John Boyd Dunlop André Gustav Citroën
Com trinta e oito anos de intervalo, comemora-se nesta data o nascimento de dois grandes nomes ligados à história e evolução dos transportes e da indústria automóvel, John Boyd Dunlop e André Gustave Citroën. Aquele foi um dos primeiros responsáveis pelo invento que revolucionaria não só o conceito do processo mais seguro e cómodo da circulação, primeiro da bicicleta e logo a seguir do automóvel, mas também a construção das rodovias – o pneumático. O segundo, um pioneiro da indústria de construção automóvel foi quem deu origem à marca que ainda hoje ostenta o seu nome com o respectivo símbolo do “double chevron”, inspirado numa das “suas” inovações técnicas (a engrenagem ou “dentadura em Traves”) e fundou o império industrial a ela associada.
John Boyd Dunlop
Nasceu em 5 de Fevereiro de 1840 numa fazenda escocesa em Dreghorn, North Ayrchire e estudou Medicina Veterinária na Universidade de Edimburgo, profissão a que se dedicou durante uma década até se mudar, em 1967 para Belfast na Irlanda do Norte. Faleceu em Dublin em 23 de Outubro de 1921.
Ainda que a ideia do pneumático tinha sido patenteada, pela primeira vez, em 1846 em França, pelo seu compatriota Robert William Thomson e nos Estados Unidos da América no ano seguinte e Dunlop só o tenha feito desenvolvido e testado em 1887 e patenteado em 1888, não deixam de ser curiosas as circunstâncias em que a ideia desta invenção surgiu na mente do médico-veterinário escocês, bem como eco que ela teve no ambiente de alucinante optimismo e de inegável progresso tecnológico que envolveu o mundo ocidental na segunda metade do século XIX, chegando-se ainda hoje ao ponto de se falar numa “reinvenção da roda” tomando Boyd Dunlop como exclusiva referência.
Vamos transcrever uma interessante reportagem a respeito do invento, do seu criador e dos proventos que este daí obteve:
Reinvenção da roda
Um problema que os usuários de bicicletas já se acostumaram a enfrentar é a qualidade precária das rodas de borracha destes veículos - elas não suportam o atrito com o solo e acabam se despedaçando. Graças ao veterinário escocês John Boyd Dunlop, 49 anos, este problema está se tomando coisa do passado na Inglaterra. Dunlop acaba de inventar um novo e engenhoso tipo de roda - batizada de pneumático e dotada apenas de um tubo oco de borracha - que substitui com eficiência os cinturões de borracha maciça que envolvem hoje em dia os aros de bicicletas. Inflado com ar comprimido, o tubo de Dunlop adquire forma e dureza equivalentes às da roda convencional, mas é mais macio. O pneumático tem vida útil extensa e ainda oferece a vantagem de amortecer os solavancos da bicicleta, tornando os passeios mais agradáveis. "Cheguei a esta invenção por acaso", diz Dunlop.
Três anos atrás, o veterinário observou que as rodas do triciclo de seu filho Johnnie, então com 10 anos, abriam sulcos no gramado de sua casa e se estragavam com pouco tempo de uso. Dunlop imaginou, então, que as rodas de bicicleta poderiam seguir a mesma tecnologia dos colchões de ar, que adquirem consistência com uma injeção de ar comprimido. O pneumático estava concebido. Dunlop colou, uma à outra, as bordas de uma lâmina de borracha, transformando-a num tubo. Em seguida, colou também as extremidades dessa bisnaga - deixando-a do tamanho exato de uma roda de bicicleta. Por fim, o irlandês instalou uma válvula no tubo circular, por onde uma bomba injeta ar. É preciso que a borracha esteja bem vedada, caso contrário o ar escapa. Para proteger o pneumático, o veterinário construiu uma cobertura externa de borracha mais dura, amparada numa estrutura de arame, que envolve o tubo. A cobertura mais dura, no entanto, não resolve o grande problema da invenção de Dunlop: ao passar sobre um objeto pontiagudo, como um prego ou caco de vidro, a nova roda fura e a bicicleta não pode ser pedalada até que o pneumático seja novamente inflado de ar.
No início do próximo ano, a primeira fábrica de pneumáticos de John Dunlop começará a funcionar na Inglaterra, com capacidade de produção de 1 500 unidades por mês - em sociedade com o empresário Harvey Du Cros. "O pneumático poderá ser utilizado também em rodas de charretes e carroças", diz Dunlop, que antes de criar o pneumático dedicava-se exclusivamente a seu consultório veterinário e jamais pedalara uma bicicleta. A rigor, a invenção poderá ser utilizada em qualquer veículo que possua rodas, excetuando-se os trens e bondes, que andam sobre trilhos.”
In http://veja.abril.com.br/historia/republica/tecnologia_novidades_invencoes-impressao.shtml
André Citroën
André Gustav Citroën, nasceu em Paris a 5 de Fevereiro de 1078 e foi o quinto e último filho Levie Citroen, judeu holandês e Mazra Kleinmann, judia polaca de Varsóvia, que tinham dado entrada em França em 1873. O pai exercia o mister de diamantista. Surpeendido pelo suicídio do pai quando contava apenas seis anos de idade, André teve uma infância normal na qual revelava um particular gosto pela leitura de obras de carácter científico que marcaram a sua época, em especial as de Jules Verne que moldaram o seu carácter inventivo. Fascinado pelas grandes realizações da era industrial, nomeadamente a construção da Torre Eiffel e a Exposição Universal de Paris de 1889 decidiu ser engenheiro, formando-se em 1900 na Escola Politécnica de Paris. De visita à terra natal de sua mãe fica entusiasmado com a descoberta, na empresa de moagem de farinha de um familiar, de um engenho em madeira constituído por engrenagens dentadas em forma de “V”, cujas vantagens na redução do esforço axial quando colocadas em posições opostas o convencem a regressar a Paris, aplicá-las em engenhos de aço e patenteá-los. Foi tal o êxito alcançado com esta inovação que Citroën adoptou a dupla trave (“double chevrons”) como marca das suas realizações no domínio da engenharia, só mais tarde aplicado aos automóveis.
Obrigado a colaborar no esforço de guerra para o fabrico de armamento para os Aliados, só em 1919 se aventurou na indústria automóvel com tal sucesso que em 1930 a empresa Citroën se tornou na quarta maior empresa de fabricantes de automóveis do mundo. Ironicamente, o mesmo factor responsável por tão extraordinário crescimento – a visão megalómana e excêntrica de André Citroën - haveria de sujeitar a empresa à ameaça de ruína, chegando a ser condenada a uma liquidação judicial que fez recear a sua falência total, coisa que só não sucedeu por ter sido milagrosamente resgata pela empresa Michelin. Em todo o caso a marca sobrevive hoje integrada no Grupo PSA e é necessário dar razão aos mais nostálgicos admiradores e amantes incondicionais da Citroën, quando afirmam que esta é uma das marcas de automóveis da história mais conotadas sob o signo da inovação tecnológica, em grande parte, talvez, inspirada no espírito de descoberta e na procura de permanente evolução que sempre caracterizaram o carácter de André Citroën falecido a 3 de Julho de 1935 na mesma cidade de Paris.
Não é por acaso que em 1998 Citroën foi nomeado para o “Automotive Hall of Fame”, em Dearborn, Michigan. Com efeito ao longo da produção dos seus 41 automóveis considerados históricos podemos enunciar 14 inovações tecnológicas e de mercado de que a Citroën foi, incontestavelmente pioneira:
- A já referida jóia tecnológica das engrenagens “chevron”
- O 1.º automóvel a ser vendido completo (Modelo A, 1919);
- O 1.º automóvel europeu a ser construído em série (Modelo A, 1919 - 1921)
- O 1.º automóvel com carroçaria toda em metal (Modelo B, 1924)
- O 1.º automóvel arrefecido por bomba de água (Modelos C4 e C6, 1928)
- O 1.º automóvel com carroçaria feita numa só peça ( Modelos 8, 10 e 15, 1932)
- O 1.º automóvel com tracção dianteira (O Traccion, 1934)
- O 1.º automóvel com suspensão hidropneumática (1955)
- O 1.º automóvel em série com travões de disco ( Modelos DS, 1955)
- A 1.ª marca europeia a adoptar métodos de distribuição inovadores (redes de concessionários, serviços pós-venda…)
- A 1.ª marca a adoptar campanhas de publicidade automóvel (Torre Eiffel transformado em suporte publicitário luminoso, expedições a África e à Ásia…)
- A 1ª marca a criar merchandisig demarca (1ª fábrica de miniaturas e catálogo de brinquedos)
- A Tecnologia HDI
- As Tecnologias FAP (filtro de partículas)
Uma nota final: Como mostrámos neste blogue, na categoria Automóveis na História [local/regional], foi num Citroën Spécial que Artur Mimoso alinhou em 1925 no 1.º, e único, Rallye de Trás-os-Montes, com passagem por Vilarandelo e Valpaços. Para recordar o evento clique AQUI.
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