Painel de “pseudo-azulejos” alegórico à Revolta de 31 de Janeiro | Imagem de base: Gravura
de Louis Tynayre, publicada na Illustração, revista universal impressa em Paris, 1891 | Digitalização e adaptação: Leonel Salvado
de Louis Tynayre, publicada na Illustração, revista universal impressa em Paris, 1891 | Digitalização e adaptação: Leonel Salvado
A revolta de 31 de Janeiro representa, senão o primeiro passo dado no sentido do derrube da Monarquia Portuguesa, pelo menos a manifestação mais evidente, firme e congregadora do movimento republicano em Portugal. Por ter nela tomado parte um fervoroso adepto valpacense da causa republicana, Franklim Teixeira, entendemos considerá-la também como um evento comemorativo de relevância local. De forma a proporcionarmos aos nossos leitores uma ideia global das circunstâncias que rodearam este acontecimento, seleccionamos a seguinte reportagem das “Notícias Lusa” publicada por Ana Maria Gomes no “Almanaque da República” por ocasião das celebrações do I Centenário da instauração deste regime político em Portugal.
«Notícias Lusa, a Revolta de 31 de Janeiro
O ambiente no Porto era "péssimo" nas vésperas da revolta do 31 de Janeiro e conspirava-se muito, sobretudo nos cafés Suíço e Central, junto à antiga Praça D. Pedro (hoje Praça da Liberdade), descreve o historiador Germano Silva.
"O Ultimato Inglês feriu o orgulho nacional e precipitou o descontentamento na cidade. Por isso, o ambiente era péssimo: as pessoas contestavam muito a monarquia, que estava em queda. Conspirava-se muito, e foi nos cafés que se forjou a revolução", descreve, à Lusa, o especialista.
O café Suíço e o Central, situados junto a uma praça cheia de "movida", foram "muito importantes" na revolução e este último era mesmo, de acordo com Germano Silva, "o quartel-general" da revolta de 1891, reunindo nas suas mesas estudantes e militares.
O povo do Porto aderiu fortemente à revolta militar do 31 de Janeiro, de tal forma que, quando chegaram à Praça D. Pedro, os militares "tiveram já dificuldade em romper a multidão para fazer a formatura".
Germano Silva refere que "não há outra cidade onde pudesse ter ocorrido a revolta do 31 de Janeiro", porque se trata de uma cidade "liberal desde a Idade Média".
Como se tratava de "uma cidade de trabalho, que criava riqueza", isso dava-lhe "certos privilégios", nomeadamente o de ser reivindicativa.
Apesar de tudo, a revolução não vingou: "Faltou um chefe militar de alta patente. Os sargentos precipitaram a saída para as ruas porque tinham sido traídos por um deles. Quando chegaram à Praça D. Pedro, onde estava a Câmara, esqueceram-se da guarda municipal, que se foi colocando em sítios estratégicos e tinha meios mais sofisticados, pelo que não foi possível implantar a República", refere o historiador.
Foi da Rua dos Quartéis (actual rua D. Manuel II), que saiu o Regimento de Infantaria 10, um dos responsáveis pela revolta de 31 de Janeiro.
Aos militares da Infantaria 10 devia juntar-se, na Praça de Santo Ovídeo (actual Praça da República), o Regimento de Caçadores 9, que antecipou a sua saída do antigo Mosteiro de S. Bento da Vitória porque "quem comandava as tropas era o sargento Abílio, que precisava de alguém com patente mais alta" para liderar os revoltosos.
Ao cruzar-se com o alferes Malheiro, que fazia a guarda da Cadeia da Relação, o sargento Abílio pediu-lhe para aderir ao movimento e comandar as tropas - o sim do Alferes leva o sargento a proferir o primeiro "viva" à República.
Chegados à Praça de Santo Ovídeo, "numa madrugada muito fria e cheia de nevoeiro", a Infantaria 10 e o Caçadores 9 (aos quais se juntou, também, a Guarda Fiscal) tinham por missão convencer o Regimento de Infantaria 18, ali instalado no quartel.
As negociações foram demoradas e acabaram por não surtir efeito, mas os militares seguiram pela rua do Almada em direcção à Câmara Municipal, onde Alves da Veiga proclamou a República e anunciou os nomes do primeiro Governo provisório.
Mas, entretanto, a guarda municipal estava a postos para parar a revolução e, quando militares e civis decidiram subir a rua de Santo António (actual 31 de Janeiro), começou a atirar, obrigando os revoltosos a fugir e deitando por terra a intenção de derrubar a monarquia em Portugal.»
Ana Maria Gomes, in Almanaque da Republica | http://www.republica2010.com
Sem comentários:
Enviar um comentário