sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DOCUMENTOS: Aldeias do concelho de Valpaços nos meados do século XVIII por freguesias – SONIM

Por Leonel Salvado


Nota prévia: Permita-se-me que faça aqui referência a uma curiosa ilação histórica que retiro desta memória paroquial de 1758 a respeito da freguesia de Sonim: A singular capela do Senhor do Bonfim bem como a devoção a este santo, que actualmente é uma referência comum e vem sendo festejado anualmente no último Domingo do mês de Julho, não serão tão antigas como talvez se possa pensar. Posto que não haja a mínima alusão a elas da parte do Abade de Sonim, o Padre António de Morais Machado, e sendo que no manuscrito lavrado na data mencionada, o mesmo Abade atesta, com clareza, a existência de duas capelas apenas, a do Santo Cristo e de São Frutuoso cuja Irmandade aqui instituída nessa época seria o principal motivo de atracção e festa religiosa, a capela do Senhor do Bonfim é de construção mais recente e a tradição popular da festa que lhe está associada será também, seguramente.

MEMÓRIAS PAROQUIAIS, 1758, Tomo 35, SONIM, Monforte de Rio Lima (leia-se SONIM, Monforte de Rio Livre)
[Cota actual: Memórias paroquiais, vol. 35, n.º 207, p. 1497 a 1500]

Lembrança do lugar de Sonim feita pelo Padre António de Morais Machado, Abade da mesma freguesia, conforme os interrogatórios que desta se mandou pedir.

É Sonim um lugar de cento e três fogos, de pessoas moradores nele duzentas e setenta e quatro, de confissão e comunhão, e de confissão somente vinte e quatro.
Fica, este, na Província de Trás-os-Montes, no Termo da Vila de Monforte de Rio Livre, Bispado de Miranda e dista da catedral dezasseis léguas. Está em um vale, entre outeiros, que só tem nome entre os seus oradores.
É este lugar da Abadia de São Miguel de Fiães que é a cabeça da mesma Abadia, porém neste lugar residem sempre os Reverendos Abades por terem nele a sua residência, e de que é orago do dito lugar Nossa Senhora da Assunção.
É Abadia do Padroado Real. Tem de renda livre para o Abade, depois de tirada a Patriarcal a pensão antiga que são noventa mil réis, fica livre trezentos e cinquenta mil réis. Apresenta esta Abadia, in solidum, três curas, um em Fiães, outro em Barreiros e outro em Sonim que é coadjutor do mesmo Abade e entra na freguesia de Aguieiras na apresentação do cura alternativo com o Reverendo Abade de Bouçoais.
É a igreja, do dito lugar, comprida, com duas naves com seu frontispício e arrematadas as naves na capela-mor que é quadrada. Tem três altares, o da capela-mor e dois no corpo da igreja, um de Nossa Senhora do Rosário e outro de Santo António. Está esta igreja no meio do lugar e não tem mais coisa que se haja de fazer memória dela.
Estão dentro do mesmo lugar duas capelas, uma do Santo Cristo e outra de São Frutuoso, separada uma da outra em distância de dez passos. Tem esta capela de São Frutuoso uma Irmandade do mesmo Santo de muitos Irmãos que têm estes, na Confraria, muitas indulgências pelas quais concorrem à dita capela muitos Irmãos pelo decurso do ano e, com mais frequência, no dia do mesmo Santo.
Avista-se do mesmo lugar parte da terra de Mirandela e da Torre de Dona Chama, porém não se descobre povoação que se haja de fazer memória dela e declaro que é da Comarca da Torre de Moncorvo o dito lugar.
O fruto que os moradores deste lugar recolhem com mais abundância é centeio, de que a terra é natural; colhe pouco milho e feijões só o que necessitam para suas casas. Recolhem pouco azeite, castanha ordinária, como também vinho ordinário.
Tem este lugar juiz Espadano [Pedâneo] e está subordinado ao juiz ordinário da Vila de Monforte que é a cabeça desta terra.
Serve-se esta terra do correio da vila de Chaves que dista quatro léguas e dista da cidade de Bragança nove léguas, cidade do mesmo Bispado, e da de Lisboa oitenta.

Tem este lugar de Sonim, no fim do seu termo, para a parte do Poente, um rio chamado Rabaçal. Começa este em Galiza e perde o nome por baixo de Frechas, metendo-se no rio Tua, e corre do Norte para o Sul. É rio caudaloso nas tempestades, por acudirem e correrem para ele as águas de muitos montes e algumas ribeiras de pouco nome. Corre todo o ano. Não tem pesqueiras particulares. Criam-se nele bogas, barbos, escalos e trutas, por ser terra fria, e todos têm especial gosto. É rio fragoso, conquanto conserva o nome de Rabaçal, e não se cultivam as suas margens por serem muito fragosas. 
Tem este rio apenas uma ponte de cantaria entre Fornos e Vale de Telhas e tem muitas barcas pelo rio acima, e no mesmo têm os moradores moinhos. Conserva este rio o seu nome Rabaçal dez léguas.

Isto é o que tenho que dizer deste lugar de Sonim por não haver coisa memorável que houvesse de responder aos interrogatórios, nem fora dele. E por me ser mandada fazer esta clareza, a fiz, dia 13 de Abril de 1758.

O Abade, António de Morais Machado

1 comentário:

  1. Pois é, cá ando eu...entre Fiães e Sonim.
    Tenho num livro de família, registos vários, um dos quais, registo de óbito de Francisco Bernardo de Sá Tenreiro e Leite Velho, Abade de Fiães, com residência em Sonim, nascido em Outeiro Seco- Chaves. 1771-1844
    cmps
    leonor moreira

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