terça-feira, 29 de junho de 2010

Hoje é dia de São Pedro e São Paulo, apóstolos



Trata-se de dois santos festejados em toda a Cristandade a 29 de Junho por se crer durante muito tempo, erradamente, que o martírio de ambos ocorreu nesta mesma data, no ano de 67 da era cristã, o que ainda se aceita por certo apenas em relação a S. Paulo, havendo menos discordâncias entre os historiadores que S. Pedro tenha sido martirizado antes em 64. Quanto à data de 29 de Junho adoptada para festejar ambos os apóstolos, já se colocou a possibilidade de tal adopção poder radicar-se na cristianização de uma tradicional festa pagã dedicada a Rómulo e Remo, os lendários fundadores de Roma.  A verdade é que S. Pedro e S. Paulo conviveram em Roma até à sua trágica execução no século I.

São Pedro é orago de um número considerável de freguesias do concelho de Valpaços, como Friões, Padrela e Tazém (onde lhe são dedicadas festas a 29 de Junho) Rio Torto, Sanfins e Veiga do Lila. É também um dos santos mais festejados em Carrazedo de Montenegro, Ervões e Fornos do Pinhal. S. Paulo é festejado na localidade de Avarenta, freguesia de Carrazedo de Montenegro.

HAGIOGRAFIAS

São Pedro (c. 10 a.C. - 67)

Discípulo de Jesus nascido em Betsaida, Galileia, conhecido como o Príncipe dos Apóstolos e tido como fundador da Igreja Cristã em Roma e considerado pela Igreja Católica como seu primeiro Papa. As principais fontes de informação sobre sua vida são os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), onde aparece com destaque em todas as narrativas evangélicas, os Atos dos Apóstolos, as epístolas de Paulo e as duas epístolas do próprio apóstolo. Filho de Jonas e irmão do apóstolo André, seu nome original era Simão e na época de seu encontro com Cristo morava em Cafarnaum, com a família da mulher (Lc 4,38-39). Pescador, tal como os apóstolos Tiago e João, trabalhava com o irmão e o pai e foi apresentado a Jesus por seu irmão, em Betânia, onde tinha ido conhecer o Cristo, por indicação de João Batista. No primeiro encontro Jesus o chamou de Cefas, que significava pedra, em aramaico, determinando, assim, ser ele o apóstolo escolhido para liderar os primeiros propagadores da fé cristã pelo mundo. Jesus, além de muda-lhe o nome, o escolheu como chefe da cristandade aqui na terra: "E eu te digo: Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus" (Mt. 16: 18-19). Convertido, despontou como líder dos doze apóstolos, foi o primeiro a perceber em Jesus o filho de Deus. Junto com seu irmão e os irmãos Tiago e João Evangelista, fez parte do círculo íntimo de Jesus entre os doze, participando dos mais importantes milagres do Mestre sobre a terra. Teve, também, seus momentos controvertidos, como quando usou a espada para defender Jesus e na passagem da tripla negação, e de consagração, pois foi a ele que Cristo apareceu pela primeira vez depois de ressuscitar. Após a Ascensão, presidiu a assembleia dos apóstolos que escolheu Matias para substituir Judas Iscariotes, fez seu primeiro sermão no dia de Pentecostes e peregrinou por várias cidades. Fundou as linhas apostólicas de Antioquia e Síria (as mais antigas sucessões do Cristianismo, precedendo as de Roma em vários anos) que sobrevivem em várias ortodoxias Sírias. Encontrou-se com São Paulo, ou Paulo de Tarso, em Jerusalém, e apoiou a iniciativa deste, de incluir os não judeus na fé cristã, sem obrigá-los a participarem dos rituais de iniciação judaica. Após esse encontro, foi preso por ordem do rei Agripa I, encaminhado à Roma durante o reinado de Nero, onde passou a viver. Ali fundou e presidiu à comunidade cristã, base da Igreja Católica Romana, e, por isso, segundo a tradição, foi executado por ordem de Nero. Conta-se, também, que pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, por se julgar indigno de morrer na mesma posição de Cristo. Seu túmulo se encontra sob a catedral de S. Pedro, no Vaticano, e é autenticado por muitos historiadores. É festejado no dia 29 de Junho.

http://www.e-biografias.net/especial/apostolos/sao_pedro.php
imagem: http://sobraldesaomiguel.blogspot.com/2009/06/noite-de-s-pedro.html



São Paulo, Apóstolo (? - ?)

Nasceu em Tarso, era judeu e cidadão romano. Perseguidor das primeiras comunidades cristãs, foi conivente com o assassinato do protomártir Estêvão. Quando perseguia cristãos, a caminho de Damasco, apareceu-lhe Jesus Ressuscitado, transformando-o. Desde então, sua vida foi viajar pelo mundo, pregando o evangelho de Jesus Cristo e o mistério de sua paixão, morte e ressurreição. A conversão é uma das mais importantes da história da Igreja. Mostra-nos o poder da graça divina, capaz de transformar Saulo, perseguidor da Igreja, no "Apóstolo Paulo" por excelência, que tem a iniciativa da evangelização dos pagãos. Ele próprio confessa, por diversas vezes, que foi perseguidor implacável das primeiras comunidades cristãs. Por causa disso atribui a si mesmo o título de "o menor entre os Apóstolos" e, ainda, de "indigno de ser chamado Apóstolo". Mas Deus, que conhecia a sua rectidão, tornou-o testemunha da morte de Santo Estêvão, cena entre todas comovente, descrita nos Atos dos Apóstolos. A visão de Estêvão apontando para os céus abertos e Filho do Homem, o Cristo, aí reinando, domina a vida toda de Paulo, o grande missionário do Cristianismo. Percorreu a Ásia Menor, atravessou todo o Mediterrâneo em 4 ou 5 viagens. Elaborou uma teologia cristã e ao lado dos Evangelhos suas epístolas são fontes de todo pensamento, vida e mística cristãs. Além das grandes e contínuas viagens apostólicas e das prisões e sofrimentos por que passou, devemos ao nosso Patrono, que se alto denomina "servo de Cristo", a revelação da mensagem do Salvador, ou seja, as 14 Epístolas ou Cartas. Elas formam como que a Teologia do Novo Testamento, exposta por um Apóstolo. Jamais apareceu outro homem sobre a terra que fundamentasse tão bem a nossa fé em Cristo, presente na História, como também, presente em nossa própria existência. Foi Paulo quem o fez de maneira insuperável. O Apóstolo sofreu o martírio em Roma. O ano é incerto, mas deve ter ocorrido entre 64 e 67. Festas litúrgicas - Duas solenidades comemoram São Paulo. A primeira, a 25 de Janeiro (data em que foi fundada a Cidade de São Paulo no ano de 1554, daí a origem do nome da capital paulista) , foi instituída na Gália, no século VIII, para lembrar a conversão do Apóstolo e entrou no calendário romano no final do século X. A segunda, lembrando o seu martírio - a 29 de Junho - juntamente com o do Apóstolo São Pedro, foi inserida no santoral (livro dos santos da Igreja Católica) muito antes da festa do Natal e havia desde o século IV o costume de celebrar neste dia três Missas. A primeira na basílica de São Pedro no Vaticano, a segunda na basílica de São Paulo fora dos Muros e a terceira nas catacumbas de são Sebastião, onde as relíquias dos dois Apóstolos tiveram de ser escondidas por algum tempo para subtraí-las à profanação. Há um eco deste costume no fato de que além da Missa do dia é previsto um formulário para a Missa vespertina da vigília. Depois da Virgem Maria, são precisamente os Apóstolos Pedro e Paulo, juntamente com São João Batista, os santos comemorados mais frequentemente e com maior solenidade no ano litúrgico. Por muito tempo se pensou que 29 de Junho fosse o dia em que, no ano 67, Pedro na Colina Vaticana e Paulo na localidade agora denominada Três Fontes testemunharam sua fidelidade a Cristo com o derramamento do sangue. Na realidade, embora o fato do martírio seja um dado histórico incontestável, e está além disso provado que aconteceu em Roma durante a perseguição de Nero, é incerto não só o dia, mas até o ano da morte dos dois apóstolos. Enquanto para São Paulo existe uma certa concordância entre testemunhas antigas indicando o ano de 67, para São Pedro há muitas discordâncias, e os estudiosos parecem preferir agora o ano de 64, ano em que, como atesta também o historiador pagão Tácito, "uma enorme multidão" de cristãos pereceu na perseguição que se seguiu ao incêndio de Roma. Parece também que a festa do dia 29 de Junho tenha sido a cristianização de uma celebração pagã que exaltava as figuras de Rómulo e Reno, os dois mitos fundadores da Cidade Eterna. São Pedro e São Paulo de fato, embora não tenham sido os primeiros a trazer a fé a Roma, foram realmente os fundadores da Roma cristã: um antigo hino litúrgico definia-os como pais de Roma; um dos hinos do novo breviário fala de Roma que foi "fundada em tal sangue". A palavra e o sangue são a semente com que os Apóstolos Pedro e Paulo, unidos com Cristo, geraram e geram a Roma cristã e a Igreja.

http://www.e-biografias.net/biografias/sao_paulo.php
imagem: http://www.portal.ecclesia.pt/ecclesiaout/spaulo/patrono.html

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ana de Castro Osório

Lamento só agora, 10 dias após a data comemorativa do nascimento de Ana de Castro Osório, trazer ao Clube de História a merecida homenagem a esta admirável Senhora. Poderia servir-me de consolação o facto de já termos publicado no Clube de História uma súmula da sua biografia, a propósito das Actividades das Comemoração do I Centenário da República Portuguesa, que pode ser consultado na categoria “Eventos culturais” do presente blogue. Mas, persistindo na obrigação de me penitenciar pelo facto de esta publicação não ter sido já publicada, como devia ser, no passado dia 18 de Junho e no dever de ainda o fazer, em nome do Clube de História, aqui vai a nossa homenagem com o mesmo sentimento e com o mesmo reconhecimento que o teríamos feito na data mais oportuna.



ANA DE CASTRO OSÓRIO, ESCRITORA/FEMINISTA


Escreveu, em 1905, “Mulheres Portuguesas”, o primeiro manifesto feminista português. Ana de Castro Osório foi pioneira na luta pela igualdade de direitos. O seu activismo levou à criação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Colaborou com Afonso Costa na criação da Lei do Divórcio. Defendeu até à exaustão que as mulheres não deviam ser meras peças decorativas e que a educação era o “passo definitivo para a libertação feminina”. Mas há mais. Esta mulher notável é considerada a fundadora da literatura infantil em Portugal. Escreveu romances, novelas e peças de teatro.

1925 : O 1.º e único Circuito de Trás-os-Montes de corridas de automóveis, com passagem em Valpaços


Painel de azulejos com a sigla primitiva da ACP
clique para aumentar
Poucos se lembrarão certamente desta efeméride ocorrida no longínquo ano de 1925 e muitos menos se recordarão, talvez, que o pequeno painel de azulejos que se avista na parede de uma vivenda em frente ao armazém da Câmara Municipal, que outrora serviu de quartel aos Bombeiros Voluntários de Valpaços, é um vestígio material, bem preservado, dessa efeméride, realizada sob tutela do Automóvel Clube de Portugal, cuja sigla encima o referido painel, instituição que já contava com 22 anos de existência, pois foi fundada a 15 de Abril de 1903 com a designação de Real automóvel Clube de Portugal e, após a proclamação da República, mais exactamente a 6 de Março de 1911, passou a tomar a designação que hoje se conhece. No dia 23 de Agosto de 1925 ano realizou-se o primeiro circuito de rally de Trás-os- Montes, um acontecimento extraordinário para a época, mas que infelizmente não teve continuidade. Manuel Dinis, um confesso entusiasta do desporto automóvel, oferece aos leitores do seu blogue um interessantíssimo «olhar sobre as corridas» que tiveram lugar em Trás-os-Montes, nos primórdios do desporto automóvel em Portugal. Foi justamente pelo interesse que esse «olhar» possa despertar entre os valpacenses de várias gerações, que entendi trazê-lo até aos seguidores do Clube de História, com algumas adaptações formais face à sua estrutura original e algumas notas informativas complementares que considero serem suficientemente relevantes.


OS PREPARATIVOS

A 23 de Agosto realizou-se o 1º e único Circuito de Trás-os-Montes, com uma organização do Jornal do Sporting, encabeçada por José Torres e os seus amigos.
As estradas que ligavam Chaves, Valpaços, Rio Torto, Eixos, Mirandela, Murça, Vila Real Vila Pouca de Aguiar Pedras Salgadas, Vidago e Chaves, foram arranjadas e preparadas para receber os velozes automóveis. O piso era em terra batida e o empedrado resumir-se-ia a partes das cidades e pouco mais.

Os responsáveis da Machado e Brandão, inscreveram Fernando Palhinhas com o Mercedes 10/40/65 HP especialmente preparado para as provas nacionais. Inicialmente adquirido em chassis, dispunha de um motor de quatro cilindros e uma cilindrada de 2,7 litros, foi carroçado em speedster, apenas com bancos para o piloto e passageiro e as rodas suplentes.


A CORRIDA

Depois de tomadas as devidas precauções, deu-se início à prova no meio de uma assistência curiosa e deslumbrada com aquelas máquinas que iriam percorrer tal distância, duas voltas num total de 370 quilómetros.

No Domingo e iniciou-se a partida às 9 horas da manhã, individualmente e os primeiros a sair foram os Salmson, por terem a menor cilindrada, e os restantes cada um, de cinco em cinco minutos.

Fernando Palhinhas ao volante do Mercedes, comandou a prova, enquanto Alfredo Batista voltou-se, quando lhe saíram os dois pneus da frente do Fiat.

O organizador, José Torres com o Lancia equipado a preceito, foi obrigado a abandonar em Valpaços e Ernesto Vasconcelos não chegou a Chaves. A prova prosseguiu com seis concorrentes. Sousa Nápoles e José António Estêvão, não continuaram a prova.

A PASSAGEM POR VALPAÇOS

O Citroen Special de Artur Mimoso?                 O Mercedes de Fernando Palhinhas?


OS RESULTADOS

O vencedor destacado foi o Mercedes de Fernando Palhinhas, com uma confortável vantagem sobre os Bugatti de Alfredo Marinho Júnior e Óscar Chambers.

A tabela classificativa ficou assim ordenada:

1º Fernando Palhinha Mercedes 10/40/65 HP
2º Alfredo Marinho Júnior Bugatti
3º Oscar Chambers Bugatti
4º Licínio Fernando Pereira Fiat
5º Artur Mimoso Citroen Special
6º Sebastião de Sousa Azevedo Turcat-Mery

in http://manueldinis.blogs.sapo.pt/54683.html



AS MÁQUINAS DO TOP SIX

Carros e tripulantes (fotos reais)



Fernando Palhinhas no Mercedes 10/40/65 HP                          Artur Mimoso no Citroen Special

Restantes carros (modelos análogos)



1. Um Bugatti de 1925 (análogo)
in http://www.shorey.net/Auto/French/Bugatti/1925%20Bugatti%20Brescia%20-%20fVr%20(1024x768).jpg

2. Um Fiat de 1925 (análogo)
in http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fiat_501_Torpedo_1925_2.jpg

3. Um Turcat-Mery de 1918 (análogo)
in http://www.turcat-mery.com/aujourd/aujourd.htm

Um agradecimento especial ao Sr. Manuel Terra pelas suas informações que têm sido de grande utilidade para as nossas pesquisas.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Há 99 anos nasceu Juan Manuel Fangio




Caracterização
Conhecido simplesmente como "Maestro", este tímido argentino foi o primeiro homem a ganhar cinco Campeonatos Mundiais de Fórmula Um, só tendo sido superado atualmente por Michael Schumacher. Dirigindo em uma época de automóveis e valores diferentes, seu talento e qualidade técnica sempre serão admirados no mundo do automobilismo por ter estabelecido um padrão de excelência que dificilmente será igualado.


Biografia
Juan Manuel Fangio nasceu no dia 24 de junho de 1911 em Balcarce, na província argentina de Buenos Aires. Filho de uma humilde família de imigrantes italianos, começou a trabalhar em uma oficina mecânica. Além dos automóveis, sua outra paixão era jogar futebol, o que lhe conferiu o apelido "El Chueco" (pernas tortas) que permaceria ao longo de sua vida.

Em 1934 começou com as corridas e o simples fato de que tenha sobrevivido já o torna um campeão, pois os circuitos argentinos nessa época eram muito precários e perigosos. Mas Fangio demonstrou ser um persistente lutador e se consagrou duas vezes Campeão Nacional Argentino (em 1940 e em 1941). Tinha muita esperança de ir à Europa em busca de glórias ainda maiores, porém a Segunda Guerra Mundial postergou esses sonhos.

Em 1947 foi finalmente mandado à Europa com o auxílio financeiro do governo de Perón. Lá, Fangio pôde demonstrar ao mundo toda a sua habilidade. Contrastando com sua figura tímida e sua voz baixa, quando se posicionava detrás do volante ele virava um piloto fora de série, como nunca visto antes.

Fangio se referia ao automobilismo sob duas perspectivas: como uma ciência que demandava um estudo exaustivo e ao mesmo tempo como uma arte que deveria ser cuidada como tal - costumava compará-lo à pintura.

Em meados de 1950 - quando teve início a era moderna do Gran Prix com a estréia da Fórmula Um - Fangio pilotava para a Alfa Romeo. Nesse ano terminou em segundo lugar mas logo ganhou seu primeiro Campeonato Mundial em 1951. Durante uma corrida em 1952 sofreu um grave acidente num Monza, quando fraturou o pescoço e teve que manter distância das pistas por quase duas temporadas. Em 1954 trocou a Maserati pela Mercedes, um movimento que o ajudou a conquistar seu segundo título mundial - o primeiro de uma série de quatro títulos seguidos - abocanhando sempre as pole positions e ganhando seis das oito corridas do campeonato. No ano seguinte e novamente com um Mercedes, ganha seu terceiro Campeonato Mundial e forma uma dupla sensacional com o inglês Sterling Moss, seu colega de equipe. O jovem Sterling idolatrava seu mentor mais velho e o apelidou carinhosamente de "Maestro" (mestre).

Mas aí veio Le Mans. Fangio só se envolveu indiretamente no acidente que provocou a morte de 81 espectadores em 1955. De qualquer modo, isso marcou uma virada na sua carreira. A Mercedes se retirou do automobilismo e pairava no ar um risco real de que os governos europeus terminassem com a F1 por causa da tragédia.

Após mudar-se à Ferrari, Fangio restaurou a glória da F1, conquistando 6 pole positions em 7 corridas e ganhando 3 delas (nas outras 4 ficou em segundo) para exigir seu quarto - e dizem, o melhor - Campeonato Mundial.

Em 1957 abandonou a Ferrari para voltar à Maserati, ganhando o quinto título mundial con performances extraordinárias. No circuito alemão de Nürburgring e tripulando um leve Maserati 250F, após um problema no reabastecimento, teve que vir correndo detrás e faltando uma volta conseguiu passar as duas Ferraris oficiais diante do assombro do público e de seus rivais por seu virtuosismo. Isso lhe rendeu com o correr do tempo, em fevereiro de 1958, o prêmio anual da Academia Francesa de Esportes por ser o autor da mais impressionante façanha esportiva do mundo.

Depois de algumas corridas em 1958 ele se retira do automobilismo, já sem ter que provar mais nada a ninguém, dizendo apenas "Acabou". Voltou a sua oficina com a consciência de ter salvo a F1 pós Le Mans e de ter estabelecido um padrão de excelência e domínio da máquina que provavelmente nunca serão igualados. Morreu tranqüilamente no dia 17 de julho de 1995 aos 84 anos. De todos aqueles que o seguiram, o legendário Fangio declarou que só Jim Clark e Ayrton Senna se aproximaram de suas habilidades ao volante.

In http://www.mibsasquerido.com.ar/Personagens07.htm
Imagem: id.

650º Aniversário do nascimento de Nuno Álvares Pereira



D. Nuno Álvares e Trás-os-Montes
Trata-se de uma das mais consagradas figuras da História Nacional, tanto no plano temporal – o Condestável – como no plano espiritual – o Beato Nuno. Por outro lado, costuma ser invocado como uma das personagens ilustres de Trás-os-Montes, pela sua ligação a esta província, por via do seu casamento, em 1376,  com D. Leonor de Alvim, uma senhora oriunda de uma abastada família em terras de Basto mas  tida por alguns autores, designadamente o Dr. Barroso da Fonte, como natural de Reboreda, freguesia de Salto, concelho de Montalegre e que havia casado,  em primeiras núpcias, com Vasco Gonçalves Barroso, alcaide do Castelo de Montalegre. Do seu enlace com Nuno Álvares que foi com ela viver para Pedraça, em terras de Basto, um prolongamento das terras do Barroso, nasceram três filhos, dos quais apenas sobreviveu Beatriz ou Brites, a única do sexo feminino, que viria a  casar-se em 1401 com o infante D. Afonso, filho bastardo de D. João I, indo o casal viver para Chaves até 1412, quando Brites aí morreu de parto. Pretende-se que foi da herança patrimonial do Condestável em favor do genro, em títulos (o condado de Barcelos) e terras (no entre Douro e Minho incluindo as do Barroso e em outras regiões do país) em conjunto com o dote que o Mestre de Avis quis atribuir ao filho que foi fundada a Casa de Bragança. De 1640 ao fim da monarquia, a Casa de Bragança garantiu ao país a necessária continuidade dinástica. Mas muito antes deste legado genético se revelar de grande utilidade para a monarquia portuguesa, D. Nuno Álvares Pereira cometeu os mais admiráveis feitos militares de que há memória e de que logo que se fizeram eco os nossos primeiros cronistas, desde Fernão Lopes, pois a ele se deveram em grande parte os sucessos obtidos sobre os castelhanos em várias (inéditas!) batalhas, das quais a referência mais popular foi a batalha de Aljubarrota. Salvaguardada a integridade da soberania portuguesa, Nuno Álvares Pereira despojou-se de todos os bens materiais e se fez monge na ordem carmelita por ele instituída no Convento do Carmo. A sua beatitude tornou-se de imediato popular e ao longo dos séculos ela foi oscilando até que, a 26 de Abril de 2009, o Papa Bento XVI entendeu dispor de argumentos bastantes para o inscrever no álbum dos Santos.

A família
Nuno Álvares Pereira nasceu em Portugal a 24 de Junho de 1360, muito provavelmente em Cernache do Bonjardim, sendo filho ilegítimo de fr. Álvaro Gonçalves Pereira, cavaleiro dos Hospitalários de S. João de Jerusalém e Prior do Crato, e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal. Cerca de um ano após o seu nascimento o menino foi legitimado por decreto real, podendo assim receber a educação cavalheiresca típica dos filhos das famílias nobres do seu tempo. Aos treze anos torna-se pajem da rainha D. Leonor, tendo sido bem recebido na Corte e acabando por ser pouco depois armado cavaleiro. Aos dezasseis anos casa-se, por vontade de seu pai, com uma jovem e rica viúva, D. Leonor de Alvim. Da sua união nascem três filhos, dois do sexo masculino, que morrem em tenra idade, e uma do sexo feminino, Beatriz, a qual mais tarde viria a desposar o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.


O Condestável
Quando o rei D. Fernando I morreu a 22 de Outubro de 1383 sem ter deixado filhos varões, o seu irmão D. João, Mestre de Avis, viu-se envolvido na luta pela coroa lusitana, que lhe era disputada pelo rei de Castela por ter desposado a filha do falecido rei. Nuno tomou o partido de D. João, o qual o nomeou Condestável, isto é, Comandante supremo do exército. Nuno conduziu o exército português repetidas vezes à vitória, até se ter consagrado na batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), a qual acaba por determinar à resolução do conflito.


O Beato Nuno
Os dotes militares de Nuno eram no entanto acompanhados por uma espiritualidade sincera e profunda. O amor pela eucaristia e pela Virgem Maria são a trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas. Assistia diariamente à missa, embora só pudesse receber a eucaristia por ocasião das maiores solenidades. O estandarte que elegeu como insígnia pessoal traz as imagens do Crucificado, de Maria e dos cavaleiros S. Tiago e S. Jorge. Fez ainda construir às suas próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de S. Maria da Vitória, na Batalha.

Com a morte da esposa, em 1387, Nuno recusa contrair novas núpcias, tornando-se um modelo de pureza de vida. Quando finalmente se alcançou a paz, distribui grande parte dos seus bens entre os seus companheiros, antigos combatentes, e acabo por se desfazer totalmente daqueles em 1423, quando decide entrar no convento carmelita por ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria. Impelido pelo Amor, abandona as armas e o poder para revestir-se da armadura do Espírito recomendada pela Regra do Carmo: era a opção por uma mudança radical de vida em que sela o percurso da fé autêntica que sempre o tinha norteado. Embora tivesse preferido retirar-se para uma longínqua comunidade de Portugal, o filho do rei, D. Duarte, de tal o impediu. Mas ninguém pode proibir-lhe que se dedicasse a pedir esmola em favor do convento e sobretudo dos pobres, os quais continuou sempre a assistir e a servir. Em seu favor organiza a distribuição quotidiana de alimentos, nunca voltando as costas a um pedido. O Condestável do rei de Portugal, o Comandante supremo do exército e seu guia vitorioso, o fundador e benfeitor da comunidade carmelita, ao entrar no convento recusa todos os privilégios e assume como própria a condição mais humilde, a de frade Donato, dedicando-se totalmente ao serviço do Senhor, de Maria - a sua terna Padroeira que sempre venerou -, e dos pobres, nos quais reconhece o rosto de Jesus.

Significativo foi o dia da morte de frei Nuno de Santa Maria, o domingo de Páscoa, 1 de Abril de 1431, passando imediatamente a ser reputado de “santo” pelo povo, que desde então o começa a chamar “Santo Condestável”.

Mas, embora a fama de santidade de Nuno se mantenha constante, chegando mesmo a aumentar, ao longo dos tempos, o percurso do processo de canonização será bem mais acidentado. Promovido desde logo pelos soberanos portugueses e prosseguido pela Ordem do Carmo, depara com numerosos obstáculos, de natureza exterior. Foi somente em 1894 que o Pe. Anastasio Ronci, então postulador geral dos Carmelitas, consegue introduzir o processo para o reconhecimento do culto do Beato Nuno “desde tempos imemoriais”, acabando este por ser felizmente concluído, apesar das dificuldades próprias do tempo em que decorre, no dia 23 de Dezembro de 1918 com o decreto Clementissimus Deus do Papa Bento XV.


As relíquias
As suas relíquias foram trasladadas numerosas vezes do sepulcro original para a Igreja do Carmo, até que, em 1961, por ocasião do sexto centenário do nascimento do Beato Nuno, se organizou uma peregrinação do precioso relicário de prata que as continha; mas pouco tempo depois é roubado, nunca mais tendo sido encontradas as relíquias que contivera, tendo sido depostos, em vez delas, alguns ossos que tinham sido conservados noutro lugar. A descoberta em 1966 do lugar do túmulo primitivo contendo alguns fragmentos de ossos compatíveis com as relíquias conhecidas reacendeu o desejo de ver o Beato Nuno proclamado em breve Santo da Igreja.


O Santo
O Postulador Geral da Ordem, P. Felipe M. Amenós y Bonet, conseguiu que fosse reaberta a causa, que entretanto era corroborada graças a um possível milagre ocorrido em 2000. Tendo sido levadas a cabo as respectivas investigações, o Santo Padre, Papa Bento XVI, dispõe a 3 de Julho de 2008 a promulgação do decreto sobre o milagre em ordem à canonização e durante o Consistório de 21 de Fevereiro de 2009 determina que o Beato Nuno seja inscrito no álbum dos Santos no dia 26 de Abril de 2009.

Referências


- http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/2009/ns_lit_doc_20090426_nuno_po.html (adaptado)
- Barroso da Fonte, Nuno Álvares Pereira: um santo que foi senhor de Trás-os-Montes, in Notícias do Douro, 6 de Março de 2009 | disponível em http://www.dodouro.com/noticia.asp?- - idEdicao=253&id=14973&idSeccao=2811&Action=noticia
Imagens: idem et http://heroismedievais.blogspot.com/2008/07/nuno-lvares-pereira-condestvel-de.html

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Dia de São João

Amanhã é dia de S. João. São João é um dos Santos mais populares na Europa, em geral, e o mais popular em Portugal, onde na data de 24 de Junho são celebrados grandiosos festejos, sobretudo no Norte do país e de um modo especial nas cidades de Braga e Porto, onde essa tradição festiva, com origem nos antigos rituais pagãos do solstício do Verão, continua a ser a mais conhecida e a mais concorrida de entre as demais festividades que também são feitas em sua honra em outros locais. Sentimo-nos no dever de recordar que, no concelho de Valpaços, São João é orago das freguesias de Ervões e Fornos do Pinhal e que nas mesmas freguesias se realizam, no dia 24 de Junho, animadas festas em seu louvor. Também nesta data se realizam festas e romarias dedicadas a S. João nas freguesias de Friões e S. João da Corveira. Nestas aldeias, para além das cerimónias e actividades religiosas e, eventualmente, do fogo-de-artifício, também não faltam as tradicionais sardinha assada e  caldo-verde.

Mas quem foi, exactamente, este São João, que é assim festejado? Trata-se de S. João Baptista que não deve ser confundido com S. João Evangelista.

Apresentação de “A República no Distrito de Vila Real”

Os Claustros do Governo Civil de Vila Real receberam, dia 21 de Junho, a apresentação da obra “A República no Distrito de Vila Real”, da autoria de Joaquim Ribeiro Aires, colaborador do Notícias de Vila Real, que juntou mais de 60 pessoas que ouviram ainda uma palestra a cargo de Eurico de Figueiredo. Para o governador civil de Vila Real, Alexandre Chaves, “o autor preenche uma lacuna com este livro ao escrever sobre os republicanos do distrito de Vila Real, sobre os homens e mulheres que se notabilizaram, que levantaram a voz, que ergueram a sua estrutura ética, moral e cívica, e que engrossaram as fileiras dos cidadãos exemplares, sob o signo dos ideais republicanos”. Alexandre Chaves parabenizou a Maronesa, Comunicação Social, responsável pela edição deste livro, pelo trabalho desenvolvido na área cultural. “Felicito ainda o rosto desta empresa, o doutor Caseiro Marques, pela sua coragem empresarial e pela aposta no empreendedorismo cultural”, afirmou.
De seguida, coube ao próprio autor, Joaquim Ribeiro Aires, a responsabilidade de falar da sua obra e do percurso, repleto de obstáculos mas também de êxitos, que o conduziu até à conclusão desta obra de 400 páginas. “Este livro é um mix de história local e nacional. Não é possível falar da grande história local sem a integrar no todo nacional. Em cada momento uma e outra se entrelaçam e assim se compreende o pensamento político vila-realense fosse regenerador, progressista ou republicano”, explicou. Segundo Joaquim Ribeiro Aires, este livro “começou a nascer em 1993, quando foi publicado pela primeira vez um dos seus actuais capítulos, nos Estudos Trasmontanos, revista editada pelo Arquivo Distrital de Vila Real”.
Mas “a ideia de livro só ganhou verdadeiras raízes há dois anos”, com a aproximação dos 100 anos da República. “Desde então, o trabalho foi quase diário”, garantiu. Nos anos de investigação pausada, o autor teve de enfrentar a limitação de fontes. “Em termos políticos, tinha praticamente uma só visão, a perspectiva do lado republicano, centralizado n’O Povo do Norte. O Vilarealense, monárquico e regenerador, durante a Monarquia, desaparecera da cidade. Apenas algumas pessoas detinham na sua posse, bem guardados, alguns exemplares”, conta.
No entanto, estes obstáculos acabaram por ser ultrapassados, em primeiro lugar, graças à “boa vontade, sensibilidade e compreensão do senhor Joaquim Barreira Gonçalves que tomou mesmo a iniciativa de me facultar a consulta das suas colecções de jornais”. Em segundo lugar, a aquisição da colecção de O Vilarealense por parte da Câmara Municipal, que o colocou para consulta na Biblioteca Municipal, permitiu-lhe ter acesso ao outro lado. “Graças a estas duas ocorrências este livro hoje é aquilo que está aqui. Sem isso, era outra coisa”, salientou.
O autor explicou que o livro não dedica as suas páginas à história republicana por concelho e que todas as suas referências estão integradas no todo nacional e local. “Vila Real e Chaves eram os núcleos urbanos principais. Não por serem os maiores, o que também é uma razão, mas porque há pouca informação nos restantes”, contou. Ribeiro Aires revelou que “não existem actas camarárias na Régua, Santa Marta, Valpaços e Ribeira de Pena. Incêndios destruíram toda a documentação. Num destes casos foi um elemento da câmara que decidiu livrar-se das velharias e queimou todas as actas até 1976. Pasme-se!”.
O autor confessou que se sentiu fascinado quando começou a ler a imprensa local “pela força das convicções, pela profundidade do pensamento, pela maturidade política, pela clarividência, pelo entusiasmo, pela crítica mordaz, pela atenção ao pormenor, pela coragem do dizer, pela correcção da linguagem ou pelo seu destempero, pela riqueza do vocabulário, pelo chamar aos bois pelos nomes”. Em “A República no Distrito de Vila Real”, Ribeiro Aires mostra “a alma do vila-realense, do trasmontano”. Nem a capa foi deixada ao acaso e nela podemos ver uma ilustração de Stuart Carvalhais para o jornal A República, dirigido então por Ribeiro de Carvalho.
Nas páginas desta obra “há gente determinada, como Adelino Samardã, Antão de Carvalho, general Ribeiro de Carvalho; há pessoas altruístas, como Azeredo Antas e Henrique Botelho; há homens sem medo, como Manuel Maria Coelho e os heróis da grande guerra; há vítimas como António Granjo; há a fome e a miséria a campearem num Douro quase sempre em crise na monarquia e na república; há especuladores e mixordeiros nos anos da guerra; há republicanos contra republicanos, amigos que o foram e que deixaram de o ser; há republicanos contra monárquicos; há monárquicos monárquicos e monárquicos adesivos, republicanos por interesse; há monárquicos, talassas, esperançados no regresso da velha senhora; há prisões, destruições e mortes”.
O livro termina com 20 biografias de republicanos, aqueles de que o livro fala ao longo dos acontecimentos. Joaquim Ribeiro Aires agradeceu a colaboração de Silva Gonçalves, Elísio Neves, Albertino Correia, Ricardo Martins, Tenente-coronel Sabino e Sargento-ajudante Manuel Machado, que o auxiliaram nesta jornada. Agradeceu ainda o apoio de António Francisco Caseiro Marques que “anuiu ao projecto e ele aqui está com a chancela da Maronesa, Comunicação Social”. Seguiu-se a intervenção de Eurico de Figueiredo, que proferiu uma palestra sobre “Desigualdades de Nascença na Republica”.

Sandra Borges
In http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php?action=getDetalhe&id=8300
Foto: id.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A aposta na indústria do turismo em Portugal, uma realidade secular

Faz hoje precisamente 100 anos que um dos mais conceituados órgãos da imprensa dos finais da Monarquia insistia no urgente aproveitamento dos recursos naturais disponíveis e na criação de outros meios necessários para a exploração daquela que se tem afigurado, até à actualidade, como uma das indústrias mais fecundas do país – o Turismo. Reminiscências ainda do espírito modernizador da Regeneração? Vejamos o artigo, tal como foi hoje publicado pelo “Jornal do Centenário” que integra a Comissão Nacional para o Centenário da República.


22 de Junho de 1910 - Portugal é uma estação de saúde

Em artigo publicado n’O Século tiveram destaque as excelentes condições naturais e climatéricas de Portugal relativamente à indústria do turismo, chamando-se à atenção para a necessidade de se investir na melhoria das condições oferecidas aos viajantes.

“Um litoral formoso, dando para um oceano depurador; uma planície suave onde as águas deslizam mansas; encostas abrigadas em que a paisagem é sedutora (…). De tudo em cada província há em tal abundância que aos olhos dos nacionais passa despercebido, desnotado e vulgar!. (…)

É preciso ressurgir desta indiferença. E alguma coisa se tem feito principalmente nas estâncias hidrológicas, que agora estão abertas para a cura de doenças, especializadas as suas aplicações. Pode dizer-se que onde brota dos rochedos um fio ‘da água milagrosa’ - lá está um hotel melhor ou pior, e em volta se forma um povoado.”

Bastar-se-ia investir na construção de algumas vias rodoviárias, na melhoria das condições de higiene e salubridade de alguns estabelecimentos hoteleiros, e numa mais eficiente propaganda, e podia o País “apresentar-se como um modelo de terra edénica.”

Fonte: O Século nº 10 244, 22 de Junho de 1910, p. 5.
In http://www.centenariorepublica.pt/conteudo/22-de-junho-de-1910-portugal-%C3%A9-uma-esta%C3%A7%C3%A3o-de-sa%C3%BAde
imagem: in Ilustração Portuguesa, edição de 18 de Julho de 1910

Como os portugueses ganharam batalhas (aprender com o passado)

A Batalha de Montes Claros foi travada em 17 de Junho de 1665, em Montes Claros, perto de Borba, entre Portugueses e Espanhóis (...) Pode considerar-se que a batalha de Montes Claros decidiu definitivamente a independência de Portugal, que seria reconhecida pela Espanha três anos mais tarde, ao firmar-se entre os dois reinos a paz no Tratado de Lisboa de 1668. A batalha de Montes Claros foi a última das cinco grandes vitórias que Portugal contra os espanhóis na Guerra da Restauração.
Falamos hoje desta batalha, a propósito de um livro chamado Estratégia Lusitana, De Viriato às Missões de Paz. Lições de Batalhas Portuguesas aplicadas à Gestão Empresarial. Ou seja, interessa conhecer os traços comuns que permitem pensar numa estratégia lusitana para vencer (e como o objectivo do livro é levar essa estratégia à gestão, também se vai falar de team building).
Álvaro Lopes Dias, o primeiro autor e grande mentor do livro, é o nosso convidado, ele que é Doutorado em Gestão e lecciona tanto em instituições civis como militares.

Portugal ignora herança árabe

Ana Cristina Silva escreveu romance sobre a vida de Al-Mu’Tamid, o rei-poeta quase esquecido pelos portugueses mas idolatrado em várias regiões do globo

Ao sétimo romance, Ana Cristina Silva volta a partir de dados históricos concretos para sondar os elementos intemporais da natureza humana. Em Crónica do rei-poeta Al-Mu'Tamid (Editorial Presença), escreve sobre a vida de um soberano que, embora nascido em Portugal, caiu no esquecimento entre os seus, em contraste com o profundo respeito que continua a merecer não só em Espanha como nos países árabes em geral.

Como surgiu o interesse pela vida do rei-poeta Al-Mu?Tamid?
Pela leitura da sua poesia – fabulosa –, que conheci graças à divulgação que Adalberto Alves fez da vida do rei- poeta e da cultura árabe do Al- Andalus.

A pesquisa foi a componente mais difícil do seu trabalho?
Não foi assim tão complexo. Para quem é investigadora na vida profissional e tem pouco tempo, há que ir ao essencial, ou seja, consultar livros sobre a história da península na época, toda a a obra do Adalberto Alves, e “Portugal na Espanha Árabe” de Borges Coelho, porque tem muitos documentos da época. E, naturalmente, um estudo aprofundado da poesia do rei-poeta.

Onde acaba a biografia e começa a ficção no presente livro?
Impus certos limites pelos acontecimentos da época. Isso é necessário ao rigor histórico. Mas é um livro de ficção, na medida em que, a partir da poesia dele, fiz uma reinterpretação das suas posições em relação à política, ao amor, à guerra, etc. Mais do que a ilustração de uma situação histórica, gosto de usar as situações históricas e as suas personagens para abordar o que é intemporal na natureza humana.

Como se explica o desconhecimento em redor de Al-Mu?Tamid?
O principal motivo é uma certa negligência portuguesa em relação ao património cultural e, em particular, à nossa herança árabe. Al-Mu’Tamid nasceu em Beja, foi governador nominal de Silves durante a sua adolescência, mas foi muito mais” apropriado” pelos espanhóis como sendo uma figura histórica do seu país. Por exemplo, os mil anos da morte do rei em 1995 foram objecto de intensas comemorações em Sevilha. Em Portugal não se ouviu sequer falar do assunto, e, estamos a falar de uma figura que tem poesias inscritas nas célebres “Mil e uma noites” e que, a par de Omar Khyyam, é considerado um dos melhores poetas de sempre da cultura árabe.

Que revelações a surpreenderam mais no decurso da pesquisa?
O que houve foi um desafio. Este é o meu sétimo romance, mas nunca tinha escrito nenhum em que a personagem central fosse um homem. E este não é um homem qualquer, é um árabe, tem um harém, é um guerreiro e um poeta. Conseguir ser plausível neste quadro de referências, numa linguagem que respeite um certo tom específico à cultura árabe e fazê-lo na primeira pessoa, não é muito fácil.

Al-Mu?Tamid era um rei culto e sensível. Era uma excepção ou abundavam monarcas assim?
Ele era sensível, mas muito susceptível a ataques de irascibilidade, o que era aliás também uma características do pai, Al- Mu´tadid. Mas as cortes das taifas árabes eram centros de cultura. Os melhores filósofos, poetas e matemáticos de todo o mundo árabe da época frequentavam a sua corte em Sevilha. Era melhor como protector das artes e poeta do que como homem de estado e político. Desse ponto de vista, pode-se afirmar que conduziu uma política governativa desastrosa.

Que critérios coloca em relevo quando escolhe uma figura histórica sobre a qual deseja escrever?
Tem de me apaixonar. Escrever dá imenso trabalho e exige disciplina. Sobretudo numa época em que os livros duram dois meses nas livrarias. Escrevi sobre Al-Mu´Tamid por várias razões. Interessava-me explorar na personagem o cruzamento entre a sensibilidade artística de poeta e as manobras maquiavélicas associadas às questões do poder. Também me interessava o desafio de explicar como se chega ao ponto de matar o melhor amigo.

Lecciona Psicologia da Comunicação e os seus romances são complexos a este nível. É a marca fundamental do que escreve?
Sim, a par do cuidado com a linguagem. Uso a linguagem ao serviço das personagens e do conflito, ou melhor dos vários tipos de conflitos que são intemporais, relativos ao amor, à guerra e ao poder que atravessam as personagens.

Sérgio Almeida
In http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1599345
Imagem: http://www.saudiaramcoworld.com/issue/200407/images/POET_6_55194.gif

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Lei da memória histórica

Ontem, foi o Dia Mundial dos Refugiados, como tivemos a oportunidade de assinalar. A um dia de distância desta sentida celebração de uma realidade que, lamentavelmente para a Humanidade, persiste em larga escala nos nossos dias,  entendemos deixar aqui um singelo contributo para a devida homenagem  póstuma às vítimas do franquismo e da guerra civil, os refugiados espanhóis, mas também os portugueses da raia transmontana que os acolheram e, em sua defesa, com eles padeceram as agruras desses tempos, fazendo eco das memórias de um valpacense que não só conheceu essa dura realidade, como também soube retratar num sublime discurso de inconformismo face à indeferença que os poderes instituídos têm demonstrado perante um dos episódios dessa mesma realidade ocorrida numa das terras do seu concelho. É o testemunho desse valpacense que decidimos aqui reproduzir, na própria letra do seu inflamado discurso.

Passaram 70 anos mas as feridas ainda não sararam, a terapia do esquecimento pode ter pacificado o passado mas não o resolveu…
A Guerra Civil Espanhola foi do outro lado da rua e por consequência na nossa rua, somos raianos, ainda que desde crianças, tenhamos ouvido o ditado popular “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”, foi a nós que muitos deles recorreram nesse período doloroso, trágico e de aflição e é a eles que nós recorremos quando o ambiente interno começa a ficar pesado.

domingo, 20 de junho de 2010

Cientistas descobrem restos mortais do pintor Caravaggio

O Comité Caravaggio, constituído por cientistas italianos, anunciou a descoberta de restos mortais do pintor, identificados através de análises, informa a agência AFP. Em comunicado, a equipa revelou que «os restos mortais encontrados pertencem a Michelangelo Merisi - verdadeiro nome do pintor - com uma probabilidade de 85 por cento», após um ano de pesquisas. Caravaggio morreu alegadamente de malária na região de Maremma, no sul da Toscana, e foi enterrado num cemitério de Porto Ercole, de onde o corpo foi retirado em 1956 para ser sepultado na cripta da igreja. Quatro universidades italianas juntaram-se para esclarecer a morte, envolta em mistério, do pintor que revolucionou a história da arte. A investigação foi liderada pelo professor de antropologia óssea, Giorgio Grupponi, da Universidade de Bolonha. Em Dezembro, os cientistas retiraram grandes quantidades de restos mortais para transportar até Ravena, onde fica localizado o departamento de antropologia da universidade. Os investigadores examinaram restos mortais de cerca de 200 pessoas. Os ossos identificados como pertencentes a Caravaggio datavam de um período que abrangia o ano da sua morte (1610) e eram de um homem com idades entre os 38 e os 40. Outro indício que comprovou a tese foi o facto de Caravaggio sofrer de saturnismo, intoxicação por chumbo, e os ossos apresentarem uma elevada taxa do componente. «Durante as pesquisas, o comité deduziu que o pintor sofria de intoxicação por chumbo e sífilis (...) Sobre as causas da morte (...) nós consideramos credível a hipótese de infecção generalizada», refere o comunicado.

TVi24

Por PAVAROTY, 20 de Junho de 2010, in http://atlasdeportugal.blogspot.com/ (Viseu Cidade Viriato)

Dia Mundial dos Refugiados



A 20 de Junho de cada ano, por iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR, o mundo honra o valor, a resistência e a força dos refugiados. No dia Mundial dos Refugiados, milhares de organizações em centenas de países unem-se para fazer ouvir as dificuldades que passam os refugiados e as causas do seu exílio, como a sua determinação e vontade de sobreviver, para além dos contributos dados pelas comunidades de acolhimento.

Frequentemente confundidos com emigrantes económicos, os refugiados não fogem dos seus países por motivos económicos, mas sim da perseguição, da ameaça de prisão e das ameaças às próprias vidas. Necessitam de um lugar seguro onde possam recuperar dos traumas mentais e físicos e reconstruir a esperança num futuro melhor. Todavia, a intolerância que frequentemente é a causa de fuga de muitos refugiados, está também presente em muitos dos países onde chegam, pelo que, em vez de encontrarem compreensão, encontram sentimentos de desconfiança e desprezo.

O Dia Mundial dos Refugiados deve fazer-nos lembrar que poderia ser um de nós a ter de abandonar o nosso país e procurar um tecto seguro no estrangeiro. Nesse sentido é nossa obrigação oferecer aos refugiados o mesmo acolhimento que esperaríamos encontrar para nós próprios.

Neste dia deve ser também homenageado o esforço e a determinação dos refugiados, para onde quer que se dirijam, em levantarem-se das cinzas e começarem de novo na reconstrução das suas vidas

in http://blogs.sapo.pt/users/passamos_como_o-rio/2007/06/

sábado, 19 de junho de 2010

A proclamação da República Democrática, a nova bandeira e o hino nacional na sessão inaugural da Assembleia Nacional Constituinte



Após a Revolução e depois das eleições realizadas em 28 de Maio de 1911, foi constituída uma Assembleia Nacional Constituinte que tinha por competência única elaborar e apresentar uma Constituição. O seu regimento interno data de 7 de Julho de 1911. A Assembleia Nacional Constituinte reuniu pela primeira vez em 19 de Junho de 1911 e as primeiras leis votadas foram a da abolição da Monarquia e proclamação da República Democrática; a da nova bandeira e a do Hino Nacional.


A Nova Bandeira

Foi o artista Columbano Bordalo Pinheiro que por assim dizer "juntou" os elementos impostos pela recém-nascida República para compor a bandeira de Portugal. Pessoalmente, acho o resultado sobrecarregado de símbolos. Além disso a escolha do vermelho junto ao verde parece-me berrante em demasia ou não fossem elas duas cores complementares no círculo cromático. Acho pena serem precisamente as cores da bandeira da Carbonária, um grupo anarquista e terrorista que semeou o terror no princípio do século XX.

Columbano pouco mais teve de fazer do que respeitar o número dourado e é claro o bom senso artístico. É como fazer um bom cozido à portuguesa com a obrigação de introduzir na receita ketchup, mostarda de Dijon, etc...

Mas é a nossa... temos de aprender a amá-la.

Texto e ilustração de Gio, in http://faltaapagarolapis.blogspot.com/2010/06/bandeira-de-portugal.html



O Hino Nacional

A Portuguesa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

Em Portugal, a reacção popular contra os ingleses e contra o governo português, que permitiu esse género de humilhação, manifestou-se de várias formas. "A Portuguesa" foi composta em 1890, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, e foi utilizada desde cedo como símbolo patriótico mas também republicano. Aliás, em 31 de Janeiro de 1891, numa tentativa falhada de golpe de Estado que pretendia implantar a república em Portugal, esta canção já aparecia como a opção dos republicanos para hino nacional, o que aconteceu, efectivamente, quando, após a instauração da República a 5 de Outubro de 1910, a Assembleia Nacional Constituinte a consagrou como símbolo nacional em 19 de Junho de 1911. A Portuguesa, proibida pelo regime monárquico, que originalmente tinha uma letra um tanto ou quanto diferente (mesmo a música foi sofrendo algumas alterações) — onde hoje se diz "contra os canhões", dizia-se "contra os bretões", ou seja, os ingleses — veio substituir o Hymno da Carta, então o hino nacional desde Maio de 1834. Em 1956, existiam no entanto várias versões do hino, não só na linha melódica, mas também nas instrumentações, especialmente para banda, pelo que o governo nomeou uma comissão encarregada de estudar uma versão oficial de A Portuguesa. Essa comissão elaborou uma proposta que seria aprovada em Conselho de Ministros a 16 de Julho de 1957, mantendo-se o hino inalterado deste então. Nota-se na música uma influência clara do hino nacional francês, La Marseillaise, também ele um símbolo revolucionário (ver revolução francesa). O hino é composto por três partes, cada uma delas com duas quadras (estrofes de quatro versos), seguidas do refrão, uma quintilha (estrofe de cinco versos). É de salientar que, das três partes do hino, apenas a primeira parte é usada em cerimónias oficiais, sendo as outras duas partes praticamente desconhecidas. A Portuguesa é executada oficialmente em cerimónias nacionais, civis e militares, onde é prestada homenagem à Pátria, à Bandeira Nacional ou ao Presidente da República. Do mesmo modo, em cerimónias oficiais no território português por recepção de chefes de Estado estrangeiros, a sua execução é obrigatória depois de ouvido o hino do país representado. A Portuguesa foi designada como um dos símbolos nacionais de Portugal na constituição de 1976, constando no artigo 11.°, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa (Símbolos nacionais e língua oficial)

In http://galeriaphotomaton.blogspot.com/2010/01/portuguesa-hino-nacional-da-republica.html

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morreu José Saramago

Um talento universal que ficará para a História. Isto, apesar dos políticos de lamaçal, de críticos medíocres apressados como crianças em dar notas e estrelinhas para "qualificar" as suas obras. Num país onde mora a mesquinhice e a inveja dirigida particularmente aos próprios compatriotas, Saramago chegou à glória graças à sua excelência. (E mais uma vez devido à opinião estrangeira). Novamente Portugal (?) foi padrasto para mais um dos seus filhos mais brilhantes. Não é novidade. José Saramago morreu sempre dignificando e amando Portugal. Mas o amor nem sempre é recíproco. Hoje morreu José de Sousa "Saramago"- Escritor português, virtuoso da língua portuguesa.
Por tudo, obrigado José.
"Mas porque é que vocês se ficam pela rama das coisas?"
 José Saramago

Texto e ilustração de Gio, in http://faltaapagarolapis.blogspot.com/

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A primeira travessia aérea do Atlântico Sul

Foi há 88 anos que Gago Coutinho e Sacadura Cabral ficaram conhecidos internacionalmente, ao realizarem a primeira viagem aérea entre a Europa e a América do Sul , cumprindo o último troço do trajecto entre Lisboa e o rio de Janeiro, a bordo do Hidrovião Santa Cruz, no dia 17 de Junho de 1922.

A primeira etapa desta heróica viagem que se inciciou em Lisboa às 16:30 horas do dia 30 de Março desse ano, num hidroavião monomotor Fairey FIII-D MkII, com um motor Rolls-Royce e baptizado de "Lusitânia", terminou tranquilamente em Las Palmas nas Ilhas Canárias, onde os tripulantes se demoraram até 5 de Abril. A partir daí sobrevieram os maiores perigos e incidentes, como os que sucederam logo na etapa seguinte que os aeronautas cumpriram a muito custo, escalando na ilha de S. Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, com graves danos nos flutuadores devido à humidade neles formada. Após as necessárias reparações,  levantaram vôo no dia 17, do porto da Praia, na  ilha de Santiago, rumo ao arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, já em águas brasileiras, amarando aí no dia seguinte, com danos irreversíveis no aparelho, que perdeu um dos flutuadores, o que obrigou a que a dupla de aviadores fosse transportada por um Cruzador da Marinha portuguesa até à ilha de Fernando de Noronha, onde aguardaram pelo envio de um novo hidroavião Fairey a que baptizaram de "Pátria" que lhes permitiu a descolagem no dia 11 de Maio para logo surgir novo infortúnio - uma falha mecânica no motor obrigou-os a  fazerem uma amaragem de emergência e a recolher-se de novo a Fernando de Noronha. No dia 5 de Junho, finalmente, recebem um novo Fayrei F III-D, a que a esposa do então Presidente do Brasil baptiza de "Vera Cruz". Este aparelho foi transportado para o arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, de onde os aeronautas portugueses partiram rumo ao Recife e daqui para o Rio de Janeiro, fazendo escalas em Salvador, Porto Seguro e Vitória. Nas águas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram etusiásticamente aclamados como heróis pela população que os aguardava, aclamação que se estendeu a todas as cidades brasileiras. Estima-se que nos setenta e nove dias da viagem o tempo de vôo dispendido, nos 8.383 quilómetros percorridos, foi de apenas 62 horas e 26 minutos.

Imagem: http://ex-ogma.blogspot.com/2009/02/efemeride-gago-coutinho.html

A INQUISIÇÃO, O REINO DO MEDO

A Inquisição - O Reino do Medo, de Toby Green

Colecção: Biblioteca do Século, Nº na Colecção: 30

O Autor: Toby Green nasceu em Londres em 1974. Estudou Filosofia na Universidade de Cambridge e tem dividido a sua actividade profissional pelo ensino, o jornalismo, a investigação e a escrita. É autor de um conjunto diverso de obras - onde se incluem biografias, crítica literária, história e literatura de viagens - que se encontra traduzido em cerca de uma dezena de línguas. Tem um conhecimento profundo do Continente africano e da América Latina, e as suas investigações levaram-no a passar longos períodos em locais como Bissau, Bogotá, Lisboa, Cidade do México ou Sevilha. Actualmente vive em Inglaterra com a família.

Sinopse: Inquisição - O Reino do Medo lança uma nova luz sobre aquela que foi uma das instituições religiosas mais obscuras e devastadoras da história da humanidade ao adoptar uma abordagem muito viva que elege os relatos de casos individuais como ponto de partida para a análise de mais de três séculos de história da Inquisição. E são justamente as histórias desses indivíduos - bruxas no México, bígamos no Brasil, marinheiros sodomitas, padres pouco castos, maçons, hindus, judeus, muçulmanos e protestantes - que o autor resgata dos arquivos de Espanha, de Portugal e do Vaticano, para compor um fresco inédito, de grande complexidade e riqueza.

Citações
«Green transmite-nos uma mensagem que, pode dizer-se, é assustadoramente actual.» Sunday Telegraph
«Este livro alerta-nos para os perigos de qualquer sistema que persegue e condena aqueles que não partilham dos seus valores.» Daily Telegraph
«Uma descrição vívida da longa e condenável história da Inquisição.» Sunday Times
«Um estudo de grande fôlego sobre a intolerância.» Guardian

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Jorge Miguel entre os seguidores do Clube de História

É verdade! Os «bedófilos» sabem bem de quem se trata. Sendo o Jorge Miguel um dos mais versáteis mestres da BD em Portugal, foi com indescritível prazer que constatámos que se registou neste blogue como um dos seus seguidores. Sem desprimor para os restantes membros, aos quais também enviamos uma nota de sincero agradecimento (em especial para os que acederam em colaborar nas nossas publicações e o têm feito com louvável assiduidade), sentimo-nos no dever de justificar esta sentida e calorosa recepção que entendemos fazer ao Gio. Sendo a BD um dos instrumentos didáctico-pedagógicos mais poderosos para os professores da disciplina de História (entre as demais disciplinas) para a qual este blogue foi particularmente concebido, e se mantém vocacionado, para além de uma natural e assumida bedofilia da parte de alguns docentes da nossa Escola Secundária, a presença do Gio entre os nossos estimados visitantes reveste-se de um significado especial. Jorge Miguel é autor de um invejável (falo por mim!) manancial de obras onde o rigor científico da informação é conjugado com o invulgar talento ilustrativo deste artista, desde a colecção “Chamo-me” que retrata uma série de interessantes figuras da História e da Literatura portuguesas – algumas com um toque de sério realismo, outras num estilo mais “patusco” e divertido – até verdadeiras comédias ilustradas, aguarelas e ilustrações dedicadas à literatura infantil. De resto, o aprazível sentido de humor do Gio pode ser apreciado, e partilhado, no seu blogue Falta apagar o lápis que incluímos entre as nossas hiperligações favoritas. Em representação do Clube endereço-lhe as nossas boas-vindas e os nossos votos para que das suas incursões pelo Clube de História da Escola Secundária com 3º Ciclo de Valpaços e das nossas pelo Falta apagar o lápis resultem a melhor e mais frutífera cordialidade e camaradagem possíveis.

Leonel Salvado

terça-feira, 15 de junho de 2010

Singularidades da nossa imprensa regional


Um distinto órgão da nossa imprensa local, na sua edição de 30 de Maio de 2010, noticiou assim, ipsis verbis, a realização das actividades integradas nas Comemorações do Primeiro Centenário da República Portuguesa que tiveram lugar na Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Valpaços, cinco dias antes:



EM VALPAÇOS CENTENÁRIO DA REPÚBLICA,

Na Escola Secundária de Valpaços

Na Escola Secundária de Valpaços realizou-se o Programa das comemorações do Centenário da República, no dia 25 de Maio, com exposições e muita musica, tendo da parte da manhã, ás 9,30 horas o hastear da bandeira Nacional e o hino Nacional tocado pela Banda Municipal de Valpaços. Depois, ás 10,30 horas foi a visita a várias exposições que, se dividiram entre o “Pavilhão dois e o salão do Polivalente”, subordinadas ao tema: “ a implantação da República em Portugal”

domingo, 13 de junho de 2010

Hoje é dia de Santo António

Santo António de Lisboa
Era um grande pregador
Mas é por ser Santo António
Que as moças lhe têm amor.

Fernando Pessoa
(que nasceu no dia de Santo António, em Lisboa)
In http://impensavel.blogspot.com/2008/06/

É um dos santos portugueses mais populares, o mais querido e festejado a 13 de Junho em Lisboa, feriado instituído em sua honra, com retalhos de uma vida passada nesta cidade, em Coimbra mas também Pádua, cidade italiana cujos habitantes costumam reclamar a naturalidade de Santo António. Na Itália, no Brasil e até em Portugal Santo António é venerado como o «santo casamenteiro», protector dos noivos e o santo mais recorrente pelos fiéis que procuram recuperar coisas perdidas. A 13 de Junho ele é venerado, além de Lisboa, em outras 13 cidades e vilas do país, quer por ser delas também padroeira (mais raramente), como acontece no Norte em Vila Real (feriado municipal) e em Vila Nova de Famalicão, quer por ser um dos santos mais populares e festejados. Também em várias localidades do concelho de Valpaços este Santo Universal é tradicionalmente honrado com festas e romarias, na mesma data de 13 de Junho, assim em Fornos do Pinhal, em Friões, em Silva, localidade anexa à freguesia de Carrazedo de Montenegro e em Vilarandelo. O mesmo sucede em Santa Valha, em cada 3º Domingo de Janeiro.



Hagiografia

Desde 1140 que D. Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, tentava a conquista de Lisboa aos Mouros, feito que só teve êxito sete anos depois, em 1147, depois de prolongado cerco imposto aos aguerridos Almóadas e com o oportuno apoio dos Cruzados, em número treze mil (grande exército de homens cristãos que vieram do Norte da Europa, rumo à Terra Santa, para expulsarem os Muçulmanos. Usavam uma cruz de pano como insígnia, daí o seu nome. Houve oito Cruzadas desde 1096 a 1270).

Lisboa era pois uma cidade recém-cristã, quando na sua catedral foi a baptizar o menino Fernando Martins de Bulhões – Santo António, filho da fidalga D. Teresa Tavera, descendente de Fruela, rei das Astúrias e de seu marido Martinho ou Martins de Bulhões. Há dúvidas quanto ao apelido do pai, bem como se era ou não descendentes de cavaleiros celtas. Sabe-se sim que D. Teresa nascera em Castelo de Paiva e o marido numa terra próxima. Viviam em casa própria no bairro da Sé quando o recém-nascido veio a este mundo, no ano de 1145, embora alguns apontem como data de nascimento 1190 ou 1191.

Fernando frequentou a escola da Sé e até aos 15 anos viveu com os pais e com uma irmã de nome Maria. Aos 20 anos professou nos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho em Lisboa, no Mosteiro de São Vicente de Fora. Nesta ordem monástica prosseguirá os seus estudos teológicos.

Rumou a Coimbra ao mosteiro de Santa Cruz, onde tinha à sua disposição a melhor biblioteca monacal do País. Nesse tempo era a abadia de Cluny, em França, que possuía uma das maiores bibliotecas da Europa, com um total de 570 volumes manuscritos, porque ainda não tinha sido inventada a imprensa. Aqui em Coimbra, sendo já sacerdote toma o hábito de franciscano, em 1220. Segundo os seus biógrafos, Santo António terá lido muito, e não foi por acaso que se tornaria pregador.

O mundo cristão vivia intensamente a época das Cruzadas. A chamada «guerra santa» desencadeada contra o Islão. E da parte dos Muçulmanos dava-se a inversa, luta contra os cristãos. Ambos acreditavam que a fé os levaria à vitória. De Oriente a Ocidente os exércitos batalham, e neste turbilhão surgem novas formas de espiritualidade. Em 1209 Francisco de Assis (S. Francisco) abandona o conforto e luxo da casa paterna, para, com outros companheiros, se recolher numa pequena comunidade, dando origem a uma nova reflexão sobre a vivência do Evangelho. É a aproximação à Natureza, à vida simples e à redescoberta da dignidade da pobreza preconizada pelos primeiros cristãos. Em poucos anos, homens e mulheres, alguns ainda bem jovens e filhos de famílias abastadas e poderosas sentem-se atraídos por esta vida de despojamento e sacrifício, com os olhos postos no exemplo de Cristo.

A Portugal também chegaram ecos deste novo misticismo. Em Janeiro de 1220 são degolados em Marrocos, pelos muçulmanos, cindo frades menores (franciscanos) e todo o mundo cristão sofre um enorme abalado. A própria Clara de Assis (Santa Clara), praticamente da mesma idade que Santo António (nasceu em 1193 ou 1194) vai querer partir para Marrocos para converter os sarracenos, mas Francisco de Assis seu amigo de infância e seu orientador espiritual não lho permite.

Por cá o nosso futuro Santo António, já ordenado padre, decide mudar de Ordem religiosa e também ele passa a envergar o hábito dos franciscanos. È nesta ocasião que muda o nome de baptismo de Fernando para António e vai viver com outros frades no ermitério de Santo Antão (ou António) dos Olivais, na altura um pouco afastado de Coimbra, nuns terrenos doados por D. Urraca, mulher do rei D. Afonso II.

Em meados de 1220 chegam, com grande pompa religiosa, ao convento de Santa Cruz de Coimbra, as relíquias dos mártires de Marrocos e esse acontecimento vai ser decisivo no rumo da vida de Santo António. Parte para Marrocos, sentindo também ele que é chamado a participar na conversão dos chamados infiéis. Porém adoece gravemente e não podendo cumprir aquilo a que se propunha, teve de embarcar de regresso a Lisboa. Só que o barco é apanhado numa tempestade e o Santo vê o seu itinerário alterado ao sabor de uma vontade superior. Acaba por aportar à Sicília num período de grandes conflitos armados entre o Papa Gregório IX e o rei da Sicília, Frederico II. Relembra-se que várias regiões do que é hoje a Itália unificada eram reinos independentes e este ambiente de guerras geradoras de insegurança e perigos.

Em Maio de 1221 os franciscanos vão reunir-se no chamado Capítulo Geral da Ordem, onde Santo António está presente. No final os frades regressam às suas comunidades de Montepaolo, perto de Bolonha, onde, a par da vida contemplativa e de oração, cabe também tratarem das tarefas domésticas do convento. Aqui os outros frades reparam na grande modéstia daquele estrangeiro (Santo António) e jamais suspeitaram dos seus profundos conhecimentos teológicos. Findo aquele período de reflexão, como que um noviciado, os frades franciscanos são chamados à cidade de Forlì para serem ordenados e Santo António é escolhido para fazer a conferência espiritual. E começa a falar. Ninguém até ali percebera até que ponto ele era conhecedor das Escrituras e como a sua fé e os seus dotes oratórios eram invulgares.

Pelo que se sabe quando começou a falar imediatamente cativou os outros frades e a sua vida seria a partir daquele dia de pragador da palavra de Cristo. Percorrerá diversas regiões da actual Itália, entre 1223 e 1225. Por sugestão do próprio São Francisco vai ser mestre de Teologia em Bolonha, Montpelier e Toulouse.

Quando S. Francisco morre, em 1226, Santo António vai viver para Pádua. Aqui vai começar por fazer sermões dominicais, mas as suas palavras tão cheias de alegorias eram de tal modo acessíveis ao povo mais ou menos crente, que passam palavra e casa vez mais se junta gente nas igrejas para o ouvir. Da igreja passa para os adros para conter as multidões que não param de engrossar. Dos adros passa a falar em campo aberto e é escutado por mais de 30 mil pessoas. É um caso raro de popularidade. A multidão segue-o e começa a fama de que faz milagres. Os rapazes de Pádua têm mesmo que fazer de guarda-costas do Santo português tal a multidão à sua volta. As mulheres tentam aproximar-se dele para cortarem uma pontinha do seu hábito de frade como uma relíquia.

O bispo de Óstia, mais tarde papa com o nome de Alexandre IV, pede-lhe que escreva sermões para os dias das principais festas religiosas que eram já muitas na época. Mais tarde seria este papa a canonizá-lo. Santo António assim faz. São hoje importantíssimos esses documentos escritos, porque Santo António com pregador escreveu pouco. Apenas lhe são atribuídos Sermones per Annum Dominicales (1227-1228) e In Festivitatibus Sanctorum Sermones (1230).

Sentindo-se doente, o santo pediu que o levassem para Pádua onde queria morrer, mas foi na trajectória, num pequeno convento de Clarissas, em Arcela, que Santo António «emigrou felizmente para as mansões dos espíritos celestes». Era o dia 13 de Junho de 1231.

Depois, como é sabido, foi canonizado, em 1232, ainda se não completara um ano sobre a sua morte. Caso único na história da Igreja Católica. Já que nem São Francisco de Assis teve tal privilégio.

Os santos como Santo António, há muito que desceram dos altares para conviverem connosco, os simples mortais, que tomamos como nosso protector e amigo. O seu sumptuoso sepulcro, em mármore verde em Pádua, na igreja de Santo António é o tributo do povo que o amou e é muito mais do que um lugar de peregrinação e de oração. Através dos séculos, a sua fama espalhou-se por todos os continentes. No dia 13 de Junho de cada ano, Lisboa e Pádua comemoram igualmente a passagem por este mundo de um português que pregou a fé e morreu em Pádua. Como todos os santos é universal.

Por Maria Luísa V. Paiva Boléo, Santo António, Retalhos da Vida de um Pregador, in http://www.leme.pt/biografias/santos/santoantonio/

sábado, 12 de junho de 2010

81.º Aniversário do nascimento de Anne Frank


Annelisse Maria Frank, mais conhecida como Anne Frank, nasceu em Frankfurt am Main, a 12 de Junho de 1929, e faleceu em Bergen-Belsen, em Março de 1945. Foi uma adolescente alemã de origem judaica, que morreu aos 15 anos num campo de concentração. O seu diário foi publicado pela primeira vez em 1947 e é actualmente um dos livros mais traduzidos em todo o mundo.

Imagem: Anne Frank em selo comemorativo dos Correiros alemães, 1979 | imagem do domínio público | Wikimédia Commons


Foi a segunda filha de Otto Heinrich Frank e de Edith Frank-Holländer, uma família de patriotas alemães que teriam participado da Primeira Guerra Mundial. Tinha uma irmã Margot Frank que nasceu a 16 de fevereiro de 1926 e faleceu pela mesma data de Anne. Ela e a sua família, Edith, Margot e Otto Frank, juntamente com mais quatro pessoas (Peter, Dussel, sr. e sra. Van Daan) viveram 25 meses, no decurso da Segunda Guerra Mundial, num anexo de quartos por cima do escritório do pai dela, em Amsterdão, nos Países Baixos, denominado de Anexo Secreto. Enquanto vivia no Anexo Secreto, Anne escrevia no seu diário (que recebeu de prenda de aniversário), a que ela deu o nome de Kitty. Também houve alguns indícios de que o diário podia ter o nome de "Finho", ou "Assurbanipal". No diário escrevia o que sentia, pensava e fazia. Kitty e, logo depois, Peter eram os seus únicos amigos dentro do Anexo Secreto. Os longos meses de silêncio e o medo aterrorizante acabaram, ao ser denunciada aos nazistas e deportada para campos de concentração nazis.
Primeiro foi levada juntamente com a família para uma escola e depois para Westerbork, nos Países Baixos, antes de serem todos deportados para o leste da Europa. Anne Frank foi deportada inicialmente para Auschwitz, juntamente com os pais, irmã e as outras pessoas com quem se refugiava na casa de Amesterdão (onde hoje existe o museu Casa de Anne Frank). Depois levaram-na para Bergen-Belsen, juntamente com a irmã, separando-a dos pais.
Em 1945, nove meses após a sua deportação, Anne Frank morre de tifo em Bergen-Belsen. A irmã, Margot Frank, tinha falecido também vítima do tifo e da subnutrição dias antes de Anne. A sua morte aconteceu duas semanas antes de o campo ser libertado. O seu diário, guardado durante a guerra por Miep Gies, foi publicado pela primeira vez em 1947. O diário está actualmente traduzido em 68 línguas e é um dos livros mais lidos do mundo.
O local onde a família de Anne Frank e outras quatro pessoas viveram para se esconder dos nazis ficou conhecido como Anexo Secreto e tornou-se um famoso museu após a publicação do diário. Nesse local há uma reprodução das condições em que os moradores do Anexo Secreto viviam e é apresentada a história de seus oito habitantes e das pessoas que os ajudaram a esconder-se durante a guerra. Um dos itens apresentados ao público é o diário escrito por Anne, que viria a tornar-se mundialmente famoso após sua morte, devido à iniciativa de seu pai, Otto, em publicá-lo. Hoje, é um dos mais famosos símbolos do Holocausto. Dos oito habitantes do Anexo, o único sobrevivente após a guerra foi Otto, pai de Anne.
Em 3 de abril de 1946, o mundo conheceu a tragédia de Anne Frank, que se tornou num dos símbolos do holocausto por um artigo intitulado Kinderstem ("A voz de uma criança") publicado no jornal holandês Het Parool que contava trechos do diário da menina que havia sido morta em campo de concentração.
O verdadeiro nome de Anne era Annelies Marie, mas todos na sua família a chamavam carinhosamente de "Anne". Ela era a segunda filha do casal Otto e Edith Frank. Sua irmã, Margot, era quatro anos mais velha.O pai era um homem de negócios e um oficial condecorado que lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1934, quando o nazismo fez aumentar as perseguições aos judeus na Alemanha, a família mudou-se para Amsterdão, na Holanda. As filhas do casal foram matriculadas em escolas locais, onde se saíram muito bem nos estudos: Margot demonstrava maior aptidão para matemática, enquanto Anne demonstrava maior interesse em leitura e redação.
Em 1938, Otto Frank e um sócio, Hermann van Pels, fundaram uma empresa nova. O sócio também era um judeu que havia fugido com a família para a Holanda. Em 1939, a avó materna de Anne Frank veio morar com a família e permaneceu com eles até sua morte em janeiro de 1942.

O esconderijo
No mês de julho de 1942, a família Frank recebeu a notícia de que seria obrigada a mudar-se para um campo de trabalhos forçados. Para fugir desse destino, a família transferiu-se para um esconderijo no prédio atrás referido, onde funcionava o escritório do pai.
Para deixar a impressão de que haviam fugido apressadamente, Anne e seus familiares deixaram o apartamento todo desarrumado. Além disso, o pai deixou um bilhete; tratava-se de uma pista falsa com o intuito de levar os nazis a acreditarem que a família estava tentando viajar para a Suíça.
O prédio comercial onde Anne e sua família se esconderam tinha dois andares, com escritórios, um moinho e depósitos de grãos. O esconderijo consistia em alguns compartimentos num anexo que ficava nos fundos do prédio. Para disfarçar o esconderijo, uma estante de livros foi colocada na frente da porta que dava para o anexo.
Na montagem do esconderijo, Otto Frank contou com a ajuda dos quatro funcionários em quem mais confiava: Victor Kugler, Johannes Kleiman, Miep Gies e Bep Voskuijl. Eles, juntamente com o pai de Johannes e o marido de Miep, eram os únicos que sabiam da existência do esconderijo.

Vida clandestina
Essas pessoas mantinham os Frank informados com notícias da guerra e da perseguição dos nazis aos judeus. Também os ajudavam trazendo comida que compravam no "mercado negro", tarefa que foi se tornando cada vez mais difícil e arriscada com o tempo. Os cidadãos não-judeus que ajudavam judeus a esconderem-se corriam o risco de ser executados imediatamente pelos nazis caso fossem descobertos.
No final de julho daquele ano, outros judeus buscaram abrigo no mesmo esconderijo: a família van Pels, que era composta por Hermann, o sócio de Otto Frank, sua esposa, Auguste, e o filho Peter, um jovem de dezesseis anos.
No começo, Anne não se interessou pelo tímido Peter por achá-lo desajeitado demais, mas depois mudou de opinião e ambos iniciaram um romance. Em Novembro, um amigo judeu da família de Anne também passou a morar no esconderijo: o dentista Fritz Pfeffer. Como seria de esperar, com tantas pessoas vivendo juntas e em condições precárias, os problemas de convivência começaram a surgir. Para piorar, tornava-se cada vez mais difícil conseguir comida.
Anne passava a maior parte do tempo escrevendo o seu diário ou estudando. Todos os dias, logo após o almoço, ela fazia exercícios de matemática, línguas, história e outras matérias.
Na manhã de 4 de agosto de 1944, a polícia nazi invadiu o esconderijo, cuja localização foi descoberta por um informante que nunca chegou a ser identificado. Todos os refugiados foram colocados em camiões e levados para interrogatório. Victor Kugler e Johannes Kleiman também foram presos, ao contrário de Miep Gies e Bep Voskuijl, que foram libertados.
Esses últimos voltaram ao esconderijo onde encontraram os papéis de Anne espalhados no chão e diversos álbuns com fotografias da família. Eles reuniram esse material e guardaram-no, na esperança de o devolver à Anne depois que a guerra terminasse.

Auschwitz
Anne Frank e sua família foram mandadas para o campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Mais do que um campo de concentração, era também um campo de extermínio. Idosos, crianças pequenas e todos aqueles que fossem considerados inaptos para o trabalho eram separados dos demais para serem exterminados de imediato.
Dos 1019 prisioneiros transportados no comboio que trouxe Anne Frank, 549 (incluindo crianças) foram separados dos restantes para serem mortos nas câmaras de gás. Mulheres e homens eram separados. Assim, Otto Frank perdeu contacto com a esposa e as filhas.
Juntamente com as outras prisioneiras selecionadas para o trabalho forçado, Anne foi obrigada a ficar nua para ser "desinfetada", teve a cabeça rapada e um número de identificação tatuado no braço. Durante o dia, as prisioneiras eram obrigadas a trabalhar. À noite elas eram reunidas em barracas geladas e apertadas. As péssimas condições de higiene propiciavam o aparecimento de doenças. Anne teve a sua pele vitimada pela sarna.
No dia 28 de Outubro, Anne, Margot e a senhora van Pels foram transferidas para um outro campo, localizado em Bergen-Belsen, na Alemanha. A mãe, Edith, foi deixada para trás, permanecendo em Auschwitiz. Em Março de 1945, uma epidemia de tifo espalhou-se pelo campo de Bergen-Belsen.
Estima-se que cerca de 17 mil pessoas morreram por causa da doença. Entre as vítimas estavam Margot e Anne, que morreu com apenas 15 anos de idade, poucos dias depois de a sua irmã ter morrido. Os seus corpos foram atirados para uma pilha de cadáveres e cremados.

O sobrevivente
Otto Frank foi o único membro da família que sobreviveu e voltou para a Holanda. Ao ser libertado, soube que a esposa havia morrido e que as filhas haviam sido transferidas para Bergen-Belsen. Ele ainda tinha esperança de reencontrar as filhas vivas.
Em julho de 1945, a Cruz Vermelha confirmou as mortes de Anne e Margot. Foi então que Miep Gies entregou a Otto Frank o diário que Anne havia escrito. Otto mostrou o diário à historiadora Annie Romein-Verschoor, que tentou sem sucesso publicá-lo. Ela o mostrou ao marido, o jornalista Jan Romein, que escreveu um texto sobre o diário de Anne.
O diário foi finalmente publicado pela primeira vez em 1947.
A obra teve tal sucesso, que os editores lançaram uma segunda edição em 1950. O "Diário de Anne Frank" foi traduzido para diversas línguas, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. O livro que começou como um simples diário de adolescente transformou-se num comovente testemunho do terror nazi.

Fonte: Wikipédia.org (texto adaptado) – Categorias: Anne Frank


O CLUBE DE HISTÓRIA RECOMENDA:

Principalmente aos mais novos, a leitura do livro Anne Frank, editado por Terramar, Lisboa, 1ª edição de 2005, com texto de Josephine Poole e ilustrações de Angela Barrett.