segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Solares do concelho de Valpaços – Solar dos Xavier Morais Pinto (Cardoso Pimentel)

Por Leonel Salvado
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Nota prévia: A respeito dos solares de Possacos, tirando o dos “Machados”, tem existido ao longo dos tempos a uma enorme confusão na sua relação com as famílias mais conhecidas da aristocracia local pelos séculos XVIII e XIX às quais elas pertenceram, nomeadamente os Morais, os Pinto, os Xavier e Pimentel e nas correspondências destas com as representações heráldicas que esses solares ostentam, o que é perfeitamente natural. Na verdade, a identificação dos solares, aqui como em qualquer outra parte foi variando no tempo e dependeu sempre do ponto de vista das pessoas. Como se compreenderá, a prevalência do determinativo original procedente de uma interpretação heráldica não tem necessariamente de corresponder, nem corresponde na maioria dos casos, à designação comum que é sujeita a alterações sempre em função dos nomes dominantes de família dos sucessivos proprietários, tal como tem sucedido em Possacos, tanto no percurso final da monarquia constitucional, como daí até à actualidade. Digo nomes dominantes porque também, por exemplo, não me parece que alguma vez tenham sido invocados pela população local os nomes das famílias Cardoso, Barros e Alão, cujas divisas também se encontram nas pedras de armas dos três solares conhecidos na localidade de Possacos. Os nomes que sobressaem ainda hoje para a identificação dos solares desta localidade são Morais-Pinto/António Terra, Xavier-Pimentel e Machado.

Como já em 1943, o Padre Vaz de Amorim (com o pseudónimo de “João da Ribeira”) procurou esclarecer, num artigo editado no “Comércio de Chaves” e mais tarde na Revista “Aquae Flaviae”, o Solar que já nesse tempo era vulgarmente designado como a “Casa dos Xavieres”, designação que hoje coexiste com a de “Solar de António Terra”, foi em época anterior a “casa solar da Família Morais Pinto”, família esta que o mesmo erudito refere ter sido muito considerada nesta região, sobretudo durante a vigência do “regime absoluto” (julgo referir-se ao período de vigência da Carta Constitucional).

Este mesmo “João da Ribeira” de reconhecida vocação para o sacerdócio mas também para o domínio das letras, da história, da arqueologia e da heráldica, fundamentou de forma magistral aquela observação através de uma leitura completa e exacta da pedra armas que o solar aqui representado ainda ostenta. Efectivamente, como a foto acima documenta, nesta pedra de armas, datável do início do século XIX, além das divisas da família Morais (a torre e a amoreira), Pinto (os cinco crescentes), Cardoso (o cardo entre dois leões) não se vislumbra a da família Xavier mas antes a da família Pimentel (as cinco vieiras com bordadura carregada de cruzes) à qual, em todo o caso, certamente mais tarde, aquela se ligou. Um dos mais notáveis representantes desta Casa foi Francisco Xavier de Morais Pinto Cardoso Pimentel, já biografado aqui no Clube de História de Valpaços, nascido em Possacos no dia 4 de Abril de 1810 e falecido na Foz do Douro, Porto, na data de 6 de Janeiro de 1888, adepto incondicional da Monarquia Constitucional e fiel servidor à rainha D. Maria II. Foi deputado às cortes pelo círculo de Valpaços na legislatura de 1846, por duas vezes Governador Civil de Bragança, entre 1846-47 e 1851-56, tendo depois regressado à Câmara dos Deputados na legislatura de 1868-69. Foi ainda Conselheiro de Estado.

A exacta correspondência do nome completo deste ilustre representante da família “Xavier Morais Pinto Cardoso Pimentel” (que assim consta literalmente nos autos de posse do Governo Civil de Bragança) com a leitura heráldica atrás referida, autoriza-nos a ter como bastante provável que o solar aqui em causa, bem como a respectiva pedra de armas hajam sido edificados no seu tempo. Julgo, portanto, que seria historicamente mais acertado designar este solar como o “Solar dos Morais Pinto”, ainda que este nome seja vulgarmente usado para designar um outro solar que se encontra no lado oposto da mesma artéria da localidade de Possacos de que falaremos numa próxima edição.

Pelos dados genealógico que disponho a respeito deste Francisco Xavier de Morais Pinto (Pimentel Cardoso), ele terá falecido solteiro e não parece que tenha deixado descendência. Não foi possível confirmar a época em que viveu Luis Augusto de Morais Pinto que o Padre João de Amorim refere como tendo sido o último representante desta família em Possacos, sendo de supor que o solar tenha entretanto passado ao ramo aparentado dos Xavieres, nome que, como vimos, alguns moradores ainda costumam associar ao solar.

O mesmo Padre João Vaz de Amorim testemunhava, em 20 de Março 1943, que a “casa dos Xavieres” era por esse tempo “propriedade dos herdeiros de João José de Sousa” e pela descrição que o mesmo autor faz deste bem sucedido natural e morador de Possacos, não creio que descendesse de quaisquer das conhecidas famílias aristocráticas locais ou regionais que, como se sabe, se viram progressivamente arruinadas em consequência das reformas liberais durante o ocaso da monarquia, dispersando-se o seu património que foi passando para as mãos de novos abastados proprietários situação ainda mais favorecida com o advento da República. Não admira pois que, mais tarde, este património passasse a uma outra família de que existem referências genealógicas que a estabelecem nesta localidade desde o início do século XIX – os Terra ou Terra Raimundo. Daí que o nome "Solar de António Terra" sirva actualmente para designar o mesmo monumento.

Não me parece despropositado acrescentar que a “Quinta do Zibreiro” ou “Zibeiro”,  como também é vulgarmente designada, situada a pouca distância da localidade, hoje parcialmente abandonada e onde se localiza a fonte com o mesmo nome que na expressão do Dr. Adérito Medeiros Freitas, através do qual ficámos a saber que é dela actualmente proprietária a Sra. Ana Ribeiro Terra Calçada, será “ a mais rica fonte do concelho de Valpaços” e, em minha opinião, uma das suas “raridades arquitectónicas” (um impressionante conjunto arquitectónico de feição romântica datável do início do século XIX), terá inicialmente pertencido aos mesmos Morais Pinto e que este extraordinário imóvel tenha sido edificado pela mesma época em que foi erigida a pedra de armas que o respectivo solar ainda ostenta. 

2 comentários:

  1. Já respondemos ao vosso comentário.

    Faço parte da Associação do Património de Torres Vedras. Seria interessante alguma forma de colaboração mútua...

    Pode ver aqui:

    http://patrimoniodetorresvedras.blogspot.com/


    Abraço

    J Moedas Duarte

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  2. Caro J Moedas Duarte:
    Já vimos a resposta e agradecemos a disponibilidade. Toda a colaboração mútua que nos sugere é também do nosso interesse e do meu, em particular. O vosso blog da A.P.T.V. passará obviamente a constar da nossa lista de blogs a seguir e estaremos atentos e receptivos a tal colaboração.
    Abraço,
    Leonel Salvado

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