Por Leonel Salvado
O Clube de História de Valpaços irá brevemente dar início a uma transcrição de documentos históricos relativos aos vários lugares que hoje compõem o concelho de Valpaços nos meados do século XVIII, por ordem alfabética dos nomes das sedes das Juntas de Freguesia, que constam de duas obras fundamentais: O Dicionário Geográfico do Padre Luiz Cardoso (de que foram editadas apenas dois volumes com as entradas de A a C dos respectivos nomes das localidades) e as Memórias Paroquiais, nome por que ficaram conhecidas as respostas dos vários párocos do país ao Inquérito que lhes foi dirigido, após o terramoto de Lisboa de 1755. Esta determinação perfilhada pelo Secretário de Estado Sebastião José de Carvalho e Melo surgiu como uma feliz oportunidade para compensar a enorme lacuna que resultou da catástrofe pela destruição da monumental obra de compilação ainda inédita destinada ao Dicionário Geográfico da iniciativa do referido Padre Luiz Cardoso, razão porque o acervo resultante daqueles inquéritos passou a ser designada, para muitos abusivamente (apesar do envolvimento do próprio Luiz Cardoso na iniciativa), como a parte restante do Dicionário Geográfico, embora em grande parte também (ainda!) manuscrita e com informação não tratada arquivisticamente. No âmbito do trabalho que a que nos propusemos levar a cabo aqui, entendemos proceder a algumas notas de esclarecimento acerca do significado, âmbito e conteúdo das fontes que iremos transcrever no seu estilo ortográfico original. Em alguns dos documentos transcritos não nos foi possível evitar algumas lacunas.
As Memórias Paroquiais de 1758 – Significado, âmbito e conteúdo
Um aviso de 18 de Janeiro de 1758 do Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, fazia remeter, através dos principais prelados, e para todos os párocos do reino, os interrogatórios sobre as paróquias e povoações pedindo as suas descrições geográficas, demográficas, históricas, económicas, e administrativas, para além da questão dos estragos provocados pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755. As respostas deveriam ser remetidas à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.
As respostas ao inquérito terão sido levadas para a Casa de Nossa Senhora das Necessidades, em Lisboa, da Congregação do Oratório, para serem trabalhadas pelo Padre Luís Cardoso (?-1769). O ex-libris existente na maioria dos volumes confirma esta custódia. O índice terá sido elaborado ou concluído no ano de 1832, data que apresenta. Passaram depois para a Biblioteca da Ajuda depois da extinção das ordens religiosas, seguindo para o Depósito Geral das Livrarias, no antigo Convento de São Francisco da Cidade, e daí para a Torre do Tombo entre os anos de 1836 e 1838.
In http://digitarq.dgarq.gov.pt
O Questionário:
I - O QUE SE PROCURA SABER DESSA TERRA É O SEGUINTE
Venha tudo escrito em letra legível, e sem abreviaturas
1. Em que província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?
2. Se é do rei, ou de donatário e quem o é ao presente?
3. Quantos vizinhos tem (e o número de pessoas)?
4. Se está situada em campina, vale ou monte e que povoações se descobrem daí e qual a distância?
5. Se tem termo seu, que lugares ou aldeias compreende, como se chamam e quantos vizinhos tem?
6. Se a paróquia está fora ou dentro do lugar e quantos lugares ou aldeias tem a freguesia todos pelos seus nomes?
7. Qual é o orago, quantos altares tem e de que santos, quantas naves tem; se tem irmandades, quantas e de que santos?
8. Se o pároco é cura, vigário, reitor, prior ou abade e de que apresentação é e que renda tem?
9. Se tem beneficiados, quantos e que renda tem e quem os apresenta?
10. Se tem conventos e de que religiosos ou religiosas e quem são os seus padroeiros?
11. Se tem hospital, quem o administra e que renda tem?
12. Se tem casa de misericórdia e qual foi a sua origem e que renda tem; e o que houver notável em qualquer destas coisas?
13. Se tem algumas ermidas e de que santos e se estão dentro, ou fora do lugar e a quem pertencem?
14. Se acodem a elas romagem, sempre ou em alguns dias do ano e quais são estes?
15. Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior abundância?
16. Se tem juiz ordinário, etc., câmara ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra e qual éesta?
17. Se é couto, cabeça de concelho, honra ou behetria?
18. Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem alguns homens insignes por virtudes, letras ou armas?
19. Se tem feira e em que dias e quantos dura, se é franca ou cativa?
20. Se tem correio e em que dias da semana chega e parte; e se o não tem, de que correio se serve e quanto dista a terra aonde ele chega?
21. Quanto dista da cidade capital do bispado e de Lisboa capital do reino?
22. Se tem alguns privilégios, antiguidades, ou outras coisas dignas de memória?
23. Se há na terra ou perto dela alguma fonte, ou lagoua célebre e se as suas águas tem alguma especial qualidade?
24. Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?
25. Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se há nela ou no seu distrito algum castelo ou torre antiga e em que estado se acha ao presente?
26. Se padeceu alguma ruína no Terremoto de 1755 e em quê e se está reparada?
27. E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.
II - O QUE SE PROCURA SABER DESSA SERRA É O SEGUINTE
1. Como se chama?
2. Quantas léguas tem de comprimento e de largura; onde principia e onde acaba?
3. Os nomes dos principais braços dela?
4. Que rios nascem dentro do seu sítio e algumas propriedades mais notáveis deles: as partes para onde correm e onde fenecem?
5. Que vilas e lugares estão assim na serra, como ao longo dela?
6. Se há no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?
7. Se há na terra minas de metais; ou canteiras de pedras ou de outros materiais de estimação?
8. De que plantas ou ervas medicinais é a serra povoada e se se cultiva em algumas partes e de que géneros de frutos é mais abundante?
9. Se há na serra alguns mosteiros, igrejas de romagem ou imagens milagrosas?
10. A qualidade do seu temperamento?
11. Se há nela criações de gados ou de outros animais ou caça?
12. Se tem alguma lagoua ou fojos notáveis?
13. E tudo o mais houver digno de memória?
II - O QUE SE PROCURA SABER DESSE RIO É O SEGUINTE
1. Como se chama assim o rio, como o sítio onde nasce?
2. Se nasce logo caudaloso e se corre todo o ano?
3. Que outros rios entram nele e em que sítio?
4. Se é navegável e de que embarcações é capaz?
5. Se é de curso arrebatado ou quieto, em toda a sua distância ou em alguma parte dela?
6. Se corre de norte a sul, se de sul a norte, se de poente a nascente, se de nascente a poente?
7. Se cria peixes e de que espécie são os que trás em maior abundância?
8. Se há neles pescarias e em que tempo do ano?
9. Se as pescarias são livres ou de algum senhor particular, em todo o rio ou em alguma parte dele?
10. Se se cultivam as suas margens e se tem arvoredo de fruto ou silvestre?
11. Se tem alguma virtude particular as suas águas?
12. Se conserva sempre o mesmo nome ou o começa a ter diferente em algumas partes; e como se chamam estas ou se há memória de que em outro tempo tivesse outro nome?
13. Se morre no mar ou em outro rio e como se chama este e o sítio em que entra nele?
14. Se tem alguma cachoeira, represa, levada ou açudes que lhe embarassem o ser navegavel?
15. Se tem pontes de cantaria ou de pau, quantas e em que sítio?
16. Se tem moínhos, lagares de azeite, pizões, noras ou outro algum engenho?
17. Se em algum tempo ou no presente, se tirou ouro das suas areias?
18. Se os povos usam livremente das suas águas para a cultura dos campos ou com alguma pensão?
19. Quantas léguas tem o rio e as povoações por onde passa, desde o seu nascimento até onde acaba?
20. E qualquer outra coisa notável que não vá neste interrogatório.
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