quarta-feira, 11 de abril de 2012

Arte Visigótica – Arte Pré-Românica

Por Maria Fernanda*


Depois da queda do império romano, mongóis, vândalos, suevos, alanos, francos e germânicos, entre outros povos conhecidos genericamente como bárbaros, avançaram definitivamente sobre a Europa. A Europa entrou assim num dos períodos históricos mais obscuros, entre a religiosidade dos primeiros cristãos e a beligerância dos novos senhores.

Este período histórico, conhecido como Alta Idade Média, é caracterizado pela ruralização da sociedade (em oposição à "urbanidade" clássica), por uma economia quase auto-sustentada e de fraca movimentação de trocas comerciais, pelo quase desaparecimento da cultura laica e pelo domínio cultural do clero e, por fim, pela enorme expansão da igreja cristã.

Os traços culturais próprios destes povos, dos povos conquistados e o cristianismo, estiveram na origem de uma arte que se situa entre a arte da antiguidade clássica tardia e o românico e que, por esse motivo, se denomina como pré-românica, não designando um estilo particular.

A arte pré-românica é caracterizada por uma absorção de diversas influências que resultam nas fusões inovadoras entre elementos da cultura clássica com elementos cristãos e germânicos. Não se restringe a uma região específica, mas espalha-se por toda a Europa ao longo vários séculos, destacando-se alguns géneros artísticos próprios.

A Arte visigótica é aquela que designa as expressões artísticas criadas pelos visigodos, que entraram na Península Ibérica em 415 e se tornaram o povo dominante da região, até à invasão dos mouros, em 711. Este período da arte ibérica notabilizou-se pela arquitectura, e ourivesaria.

Os mais significativos dos poucos exemplares sobreviventes da arquitectura visigótica do século VI, em território português, são a Capela de São Frutuoso em Braga e a Igreja de São Gião na Nazaré.

Capela de São Frutuoso de Montélios perto de Braga


Interior da Capela de São Frutuoso de Montélios


Interior da Capela de São Frutuoso de Montélios


Capela de S. Gião - Nazaré


Relevo da Capela de S. Gião - Nazaré

A ourivesaria visigótica desenvolveu-se, essencialmente, em Toledo e é composta principalmente de jóias com motivos geométricos, que foram encontrados em escavações de tumbas.

Tesouro de Guarrazar - Coroa de Recesvinto


Tesouro de Guarrazar - Coroa de Recesvinto - detalhe

O século VIII conheceu, porém, a primeira grande tentativa de reunificação da Europa, a criação do Império Carolíngio, sob Carlos Magno.
Carlos Magno foi a figura política mais poderosa da Alta Idade Média, pois os seus exércitos assumiram o controle de extensos territórios. Carlos foi responsável pela imposição do cristianismo e pelo ressurgimento da arte antiga.
Este foi coroado, pelo papa, em 800, como imperador do Sacro Império Romano que englobava quase toda a Europa Ocidental.

Estátua de Carlos Magno. O cavalo teria sido reaproveitado de uma estátua clássica

Após sua coroação, tornou-se grande patrono das artes.
A arte carolíngia refere-se à arte do período de Carlos Magno, estendendo-se pelos seus sucessores (entre 780 e 900 d.C.) e alargando a sua influência ao período posterior da arte otoniana.

Esta arte tem uma forte herança germânica, absorve elementos das artes bizantina e islâmica, mas inspira-se na arte romana da Antiguidade Clássica daí ser também conhecida como renascimento carolíngio.

A sua expressão arquitectónica vai incidir na construção religiosa caracterizada por pinturas murais, pelo uso de mosaicos e baixos-relevos surgindo também neste momento a igreja com deambulatório, tipologia que se irá desenvolver ao longo da Idade Média. Uma das mais significativas construções deste período é a Catedral de Aix-la Chapelle (Aachen) na Alemanha.


Interior da Capela de Aix-la-Chapelle com o deambulatório


Cúpula da Capela Palatina de  Aix-la-Chapelle


Púlpito da catedral, com painéis de marfim bizantino e inserções de vidro islâmico. 
Um dos painéis representa o deus pagão Baco.


Trono de Carlos Magno na Capela Palatina  de  Aix-la-Chapelle

Os mosaicos da Capela Palatina de Carlos Magno são parecidos com os das primeiras igrejas cristãs de Ravena e Constantinopla. Sabe-se que naquela época, muitas colunas e mármores foram trazidos de Roma para as construções do seu império.

Mosaicos do interior da Cúpula da Capela de Aix-la-Chapelle. Vêem-se as colunas vindas de Roma.


Mosaicos do interior da Capela de Aix-la-Chapelle

As artes decorativas assumem também um lugar de relevo, especialmente no que diz respeito à produção de marfins, joalharia e iluminuras, sendo estas últimas caracterizadas por um traçado extremamente dinâmico.

Coroa de Carlos Magno


Frontispício dos Evangelhos de Lindau. C. 870.
Ouro, pedras preciosas e esmalte.


Busto de Carlos Magno


Marfim - capa dos Evangelhos de Lorsch, cerca de 810


Iluminura, São Mateus Evangelista, c. 800


Mateus redigindo o "seu" Evangelho.
Iluminura de um manuscrito francês dos Evangelhos de Ebbo. séc. IX.

*Edição/versão original : Viagem pela Arte I | 8 de Fevereiro de 2012

2 comentários:

  1. Boa tarde!
    Muito bem explicadinho!
    Gostei!
    Obrigada.
    cmps

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  2. É um trabalho da Maria Fernanda. Abrimos uma categoria temática (universal) para ela. Muito globalizante, mas interessante. Obrigada Leonor por continuar a seguir-nos.
    Um Abraço
    LS

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