sábado, 14 de janeiro de 2012

Carta Arqueológica do Concelho de Valpaços – 4

ADÉRITO MEDEIROS FREITAS, Julho de 2001
Esta laboriosa iniciativa de transcrição e reprodução de fotos e esquemas do extraordinário trabalho realizado pelo Dr. Adérito Medeiros Freitas, assim divulgado através da Internet, é dirigida, em homenagem a este autor, a todos os valpacenses, transmontanos e portugueses interessados nesta temática, mas em especial aos valpacenses que se encontram deslocados há longa data da sua freguesia natal, bem como aos seus descendentes.

FREGUESIA DE BARREIROS

TRANSCRIÇÃO E REPRODUÇÃO INTEGRAL AUTORIZADA PELO AUTOR
“Povoação e freguesia do concelho e comarca de Valpaços, distrito e diocese de Vila real, com 493 h em 126 fogos (1960), 346 h em 111 fogos (1970). Orago: S. Vicente. Situa-se no extremo E do concelho e distrito, no limite com os de Mirandela e Bragança. Foi reitoria do Padroado Real no termo da vila de Monforte de Rio Livre, a cujo concelho pertenceu até 31. 12. 1853. Compõe esta freguesia, apenas uma povoação, que lhe dá o nome.”
F. RIBEIRO, Encliclop. Verbo, Vol. 3, pág. 670 e Vol. 19, pág. 443.


Lagares:
Localização:
No lugar das “Lajes de S. João”, à esquerda da estrada de acesso à aldeia (E.M. 545).
Acesso:
Antes de se atingirem as casas mais antigas da aldeia vemos, à esquerda da estrada e a alguma distância, um conjunto de casas, em frente das quais existe um amplo espaço onde se pode estacionar. Um caminho paralelo à estrada e que passa em frente das referidas casas dá acesso directo às “Lajes de S. João”.
Coordenadas de Gauss: 275,2 – 524,4
Coordenadas geográficas: 
Altitude: 470 metros  
Longitude: 7º 13’  45’’ W (Gr.)   Latitude: 41º  41’ 00’’
Folha da Carta dos S. C. do E. N.º 48: VILARANDELO (Valpaços).

Características:
As “Lajes de S. João” constituem uma grande superfície granítica que, julgo, terá servido, no passado, de “eira comunitária”.
É num outro rochedo granítico que lhe fica próximo, a uma cota inferior, que foram cavados os três lagares que vamos descrever. O granito é equigranular, de grão médio, com biotite e moscovite.

1. Lagar:
A parte desta estrutura onde eram esmagados os frutos, ou “tanque” é formada por duas cavidades comunicantes (a e b).
A cavidade a é de erosão natural e não parece ter sofrido qualquer acção por parte do homem. Possui um comprimento máximo de 1,80 m e uma largura máxima de 1,22 metros.
A cavidade b deve ter aproveitado, também uma depressão de erosão natural mas foi, posteriormente e pela acção do homem, adaptada à função que veio a desempenhar.

Lagar: planta e perfil

A cavidade b possui, no seu conjunto, uma forma mais ou menos rectangular e mede 2,95 metros de comprimento e 1,30 metros de largura. Na extremidade oposta à goteira de descarga, 20 cm acima do pavimento do “tanque” existem duas pequenas cavidades (c) que medem, respectivamente, 21 e 17 cm de diâmetro e 9 e 10 cm de profundidade. Desconheço a função destas cavidades mas admito servirem de apoio a um sistema de prensa.
A partir desta cavidade dupla de esmagamento dos frutos ou “tanque”, o líquido obtido era recolhido por uma goteira que mede, no todo, 1,60 metros de comprimento. Podemos considerar, nesta goteira três partes:

- Uma anterior, directamente em comunicação com o “tanque”, rectilínea, com 65 cm de comprimento, 13 cm de largura e 3 cm de profundidade.
- Uma intermédia, que forma com a anterior um ângulo um pouco superior a 90º e que mede 70 cm de comprimento, 14 cm de largura e 3 cm de profundidade.
- Uma terminal, com 25 cm de comprimento e 20 cm de largura. Relativamente à porção anterior, intermédia, esta goteira terminal está rebaixada 2 cm. Termina na superfície inclinada da rocha granítica e não detectei qualquer reentrância destinada a adaptar o rebordo de um recipiente móvel de recepção do líquido. Por tal motivo admito que uma “caleira móvel”, adaptada a esta extremidade, fosse necessária para a condução final do respectivo líquido. 

Em posição quase perpendicular ao troço anterior desta goteira, foi cavada uma depressão rectangular (d) com 1,71 metros de comprimento e uma largura média de 17, 5 cm. A profundidade, variável, depende da morfologia da superfície rochosa: atinge, nas extremidades, 17 e 41 cm. Esta característica é comum a estes três lagares e está presente num outro lagar desta freguesia, já descrito.
Como já tive oportunidade de referir, admito que esta depressão se destinava a receber, por encaixe, uma estrutura móvel, prancha de madeira por exemplo, que funcionaria como uma espécie de filtro, evitando que a massa sólida resultante, atingisse o recipiente de recepção.

Nas proximidades do ângulo formado pelas duas primeiras partes desta goteira colectora existem pequenas superfícies (e) picadas ou aplanadas, cuja função pode estar relacionada, também, com um sistema de prensa.

2. Lagar
O “tanque” aproveitou, em parte, uma grande cavidade de erosão natural, adaptada pelo homem para a função a desempenhar.
Esta cavidade mede 2,56 metros de comprimento, 1,70 metros de largura (na base) e uma profundidade que, segundo CD, atinge um máximo de 1 metro e um mínimo de 90 cm.

Lagar: planta e perfis

O líquido obtido por esmagamento dos frutos era escoado por uma goteira formada por:
- Uma parte anterior, mais estreita, com 35 cm de comprimento.
- Uma parte terminal, com 30 cm de comprimento, 18 cm de largura e 4 cm de profundidade.
Em oposição mais ou menos perpendicular à porção anterior da goteira de escoamento, foi cavada uma depressão rectangular alongada com as características e possível função já descritas para o lagar anterior.
Esta depressão mede 1,80 metros de comprimento, 13 cm de largura e uma profundidade que, nos extremos, varia entre o máximo de 18 cm e um mínimo de 8 cm.

3. Lagar

Lagar: planta e perfis

É, dos três lagares da freguesia de Barreiros, o que possui maiores dimensões. O “tanque”, de forma rectangular mede:
Comprimento máximo …………… 3,32 cm
Comprimento mínimo  ………...… 2,95 cm
Largura máxima ………………..… 2,36 cm
Largura mínima ………………..… 1,87 cm

As profundidades são muito variáveis e estão relacionadas com a morfologia da superfície da rocha granítica onde foi cavada. A mínima, nas proximidades da goteira, é de 8 cm. Lateralmente, a altura das paredes picadas limitantes, atinge os 68 cm. Creio que também, este lagar, tenha aproveitado uma cavidade natural de erosão. A acção do homem, porém, fez desaparecer quase completamente os vestígios da sua existência.
Num dos lados do “tanque” (na planta, à direita) existem dois encaixes semicirculares, a diferentes níveis. Entre as duas cavidades existe uma diferença de cotas de 15 cm. Que a função destas cavidades esteja relacionada com a instalação de um sistema de prensa, é uma hipótese provável.

O Lagar 3, visto de SW. No primeiro plano, o “tanque”. Em último plano a “goteira de escoamento”


O líquido obtido no “tanque” escoava-se através de uma goteira, mais ou menos rectilínea, que mede 2,25 metros de comprimento e é formada por duas partes perfeitamente distintas:
- Uma parte anterior, directamente em comunicação com o “tanque”, com 1,64 metros de comprimento. A sua largura inicial é de 12 cm para, na porção terminal, ficar reduzida a 11 cm. A profundidade varia entre os 10 e os 11 cm.
-Uma parte terminal com 61 cm de comprimento e 16 cm de largura. Relativamente ao troço anterior, esta porção terminal da goteira está rebaixada de 7 cm. Dada a inclinação natural da superfície rochosa, a sua profundidade vai progressivamente diminuindo até se anular completamente.
Não existe nenhum encaixe directo para o rebordo de um recipiente de recepção móvel. Admito, pois, que esta porção terminal da goteira, servisse de encaixe de uma “caleira móvel” que conduzisse, ao recipiente da recepção, o líquido respectivo.
Tal como nos dois casos já descritos existe, na transição do “tanque” para a “goteira”, uma depressão rectangular alongada que mede 2,32 metros de comprimento, uma largura média de 27,5 cm e uma profundidade que varia entre os 10 e os 25 cm. Admito, para esta cavidade, a mesma função já referida para as estruturas idênticas dos dois lagares anteriores.

Abrigos Naturais
Entre a aldeia de Barreiros e o Rio Rabaçal são frequentes os abrigos naturais entre enormes blocos de rocha granítica que, por hipótese, podem ter sido ocupados pelo homem.
Na companhia de Rui Fernandes Teixeira, visitei dois desses abrigos, respectivamente, no lugar de Lameiras e a Gruta da Murteira. Durante esta curta visita, não encontrei qualquer vestígio da presença humana no passado longínquo.
Um “estradão” que, dos Barreiros, vai até à margem do Rio Rabaçal conduz-nos até às proximidades destes abrigos.
A “Gruta da Murteira” consta de dois amplos espaços, não muito altos e comunicando entre si. O acesso a um dos abrigos faz-se através de uma passagem estreita, espécie de degrau à beira de um precipício, devendo fazer-se com muito cuidado.
Ob cit., pp. 100-107.

Sem comentários:

Enviar um comentário