terça-feira, 1 de novembro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – TAZÉM

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Tazém é hoje uma povoação anexa à freguesia de Padrela com a designação formal de Padrela e Tazém. Porém as duas localidades foram sempre freguesias autónomas até ao último quartel do século XIX, quando por decreto de 27 de Novembro de 1884, Tazém foi anexada a Padrela. Infelizmente, a cópia do manuscrito relativo à freguesia de Padrela, nesta série documental das Memórias Paroquiais, encontra-se quase totalmente ilegível, pelo que não se torna possível proceder já a sua transcrição. Convém que se diga que Frutuoso e Valizelos que, juntamente com Tazém, constituem a maioria das anexas da freguesia actual, pertenciam à antiga freguesia com este nome e não à de Padrela. Alguns topónimos foram transcritos na forma como se lêem na cópia do manuscrito original.


MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 36, TAZEM , Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 36, n.º 30, p. 165 a 174]

Tazem

Eleutério de Albuquerque, vigário da igreja de Nossa Senhora da Assunção de Tazem, da Sagrada Religião de Malta, faço certo que, em observância de uma ordem do Excelentíssimo Senhor Dom Frei Aleixo de Miranda Henriques, Bispo eleito de Miranda, vigário capitular e Governador do Arcebispado Primaz, escrita e mandada à minha freguesia sobredita, digo igreja, por mandado do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral da Vila de Chaves, me informei e do que achei e sei, nos interrogatórios junto à mesma, é o seguinte.

Esta terra chama-se o Lugar de Tazem. Está na Província de Trás-os-Montes, no Arcebispado de Braga, Comarca de Chaves, e termo da mesma, e é freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Tazém da Sagrada Religião de Malta.
Desta terra é Senhor dos dízimos, foros e pensões o Comendador da Comenda de São João da Corveira que se chama Frei Paulo Guedes Pereira Pinto.
Esta terra tem só vinte e sete vizinhos e cento e catorze pessoas, entre menores e ausentes. Em toda a freguesia tem sessenta e quatro vizinhos e duzentas e cinquenta e oito pessoas, entre ausentes, menores e os que nela existem.
Está situada em as raízes de uma serra, em um baixo desta. Só para a parte do Nascente se descobrem algumas terras como Mirandella, São Pedro de Veiga de Lila, a serra aonde está a ermida de Santa Comba e vários lugares que lhes não sei os nomes. E também se descobre a serra de Monte Mel.
Esta terra tem uma légua de termo, tudo quase serra.
Tem a paróquia fora do lugar, afastada sessenta passos parum minusque.
Tem esta freguesia o lugar de Vallizelos e o lugar de Fructuoso e o lugar de Tazem, aonde está a paróquia e também no lugar de Padrella tem alguns fregueses.
É orago desta freguesia Nossa Senhora da Assunção. Tem três altares, um o altar maior e neste está Nossa Senhora da Assunção; e nos dois colaterais, no que está da parte do Nascente está a imagem do Santo Cristo e no que está da parte do Poente está o Mártir São Sebastião. Não tem naves nem Irmandades.
O pároco desta paroquial igreja é vigário, apresenta-o o Comendador da Comenda de São João da Corveira, da Sagrada Religião de Malta, e o que é de presente chama-se Frei Paulo Guedes Pereira Pinto. Tem de renda ad plurimam sessenta mil réis.
Não tem Beneficiados.
Não tem convento algum.
Esta terra e freguesia não tem Hospital.
Tem esta freguesia três capelas: Uma de Tazem que é de Santa Bárbara; está no lugar de Fructuoso uma de São Fructuoso; está no lugar de Vallizelos uma de Santo António. Esta está fora do lugar e as outras dentro dos mesmos lugares, onde cada um destes são obrigados da fábrica delas. Todas estas capelas são da mesma freguesia.
Às ditas capelas não acode romagem, excepto nos dias dos Santos das mesmas algumas pessoas, por acaso.
Os frutos que os moradores desta terra costumam recolher em maior abundância são trigo, centeio, vinho, castanha e também algum milho e feijão.
É esta terra sujeita, no que respeita ao secular, ao juiz de fora e à câmara da Vila de Chaves.
Esta terra não é couto e, para executar a sua parte religiosa, nela governa o Vigário Geral da Sagrada Religião de Malta em várias coisas.
Nesta terra e freguesia não há feira.
Não há nesta terra correio e se serve com o correio de Chaves, que dista daqui três léguas grandes, e também se serve com o correio de Villa Pouca de Aguiar que dista daqui três léguas.
Desta terra dista Braga dezasseis léguas e Lisboa sessenta.
Tem esta terra e freguesia alguns privilégios que os Sumos Pontífices concederam à Sagrada Religião de Malta e os Senhores Reis de Portugal.
Esta terra não é porto de mar.
Pela misericórdia de Deus não padeceu esta terra ruína alguma com o terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco.

Esta serra chama-se a serra da Burralheira. Tem três léguas de comprimento e terá duas e meia de largo, pouco mais ou menos. Começa no termo de Villa Pouca de Aguiar e acaba no termo de Padrella. Os braços dela são a serra de Villa Pouca.
Nesta serra nasce um rio que se vai meter no rio Tua, por baixo de Murça, e outro que principia no lugar de Alagoa que se chama rio Tinhela, por correr ao pé do mesmo povo, e, daí, vai ser o rio que passa ao pé de Murça.
Os povos e lugares que estão nesta serra são os seguintes: Fructuoso, Alagoa, Balugas, Tinhela de Baixo e de Cima, Cabanas, Guilhado, Valongo, Villa Pouca, Bornes, Heiriz, Barbadamis, Valloura, Graçonis e Sevivas.
Nesta serra não há minas de metais; há alguma pedra boa para cantaria ao pé do lugar que se chama Alagoa.
Nesta serra, em alguns baixos se cultiva centeio, trigo e castanha. As plantas, tirando alguns castanheiros e algumas fruteiras que estão ao pé dos povos, as mais tudo são silvestres que só servem para se queimar no lume, e declaro que também se cultiva algum milho.
A qualidade desta serra é ser muito fria porque no tempo de Inverno dura muito nela a neve.
Os habitantes que a habitam costumam criar nela muito gado cabrum, alguns bezerros e vitelos e também algumas ovelhas; também nela se tem visto alguns porcos monteses e cria muitos coelhos, perdizes e lebres.

O rio que passa ao pé desta terra não tem nome, só o toma dos lugares por onde passa em vários termos. Nesta terra se chama rio de Tazem e o sítio aonde nasce é o Viduedo, na serra dita. Porém, no Verão seca neste sítio. Este rio do sítio de Viduedo só corre de Inverno e no Verão corre de um sítio mais abaixo chamado os Loivos, no limite de Tazem, e, daqui, corre sempre sem secar.
Neste rio dentro do limite desta freguesia não se mete rio algum, mas ele mistura-se com o rio de Carrazedo no sítio da Ribeira da Fraga.
Não é rio de navegação.
Este rio, passando os outros às vezes, em tempo de Inverno, é de arrebatado curso.
Corre de Poente para o Nascente.
No limite desta freguesia até quase ao limite de Curros costuma criar trutas e, daí para baixo, trutas, bogas e tritões. Neste rio se costuma pescar de Verão. As pescarias são comuns.
As margens deste rio, nalgumas partes, se cultivam de arvoredo. Tirando alguns castanheiros, as mais árvores são silvestres.
Este rio não tem nome certo e só toma os dos lugares por onde passa. Vai-se meter no rio de Carrazedo, no sítio da Ribeira da Fraga, e, daí, mete-se por baixo de Murça no rio Tua, para melhor dizer, Foz Tua.
Tem alguns açudes e partes por onde se não pode navegar nem andar. Tem no limite desta freguesia duas pontes de pau, uma no sítio de Tazem, outra no sítio de Vallizelos. Em Curros tem uma ponte de pau, na Ribeira da Fraga outra, em Penaveice outra, e em Murça tem uma ponte de pedra boa e bem feita.
Este rio tem no limite desta freguesia alguns moinhos e pisões e fora também os tem. Este povo não paga pensão por usar da água deste rio para regar prédios.
Este rio terá, pouco mais ou menos, conforme as voltas que dá até se meter no rio Tua, oito a nove léguas. Passa ao pé de Tazem, de Vallizelos, da Ribeira da Fraga, de Curros, de Penaveice, de Mascanho e de Murça.

Passo na verdade o referido Ali opus est iuro in verbo Sacerdotis, hoje, Tazem, 19 de Março de 1758, declaro que vai assinado pelo Reverendo Vigário de São Pedro de Padrella e pelo Reverendo Reitor João de Almeida, Reitor de São João da Corveira, párocos mais vizinhos e também por estar mais sujeita.

O vigário, Eleutério de Albuquerque

O vigário de São Pedro de Padrella, Francisco Fernandes de Carvalho
O Reitor de São João de Corveira, Padre João de Almeida Sousa e Sá 

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