Embarque de tropas portuguesas para a Guerra Colonial | http://ultramarlembrar2.blogspot.com
Em Angola, na data mencionada, confirmavam-se os rumores de que haviam começado a movimentar-se as primeiras forças organizadas de libertação colonial na depois chamada “zona sublevada do Norte” que correspondia aos distritos do Zaire, Uíje e Quanza Norte. O MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) fez um ataque em força Luanda à Cadeia Militar, ao quartel da PSP e à Delegação da Emissora Nacional e ao mesmo tempo que no Norte Angola a UPA (União dos Povos de Angola) atacou fazendeiros brancos, deixando atrás de si um rasto de destruição e chacina. Estes acontecimentos marcaram o começo da Guerra Colonial que progressivamente se estendeu a outras províncias ultramarinas como Angola, Guiné-Bissau e Moçambique e a sua notícia foi recebida em Portugal Continental com apreensão e indignação da parte da sociedade e do Regime. A resposta do poder e as trágicas consequências de treze anos de luta armada ainda se encontram bem vivas na memória de muitos portugueses. São estes dolorosos factos da nossa História militar mais recente que nos cabe aqui recordar em memória aos portugueses que tombaram em África ao serviço da Nação que então legitimava a incondicional solução militar com base no princípio do dever de defesa do território nacional, revendo-se ela própria, a Nação, ideologicamente como pluricontinental e multiracial.
A Resposta do Poder e o início da guerra colonial
O videoclip que se segue e o documentário que contém, retratam, melhor do que as nossas palavras, uma parte essencial dos factos a que nos reportamos.
As trágicas consequências da guerra colonial e os movimentos e acções em memória das suas vítimas
A “Liga dos Combatentes” e “Os Veteranos da Guerra do Ultramar” têm feito um trabalho notável no sentido de honrar a memória dos portugueses que tombaram na “Guerra do Ultramar”, de os identifica e deixar precisas indicações sobre os locais onde se encontram sepultados, sempre que não existam condições para o resgate e trasladação dos seus restos mortais para junto dos seus familiares. Devemos também louvar a iniciativa da Câmara Municipal de Valpaços em erguer um monumento, em fase de construção,“numa das portas de entrada da cidade” que pretende ser um “Memorial aos Mortos pela Pátria” como foi noticiado por Sérgio Morais aqui no “Clube de História de Valpaços” e no “Notícias de Valpaços”. Por se tratar de uma homenagem devida pelos portugueses e pelos valpacenses, a exemplo da que, ninguém duvidará por certo, é assumida pelos seus camaradas que tiveram a sorte de escapar com vida do mesmo absurdo atoleiro, a muitos dos quais, afinal, ficámos a dever o derrube da ditadura que abriu ao País o caminho da democracia e do progresso, cabe-nos manifestar a nossa mais sincera congratulação por tal iniciativa. Convém lembrar que, segundo uma lista nominal divulgada no site oficial dos “Veteranos da Guerra do Ultramar” que tivemos a oportunidade de publicar aqui no “Clube de História de Valpaços” em 20 de Abril de 2010 sobre os “Combatentes Valpacenses mortos na Guerra Colonial”, foram na ordem dos 47 os nossos jovens compatriotas do concelho de Valpaços, cujas sepulturas e restos mortais foi possível, até à data, identificar-se por aquela organização, o que equivale a dizer, quarenta e sete famílias acometidas pela dor universal que é o que representa a perda de um ou mais entes queridos e é que o sentiram na alma os respectivos pais, viúvas e órfãos.
E todos os outros que, mesmo não tendo perdido nenhum ente querido, sofreram na pele os efeitos dessa guerra, que todos tentamos esquecer.
ResponderEliminarA memória que eu tenho desses tempos, com que mágoa o recordo, está ligada aos meus pais e à dor que tentavam ocultar de nós, mas que era visível nas lágrimas da minha mãe.
Sim, porque "um homem não chorava", dizia-se, mesmo que fosse por dois filhos que estavam em Angola, no norte de Angola, onde aconteceram os primeiros tumultos.
É verdade Graça Gomes!Os traumas desta guerra com cujo objectivo os próprios militares nunca se identificaram afectou a todos os portugueses. E havendo filhos no Norte de Angola, onde aconteceram os primeiros massacres a civis inocentes, consigo imaginar o constante desespero dos seus pais. Gostaria de lhe dizer que ontem, após a publicação deste post, assisti um documentárioque passou à noite na SIC (não sei se a Graça viu)justamente sobre este tema e impressionou-me sobretudo os angustiantes gritos de dor de um soldado gravemente desmembrado (já sem pernas!)sendo perceptíveis as suas palavras (e precupação)constantemente repetidas que eram : Ai quando os meus pai e irmãos souberem disto! É claro que o primeiro pensamento vai para a família e, por vezes, a maior dor não é a dor física é a dor moral e isto e esta dor tocou a todos de uma forma ou de outra.
ResponderEliminarBem haja pelo seu testemunho, Graça Gomes.
Um Abraço.
Menina dos olhos tristes,
ResponderEliminarO que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Senhora de olhos cansados,
Porque a fatiga o tear?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Vamos, senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Anda bem triste um amigo,
Uma carta o fez chorar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar
- O soldadinho já volta
Do outro lado do mar.
O soldadinho já volta,
Está quase mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.
"Adriano Correia de Oliveira"
Belas e pertinentes quadras estas de Adriano Correia de Oliveira, trazidas aqui pelo nosso comentador Anónimo!
ResponderEliminarSeja ele quem fôr, o nosso Bem Haja
O 4 de Fevereiro tem meio século! É um marco histórico para os angolanos porque marca,em termos de ação armada, o princípio do fim do jugo colonial. Mas também é nosso porque faz parte da nossa história e não devemos envergonharmos do nosso passado. Pelo contrário, devemos prestar homenagem aos combatentes que, de ambos os lados da trincheira, morreram nas "Guerras do Ultramar". Infelizmente foi preciso uma guerra de treze anos, ceifando milhares de vidas, para que o clamor de "Angola é Nossa" desse lugar ao de "Angola para os angolanos". O 4 de fevereiro de 1961 contribuiu para a libertação do povo português, de uma ditadura que teimava em não reconhecer o direito dos povos à liberdade e à autodeterminação. Conduziu ainda ao fim do nosso império colonial, reduzindo o espaço geográfico português ao solo pátrio europeu.
ResponderEliminarAinda há muitos homens e famílias da geração do "soldadinho que não volta do outro lado do mar" que sofrem as cicatrizes da guerra. O meu desejo é que angolanos e portugueses tirem do "4 de fevereiro" os ensinamentos para caminharem unidos numa comunidade de interesses, alicerçada na língua comum.