sábado, 19 de novembro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias –VEIGA DE LILA

Por Leonel Salvado


Nota prévia: A actual freguesia designada simplesmente por Veiga de Lila, cujo orago é hoje Santa Maria Maior, fez parte, juntamente com a de São Pedro de Veiga de Lila, da antiga paróquia de São Pedro dos Vales, da qual se separou e, tomando por padroeira Nossa Senhora das Neves, fundou a sua matriz sobre a vetusta ermida daquela invocação, constituindo-se como freguesia independente, mas a paróquia passou a estar sujeita à Reitoria de São Pedro de Veiga de Lila. Este documento, ainda que breve, atesta a referida evolução da organização paroquial verificada relativamente às duas freguesias e confirma que, à época da sua redacção (1758),  o orago de Veiga de Lila era ainda Nossa Senhora das Neves e que o respectivo pároco era vigário da apresentação do Reitor de São Pedro de Veiga de Lila, no termo da Vila de Chaves. Serve também de prova de que a actual capela de Santo António era, pela mesma época, da invocação da Senhora dos Remédios, da Casa e Vínculo com esta designação nos domínios da família dos Carvalhais. Os topónimos constantes na cópia do manuscrito original encontram-se actualizados na presente transcrição.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 39, VEIGA DE LILA, Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 39, n.º 115, p. 657 a 662]

Freguesia de Nossa Senhora das Neves de Veiga de Lila, Comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz.

O Padre António Pereira de Miranda, vigário ad nutum de Nossa Senhora das Neves de Veiga de Lila, faço certo em como me foi entregue uma ordem do muito Reverendo Senhor doutor Vigário Geral desta Comarca para, em virtude dela, responder aos interrogatórios transjunto, incluso nesta, e respondendo ao primeiro:

Esta minha igreja é apresentada é apresentado pelo Reverendo Reitor de São Pedro da Veiga, que é do padroado Real, em a Província de Trás-os-Montes, Comarca e termo de Chaves e Arcebispado de Braga, e neste mesmo interrogatório, vai incluso o segundo.
Tem esta minha freguesia sessenta vizinhos e, pessoas de sacramento cento e sessenta.
Está situada em vale muito baixo e dela não se descobre povoações algumas.
Poderá o termo que tem compreender um quarto de légua e dentro dele se não compreende Lugares alguns.
A Paróquia está no cimo do Lugar e não tem mais Lugares de fora.
O seu orago é da Senhora das Neves. Tem três altares e no altar Maior está a mesma Senhora, Padroeira, Santo António e São Francisco. E nos colaterais estão, em uma, Nossa Senhora do Rosário e o Menino Deus, e no outro está uma imagem do Santo Cristo e São Sebastião. Todos estes Santos se veneram todos os anos com uma Missa Cantada, para o que se elegem Mordomos que pagam aos sacerdotes, da sua bolsa, e não tem Irmandade alguma.
O Pároco desta igreja é vigário ad nutum e apresentado pelo Reitor de São Pedro da Veiga. Não tem rendimento mais do que um alqueire de pão de cada freguês e dá-lhe o Comendador cinco mil e cem réis em dinheiro, onze alqueires de trigo, e dois para as hóstias, e dois almudes de vinho para as galhetas, que tudo, com o incerto, poderá render trinta e quatro mil e trezentos e oitenta réis.
Tem três capelas, uma da Invocação de Santa Bárbara, que está fora do Lugar em um outeiro, que em algum tempo foi habitação de mouros, outra é da Invocação de São Pedro, esta também fora do Lugar, e são fabricadas pelos mesmos fregueses; outra, da Invocação da Senhora dos Remédios, está no meio do lugar, é fabricada por Alexandre Manuel do Carvalhal, da Vila de Chaves, e tem um vínculo anexo a ela. Por acaso vêm, alguns dias do ano, algumas pessoas a estas capelas.
O fruto que os moradores desta freguesia recolhem com mais abundância é pão de centeio.
Não tem juiz ordinário; está sujeita às justiças da Vila de Chaves.
Houve em algum tempo nesta freguesia Gaspar Vaz Teixeira, que foi mestre de Campo de Auxiliares.
Não tem correio; serve-se do correio de Chaves que dista desta freguesia cinco léguas.
Dista esta freguesia da cidade de Braga, capital de Arcebispado, vinte léguas, e da cidade de Lisboa, capital do Reino, setenta léguas.
Não tem privilégios alguns, nem coisa antiga digna de memória.
Não tem mais do que uma fonte no meio do Lugar de que se servem os moradores.

Segundo interrogatório.
Esta terra [a respeito da serra!] se chama Veiga de Lila. Terá, de comprimento, uma légua, e de largura, um quarto. Principia ao pé de São Pedro e acaba ao pé de Fonte Mercê.
Tem um ribeiro que principia ao pé de Jou e corre de Poente para o Nascente e fenece no rio de Mirandela, chamado Tua.
É esta terra de temperamento muito quente de Verão e muito fria de Inverno.
Nesta terra se criam alguns gados, mas poucos, e alguns coelhos, perdizes e lebres.

Terceiro interrogatório.
Já vai respondido [acerca do rio], no interrogatório antecedente. Não nasce caudaloso, nem corre todo o ano. Não entra outros rios nele. Não é navegável, nem de curso arrebatado, excepto no Inverno ou quando há trovões. Corre de Poente para Nascente. Cria alguns peixinhos pequenos, em pouca abundância. Cultiva-se [as suas margens] de algumas árvores de fruto e sem ele. Tem uma ponte de pau no meio do povo. Tem três moinhos de moer pão, somente no Inverno. Com a água deste ribeiro se regam algumas propriedades no tempo da Primavera até ao São João.
De onde principia este ribeiro, que é ao pé de Jou e passa ao pé de Canaveses e, depois da Veiga, passa pela Póvoa e Lilela até acabar no de Mirandela, será de distância de três léguas.
Tudo o referido é na verdade, não tenho mais que responder e vai assinada por mim e pelo Reverendo pároco de Canaveses e pelo Reverendo Reitor de São Pedro, que são os mais vizinhos, e assim afirmo in verbo Sacerdotis, Veiga de Lila, doze de Março de mil e setecentos e cinquenta e oito.

O Vigário, António Pereira de Miranda

O Vigário de Canaveses, José Pereira de Melo
O Reitor,  Filipe Monteiro de Abreu.

Sem comentários:

Enviar um comentário