religiosos, económicos, físicos, morais e linguísticos. Trata-se dos Gitanos, grupo maioritário e que corresponde aos feirantes, e dos Chabotos, que outrora eram “’ambulantes’”. São estas as denominações que cada um dos grupos atribui ao outro, sendo que ambos se auto-denominam ciganos.
De acordo com Lurdes Nicolau, nenhum deles reconhece o outro como cigano, não havendo assim qualquer tipo de interacção. “Pelo contrário, as fronteiras estão bem demarcadas, de forma que locais frequentados por uns são evitados pelos outros”, reforçou. Além disso, atribuem características distintas aos demais. “Os Gitanos são muito agressivos, de acordo com os Chabotos. Já estes são muito sujos, de acordo com os primeiros”, exemplificou.

Aspecto das barracas e casas degradadas (Imagem: Lurdes Nicolau)

Nesta zona transmontana também foi identificado outro grupo de ascendência cigana: os caldeireiros.“Devido à falta de elementos no seio do próprio grupo, casaram com aldeanas e, na actualidade, perderam ou omitem os elos com os seus ancestrais. Também eles eram ‘ambulantes’ e desenvolveram um dialecto que denominam ‘latim’ e, segundo os mesmos, difere do que falam os Chabotos e os Gitanos”, explicou a investigadora.

Do meio urbano ao rural
Os ciganos que hoje vivem nos meios urbano e rural eram, até há 30 anos, do mesmo grupo. Segundo a professora, “quando começaram a sedentarizar-se é que se separaram”, vivendo agora em realidades distintas.
Aqueles que vivem nos três bairros urbanos estudados, enfrentam “condições de extrema pobreza” e“vivem isolados nos bairros, sem relações inter-culturais e sociais”. Contudo, Lurdes Nicolau sublinhou que esta realidade não deve ser generalizada e corresponde apenas ao foco do seu estudo, podendo por isso haver outros ciganos do meio urbano que vivem noutros moldes. “Há alguns com boas condições, não vamos tipificar”, sendo que ela própria é conhecedora de exemplos disso.
Nas aldeias, as condições sócio-económicas são também precárias, mas “algumas casas são razoáveis”. No entanto, alguns ciganos estão bem integrados.

Alunos de etnia cigana numa escola de Bragança (Imagem: Lurdes Nicolau)

“Numa das aldeias, dos nove agregados estudados, seis eram mistos, o que é sinal de interacção e integração”, afirmou, sublinhando que noutras localidades já eram excluídos, pelo que ciganos e não ciganos tinham o seu próprio espaço, “não se misturando”.
Quanto à escola, Lurdes Nicolau constatou “o que se verifica ao nível nacional e internacional”, disse, explicando que “no ensino básico há uma grande concentração de alunos de etnia cigana, mas a partir daí os números baixam, dados o abandono escolar e o absentismo muito altos”. Para demonstrar a discrepância relativamente à restante população, a investigadora referiu que, em Bragança, o insucesso escolar dos alunos ciganos está estimado em 45 por cento, enquanto a taxa para os restantes alunos é de 1,7 por cento.

In http://www.cienciahoje.pt

1 comentário:

  1. Mudando ligeiramente de temática e pegando numa das frases iniciais desta publicação: «Com maior ou menor intensidade, os ciganos continuam a ser vítimas de preconceitos e a ser estigmatizados pelos não ciganos...»

    O grande problema em Trás-os-Montes, relativamente às famílias ciganas, não está relacionado com racismo, mas sim com os seus constates actos de:
    - Tráfico e Droga;
    - Furtos de todo o tipo: a transeuntes, residências, comércios, grandes empresas, etc.
    - Agressões sem qualquer razão a pessoas que não pertencem à etnia.

    Falando concretamente em Valpaços, que é a zona que eu melhor conheço, para a maior parte das famílias de etnia cigana, estas actividades (entre muitas outras ilícitas) são para eles o regular "dia-a-dia"... Estou-me a recordar que há uns meses atrás, numa feira em Valpaços, estava um grupo de 3 a 4 crianças de etnia cigana (filhos de tendeiros) a agredirem aleatoriamente as pessoas que passavam pela feira. Até que um senhor na ordem dos 60 anos, depois de ter levado uns pontapés, agarrou um miúdo pelo braço, e disse-lhe que não devia fazer aquilo... Nisto, miúdo vai dizer ao pai que aquele indivíduo lhe havia "batido".
    Foi neste momento que a feira "terminou". Inúmeros membros de etnia cigana começam a correr atrás do homem, uns armados com ferros, machados, pés de cabra.. etc. Até que o sexagenário consegue entrar no quartel dos bombeiros e com a ajuda dos "soldados da paz" conseguiram fechar todas as entradas para o quartel. Posteriormente foram chamadas as autoridades.
    Este incidente aconteceu por volta das 10 da manhã, e mesmo com a presença das autoridades no local, o homem só conseguiu sair com segurança do quartel dos bombeiros por volta das 7 da tarde.

    O grande problema é que este tipo de casos, não são casos esporádicos. Estes "ciganos", conseguem ter tanto poder, que até a própria autoridade lhes tem medo. Reparem que todos nós temos por exemplo que ter seguro na nossa viatura para podermos conduzir, e em Valpaços grande parte dos ciganos andam sem seguro. As autoridades nem sequer os mandam parar porque lhe têm medo, uma vez que tem família e estes indivíduos eram bem capazes de fazer as suas cruéis vinganças. Presenciei uma ocasião, uma patrulha da Brigada de Trânsito de Chaves, que estava a fazer uma operação STOP, e a mandar parar todos os veículos. No entanto, quando aparece uma carrinha de membros de etnia cigana, a fazer uma "barulheira" enorme, com os faróis partidos, condutor sem cinto e sabe-se lá o quê mais, o militar mandou seguir, e o veículo que vinha logo atrás da dita carrinha, já o mandou parar para fazer a fiscalização.

    Por estas, e por muitas outras razões pejorativas, é que grande parte dos ciganos, não se integram nas nossas sociedade. Depois ainda vêm alguns sociólogos e Antropólogos (entre muitos outros) afirmar que: «a sociedade actual discrimina os membros de etnia cigana.». Muito sinceramente, em Trás-os-Montes, são os ciganos que discriminam os não ciganos.

    Cumps

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