quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Alguns topónimos foram transcritos na forma como se lêem na cópia do manuscrito original. 

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo32, RIBEIRA DE ALHARIS , Chaves
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 32, n.º 94, p. 557 a 568]

Freguesia de São Tiago da Ribeira de Alharis, Província de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga, comarca e termo de Chaves, Ouvidoria correccional de Bragança.

Em cumprimento de uma ordem que me foi entregue do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral desta Comarca de Chaves, Bento de Carvalho e Faria, nos vinte e dois dias do mês de Fevereiro deste presente ano de mil e setecentos e cinquenta e oito, com os interrogatórios que com esta vão inclusos, para que o Reverendo Pároco desse notícia deles e, por estar com moléstia, fiz a mesma diligência eu, Alexandre da Silva, cura desta mesma freguesia de São Tiago da Ribeira de Alharis desta Comarca de Chaves e assim vendo eu, com a consideração de pude, os ditos interrogatórios, a notícia que posso dar deles é a que se segue e nos que eu não falar é porque não há aqui nesta freguesia o que eles em si contém.

Deus me ajude.
A igreja desta freguesia, que é seu Padroeiro o Milagroso Apóstolo São Tiago e lhe chamam São Tiago da Ribeira de Alharis, tem três naves divididas em duas carreiras de arcos. Tem quatro altares, o altar-mor que é o do Padroeiro e, da parte do Norte, tem um colateral de Nossa Senhora do Rosário; da parte do Sul tem outro altar do Milagroso Santo António e no costão da mesma parte tem outro do Milagroso Santo Cristo e, neste, há uma Irmandade do mesmo.
Esta igreja é de título de vigairaria e é de apresentação do Reverendo cabido da Sé Primaz de Braga e é de devoção pelos mais antigos residentes no povo dela e rende para o Pároco trezentos mil réis.
Compõe-se esta freguesia de catorze lugares, entre grandes e pequenos, dos quais quatro estão em Montanha e os mais estão em Ribeira.
O primeiro é este de São Tiago, que é o primeiro da Ribeira, o qual tem, com o Pároco, quatro vizinhos e pessoas catorze. A igreja está quase no meio dela. E tem também este povo uma capela de São Sebastião, a qual está também dentro do povo e pertence à freguesia.
O segundo Lugar é o de Paradela, o qual tem vinte e um vizinhos. Tem este uma capela no meio que fabricam estes mesmos moradores, que é o seu orago Santa Maria Madalena.
O terceiro é Sobredo, o qual não consta senão de um vizinho.
O quarto é Parada, o qual tem nove vizinhos e no meio dela tem uma capela que fabricam estes mesmos moradores e é seu orago Nossa Senhora da Expectação. Ajudam à sua fábrica o lugar de Cancelo e São Jozenda.
O quinto é São Jozenda, o qual se compõe de quinze vizinhos.
O sexto é Cancelo, o qual se constitui de catorze vizinhos e tem uma capela no meio, a qual fabrica o Padre André Teixeira da freguesia de São Pedro Fins, distante deste povo meia légua, e a qual é seu orago São Paulo. E defronte deste lugar, para a parte do Nascente e perto dele, está outra capela em um monte sem vizinhos que tem por orago Santa Isabel da Serra e esta é de Dona Isabel Teixeira Chaves, da Vila de Chaves.
O sétimo Lugar é Adagoi que consta só de seis vizinhos e fora do povo está uma casa que entra no mesmo número e chamam-lhe Adagoi de Cima e ao pé dela está uma capela da Senhora da Conceição, a qual é de Luísa Coelha que mora na dita casa.
O oitavo é Alvites que tem treze vizinhos e fora deste povo, mas perto, para a parte do Norte, tem uma capela do Milagroso São Gonçalo que fabricam os moradores deste mesmo povo.
O nono é Chamoinha, o qual tem dezasseis vizinhos e, pegado ao mesmo povo para a parte do Norte, tem uma capela do Apóstolo São Bartolomeu, a qual fabricam os moradores deste mesmo povo.
O décimo, e último lugar da Ribeira, é Esturãos, o qual tem dezassete vizinhos e, no meio, uma capela de São Martinho, a qual também fabricam os moradores deste mesmo povo.
O undécimo, e primeiro da Montanha, é Vila Nova do Monte que tem vinte e sete vizinhos, o qual tem, no meio, uma capela do Milagroso São Jorge que fabricam os moradores deste povo.
O duodécimo é Amuinha Nova que consta de vinte e quatro vizinhos e, fora do povo mas perto, para a parte do Norte, tem uma capela do Milagroso Santo Antão que fabricam os moradores deste povo.
O décimo terceiro é Vilela do Monte que tem dezoito vizinhos e, no meio, tem uma capela de São Vicente que fabricam os moradores deste mesmo povo.
O décimo quarto, e último da Montanha, é o Lugar de Campo de Égua, o qual se compõe de cinquenta e quatro vizinho e fora deste povo, com mais alguma distância do que os mais supra, está uma capela de Nossa Senhora da Anunciação que também fabricam os moradores deste povo.
Não há romarias em algumas destas capelas, nem feira nesta freguesia. Só dia de Santiago, Padroeiro desta freguesia, se faz no sobredito lugar de São Tiago uma feira que dura até duas horas da tarde e me não consta que dela se paguem direitos alguns. Vem a ela o Meirinho do Doutor Vigário Geral desta Comarca e leva cinquenta réis a toda a pessoa que faz assento no dito lugar para vender alguma coisa.
A igreja desta freguesia está situada no meio dela em o sobretido lugar de São Tiago, ao pé de um monte que está para a parte do Poente, por cuja causa se não descobre para aquela parte terra alguma. Está no princípio de uma ribeira e deste lugar se descobre, do Norte ao Sul para a parte do Nascente, seis para sete lugares, mais terra de monte que fabricada. E da parte do Sul, vindo para o Nascente em toda esta que se descobre, se não vêem nem igrejas, nem povos, por estarem situados em baixos por causa dos montes que se encontram com a vista. E só se vêem branquejar com o reflexo do sol da tarde, à distância daqui quase quatro léguas, as casas do Marquês de Mirandela que hoje está com outro título, o dito Marquês. E indo mais para Nascente, se descobrem mais outras poucas de casas mais distantes daqui, ao pé de umas serras que, me dizem, é uma chamada a serra de Bornes, cujas casas e lugares me não sabem dizer seus nomes por serem muito distantes. E indo subindo para o Norte, se descobre daqui, à distância de meia légua, um povo com uma igreja que está no meio dele à qual chamam São João Baptista, da freguesia de Ervões, que é da Sagrada Religião de Malta. E mais para o Norte se descobrem mais dois lugares, um que lhe chamam Quintela e outro Friões, aonde está a igreja matriz que é São Pedro de Friões. E olhando daqui por entre as sobreditas freguesias de Friões e Ervões, em direitura para o Nascente, se descobrem muitas serras e, por remate delas, se descobre uma a qual me dizem se chama a serra de Seabra, a qual fica no Reino de Galiza, digo de Castela, e conserva quase todo o ano em si neve, por se ver daqui branquejar.
Os frutos que os moradores colhem em maior abundância são os seguintes: Os que vivem nos lugares da Ribeira colhem bastante pão, vinho, castanha e linhos; porém, os que vivem nos lugares da Montanha de ordinário não colhem senão centeio.
Nesta freguesia não há juiz nem câmara que a governe, mas sim é governada pelo juiz de fora e câmara da Vila de Chaves de cuja Comarca é esta mesma freguesia.
Nesta freguesia não há correio e se servem do correio da Vila de Chaves que parte ao Domingo e chega na Quarta-feira de cada semana. Fica a dita Vila distante desta freguesia duas léguas e meia, pouco mais ou menos, da cidade capital que é Braga dezoito léguas, pouco mais ou menos, e da cidade de Lisboa, que é a capital do Reino, setenta e cinco até oitenta, segundo me informam.
Não padeceu esta freguesia ruína alguma no terramoto do ano de mil setecentos e cinquenta e cinco.

E desta sorte hei por respondido a todos os interrogatórios dos que pude dar resposta e assim o foi tudo, na verdade, que pude alcançar e assim o afirmo in verbo Sacerdotis e vai conferida pelo Reverendo vigário de São Mamede de Argeris e pelo Reverendo vigário de Santa Maria de Vaçal.

São Tiago da Ribeira de Alharis, Março, dez, de mil e setecentos e cinquenta e oito, 1758.

O cura Alexandre da Silva

Do pároco de São Mamede de Argeris, vigário António Martins
O Vigário de Santa Maria de Vassal, Dâmaso Osório de Queiroga  

5 comentários:

  1. Muito interessante este documento!
    Muito gostaria de o publicar no meu blog, para que fosse lido por todos os da terra! AMOINHA NOVA
    cmps
    leonor moreira

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  2. Prezada Leonor:
    Teremos todo o gosto em que o publique livremente no seu blog,pois a nossa missão neste é literalmente divulgar e partilhar tudo aquilo que diga respeito ao nosso património, mas recomendamos-lhe que o faça daqui por mais uns dias, porque neste momento estamos a actualizá-los, ilustrando-os com a primeira página dos respectivos manuscritos originais autorizados pela T.Tombo.
    Os melhores cumprimentos
    Leonel Salvado (adm. CHV)

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  3. Amigo Leonel,
    Obrigada pela partilha e simpatia.
    Assim farei.
    cumprimentos
    leonor moreira

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  4. Prezada amiga Leonor Moreira,
    A partir deste momento já poderá publicar este documento em seu blog, do qual me apraz ser um dos seguidores. Para o personalizar a seu gosto faça à vontade "copy past" ao texto e pode juntar também as imagens que os direitos de autoria estão salvaguardados pelas referências. Esteja à vontade para utilizar qualquer conteúdo ou imagens que nos foram autorizadas ou de nossa autoria.
    Bem-haja e volte sempre,
    LS

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  5. Amigo Leonel,
    Obrigada, já publiquei no meu blogue.
    Sempre que posso, aqui venho para "estudar"...
    cmps
    leonor moreira

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