Por Leonel Salvado
DICCIONARIO GEOGRAFICO OU NOTICIA HISTORICA DE TODAS AS CIDADES, VILLAS, LUGARES, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ, assim antigas, como modernas… d’o Padre Luiz Cardoso
TOMO I
1747
[pp. 386-387]
[…]
ARGERIS, Argeris. Freguesia na Provincia de Traz os Montes, Arcebispado de Braga, Comarca da Villa de Chaves: he da apresentaçaõ do Reytor de S. Nicolau de Carrazedo. A Paroquia está fora do povo, e o seu Orago he S. Mamede, o qual está collocado no Altar mor: tem mais dous collateraes, hum de Nossa Senhora da Expectaçaõ, e outro de Nossa Senhora do Rosario. O Paroco he Cura, e tem de renda cento e cincoenta mil reis cada anno. Tem no seu destricto cinco Lugares, que são; Argeris, Pereiro, Ribas, Midões, e Valle de Espinho, e nelles tem cento e cincoenta visinhos. As suas Ermidas, saõ; Nossa Senhora do Pranto, outra dentro do povo, em que está o Santissimo, Santa Luzia, Nossa Senhora da Expectação, Nossa Senhora das Neves, e S. Gens.
Os frutos de que vivem seus moradores são; trigo, centeyo, cevada, castanha, azeite, vinho, e colhe sumagre em abundância, que vendem para outras terras.
Passa por esta Freguesia hum rio sem nome, que tendo o seu nascimento no lugar de Sarapigos, vay morrer ao rio do Crasto, correndo de Poente a Nascente: neste destricto tem duas pontes de pao, nove moinhos, cinco lagares de azeite, e nove atafonas de moer sumagre: os moradores usaõ de suas aguas livremente para a cultura dos seus campos.
MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 4, ARGERIZ, Chaves
O Vigário Antonio Martins, pároco colado nesta Paroquial Igreja de São Mamede de Argeris que é termo e Comarca de Chaves do Arcebispado de Braga Primaz, satisfazendo a ordem que recebi do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral da predita Comarca para responder aos interrogatórios que com ela me foram entregues , o faço na forma e maneira seguinte.
É esta freguesia da Província de Trás-os-Montes do Arcebispado de Braga Primaz, Comarca e termo Da Vila de Chaves e freguesia de São Mamede e é terra d'El Rey Nosso Senhor.
Tem esta freguesia cento e sessenta e cinco fogos, pouco mais ou menos, terá pesoas de sacramento, quinhentos e trinta, e menores, quarenta , pouco mais ou menos.
Está esta freguesia situada nas beiras de uns altos os quais altos constam de pedras o que comummente se lhes chama nesta terra fragas; para nascente consta de vales; e se descobre dos altos terra da vila de Monforte que dista daqui três para quatro légoas; e se descobre mais dos mesmos altos, terra de Bragança que dista daqui oito para dez léguas; e se descobre mais terra da Vila de Dona Chama, que dista daqui cinco léguas; e se descobre mais terra da Vila de Mirandela, que dista daqui quatro léguas; e se decobre mais a Serra de Siabra, que é terra de Castela e nos meses de Julho, Agosto e Setembro deixa de ter neve, que dista desta freguesia quinze para vinte léguas.
Esta freguesia do termo de Chaves tem um lugar que se chama Argeris que terá setenta e cinco fogos, pouco mais ou menos. Tem o lugar de Pereiro que terá de vizinhos, trinta, pouco mais ou menos. Tem o lugar de Ribas que terá de vizinhos, outros trinta. Tem o lugar de Midões que terá de vizinhos catorze. Tem a quinta de Vale de Espinho que tem onze vizinhos pouco mais ou menos.
Está a paróquia desta freguesia fora do lugar mas não tão distante que chegue a mais de um quarto de légua deste lugar de Argeris, onde está situada. Tem mais o lugar do Pereiro, o lugar de Ribas e a quinta de Vale de Espinho.
É o orago desta freguesia São Mamede, o qual está no altar mor da igreja, no altar colateral da parte do Evangelho, Nossa Senhora do Rosário, e no altar colateral, da parte da Epístola, Nossa Senhora da Apresentação. E não há mais altares do que os três nomeados, como também não tem nave alguma, e tem uma Irmandade que está debaixo da invocaçam de Santo António. Este lugar de Argeris tem uma capela dentro de si, a qual se chama a Capela do Santíssimo Sacramento, administrada pelos moradores, fregueses desta freguesia, excepto o sacrário que o é pelo comendador.
É o parocho desta freguesia vigário colado, cuja apresentação pertence ao Reitor de Carrazedo de Montenegro e tem de renda, um ano por outro, trezentos certos, e incertos cento e cinquenta mil réis. Não tem beneficiados. Não tem conventos. Não tem hospital. Não tem casa de misericórdia.
Tem esta freguesia, neste lugar de Argeris, a ermida de Nossa Senhora do Pranto, situada a alguma meia légua do lugar dos moradores, aos quais pertence a administração dela. Tem o lugar do Pereiro uma ermida do Mártir São Sabastião, a ermida de Nossa Senhora da Expectação, situada no lugar de Ribas, a qual é administrada por bens que antigamente se deixou em direito, que renderaõ, um ano por outro, dez mil réis, pouco mais ou menos, e a ermida de Nossa Senhora das Neves, do lugar de Midões, que fica situada ao pé das casas cuja administração pertence aos moradores do mesmo lugar; e a outra ermida no meio da quinta de Vale de Espinho, cuja evocação é de São Gens, administrada pelos moradores da mesma quinta;
A nenhuma das ermidas acima nomeadas, acodem a elas romeiros em dia algum determinado.
Os frutos desta freguesia que os moradores recolhem em maior abundância são vinhos, cevadas, castanhas, sumagres e linho, centeio, trigo e milhão, pouco.
É esta freguesia sujeita a justiças do Juiz de fora da vila de Chaves.
Não é esta freguesia couto, cabeça de Concelho, honra ou Beetria.
Não há nesta freguesia memória de homens insignes por letras ou armas e virtudes e saber dado.
Não tem esta freguesia feira alguma
Não tem correio esta freguesia e serve-se com o de Chaves que dista daqui três léguas.
Dista esta freguesia da Cidade de Braga, capital, dezoito léguas, e da capital do reino, que é Lisboa, oitenta léguas mais ou menos.
Não tem privilégios, antiguidades ou outras coisas dignas de memória.
Não é esta freguesia murada, só sim ao pé do lugar de Ribas, desta freguesia, há, num alto, umas muralhas, já demolidas, que dizem os antigos foram Cerca de Mouros. Não há castelo, nem torre.
Não padeceu esta freguesia ruína alguma no terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco anos.
E não há mais de que se possa falar e memória para responder ao presente interrogatório.
Quanto às qualidades de serras, não tem esta freguesia serra alguma, nem que responder aos interrogatórios que compreende nela.
Quanto à qualidade de rios não tem esta freguesia rio algum que dele se possa fazer memória, excepto um regato chamado [o bradela?], que no inverno leva água para moer alguns moinhos. No Verão e no estio é necessário, para regar, fazê-lo em poças, cobri-lo de poças para regar alguns frutos. E este povo de Argeris tem três fontes de água, todas de cantaria, e as águas não têm virtudes senão para beber as gentes e crias.
Tudo deferido assim afirmo ser verdade e juro in verbo sacerdotis.
Argeris, 9 de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito anos que
Argeris, 9 de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito anos que
Assinei, O Vigário Antonio Martins
O pároco de Santiago da Ribeira de Alharis, Manoel da Silva
O pároco de Sanfins, Manuel Álvares
O pároco de Sanfins, Manuel Álvares
Para se aquilatar da importância destes documentos para o conhecimento de importantes aspectos da sociedade setecentista portuguesa, em especial quanto à organização administrativa civil e religiosa que compunha o reino, recomendamos a análise de um excelente estudo colectivo, coordenado por José Viriato Capela em Portugal nas Memórias Paroquiais de 1758, cujo 3.º volume é dedicado às freguesias do Distrito de Vila Real e que contém a leitura e elaboração de índices e roteiros dos mesmos documentos e se encontra publicado em formato Pdf – Se deseja aceder a este estudo, clique AQUI.
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