sábado, 18 de fevereiro de 2012

Na outra banda do Douro - trajes tradicionais de Ribacôa

Por Leonel Salvado


Numa brochura editada pelo Departamento Socio-cultural da Câmara Municipal de Loures em Novembro de 1995, Francisco de Sousa resumia, assim, os particularismos de que outrora se revestiam os costumes e modos de trajar na Europa e em Portugal:

Em Portugal não se pode afirmar que tenha havido grandes diferenças em relação aos restantes países da Europa. Contudo há (e houve) aspectos identificadores de cada país e dentro deste de cada região. Outra vez a cultura e o clima de mãos dadas na definição de modas, costumes e hábitos e trajar.”

Contudo, entre a grande região de Trás-os-Montes e Alto Douro e a mais pequena região que outrora não era raro designar-se por “Beira Transmontana” as semelhanças nos costumes e hábitos de trajar mostram que neste quadrante Norte-Oriental do território nacional as divisões administrativas que ao longo dos tempos foram sendo impostas às populações, divisões essas definidas muitas vezes em função das condições naturais como a hidrografia -os rios Douro e Côa - não bastaram para que, na secular tradição cultural que sempre ligaram os povos destas duas regiões, até à relativamente recente estandardização dos hábitos de trajar, essa ligação se esbatesse de forma tão significativa como se julga. Ao descrever-se, por exemplo, as características do traje tradicional masculino de Miranda do Douro, em particular, e dos trajes masculinos e femininos de trabalho transmontano, em geral, encontramos nelas algumas surpreendentes analogias com os hábitos ou modos de trajar tradicionais da área setentrional de Ribacôa cuja influência da cultura galega exercida desde antes da sua incorporação no Reino de Portugal, tem sido realçada por etnólogos e filólogos.
 Vejamos como Júlio António Borges sucintamente descrevia, em 1997, o traje regional desta região da Beira Alta situada a sul do Rio Douro, entre os rios Côa e Águeda:

«O burel, obtido com a lã, era a base do vestuário. Com ela se faziam as saias e blusas para as mulheres e as calças para os homens.
As mulheres trajavam com simplicidade. As mais vistosas calçavam meias de lã ou algodão até ao joelho. Vestiam blusa de chita ou flanela e saia de riscado ou fazenda grosseira. A envolver o corpo nos dias frios, usavam o xaile ou a capa e calçavam tamancas ou chinelos, conforme as circunstâncias.
Os homens vestiam fato de “Saragoça” e calçavam tamancos ou botas. Para segurarem as calças, usavam uma faixa preta que lhes dava três ou quatro voltas à cinta. Serviam-se dela como algibeira, onde guardavam o lenço e a carteira. Um garrido e grande lenço tabaqueiro era metido dentro do chapéu no Inverno, e entre a camisa e o peito, no Verão. Os pastores usavam polainas e calçavam tamancos por causa da lama.
Alguns lavradores ainda hoje vestem camisas de riscado, mais compridas que as habituais. Usam-nas por fora das calças, dando-hes um nó na cintura.»

FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO, Roteiro Turístico do concelho, 2.ª Edição da CM, 1997

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