terça-feira, 23 de agosto de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias - BARREIROS

Por Leonel Salvado

DICCIONARIO GEOGRAFICO OU NOTICIA HISTORICA DE TODAS AS CIDADES, VILLAS, LUGARES, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ, assim antigas, como modernas… d’o Padre Luiz Cardoso
TOMOII
1752
[pp. 70-71]

BARREIROS. Lugar da Provincia de Traz os Montes, Bispado de Miranda, Comarca da Villa de Torre de Moncorvo, Concelho de Monforte: tem quarenta e sete visinhos, tudo gente que vive de suas lavouras, e cultura de seus campos. Há aqui Igreja Paroquial, pequena, e de huma só nave, dedicada a S. Vicente Martyr: antigamente era esta Igreja anexa à de Nossa Senhora da Assumpçaõ de Sonim, que há poucos annos se desanexou, e he hoje Freguesia sobre si. Naõ tem mais que dous Altares, o mayor com a imagem do Santo Patrono, e hum collateral dedicado a Santo Amaro. Naõ se descobrem della povoações algumas, por estar cercada de montes, e oiteiros, que lhe tomaõ a vista. He a terra, naõ obstante a sua situaçaõ afogada, sadia, e de bons ares, que lhe communica a serra de Bornes, que fica nestas visinhanças, e abundante de centeyo, vinho, e castanha, e lavra algum azeite, de que há dous lagares na terra. Deve a sua fertilidade às muitas aguas, que descem dos montes visinhos, de que usam para limar as terras, e as que sobejaõ se vaõ meter no rio Rabaçal.

In BNP, Biblioteca Nacional Digital


MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 6, BARREIRAS, Monforte do Rio Lima [leia-se Barreiros, Monforte do Rio Livre]
Cota: Memórias Paroquiais, vol. 6.º, n.º 44a, p. 331 a 334

Nota: Devido ao mau estado de conservação do documento e da respectiva cópia (demasiada tinta repassada) deparámos com bastantes dificuldades de leitura e interpretação do seu teor, pelo que a transcrição apresenta algumas lacunas e pode conter alguns vocábulos rectificáveis.


Paz e saúde em Jesus Cristo que de todos é mandado remédio.
Na forma a mim possível, eu, o padre Baltazar Rodrigues da Rosa, cura neste Lugar de Barreiras, dou a resposta pedida pelos inclusos interrogatórios na forma seguinte:
É este povo da Província de Trás-os-Montes, Bispado de Miranda do Douro, Comarca de Torre de Moncorvo, termo da vila de Monforte de Rio Livre, Freguesia de S. Vicente.É donatário desta terra o Ilustríssimo senhor conde de  Atouguia e suponho que por não ter as suas doações correntes, está, a meu ver, tudo por  Elrei Nosso Senhor, que Deus guarde.Tem este povo cinquenta e sete moradores, cento e trinta e três pessoas de sacramento, trinta e nove rapazes e raparigas.Está situado em muitos altos e baixos e não se descobre deste lugar mais que a Corriça, Pádoa Freixo e casario, que são quintas da freguesia das Aguieiras e distam daqui duas léguas.Tem este povo termo demarcado que terá meia légua de largura para todas as partes.
A paroquia está dentro do lugar e não tem mais lugares nem aldeias com sua compreensão.
O seu orago é S. Vicente, altares tem dois, o maior aonde está o dito Santo, o menor que é colateral aonde está Santo Amaro, e aonde, no seu dia, há concurso de alguma gente por ser milagroso para os achaques das pernas.
O Pároco é cura apresentado pelo Abade desta Abadia, que é de S. Miguel do lugar de Fiães a cabeça dela, do mesmo termo, comarca e bispado. Tem de renda, o cura, cinquenta e sete alqueires de centeio, de ofertas mais vinte, de estipêndio meados de trigo e centeio, dez almudes de vinho, seis mil réis em dinheiro e o que lhe rende o pé de Altar.
Os frutos que aqui se recolhem com maior abundância são centeio, milho, feijões, castanhas, azeite e vinho.
Tem esta vila juiz ordinário, câmara com sujeição aos ministros da cabeça da comarca que aqui vêm fazer o serviço todos os anos.  Não tem correio e serve-se do de Chaves que dista daqui quatro léguas.Serão daqui à Cidade capital do Bispado dezasseis léguas, e oitenta, pouco mais
ou menos, à de Lisboa, capital do Reino.Têm estes moradores o privilégio local que se andar para a praça de Chaves gente como de soldado, e fugir, que lhe concedeu Sua Majestade, que Deus guarde, perdoá-lo neste o serviço.Tem dentro do povo uma fonte que lança água com muita abundância, quente de Inverno e fria no Verão, com cujas qualidades se diz médica  por não haver aqui pestes contagiosas, como nunca se recordam.
Suposto que esse grande tremor de terra na era de 1755 não fez mal considerável nem digno de reparar-se nos mais números deste interrogatório, não falo por não haver que nem no da serra, pois aqui a não há.
Entre o termo deste lugar e o das Aguieiras, passa o rio que aqui tem o nome de Rabaçal que é composto de três rios que se juntam por baixo da ponte de Vale de Armeiro que serão, daqui lá, três léguas. Um se chama rio do mesmo Vale de Armeiro, que tem seu princípio em Laxe Castro, lugar da raia entre a Galiza e Portugal; outro se chama o rio Mente que tem seu princípio em Castromil, lugar da raia entre Castela e Galiza e é principalmente na ponte do mesmo povo que se lança abundantemente. Outro se chama o rio Mousse que tem seu princípio no termo litoral do reino de Galiza. Estes rios perdem o nome em sozinhos e ficam-se chamando o rio de Rabaçal, que lhe dura até os Eixes, em cujo termo se junta em outro da mesma grandeza e se vai meter no Douro, em Foz Tua. Tem, pouco mais ou menos, de onde tem o princípio até que se mete no Douro, dezasseis léguas.
Não entra neste rio embarcação alguma por ser demasiadamente arrebatado em tempo de Inverno e passar por terra muito agreste e despenhada.Cria muitos barbos, bogas e escalos antes de se juntarem os três rios. Se ponderado também se criam trutas em todos eles. No tempo do Estio se pesca nele com redes [varredouras?], e o resto do mais ano com chumbeiras, o que se faz livremente por não ter senhor particular que o impeça.As margens deste distrito são infrutíferas, quase todas, por não terem terra que dê frutos e só no sítio da ponte da Corriça e no do Rabaçal dão azeite, milho, feijões e centeio, de tudo pouco, como também em outros sítios do Armeiro e aí nesses sítios há algumas oliveiras. Em todo o mais, não há nada e as árvores são silvestres.Neste termo não tem pontes algumas, antes muita necessidade delas que, como tem poucas entradas por ele por causa de não se poder abrir caminho, [se passa a gente o rio, porém] por lhe ficar dificulto atravessar ao não buscá-lo para as pontes que ficam longe e assim se tem afogado muita gente em barcas e muitas nas passagens de pedra. Tem este Rio moinhos chamados parcelas que não impedem embarcações por não poderem subir por ele.É o que tenho que dizer dos interrogatórios e números deles, a que, com a brevidade que me foi possível, dei a resposta que me foi pedida, hoje [3] de Abril 1758.

O Padre Baltazar Rodrigues da Rosa

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