Lamento só agora, 10 dias após a data comemorativa do nascimento de Ana de Castro Osório, trazer ao Clube de História a merecida homenagem a esta admirável Senhora. Poderia servir-me de consolação o facto de já termos publicado no Clube de História uma súmula da sua biografia, a propósito das Actividades das Comemoração do I Centenário da República Portuguesa, que pode ser consultado na categoria “Eventos culturais” do presente blogue. Mas, persistindo na obrigação de me penitenciar pelo facto de esta publicação não ter sido já publicada, como devia ser, no passado dia 18 de Junho e no dever de ainda o fazer, em nome do Clube de História, aqui vai a nossa homenagem com o mesmo sentimento e com o mesmo reconhecimento que o teríamos feito na data mais oportuna.
ANA DE CASTRO OSÓRIO, ESCRITORA/FEMINISTA
Escreveu, em 1905, “Mulheres Portuguesas”, o primeiro manifesto feminista português. Ana de Castro Osório foi pioneira na luta pela igualdade de direitos. O seu activismo levou à criação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Colaborou com Afonso Costa na criação da Lei do Divórcio. Defendeu até à exaustão que as mulheres não deviam ser meras peças decorativas e que a educação era o “passo definitivo para a libertação feminina”. Mas há mais. Esta mulher notável é considerada a fundadora da literatura infantil em Portugal. Escreveu romances, novelas e peças de teatro.
Em 1911, estava escrito na lei que tinham direito a voto apenas “cidadãos portugueses com mais de 21 anos que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”. Apesar de não ser dito explicitamente, as mulheres estavam excluídas. Ana de Castro Osório rebelou-se contra esta e outras situações. Lutou por direitos como o voto universal e a igualdade de salários. Não estava disposta a engolir discriminações. Encontramos o seu grande objectivo nas páginas do livro “Mulheres Portuguesas”: “O caminhar do espírito feminino para a sua autonomia.” Ana de Castro Osório desenrolava os mais robustos argumentos para defender a causa das mulheres.
Esta cidadã notável nasceu em Mangualde em 18 de Junho de 1872. Despertou cedo para a escrita. Talvez fosse o ambiente familiar: o gosto pelas palavras corria-lhe nas veias. O seu irmão, Alberto Osório de Castro, foi poeta. Os seus dois filhos e netos também se tornaram escritores. Ana de Castro Osório iniciou a carreira literária em Setúbal, colaborando com vários periódicos. A partir de 1897 começou a publicar uma colecção em fascículos, intitulada “Para as Crianças”, obra gigantesca que durou até à sua morte.
Foi aqui que nasceu a literatura infantil em Portugal. Cada edição tinha um pouco de tudo: traduções de contos dos irmãos Grimm ou de Andersen, originais da autoria da escritora e adivinhas. As crianças deliciaram-se. Beatriz Pinheiro, directora da revista “Ave-Azul”, escreveu, em 1899, que Ana de Castro Osório “soube compreender a necessidade de prazer intelectual que se faz sentir na criança”. Publicou, nesse mesmo ano, o primeiro excerto do romance “Ambições”, que viria a ser editado em 1903. Foi o primeiro de uma série de histórias de ficção dirigidas a adultos.
O poder dos homens na sociedade portuguesa de então fazia com que ser mulher - e interventiva - fosse inevitavelmente uma arte. Ana de Castro Osório teve essa destreza. Casou com Paulino de Oliveira, poeta e membro do Partido Republicano. Aproximou-se do campo republicano e, com isso, pôde defender os seus ideais num quadro partidário. A nível associativo, fundou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e o Grupo de Estudos Feministas. Escreveu artigos e organizou conferências. Tudo em prol da mulher. Com o advento da República, colaborou com o ministro da Justiça, Afonso Costa, na elaboração da Lei do Divórcio.
Apesar da sua luta, Ana de Castro Osório tinha uma opinião crítica sobre a mulher portuguesa. Escreveu: “Não tem opinião para não ser pedante, não lê para não ser doutora e não ver espavoridos os maridos.” Atacava quem se confinava ao silêncio, como que num sono apático.
Em 1911, o marido foi nomeado cônsul em São Paulo. Ana de Castro Osório acompanhou-o. Foi professora e escreveu alguns livros, entre os quais “Lendo e Aprendendo” e “Lição de História”, dois manuais adoptados pelas escolas brasileiras e portuguesas. Foi o seu contributo para a construção da lusofonia. Regressou a Portugal em 1914. Dois anos mais tarde, o País entrou na I Guerra Mundial, enviando um corpo expedicionário para as trincheiras da Flandres. Para dar apoio moral às tropas, criou as “Madrinhas de Guerra”, instituição que existiu até ao 25 de Abril. Faleceu em Setúbal em 23 de Março de 1935.
Foi um exemplo de empenho e dedicação por uma causa justa. Claro que não foi do dia para a noite que as mulheres derrubaram os muros da discriminação. Como todo o movimento de mudança, o discurso vem antes da prática. Ainda hoje há verdadeiros redutos masculinos - como a política ou os negócios -, dominados pela equipa dos machões de barba rija. A igualdade dos sexos é, seguramente, uma luta que ainda não terminou, mas sem activistas como Ana de Castro Osório a tarefa seria bem mais difícil.
in http://www.rtp.pt/gdesport/?article=606&visual=3&topic=1
gfh
ResponderEliminartdrgdffffffffffffffffffffffffffvcrtyesx
EliminarAjudou-me imenso na minha pesquisa.
ResponderEliminarO anónimo que não sabe escrever é o mesmo que diz que este artigo o ajudou imenso na sua pesquisa?!!
EliminarSonhei com este nome há tempos atrás, meu sobrenome também é Osório, mas gostaria mesmo é de entender o porque este nome me foi sussurrado em sonhos.
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