sexta-feira, 20 de maio de 2011

734.º Aniversário da morte do papa português, João XXI

Por Leonel Salvado

Papa João XXI (Pedro Hispano) | Aljodasch, http://wikipedia.org

Mais conhecido por Pedro Hispano, recebeu no baptismo o nome de Pedro Julião. Ignora-se a data e o local exactos do seu se nascimento, aventando-se que tenham sido entre 1205 e 1220 em Lisboa, havendo quem sugira que na actual freguesia de S. Julião. A sua paternidade é também controversa, defendendo alguns autores que tenha nascido do médico João Rebelo, de quem teria herdado a profissão, e de Teresa Gil, pretendendo outros que tenha sido filho do chanceler de D. Sancho I, o Mestre Julião Pais. Terá, portanto, nascido após menos de um século da conquista de Lisboa e vivido durante os reinados de D. Afonso II, D. Sancho III e D. Afonso III.

Pedro Hispano Iniciou os seus estudos na escola da catedral de Lisboa prosseguindo-os mais tarde na Universidade de Paris (ou Montpellier – dividem-se mais uma vez os historiadores), adquirindo uma sólida formação escolástica nas áreas da medicina, teologia, lógica e dialéctica bem como na área da física e metafísica aristotélica. Entre 1246 e 1252 foi professor de Medicina na Universidade de Siena, granjeando grande fama pela manifestação da sua vasta e diversificada cultura científica, tanto na docência como na publicação de tratados de medicina de filosofia e de Teologia que serviram de primordial referência nas universidades europeias durante os séculos que se seguiram de predominância cultural escolástica.
Entre 1250 e 1258 já havia ingressado no sacerdócio, em Portugal, pois, como refere Joaquim Veríssimo Serrão, entre estas duas datas «confirma-se a sua presença no Reino, como deão da sé de Lisboa e arcediago de Braga, figurando nas Cortes de Guimarães daquele ano e assinando como testemunha em várias cartas de Afonso III.» Ainda segundo este historiador, «também se pode assentar a sua presença nas Cortes de Leiria de 1254» e «no fim de 1257 viu aceita pelo Papado a sua apresentação para prior da Igreja de Santa Maria de Guimarães» e ainda «em Junho de 1258, chamado agora Pedro Julião, estava junto do monarca na mesma vila. [1] Em 1271 o cabido da sé de Braga elegeu-o para esta arquidiocese e em 1273 foi elevado a cardeal-arcebispo de Tusculum, nas proximidades de Roma, sendo, aí, em 1275 nomeado médico principal do Sumo Pontífice, Gregório X e, a 13 de Setembro de 1276, em conclave realizado em Viterbo, é eleito papa e coroado a 20 de Setembro, adoptando o nome de João XXI, adopção esta que se costuma considerar ter sido por lapso, uma vez que não existiu papa algum com o nome de João XX. [2]

O seu pontificado decorreu até 16 de Maio do ano seguinte quando, sentindo-se mal, delegou no cardeal Orsini (futuro Nicolau III) e retirou-se para o palácio apostólico de Viterbo, em cujo aposento, estando em obras, se recolheu e veio a encontrar a morte devido ao desabamento das paredes. Inicialmente sepultado na catedral de S. Lourenço, em Viterbo, os seus restos mortais foram trasladados no século XVI para um humilde túmulo e esquecidos, até que a 28 de Março de 2000, por intervenção do Presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, e com o contributo do mesmo Município, foram finalmente depositados num decente mausoléu no interior da catedral. Foi o 188.º Papa, antecedido por Adriano V e sucedido por Nicolau III.

Acerca da acção do papa português, João XXI, durante o seu curto pontificado transcrevemos as seguintes considerações:

João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) pela fidelidade ao XIV Concílio Ecuménico de Lião. Apressa-se a mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que haviam molestado os cardeais presentes no conclave que o elegera.
Embora sem grande sucesso, leva por diante a missão encetada por Gregório X de reunir a Igreja Grega à Igreja do Ocidente. Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos turcos.
Tenta reconciliar grandes nações europeias, como França,  Alemanha e Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a Rodolfo de Habsburgo e a Carlos de Anjou, sem sucesso.
Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres.  Dante Alighieri, poeta italiano (1265-1321), na sua famosa ‘Divina Comédia’, coloca a alma de João XXI no Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de "aquele que brilha em doze livros", menção clara a doze tratados escritos pelo erudito pontífice português. O rei aragonês Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, avô de D. Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no "Paraíso", canto XII. Mecenas de artistas e estudantes, é tido na sua época por 'egrégio varão de letras', 'grande filósofo', 'clérigo universal' e 'completo cientista físico e naturalista'.

In http://pt.wikipedia.org



Convém que se diga que algumas das obras atribuídas à autoria de Pedro Hispano têm encontrado inúmeras objecções, principalmente as Summulæ Logicales (ou Tractatus), 
uma obra filosófica que durante trezentos anos valeu como compêndio de Lógica nas Universidades europeias e de certa forma também as obras  Scientia libri de anima¸ Commentarium in De anima e Thesaurus pauperum, para além da Expositio librorum Beati Dionysii, esta última uma um tratado de Medicina. A polémica, ao que parece, está para continuar.

Fontes:

[1] SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, 3.ª Ed. Vol I, Verbo, 1979, p. 234

[2] Pedro Hispano (Papa João XXI). In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011.
       


Para uma análise da obra filosófica e médica de Pedro Hispano clique AQUI.

Para uma análise da polémica a propósito das obras atribuídas à autoria de Pedro Hispano clique AQUI e AQUI.

Sem comentários:

Enviar um comentário