DICCIONARIO GEOGRAFICO OU NOTICIA HISTORICA DE TODAS AS CIDADES, VILLAS, LUGARES, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ, assim antigas, como modernas… d’o Padre Luiz Cardoso
TOMO I
1747
[pp. 386-387]
[…]
ALVARELHOS. Lugar na Provincia de Traz os Montes, Bispado de Miranda do Douro, Comarca de Torre de Moncorvo, Arciprestado, e Termo da Villa de Monforte de Rio-Livre. Està situado em hum valle, junto da serra Negra, entre dous ribeiros, que passaõ hum pelo Norte, e outro pelo Sul. Consta de sessenta fogos: tem Igreja Paroquial de huma so nave, dedicada a Nossa Senhora da Expectaçaõ, annexa, e filial de Santo André de Oucidres. Compoem-se de três Altares, o mayor com o Santctissimo, a Imagem da Santa Padroeira, e dous collateraes, o da parte do Evangelho dedicado a Christo crucificado, e o da Epistola a Santa Luzia.
O Parocho he Cura confirmado, apresentaçaõ do Vigario de Oucidres, e tem quarenta mil reis de renda.
No Termo, e limites deste Lugar há um fortim para a parte do Poente, que hoje se acha arruinado, a que chamaõ a Coroa. He tradiçaõ, que nelle habitava hum Rey Mouro no tempo, em que dominavaõ estas terras. Há outro sitio, entre Alvarelhos, e Oucidres, a que daõ o nome de Valle da Batalha, por se dizer, que alli houvera vários choques, e batalhas entre os Christãos, e os Sarracenos, ficando estes sempre vencidos, e os Christãos vencedores, ajudando-os hum Cavalleiro desconhecido, mas que se presumia ser o Apostolo Santiago, e o viaõ andar montado em hum cavallo branco. O qual depois de vencidas as batalhas, se recolhia a hum valle, que fica ao Poente do sitio da Batalha, aonde se edificou huma Ermida, dedicada ao Santo Apostolo, que hoje se acha arruinada, e só as paredes de conservaõ ainda em pé.
Os frutos que em mayor abundância recolhem os moradores deste lugar, saõ; centeio, vinho, castanha, e linho.
Fertilizaõ este Lugar dous ribeiros sem nome, que trazem a sua origem do Lugar de Vila-Nova: tem neste povo dous moinhos, que naõ moem senaõ pelo Inverno. Juntaõ-se ambos no sitio do Prado; produzem algum peixe miúdo, principalmente escallos; fenecem em outro, que vem do Lugar de Tinhella, onde chamaõ o Codeçal. De huma, e outra parte se cultivaõ as suas margens, naõ lhe servindo de embaraço o arvoredo silvestre, de que se vê cingido, e assombrado, e livremente usaõ os moradores das suas aguas para a cultura dos campos.
MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 3, ALVARELHOS, MONFORTE DE RIO LIMA [Leia-se "de Rio Livre"]
Com o devido respeito, respondendo aos interrogatórios de que o interrogante faz menção, faço certo e certifico, eu, o padre José Álvares, cura da freguesia de nossa Senhora da Expectação do Lugar de Alvarelhos, termo da Vila de Monforte, bispado de Miranda do Douro e comarca da Torre de Moncorvo, em como este Lugar fica na Província de Trás-os-Montes, bispado de Miranda do Douro, comarca da Torre de Moncorvo, termo da vila de Monforte e pertence, a freguesia, à Reytoria de Santo André do Lugar de Oucidres. É donatário o Excelentíssimo conde de Atouguia. Tem quarenta e seis vizinhos, todos de famílias de Lavradores que vivem da sua Agricultura. Está situado num baixo fundo tendo em sua circunferência serra e outras partes altas. Não se descobre dele povoação alguma, ainda que [estejam] próximos os Lugares de Oucidres e Tinhela, a quinta de Vila Nova e a quinta de Lama de Ouriço. Tem termo seu próprio. A paróquia é só e está situada no meio do Lugar. Seu orago é Nossa Senhora da Expectaçaõ. Tem três Altares, o maior que é do orago e dois colaterais, um de Santo António e outro de São Bernardino. O pároco é cura e é da apresentação do Reverendo Reitor de Santo André do Lugar de Oucidres e tem de renda certa, em cada ano, doze mil e quinhentos em dinheiro, vinte e quatro almudes de vinho, vinte e dois alqueires de trigo e vinte de Centeio e o que render o pé de Altar.
Os frutos que os moradores recolhem com maior abundância é centeyo e vinho, castanha e Linho e muita, digo suficiente, hortaliça. Cria seus Bois e gado miúdo e tem suficientes prados para eles.
É sujeito à jurisdição do Juiz ordinário da Vila de Monforte de Rio Livre e Comarca do dito Concelho.
Os frutos que os moradores recolhem com maior abundância é centeyo e vinho, castanha e Linho e muita, digo suficiente, hortaliça. Cria seus Bois e gado miúdo e tem suficientes prados para eles.
É sujeito à jurisdição do Juiz ordinário da Vila de Monforte de Rio Livre e Comarca do dito Concelho.
Não tem correio, serve-se do correio da Vila de Chaves que chega até Vila Real que está distante quinze léguas da Vila de Chaves.
Está distante, este lugar, da Cidade Capital deste Bispado, que é Miranda do Douro, dezoito léguas, e da cidade de Lisboa, Capital do Reino, dista oitenta léguas.
Há uma grande serra circunvizinha às casas deste lugar, distante um tiro de bala de espingarda para o poente. Terá duas Legoas de comprido para o poente e légua e meia para o nascente, que tem principio por comprimento neste Lugar de Alvarelhos e na quinta de Vila Nova, do termo desta Vila de Monforte de Rio Livre, e tem seu fim adiante de Quintela, do termo da Vila de Chaves. E de largura, começa no Lugar de São Julião e no de São Lourenço, termo desta Vila de Chaves, e acaba no Lugar de Sá e no de Ervões, do mesmo termo de Chaves. O nome principal dela chama-se a serra de São Gião.
Este lugar está cercado de dois ribeiros e cada um deles tem seu moinho e seu pontão de pedra. Correm de poente para o nascente. O que está para a parte do poente nasce na própria serra, um quarto de légua por cima do lugar, e o da parte do nascente tem seu principio na Quinta de Vila Nova, um quarto de légua por cima deste lugar, e logo, a um tiro de bala para baixo deste lugar, se encontram e vão fenecer os lameiros que vêm do Lugar de Tinhela e depois, ao seu corrente, pelas Quintas de Agordelas e do Calvo e Vale de Casas. Em cada corrente tem bastantes moinhos e algumas pontes de pau. Vai fenecer ao pé da Quinta do Cachão, onde se mete no caudaloso Rio do Rabaçal. Ao longo desta serra, para a parte do poente, estão os lugares de Faiões, São Lourenço e São Julião, termo da Vila de Chaves, e, para a parte do nascente, estão os seguintes lugares: Este mesmo Lugar de Alvarelhos, a quinta de Lama de Ouriço, do termo desta Vila de Monforte de Rio Livre, e a de Quintela. No meio naõ tem povoação alguma e ainda a que tem muita gente não tem alguma digna de memória. [...] É dotado de Torgas, Carqueijas queirogas e alguns carvalhos bravos. Em alguns fundos e faldas dela, dá castanha e ao pé deste lugar de Alvarelhos, por onde correm os ribeiros, dá alguma fruta […], alguma hortaliça e algum vinho. E pelos altos alguma [terra] é cultivada, ainda que pouca, de centeyo. É muito áspera e fria. Não tem Igrejas nem mosteiros. Apascenta-se nela Bois e gado miúdo. Trás em si bastantes lobos, raposas, perdizes, coelhos e lebres. Tem alguns fojos e Lagoas mas, não são dignos de memória.
Este lugar está cercado de dois ribeiros e cada um deles tem seu moinho e seu pontão de pedra. Correm de poente para o nascente. O que está para a parte do poente nasce na própria serra, um quarto de légua por cima do lugar, e o da parte do nascente tem seu principio na Quinta de Vila Nova, um quarto de légua por cima deste lugar, e logo, a um tiro de bala para baixo deste lugar, se encontram e vão fenecer os lameiros que vêm do Lugar de Tinhela e depois, ao seu corrente, pelas Quintas de Agordelas e do Calvo e Vale de Casas. Em cada corrente tem bastantes moinhos e algumas pontes de pau. Vai fenecer ao pé da Quinta do Cachão, onde se mete no caudaloso Rio do Rabaçal. Ao longo desta serra, para a parte do poente, estão os lugares de Faiões, São Lourenço e São Julião, termo da Vila de Chaves, e, para a parte do nascente, estão os seguintes lugares: Este mesmo Lugar de Alvarelhos, a quinta de Lama de Ouriço, do termo desta Vila de Monforte de Rio Livre, e a de Quintela. No meio naõ tem povoação alguma e ainda a que tem muita gente não tem alguma digna de memória. [...] É dotado de Torgas, Carqueijas queirogas e alguns carvalhos bravos. Em alguns fundos e faldas dela, dá castanha e ao pé deste lugar de Alvarelhos, por onde correm os ribeiros, dá alguma fruta […], alguma hortaliça e algum vinho. E pelos altos alguma [terra] é cultivada, ainda que pouca, de centeyo. É muito áspera e fria. Não tem Igrejas nem mosteiros. Apascenta-se nela Bois e gado miúdo. Trás em si bastantes lobos, raposas, perdizes, coelhos e lebres. Tem alguns fojos e Lagoas mas, não são dignos de memória.
Naõ há neste lugar de Alvarelhos rio algum, somente dois ribeiros que correm do poente ao nascente […]; o da parte do poente, nasce da serra própria, por cima do lugar, a um quarto de légua. Tem um moinho e pontão de pedra no sítio do rio. E o da parte do nascente, tem seu principio na Quinta de Vila Nova, a um quarto de légua distante deste lugar e tem hum moinho e pontaõ de pedra no sitio do Prado, perto das casas deste lugar. Juntam-se ambos, logo por baixo de um lugar no sitio da Veiga. Correm todo o ano […]. Ao lado deles há Lameiros e cultivam-se muitas terras lavradias e tem, do lado, árvores, ainda que poucas, de castanheiros ao pé do lugar, e para baixo amieiros e salgueiros. Não têm suas águas virtude particular alguma, antes são livres para a cultura dos campos. Conservam sempre o nome de Ribeiro de Alvarelhos. Não tem cachoeira nem represa que lhe impeça o seu curso. Tem um moinho perto do lugar, por baixo, de que se juntam ambos, chamado o do Curso. Tem um pontão de pedra a meia légua deste lugar, junto a Tinhela. Para baixo deste pontão o recebe a Quinta da Agordela e vai tendo seu curso ao pé da Quinta do Calvo e da quinta da Agordela, em cujo sitio há bastantes moinhos e, na quinta da Agordela, um pontão de pedra e outro pontão logo por baixo da Quinta do Calvo.
O padre José Alvares
In http://digitarq.dgarq.gov.pt
Para se aquilatar da importância destes documentos para o conhecimento de importantes aspectos da sociedade setecentista portuguesa, em especial quanto à organização administrativa civil e religiosa que compunha o reino, recomendamos a análise de um excelente estudo colectivo, coordenado por José Viriato Capela em Portugal nas Memórias Paroquiais de 1758, cujo 3.º volume é dedicado às freguesias do Distrito de Vila Real e que contém a leitura e elaboração de índices e roteiros dos mesmos documentos e se encontra publicado em formato Pdf – Se deseja aceder a este estudo, clique AQUI.
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