terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Breviário histórico do concelho de Valpaços, por freguesias, de A a V – ALVARELHOS

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Se há uma História Concisa de Portugal, com a propósito de apresentar uma história que não demore muito tempo a ler, mas que dê uma imagem global da evolução histórica do povo português, não será certamente despropositado apresentar, nesta rubrica, aos valpacenses e a todos os que se interessam pela História de Valpaços, uma descrição do essencial da evolução histórica do concelho, devidamente fundamentada, contudo desprovida das inconclusivas controvérsias que nela se acham e que se revestem de natural interesse para os mais eruditos, mas certamente enfadonhas para os nossos demais leitores a que este o Clube de História de Valpaços também se propõe servir.


LVARELHOS. De origem toponímica discutível, a paróquia de Nossa Senhora da Expectação de Alvarelhos deverá remontar ao século XIII, uma vez que nas Inquirições de 1258 se menciona uma igreja de Santa Maria com o mesmo nome, dependente da igreja de S. Pedro de Batocas, fundada nas terras de Monforte de Rio Livre durante o agitado reinado de D. Afonso II em que a região transmontana foi constantemente devastada pelas forças leonesas, ou no efémero reinado do seu sucessor, Sancho II, que foi marcado pela guerra civil e culminou com o exílio do monarca, substituído no trono por seu irmão, D. Afonso, conde de Bolonha, em qualquer dos casos, antes, portanto, da criação do concelho de Monforte de Rio Livre por carta de foral deste mesmo rei, D. Afonso III, em 1301, cuja igreja de Batocas se tornou cabeça da freguesia com o nome da mesma Vila (hoje freguesia de Águas Frias).
Integrado no termo de Monforte, a paróquia de Alvarelhos passou mais tarde, julgo que pelo início da dinastia de Avis, a pertencer à Comenda de Santo André de Oucidres, instituída na Ordem de Cristo, do Padroado Real, sendo seus donatários, até ao reinado de D. José, os condes de Atouguia. Convém que se diga que este título nobiliárquico aparece por carte de D. Afonso V de 17 de Dezembro de 1448, em favor de D. Álvaro Gonçalves de Ataíde (1.º conde de Atouguia), filho de Martim Gonçalves de Ataíde, alcaide-mor de Chaves, e de Dona Mécia Vasques Coutinho, aia dos infantes da “ínclita geração” e terminou em 1789 com D. Jerónimo de Ataíde (11.º e último conde de Atouguia), supliciado em Belém por ser acusado de envolvimento na conjura que conduziu à tentativa de regicídio), sendo extinto tal título e passada a representação da Casa dos Atouguias para os condes da Ribeira Grande. À mesma Comenda de Oucidres, dos condes de Atouguia, pertencerem também, no mesmo termo de Chaves os lugares de Lama de Ouriço (no século XVIII era ainda designada como Quinta), Monte de Arcas e Tinhela. Não admira pois que em documentos mais recentes, produzidos já no decurso do século XVIII se alude com frequência a esta relação de Alvarelhos com Oucidres e os condes de Atouguia, assim na Corografia Portuguesa do Padre António Carvalho da Costa, composto entre 1706 e 1712, como no Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso, cujos dois únicos volumes foram pubicados em 1747 e 1751, como ainda nas Memórias Paroquiais de 1758, redigidas pelos respectivos párocos.
No decurso do século XVIII, a freguesia de Alvarelhos ainda fazia parte do termo de Monforte de Rio Livre, pertencia ao Bispado de Miranda e à Comarca de Torre de Moncorvo, embora sujeita ao juiz ordinário da cabeça do concelho. Ao redor de 1708 compunha-se de 70 vizinhos, assinalando-se a existência de seis fontes de água na povoação. Em 1747 possui 60 fogos e no ano seguinte a população viu-se reduzida a 46 vizinhos, sendo o seu pároco cura da apresentação do reitor de Santo André do lugar de Oucidres. Colhiam os seus moradores centeio, vinho, castanha, linho e alguma hortaliça, provendo os dois primeiros frutos da terra numa parte substancial da renda devida ao curato. Nos prados que aí abundavam criavam bois e gado miúdo. Não obstante a aspereza da terra e o rigor do clima, nas faldas da serra, povoada de lobos, raposas, coelhos, lebres e perdizes, colhia-se castanha e nas margens das duas ribeiras, entre as quais se situava o povoado e tinha cada uma seu moinho, se cultivavam algumas terras e se formavam vistosos lameiros.
Existem em Alvarelhos alguns monumentos de carácter religioso ligados à devoção popular cristã de particular interesse e que constituem um caso raro no concelho de Valpaços, quiçá em toda a Província de Trás-os-Montes, que são quatro cruzeiros em granito com as mesmas características morfológicas, cada um deles originalmente erigido em cada um dos caminhos de acesso ao povoado, os caminhos da Ribósia, do Seixal, da Serra e de Santiago, com a curiosa particularidade de este último ter sido trasladado para o cemitério local, onde hoje se encontra, sendo o único que apresenta pedestal epigrafado, com a data de 1733.  
Extinto o concelho de Monforte de Rio Livre pelo decreto de 31 de Dezembro de 1853, passou a freguesia de Alvarelhos para o concelho de Valpaços, constituída pelo mesmo lugar, à cabeça, e a antiga Quinta de Lama de Ouriço.
A paróquia de Alvarelhos pertence ao arciprestado de Valpaços e à diocese de Vila Real, desde 22 de Abril de 1922, conservando o primitivo orago de Nossa Senhora da Expectação.

Fontes:
MARTINS, A. Veloso, Valpaços, Monografia, Lello & Irmão, Porto, 2.ª ed., Dez. 1990, pp. 163-165.
CAPELA, José Viriato et alii, Portugal nas Memórias Paroquiais de 1758, Braga, 2006.
CARDOSO, Luís, Dicionário Geográfico, 1747, Vol I, pp 386-387.
COSTA, António Carvalho da, Corografia Portuguesa e descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal... (1706-1712), Livro II, Tomo I, cap. III.
Memórias paroquiais de 1758,  Alvarelhos, Monforte de Rio Livre, | http://ttonline.dgarq.gov.pt.
Registos paroquiais, Valpaços, Paróquia de Alvarelhos | Id.

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