terça-feira, 15 de novembro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – VASSAL

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Todos os topónimos constantes nesta transcrição foram actualizados.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 39, VASSAL, Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 39, n.º 110, p. 615 a 618]

Esta freguesia de Santa Maria de Vassal é da Província de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga Primaz, termo da Vila de Chaves, é vigairaria ad nutum da apresentação do Reverendo cabido da Santa Sé de Braga, compõe-se de dois lugares que se chamam, um Vassal, outro Monsalvarga e dista um do outro um quarto de légua.
Tem Vassal, aonde está a igreja matriz, cinquenta vizinhos e Monsalvarga quarenta. Têm ambos os lugares trezentas e quarenta pessoas.
Está esta freguesia situada em uns vales pequenos, junto a uma serra que fica da parte do Poente, que tem um quarto de légua de comprimento e meio de largo; e da parte do Nascente tem um penhasco levantado com grandes outeiros, por cuja causa impede a vista das terras circunvizinhas, excepto o descobrimento de uma serra chama de Santa Comba que dista três léguas. O penhasco que fica do Nascente se chama a Fraga da Ribeira e a serra que fica de Poente se chama Santa Isabel.
É orago da igreja Santa Maria. Tem três altares, um que é o principal é do mesmo orago, outro de Nossa Senhora do Rosário, outro do Santo Cristo Crucificado. Não tem mais que uma nave. Tem uma capela contígua ao mesmo lugar chamada a Senhora da Encarnação, a que os antigos chamavam a igreja velha, aonde costumam concorrer alguns devotos nos vinte e cinco de Março, que é o dia da sua festividade.
Há neste lugar duas ermidas com pouca distância uma da outra, ambas no meio do lugar, uma de Santo António e outra da Senhora do Amparo, ambas de pessoas particulares. Há mais outra no Lugar de Monsalvarga que é dos mesmos moradores e tem a invocação de São Geraldo.
Renderá esta igreja para o Pároco sessenta mil réis, pouco mais ou menos.
Os frutos da terra que costumam colher os moradores em maior abundância são centeio e vinho, castanhas e algum azeite.
Serve-se do correio da Vila de Chaves, que dista três léguas, e este chega a Vila Real que dista de Chaves sete léguas.
Dista esta freguesia da cidade de Braga, capital do Arcebispado, dezoito léguas e da Corte e cidade de Lisboa, sessenta léguas.
Tem esta freguesia um privilégio de não acompanharem presos.
No terramoto do ano de 1755, a fonte deste lugar de Vassal, que levava água com muita abundância, totalmente secou e só agora, quando chove muito, lança água com muito menos abundância.

Passa contíguo a este Lugar de Vassal um rio pequeno que em alguns Verões seca. Tem este seu nascimento na freguesia de Ervões, que dista deste lugar meia légua,  corre de Norte ao Sul e cria peixes pequenos. Tem duas pontes de pau, uma chamada a ponte de cima, outra de baixo. Tem quatro moinhos. Os moradores usam livremente de suas águas para a cultura de seus campos. Este, na distância de meia légua se mete em outro no sítio das Cadavadas, que é limite deste Lugar, que tem seu nascimento na Venda da Serra e corre pelo termo desta freguesia, e terá, de Norte a Sul, duas léguas. Tem muitos moinhos, uma ponte de pau do sítio das Cadavadas em cujo sítio se tem afogado muitas pessoas e bestas por ser muito arrebatado no Inverno e já no mesmo sítio houve uma ponte de cantaria que descobriu em a grande tormenta que houve no ano de 1751, cujos vestígios se acham hoje submergidos com areia e bem necessita de reedificar esta ou fazer outra, por ser a estrada mais principal para a cidade de Bragança, e por causa da dita passagem não estar capaz, procuram outra com maior distância e perigo de suas vidas por passarem em barcas. Cria, este rio, alguns peixes pequenos chamados escalos e não seca no Verão.

Não há mais coisa alguma nesta freguesia que possa ser digna de memória, e por tudo ser verdade, mandei o que me informei, sendo como assino, com dois Párocos mais vizinho que são o de Valpaços e o de São Pedro Fins, como assino Pároco de Santa Maria de Vassal.

O Padre Dâmaso Osório de Queiroga
O vigário de Valpaços, Padre Francisco Pereira de Aial
O vigário de São Pedro Fins, o PadreManuel Álvares

Declaro que a dita serra acima chamada de Santa Isabel contém algumas pedras que, postas no lume, ardem e destilam enxofre e delas se tem feito muito para acender lume; o que tudo acima é para dar satisfação ao despacho do Senhor Doutro Vigário Geral desta Comarca de Chaves, a que assino e juro in verbo Sacerdotis, Vassal, em 13 de Março de 1758.

O vigário, o Padre Dâmaso Osório de Queiroga  

4 comentários:

  1. Muito interessante a descrição do lugar!
    Parece que já tirei uma dúvida: vizinhos, será o número de casas?
    Tb gostei das pedras a destilar enxofre, quando colocadas a arder.
    Vou até outra localidade.
    cmps
    leonor moreira

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  2. Cara Leonor Moreira:
    Peço desculpa por só agora me ter dado conta dos seus comentários e as questões que coloca.
    Desde o século XVI que se usa a nomenclatura de FOGOS,VIZINHOS e por vezes MORADORES, invariavelmente e aproximadamente, julga-se,no mesmo sentido, não de pessoas (habitantes) mas de casas(famílias).Ainda que não possamos entender estas designações como rigorosamente sinónimos eram usadas no mesmo sentido. Isto colocou sempre um problema aos historiadores, pois havia que se atribuir um coeficiente suficientemente razoável para estimar do número de cada FOGO e esse coeficiente varia entre 4 e 5 pessoas para caga fogo, vizinho ou morador, mas entendendo-se como mais plausível o coeficiente 4. Felizmente, a partir do século XVII, surgem os conceitos/designações de ALMAS,PESSOAS DE CONFISSÃO, MENORES DE CONFISSÃO, MENORES E COMUNHÃO,etç, e no século XVIII, como se vê em algumas Memórias Paroquiais, dependendo dos párocos, para além dos FOGOS, já se indica complementarmente o número de PESSOAS,e em certos casos, nas situações que referi em relação às Almas. Portanto, por regra e grosso modo, Fogos, Vizinhos e Moradores são sinóminos/ pessoas é o resultado da contagem por cabeça.
    Apraz-me saber que continua a seguir-nos e espero ter esclarecido as suas dúvidas.
    Os meus cordiais cumprimentos,
    Leonel Salvado

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  3. Claro que sim.
    Confesso que aqui me sinto um pouco ignorante, mas sempre que tenho dúvidas, gosto de perceber as coisas.
    Obrigada pela paciência.
    Vou ali ao Regicídio...
    os meus agradecimentos
    leonor moreira

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  4. Cara Amiga Leonor Moreira:
    Não tem aqui que se sentir ignorante, pois os próprios historiadores, como é o caso de Viriato Capelas (paleógrafo e especialista neste tipo de documentos) também manifestam dúvidas e se equivocam, como deve ter constatado por algumas "notas prévias" que tive o cuidado de registar no início de alguns documentos das "Memórias paroquiais". Mas a História é assim mesmo - é preciso termos consciência da relatividade do conhecimento, nunca é nem será absoluto e é justamente por isso que se torna ainda mais fascinante! Não hesite em continuar a acompanhar-nos. Eu, ou outro colega, que publicamos aqui estas coisas é que temos de assumir a responsabilidade de esclarecer as dúvidas que os nosso leitores sobre elas nos colocam. Visite-nos sempre e, gostando de perceber as coisas sempre que tem dúvidas, o que entendo ser uma virtude, infelizmente não muito comum, esteja à vontade para nos solicitar quaisquer esclarecimento sobre elas.
    Com os melhores cumprimentos,
    Leonel Salvado.

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